ANTRACNOSE DO FEIJOEIRO: TRATAMENTO DE SEMENTES E CORRELAÇÃO ENTRE INCIDÊNCIA EM PLANTAS E INFECÇÃO DE SEMENTES

BEAN ANTHRACNOSE: SEED TREATEMENT AND CORRELATION BETWEEN DISEASE INCIDENCE IN PLANTS AND SEED INFECTION

RESUMO

O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de fungicidas no controle de Colletotrichum lindemuthianum em sementes de feijão e verificar a correlação entre a porcentagem de plantas com sintomas de antracnose no campo e a incidência do patógeno nas sementes produzidas. Para isso, sementes da cultivar Carioca, apresentando 7,5% de incidência do patógeno, foram tratadas com seis fungicidas e utilizadas em experimentos de laboratório, casa de vegetação e campo. A incidência dos fungos nas sementes, após o tratamento, foi determinada pelo método do papel de filtro e a emergência e sintomas de plântulas foram avaliadas em casa de vegetação, utilizando-se terra esterilizada; em campo nos municípios de Paulínia e SorocabaSP, além destes parâmetros, foi também avaliada a produção. De acordo com os resultados obtidos, em laboratório, todos os fungicidas controlaram C. lindemuthianum. Em casa de vegetação não foram constatadas diferenças significativas da emergência, entretanto os fungicidas carbendazim + thiram e iprodione+thiram, iprodione + carbendazim e thiram reduziram significativamente o numero de plântulas com sintoma de antracnose nos cotilédones. Em campo não foram constatadas diferenças significativas na emergência e produção nos dois locais estudados. Não se verificou correlação significativa entre a porcentagem de plantas com sintomas de antracnose no campo e a infecção do patógeno nas sementes. Para os índices de 32,75 a 48,75% de plantas com sintomas de antracnose em Sorocaba e 17,00 a 33,50% em Paulínia, a incidência de C. lindemuthianum nas sementes foi de zero a 1,00% e zero a 5,50%, respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE:
Colletotrichum lindemuthianum; controle; fungicidas.

ABSTRACT

This research work was done in order to evaluate the effect of fungicides against Colletotrichum lindemuthianum in bean seeds and verify the correlation between anthracnose field incidence and seed infection level by this pathogen. Seeds of cv Carioca showing 7.5% infection, were treated, by using six fungicides. Seed borne fungi incidence was determinated in laboratory on blotter test and emergence, seedling symptoms in greenhouse conditions; yield was also evaluated in field trials, in two localities. According to the laboratory tests all fungicides were effective against C. lindemuthianum. In greenhouse the emergence was not significantly increased, however, the fungicides carbendazim + thiram e iprodione+thiram, iprodione + carbendazim e thiram reduced significantly cotyledon injuries. Under field conditions emergence and yield were not significantly increased by seed treatment. There was no significant correlation between the percentage of plants with anthracnose symptoms in the field and the percentage on seed infection with C. lindemuthianum. The percentage of plants with anthracnose symptoms were 32.75 to 48.75 in Sorocaba and 17.00 to 33.50% in Paulinia, while the seed infection levels on these localities were zero to 1.00%, and zero to 5.50%, respectively.

KEYWORDS:
Colletotrichum lindemuthianum; control; fungicides.

INTRODUÇÃO

O feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) está sujeito inúmeras doenças incitadas por fungos, sendo que grande parte delas podem ter seus agentes causais transmitidos por sementes (RICHARDSON, 1979). A antracnose cujo agente causal é o fungo Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Magn.) Scribner, é considerada uma das doenças do feijoeiro mais importantes transmitidas por sementes. A antracnose prevalece principalmente em regiões de temperaturas moderadas a frias, com alta umidade relativa do ar. Há relatos de perdas consideráveis devido a esta doença em diversos países da América Central, América do Sul e Ásia. Em regiões favoráveis ao seu desenvolvimento, as perdas podem chegar até 100% quando se utilizam sementes infectadas pelo patógeno (CHAVES, 1980; GUZMAN et al. 1979).

Como medidas de controle da antracnose é preconizada a adoção de práticas culturais, que incluem o uso de sementes livres do patógeno, de produtos químicos e variedades resistentes (SARTORATO, 1988; SHAO & TERI, 1985).

