Acessibilidade / Reportar erro

OCORRÊNCIA E CONTROLE DA FERRUGEM EM CHERIMÓLIA NO ESTADO DE SÃO PAULO

OCCURRENCE AND CONTROL OF CHERIMOYA RUST IN SÃO PAULO STATE

RESUMO

Amostras de folhas e frutos de cherimólia, provenientes de Pedra Bela, SP, com sintomas de ferrugem, foram recebidas para análise pelo CPDSV no ano de 2002. Observações microscópicas mostraram a forma uredinial (II), que devido às características dos urediniosoros, indicava tratarse da espécie Phakopsora neocherimoliae Buriticá & Hennen. Visando um controle químico da doença, instalou-se um experimento de campo com seis tratamentos, quatro repetições/parcela e 3 aplicações a intervalos de sete dias. Os produtos e doses de ingrediente ativo/100 L de água foram: mancozeb 80% - 20 g; oxicloreto de cobre 50% - 25 g; tebuconazole 20% - 5 mL; difenoconazole 25% - 20 mL; tiofanato metílico 50% - 10 mL. A avaliação foi feita com base na severidade da doença, atribuindo-se notas de 0 a 5. Pela análise de variância e das médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%, todos os fungicidas mostraram eficiência no controle da doença. Essa é a primeira constatação de ferrugem em cherimólia, causada por Phakopsora neocherimoliae no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE:
Ferrugem; Phakopsora neocherimoliae ; Annona cherimolia

ABSTRACT

Leaves and fruit samples collected in Pedra Bela, São Paulo State, Brazil, in March of 2002 showing rust disease symptoms were taken for microscopic analysis, which showed the uredinial state (ii), whose urediniosores character indicated that it was the rust Phakopsora neocherimoliae. This rust attacks the leaves causing early defoliation. With the aim of finding chemical control procedures to reduce the damage of this disease in commercial crops a field experimental test was carried out using five different fungicides as follows: mancozeb - 20 g, cupric chloride - 25 g, tebuconazol - 5 mL, difenoconazol - 20 mL and methyl thiophanato - 10 mL in the applied doses. The five fungicides used were efficient to control the disease. This is the first report of cherimoya rust caused by Phakopsora neocherimoliae in Brazil.

KEY WORDS:
Rust; Phakopsora neocherimoliae ; Annona cherimolia

A cherimólia, também conhecida como cherimóia (Annona cherimólia Mill.) é uma planta nativa da região do vale interandino do Equador, Colômbia e Peru a 1.600 metros de altitude (BELOTTO & MANICA, 1994BELOTTO, F. A. & MANICA, I. Clima e Solo. In: MANICA, I. (Ed.). Fruticultura - cultivo das anonáceas: ata, cherimólia e graviola. Porto Alegre: Evangraf, 1994. p.12-17.; BONAVENTURE, 1999BONAVENTURE, L. A cultura da Cherimóia e de seu híbrido a Atemóia. São Paulo: Livraria Nobel, 1999. 182p.).

É uma planta de clima subtropical, da família das Anonáceas, que alcança até 8 m de altura, com ramos que nascem de forma irregular e de copa aberta com folhas que chegam a medir de 10 a 20 cm de comprimento por 4 a 8 cm de largura e seus frutos com alto valor alimentício têm poucas sementes e chegam a pesar 2,5 kg (MANICA, 1994MANICA, I. Taxonomia, morfologia, anatomia. In: MANICA, I (Ed.) Fruticultura - cultivo das anonáceas: ata, cherimólia e graviola. Porto Alegre: Evangraf, 1994. p. 3-11.; BONAVENTURE, 1999BONAVENTURE, L. A cultura da Cherimóia e de seu híbrido a Atemóia. São Paulo: Livraria Nobel, 1999. 182p.). Além disso, essa fruteira quando cruzada com a fruta do conde, também conhecida com pinha (Annona squamosa L.) produz um híbrido interespecífico, cujos frutos são popularmente conhecidos como atemóia (KAWATI et al., 1997).

