RESUMO
Relata-se a ocorrência de 66 focos da doença de Aujeszky no Estado de São Paulo, no período de 1982 a 1986. Utilizaram-se a inoculação em sistemas sensíveis (camundongos lactentes e/ou adultos, cultura de células VERO e coelhos), a imunofluorescência direta e a microssoroneutralização. Os resultados demonstram um aumento do número de focos no decorrer do período estudado e uma maior ocorrência da enfermidade na região de Campinas. Recomenda-se a rápida adoção de medidas de controle com o objetivo de diminuir os prejuízos causados pela doença.
PALAVRAS-CHAVE:
Doença de Aujeszky; isolamento viral; anticorpos neutralizantes; imunofluorescência; Estado de São Paulo.
SUMMARY
The occurrence of 66 outbreaks of Aujeszky's disease in the State of São Paulo between 1982 and 1986 is described. Inoculation of sensitive systems (suckling and/or adult mice, VERO cells and rabbits), the fluorescent antibody technique and the micro serum neutralization test were used. The results showed an increase in the number of outbreaks during this period with a higher occurrence of the disease in the region of Campinas. It is recommended that urgent control measures should be adopted with the objective of decreasing the economic losses caused by the disease.
KEY-WORDS:
Aujeszky's disease: virus isolation; neutralizing antibodies; immunofluorescence; São Paulo State.
INTRODUÇÃO
A doença de Aujesky, ou pseudo-raiva, causada por um herpesvírus, afeta a maioria das espécies de mamíferos, sendo maior a sua importância entre suínos, que são os únicos capazes de resistir à infecção, quando adultos, tornando-se "portadores". Nesta espécie, a disseminação se dá verticalmente, pela infecção intra-uterina, ou horizontalmente, pela inalação ou ingestão do vírus.
Apesar da sua distribuição mundial, a doença de Aujeszky assumiu maior importância nos países com suinocultura avançada, especialmente do continente europeu e norte-americano. A exemplo do que aconteceu em vários países, no Brasil, a doença de Aujeszky passou a ocasionar grandes prejuízos nos últimos anos, com o desenvolvimento da suinocultura, embora tenha sido descrita pela primeira vez, em nosso país, em 1912 (1). Recentemente, vários estudos têm sido realizados nos Estados de Santa Catarina e São Paulo, em plantéis de reprodutores e de terminação (2, 3, 4, 6).
O presente artigo tem por objetivo relatar a ocorrência de focos da doença de Aujeszky, no Estado de São Paulo, durante o período de 1982 a 1986, diagnosticados através do isolamento de vírus elou da sorologia.
MATERIAL E MÉTODOS
Durante este período de 4 anos, foram recebidas amostras de sistema nervoso central, principalmente de suínos, para o diagnóstico da doença de Aujeszky. Nos casos em que não foram coletadas amostras de tecidos nervoso, procederam-se a coletas de soros de suínos de propriedades com histórico de abortos, natimortos e alta mortalidade de leitões com sintomatologia nervosa. Em outros casos, após o isolamento do vírus, foi realizada a sorologia de parte ou de 100% do plantel.
Quando o material recebido pelo laboratório foi tecido nervoso, foram realizadas: a prova de imunofluorescência direta e a inoculação de sistemas sensíveis. A sorologia foi efetuada pela microssoroneutralização em culturas de células VERO.
Prova de imunofluorescência direta - Foram preparadas lâminas com decalques de diferentes porções de córtex cerebral, cerebelo, corno de Amon e medula. Estas lâminas foram submetidas à técnica de anticorpos fluorescentes, com conjugado preparado pela Seção de Raiva e Encefalomielite do Instituto Biológico (3), através da modificação da técnica preconizada por STEWART (8).
Inoculação de sistemas sensíveis - Trituraram-se fragmentos de diferentes porções do sistema nervoso e prepararam-se suspensões a 20%, em meio Eagle. As suspensões, após centrifugação, foram inoculadas em camundongos lactentes e/ou adultos (0,01 e 0,03ml, via intracerebral, respectivamente), em coelhos (5ml, via subcutânea) e em culturas de células VERO (1,0ml/garrafa ou O,lml/tubo de Leighton). A partir do sistema nervoso central e medula dos animais de laboratório e das monocamadas celulares inoculadas, foram preparadas lâminas para serem submetidas, também, à técnica de anticorpos fluorescentes (8).
Técnica de microssoroneutralização - Para pesquisar a existência de anticorpos contra o vírus da doença de Aujeszky, foi utilizado o teste de microssoroneutralização em placas (5), empregando-se células VERO como indicadoras e duas diluições de soros (1/2 e 1/4). A leitura final foi realizada após 72 horas.
RESULTADOS
A tabela 1 mostra a procedência das amostras, a espécie animal e o isolamento do vírus elou a identificação da doença de Aujeszky.
A figura 1 mostra a distribuição dos 66 focos diagnosticados no Estado. Pode ser observado que a doença de Aujeszky está disseminada por todo o Estado de São PauIo, com um maior número de focos na região de Campinas.
As culturas de células VERO normais e as inoculadas com amostras positivas são mostradas na figura 2, O efeito citopático foi característico: confluente, células arredondadas e com alta refratividade.
