INFLUÊNCIA DA AUSÊNCIA DE LUZ SOBRE O CICLO ESTRAL DE RATAS

INFLUENCE OF THE ABSENCE OF LIGHT ON THE ESTROUS CYCLE OF FEMALE RATS

RESUMO

A presente pesquisa teve o objetivo de avaliar o ciclo estral de ratas mantidas na ausência de luz. Para tanto, foram utilizadas 20 ratas albinas (Rattus norvegicus albinus) com 40 dias de idade, pesando aproximadamente 150 g. Os animais foram divididos em dois grupos: Grupo I - ratas mantidas em ciclo claro/escuro de 12h/12h e Grupo II - ratas mantidas na ausência de luz. Os animais foram mantidos com alimentação e água "ad libitum", e em temperatura de 22° C. Após três meses de experimento as ratas foram submetidas a exames colpocitológicos por cinco semanas consecutivas. Os esfregaços obtidos foram corados pelo método de Shorr-Harris e analisados à microscopia de luz. Nossos resultados mostraram que no grupo I os animais apresentaram maior incidência da fase de estro com um percentual de 40%, seguida das fases de proestro, diestro e metaestro com percentuais de 26%, 18% e 16% respectivamente. No grupo II houve uma maior incidência da fase de metaestro, a qual apresentou-se num percentual de 34%, seguida da fase de estro com 24%. As fases proestro e diestro tiveram os mesmos percentuais, com 21% do total do ciclo. No entanto, esses resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes. Portanto, podemos concluir que a ausência de luz influencia diretamente na freqüência das fases do ciclo estral em ratas, provocando redução na incidência da fase de estro, fazendo com que ocorra o alongamento do ciclo estral nesses animais.

PALAVRAS-CHAVE:
Ciclo estral; melatonina; ausência de luz.

ABSTRACT

The present research had the objective of evaluating the estrous cycle of female rats kept in the absence of light. The study involved 20 albino rats (Rattus norvegicus albinus) with the age of 40 days old, weighing nearly 150 g. The animals were divided in two groups: Group I- female rats kept in the clear/dark cycle 12/12 h and Group II- female rats kept in the light absence. The animals were kept with regular meals and "ad libitum" water, and at temperature of 22º C. After three months of experiment, the rats were submitted to colpocitologic exams for a period of five weeks consecutively. The smears obtained were dyed through the method of Shorr-Harris and analyzed by light microscopy. Our results showed that in the group I the animals presented larger incidence of the estrus phase with a percentage of 40%, followed by the proestro, diestro and metaestro phases with percentage of 26%, 18% and 16% respectively. In the group II there was a larger incidence of the metaestrus phase, which presented a percentage of 34%, followed by the estrous phase, with 24%. The proestrus and diestrus phases had the same percentage, with 21% of the total of the cycle. However, these results didn’t show statistically meaningful differences. So, we concluded that the absence of light influences directly in the frequency of the estrous cycle phases in rats, leading to a reduction in the incidence of the estrus phase, causing the increase of the estrous cycles in these animals.

KEY WORDS:
Estrus cycle; melatonin; absence light.

INTRODUÇÃO

Vários estudos indicam que a glândula pineal possui papel específico no controle da atividade cíclica sexual em ratas, através da produção de substâncias antigonadotróficas que estão envolvidas na regulação de funções reprodutivas (REITER et al., 1981).

Uma dessas substâncias é a melatonina, a qual tem sua síntese inibida pela presença de luz e estimu lada pelo escuro. Segundo TAMARKIN et al. (1985), em escuro contínuo, o ritmo de melatonina persiste por um período aproximadamente de 24 horas.

A pineal, sincronizada pelo ciclo claro/escuro, determina as mudanças periódicas na função reprodutiva em várias espécies animais (REITER, 1991, 1993; WEAVER et al., 1993; TEIXEIRA et al., 2002). Quando roedores são expostos a um estímulo luminoso contínuo, entram em estado de estro permanente, podendo ser abolido injetando-se extratos de pineal bovina (WURTMANN et al., 1963; SSantosANTOS et al., 1995). De maneira contrária, quando animais são mantidos em curtos fotoperíodos apresentam uma freqüência estral reduzida e menor peso gonadal (TAMARKIN et al., 1985).

Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo analisar a freqüência estral em ratas mantidas na ausência de luz.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 20 ratas albinas (Rattus norvegicus albinus) procedentes do Biotério do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco, com 40 dias de idade, pesando aproximadamente 150 g. Os animais foram divididos em dois grupos: Grupo I - ratas mantidas em ciclo claro/escuro de 12h/ 12h (controle) e Grupo II - ratas mantidas na ausência de luz. Os animais foram mantidos com alimentação e água "ad libitum", e em temperatura de 22° C.

Após três meses de experimento as ratas foram submetidas a exames colpocitológicos por cinco semanas consecutivas, sempre no mesmo horário (10h). As fases foram transformadas em percentuais, os quais foram submetidos ao teste de Tukey com 95% de significância.

Ausência de Luz

A ausência de luz foi obtida utilizando-se uma sala de aproximadamente 3 m² totalmente escura, sendo a única fonte de luminosidade, uma lâmpada marca Philips (lustre color E27), vermelha, de 15 w, a qual só era acesa no momento da coleta dos esfregaços vaginais.

Exame Colpocitológico

Para os exames colpocitológicos foram utilizadas hastes de algodão umedecido em solução salina. Após a coleta do material, as células foram transferidas para lâminas histológicas através de um movimento rotatório da haste de algodão. Posteriormente, as lâminas, contendo o material, foram imediatamente mergulhado numa mistura álcool-éter em partes iguais, e em seguida foram coradas pelo método de Shorr-Harris. A análise foi realizada através da microscopia de luz.

RESULTADOS

Nossos resultados mostraram que no grupo I os animais apresentaram maior incidência da fase de estro com um percentual de 40%, seguida das fases de proestro, diestro e metaestro com percentuais de 26%, 18% e 16% respectivamente. No Grupo II houve maior incidência da fase de metaestro, a qual apresentou-se num percentual de 34%, seguida da fase de estro com 24%. As fases proestro e diestro tiveram os mesmos percentuais, com 21% do total do ciclo (Fig. 1). No entanto, esses resultados não mostraram diferenças estatisticamente significantes pelo teste de Tukey com 95% de significância (Tabela 1).

Tabela 1
Análise estatística dos percentuais das freqüências das fases do ciclo estral.

		Grupos
Fases (%*)	I		II
Proestro	26a		21a
Estro	40a		24a
Metaestro	18a		34a
Diestro	16a		21a

^*

Fig. 1
Percentagem das fases do ciclo estral.

Observou-se ainda que as fases de estro dos animais do grupo II, quando comparadas as do grupo I, apresentaram poucas células queratinizadas, enquanto que nas fases de diestro mostravam a presença de bastante muco. Além disso, houve alteração na duração das fases do ciclo, onde a fase de metaestro apresentou uma variação de um a dois dias. Já a fase de estro, teve duração no máximo de um dia. No grupo controle a fase de metaestro teve duração de algumas horas (12 horas em média), enquanto a fase estro durou em média dois dias.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Sabe-se que os roedores são animais do tipo poliestro, ou seja, apresentam ciclos estrais regulares e sucessivos, que duram de quatro a seis dias na rata, estando na dependência dos hormônios sexuais (LONG & EVANS, 1922).

Segundo WURTMANN et al. (1964), quando ratas adultas são mantidas em iluminação constante há um aumento na freqüência da fase de estro, enquanto que o escuro inibe este aumento. Já SCHLATT et al. (1993) observaram uma diminuição da ciclicidade estral em hamsters mantidos em curtos fotoperíodos por 27 semanas.

De acordo com JOHNSON et al. (1982), ratas mantidas em fotoperiodo normal (12h claro/12h escuro) apresentam os maiores picos de melatonina durante as fases de metaestro e diestro. Além disso, BENSON & MCASEY (1998), DÍAZ et al. (1999) e DARDES et al. (2000) relataram que roedores expostos a curtos fotoperíodos ou tratados com melatonina exibem duração mais longa do ciclo estral, podendo desenvolver até mesmo o anestro. Deste modo, o aumento da incidência da fase de metaestro em relação às outras fases, pode ser explicado pela presença de elevados níveis de melatonina nesses animais, como conseqüência da ausência de luz. Portanto, do presente trabalho, podemos concluir que a ausência de luz influencia diretamente na freqüência das fases do ciclo estral de ratas, provocando redução na incidência da fase de estro, fazendo com que ocorra o alongamento do ciclo estral nesses animais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  23 Set 2024
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2003

Histórico

• Recebido
  17 Out 2002
• Aceito
  28 Abr 2003