Em 2002, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal (CPDSV), recebeu para análise, amostras de folhas e frutos de cherimólia var. Fino de Jete, procedentes do Município de Pedra Bela, SP, apresentando nas folhas, pequenas lesões necróticas na face superior, correspondendo, na face inferior, a um crescimento fúngico de cor amarelo creme (Fig. 1), que evoluía para necrose total (Fig. 2) e queda das folhas.

Fig. 1
Necrose e seca das folhas mais velhas.

Fig. 2
Pústulas ferruginosas na face inferior da folha.

Fig. 3
Aspecto de uma paráfise do soro uredinial.

Fig. 4
Urediniosporos em vista superficial.

No laboratório do CPDSV, observações microscópicas, permitiram a visualização da forma anamórfica uredinal ou clonal (II), que devido às características dos urediniosoros, foi constatado que se tratava de uma ferrugem, causada pelo fungo Phakopsora neocherimoliae Buriticá & Hennen (Buriticá, 1994).

Descrição do fungo:

Phakopsora neocherimoliae Buriticá & Hennen. In: Buriticá, Rev. E.I.C.N.E. (Medellin, Colômbia) 5:176, 1994

Sinonímia

Phakopsora cherimoliae (Cummins). Cummins. In: Mycol.48:604, 1956CUMMINS, G.B. Nomenclatural changes for some North American Uredinales, Mycologia, v.48, n.4, p.601-608, 1956.

Sin:-Uredo cherimoliae Lagherin. In Bull. Soc. Mycol.

Fr. 11:1895.

-Uredo cupulata Ellis & Everharts. In Field Mus. Publ. Bot. 2: 16, 1900

-Physopella cherimoliae (Lagherin) Arthur. In Res. Sci. Congr. Bot. Vienne p.388, 1906.

Foram observados urediniosoros hipófilos, em manchas cloróticas inicialmente e necróticas depois, pequenos agregados ou isolados pulverulentos de cor ferrugem; paráfises presas a uma base pseudoparenquimatosa, clavadas, encurvadas, castanho-amareladas (Fig. 3). Urediniosporos globóides, subglobóides, ovóides a elipsóides, densamente equinulados, de amarelados a castanho-amarelados com (21-)25(-29) µm comprimento e (15-)19(-21) µm largura; paredes com 0,70 - 1,20 ìm largura e poros germinativos obscuros (Figs. 4 e 5). Foram também observados sinais do fungo em frutos imaturos. Não foram encontrados teliósporos no material analisado.

Em consulta a literatura nacional HENNEN et al. (1982)HENNEN, J.F.; HENNEN, M.M.; FIGUEIREDO, M.B. Índice das ferrugens (Uredinales) do Brasil. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.49, supl.1, p.1-201, 1982., MENDES et al. (1998)MENDES, M.A.S.; SILVA, V. L DA; DIANESE, J.C.; FERREIRA, M.A.S.V.; SANTOS, C.E.N.; G OMES NETO, E.; URBE, A.F.; CASTRO, C. Fungos em plantas no Brasil, Brasília: Embrapa, 1998, 555 p., verificou-se que se tratava da primeira constatação dessa ferrugem no Brasil. Este material foi registrado sob o número de campo IB-2002-04 no Herbário Micológico do Laboratório de Micologia Fitopatológica.

SIMONE (1999), citado por MOSSLER & NESHEIM (2002) descreve esse fungo em atemóia (Annona cherimola x A. squamosa), onde também níveis altos de infecção causam desfolha nas plantas, como o que ocorre em cherimólia, mas não sugere alternativas de controle. MOSSLER & NESHEIM (2003), citam o uso de produtos a base de cobre para o controle dessa ferrugem em atemóia na Flórida.

Controle químico

Como as plantas estavam severamente atacadas e prejudicando a produção, visando o controle químico da doença, foi instalado um experimento de campo com seis tratamentos, quatro repetições/parcela e 3 aplicações a intervalos de sete dias. Tratamentos e doses de ingrediente ativo/100 L de água: mancozeb 80% - 20g; oxicloreto de cobre 50% - 25 g; tebuconazole 20% - 5 mL; difenoconazole 25% - 20 mL; tiofanato metílico 50% - 10 mL e testemunha. Utilizou-se um atomizador motorizado costal para aplicação dos fungicidas com um gasto de 800 L/ha.