Os camundongos adultos e lactentes, inoculados por via intracerebral, com doses de 0,03 e 0,01m1, respectivamente, apresentaram, em algumas amostras, diferente sensibilidade. Só foi possível diagnosticar certas amostras através do sacrifício de camundongos lactentes, tendo sido obtidos resultados negativos em células, coelhos e camundongos adultos. Na maioria dos casos, observou-se, após 48 horas, a seguinte sintomatologia: inquietação, prurido no ponto de inoculação, autodilaceração, incoordenação, paralisia e morte. Os coelhos inoculados por via subcutânea, com a dose de 5ml, apresentaram, também em 48 horas: hipertermia, pelos eriçados, respiração ofegante, prurido no ponto de inoculação, incoordenação, autodilaceração, paralisia e morte (Fig. 3).
Distribuição dos focos da doença de Aujeszky, no Estado de São Paulo, durante o período de 1982 a 1986.
Cultura de células VERO não infectadas (A) e infectadas (B com) com o vírus da doença de Aujeszky (A: 240 x; B: 224 x),
Lesões provocadas em animais de laboratório, camundongo (A) e coelho (B), pela inoculação de amostras positivas para o vírus da doença de Aujeszky.
A leitura das lâminas, coradas pela técnica de anticorpos fluorescentes, realizada ao microscópio de imunofluorescência, sistema epiiluminação-Zeiss, demonstrou fluorescência em células nervosas de suíno elou células VERO (Fig. 4).
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Pode-se observar que, na maioria das propriedades onde foram obtidos o isolamento e a identificação do vírus, a sorologia, quando realizada, foi positiva para anticorpos neutralizantes do vírus da doença de Aujeszky.
Em 10 focos em suínos e 1 em bovino, onde o vírus da doença de Aujeszky foi isolado, não foi possível detectar anticorpos neutralizantes. Este fato pode ser explicado pelo pequeno número de soros coletados (em 9 focos) ou porque a coleta de soros foi realizada durante a fase aguda do surto e/ou por uma contaminação ambiental das pocilgas (em 2 focos).
A região de Campinas é a que apresenta maior número de focos diagnosticados, no entanto, em levantamento realizado em maio de 1986, apresentou menor incidência (2,0%), a nível de rebanho (7). Isto pode ser explicado pelo nível das criações da região e pelo grau de conscientização dos criadores da mesma e, conseqüentemente, maior notificação dos casos clínicos, com coleta de amostra para diagnóstico.
Fluorescência de células nervosas de suíno .com granulações intracitoplasmáticas e de culturas de células VERO infectadas (B) pelo vírus da doença de Aujeszky (A: 1.000 x).
Em algumas amostras, foi possível verificar a maior sensibilidade do camundongo lactente, em relação ao coelho, ao _camundongo adulto e ao cultivo celular. A identificação dos vírus, nestes casos, somente tem sido possível com o sacrifício dos camundongos lactentes e execução de imunofluorescência a partir do sistema nervoso central. Estes dados permitem concluir a maior sensibilidade dos camundongos lactentes e uma provável infecção latente destes animais, especialmente em função da baixa patogenicidade destas amostras.
O aumento anual do número de focos diagnosticados sugere a necessidade de uma rápida ação conjunta (Secretaria da Agricultura e Ministério da Agricultura), com a adoção de medidas de controle, objetivando a diminuição dos prejuízos econômicos causados pela doença.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos médicos-veterinários da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e dos Laboratórios Regionais do Instituto Biológico o envio das amostras analisadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- 1 CARINI, A. & MACIEL, J. La pseudo-rage ou paralysie bulbaire infectieuse au Brésil. But Soe. Path. Exotique, 5:576-8, 1912.
- 2 KOTAIT, I.; CUNHA, E.M.S.; QUEIROZ, L. H.; PEIXOTO, Z.M.P.; SOUZA, M.C.A.M. Doença de Aujeszky no Estado .de São Paulo: inquérito sorológico em plantéis de reprodutores suínos realizado no período de 1985-1986. Arq. lnst. Biol., 53(1/4); 1986.
- 3 KOTAIT, I.; QUEIROZ, L.H.; BERSANO, J. G.; SOUZA, M.C.A.M.; CUNHA, E.M.S.; PEIXOTO, Z.M.P.; USHORUBIRA, I. Sorologia e pesquisa de vírus em amígdalas de suínos sadios de uma propriedade com foco da doença de Aujeszky em ovino, Biológico, 50(7):143-7, 1984.
- 4 MARQUES, J.L.L. & ROMERO, CR A vigilância sorológica para o vírus da doença de Aujeszky em suínos no Estados de Santa Catarina em 1985. Pesq. Vet. Bras., 1987 (no prelo).
- 5 ROMERO, C.H.; ROWE, C.A.; FLORES, R. S.; BRENTANO, L.; MARQUES, J.L. Erradicação do vírus da doença de Aujeszky. de plantéis de reprodutores suínos através da testagem e eliminação de suínos com anticorpos. Pesq. Vet. Bras., 6(1), 1-4, 1986.
- 6 ROMERO, C.H.; ROWE, C.A.; PROVENZA- NO, G.I.; FLORES, R.S.; BRENTANO, L.; MARQUES, J.L.L. Distribuição e prevalência de anticorpos precipitantes para o vírus da doença de Aujeszky em plantéis suínos no Estado de Santa Catarina. Pesq. Vet. Bras., 4(4):123-7, 1984.
- 7 Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Diagnóstico da doença de Aujeszky no Estado de São Paulo. Doe. Tec. CATI 66, 76 p:, 1986.
- 8 STEWART, W.C.; CARBEY, V.M.A.; KRES- SE, J.I. Detection of pseudorabies vírus by immunofluorescence. f. Am. Vet. Med. Assoe., 151:747-51, 1967.