A avaliação foi feita com base na severidade da doença nas folhas, atribuindo-se notas de 0 a 5 de acordo de acordo com a porcentagem de área foliar afetada. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% (Tabela 1).

Na avaliação para o controle da doença não foram observadas diferenças estatísticas entre os tratamentos, somente com a testemunha. Sendo assim todos os tratamentos foram eficientes no controle da Phakopsora cherimoliae. Sendo que o tratamento à base de oxicloreto de cobre, foi o que apresentou o menor índice de doença.

No Brasil, a doença mais importante na cultura é a antracnose, não havendo relato de outras doenças, sendo esta a primeira constatação de ferrugem em cherimólia, causada por Phakopsora cherimoliae no Brasil. Este material está registrado sob n° de campo IB/2002/4 no Herbário Uredinológico do CPDSV.

Fig. 5
Urediniosporos em vista mediana.

Tabela 1
Médias de tratamentos para porcentagem de área foliar afetada.

Essa é a primeira constatação de ferrugem em cherimólia, causada por Phakopsora neocherimoliae no Brasil. Este material está registrado sob n° de campo IB/2002/4 no Herbário Uredinológico do CPDSV.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BELOTTO, F. A. & MANICA, I. Clima e Solo. In: MANICA, I. (Ed.). Fruticultura - cultivo das anonáceas: ata, cherimólia e graviola Porto Alegre: Evangraf, 1994. p.12-17.
  • BONAVENTURE, L. A cultura da Cherimóia e de seu híbrido a Atemóia São Paulo: Livraria Nobel, 1999. 182p.
  • CUMMINS, G.B. Nomenclatural changes for some North American Uredinales, Mycologia, v.48, n.4, p.601-608, 1956.
  • HENNEN, J.F.; HENNEN, M.M.; FIGUEIREDO, M.B. Índice das ferrugens (Uredinales) do Brasil. Arq. Inst. Biol, São Paulo, v.49, supl.1, p.1-201, 1982.
  • KAWATI, R.; BUENO; S.C.S.; TOKUNAGA, T; NOGUEIRA, E.M. DE C.; Food and Agricultural Sciences. University of FloriTAKASSAKI, J.T.; PERIOTO, N.W. A cultura da Atemóia da. 2002. Diponível em: <http://edis.ifas.ufl.edu/(Annona squamosa L. x Annona cherimolia Mill.). Cam- PI057> Acesso em: 26 jun. 2003.
    » http://edis.ifas.ufl.edu/ (Annona squamosa L. x Annona cherimolia Mill.). Cam- PI057
  • pinas: CATI, 1997. 22p. SIMONE, G.W. Disease control in Atemóia (Annona cherimola
  • MANICA, I. Taxonomia, morfologia, anatomia. In: MANICA, I (Ed.) Fruticultura - cultivo das anonáceas: ata, cherimólia e graviola Porto Alegre: Evangraf, 1994. p. 3-11.
  • MENDES, M.A.S.; SILVA, V. L DA; DIANESE, J.C.; FERREIRA, M.A.S.V.; SANTOS, C.E.N.; G OMES NETO, E.; URBE, A.F.; CASTRO, C. Fungos em plantas no Brasil, Brasília: Embrapa, 1998, 555 p.
  • MOSSLER, M.A. & NESHEIM, O.N. Florida Crop/Pest Management Profile: Atemoya and Sugar Apple. Florida Cooperative Extension Service, Institute of x A. squamosa). Florida Cooperative Extension Service, Institute of Food and Agricultural Sciences. University of Florida. 1999. Diponível em: <http://edis.ifas.ufl.edu/PG112> Acesso em: 10 dez. 2002.
    » http://edis.ifas.ufl.edu/PG112

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2004

Histórico

  • Recebido
    17 Mar 2004
  • Aceito
    03 Jun 2004
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br