Para a obtenção de sementes em boas condições fisiológicas e sanitárias, há necessidade de um rigoroso controle de qualidade, o qual envolve a análise das sementes em laboratório e monitoramento dos campos de produção de sementes, onde devem ser feitas no mínimo duas inspeções sanitárias durante o ciclo da cultura (NEEGAARD, 1977). Com base em inspeções para a presença de sintomas de antracnose em plantas, o campo pode ser aceito ou recusado.

Apesar desse controle, muitas vezes, dependendo da demanda existente, faz-se necessário o tratamento de sementes com produtos químicos, para a liberação de lotes de sementes para o plantio.

As informações controvertidas oriundas da pesquisa sobre a correlação existente entre a porcentagem de plantas com sintomas de antracnose no campo e incidência de C. lindemuthianum nas sementes, têm dificultado a decisão de aceite ou recusa das sementes produzidas, em campos onde as plantas apresentam sintomas da doença.

Com base nestas considerações, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de fungicidas no controle de C. lindemuthianum e verificar a correlação entre a porcentagem de plantas com sintomas de antracnose no campo e a incidência do patógeno nas sementes de feijoeiro.

MATERIAL E MÉTODOS

Sementes de feijoeiro comum da cultivar Carioca, com incidência de 7,5% de C. lindemuthianum foram tratadas com os seguintes fungicidas, nas doses de i.a./100kg de sementes: carbendazim+thiram (75+140), iprodione+carbendazim (52,5+26,25), iprodione+thiram (50+150), tiofanato metílico (105), thiram (150) e benomyl (50). A partir destas sementes foram conduzidos experimentos com sete tratamentos e quatro repetições, em laboratório, casa de vegetação e campo.

Em laboratório, após o tratamento, as sementes foram analisadas para sanidade pelo método do papel de filtro (ISTA, 1966). Utilizaram-se duzentas sementes de cada tratamento em quatro repetições de 50, empregando-se o delineamento inteiramente casualizado.

Em casa de vegetação, duzentas sementes de cada tratamento, foram semeadas em caixas de plástico contendo terra esterilizada, seguindo-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. As avaliações foram feitas aos sete e quinze dias após a semeadura, utilizando-se como parâmetros a porcentagem de plântulas emergidas e de sintomas nos cotilédones,

Em campo, foram instalados experimentos em duas localidades, de Paulínia e Sorocaba, SP, no plantio das águas. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso com sete tratamentos e quatro repetições, em parcelas de quatro linhas com quatro metros de comprimento e 0,50 metro entre linhas. Foram avaliadas a emergência e da produção, levando-se em consideração as duas linhas centrais de cada parcela.

Foram feitas também avaliações dos sintomas das plantas, no estádio R9 (VAN SCHOONHOVEN & PASTOR CORRALES, 1987), registrando-se a porcentagem de plantas com sintoma de antracnose nas folhas e vagens, nas duas linhas centrais da parcela. Amostras de 200 sementes, provenientes das plantas acima avaliadas, foram analisadas para sanidade, utilizando-se o método do papel de filtro. Após a análise, calculou-se a porcentagem de sementes com C. lindemuthianum e os dados obtidos foram submetidos à analise de correlação linear, aplicando-se o teste t.

Os dados de emergência em casa de vegetação e campo, bem como a produção em campo foram transformados para arco seno √x/100 e submetidas a análise de variância, comparando-se as médias pelo teste de Tukey a 5% probabilidade

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os resultados da análise de sanidade das sementes após os tratamentos todos os produtos controlaram o fungo C. lindemuthianum (Tabela 1).

Em casa de vegetação, embora não tenha havido elevação significativa da emergência nos tratamentos com fungicidas, que foram semelhantes à testemunha, observou-se que o tratamento com thiram foi significativamente superior ao benomyl. O efeito negativo do benomyl sobre a emergência de feijão, já foi verificado por CANDAL NETO et al.(1995) e ELLIS et. al.(1977), também foi observado no presente. Apesar deste efeito, TRUTMANN et al.(1992) relataram que o tratamento de sementes de feijão com benomyl reduziu a severidade de doenças causadas por C. lindemuthianum, Phaeoisariopsis griseola e Phoma exigua var. diversipora.

Tabela 1
Efeito de fungicidas no tratatamento de sementes de feijão da cultivar Carioca, no controle de Colletotrichum lindemuthianum em condições de laboratório, casa de vegetação e campo, no plantio das águas, em Paulínia e Sorocaba, SP.

	LABORATÓRIO	CASA DE VEGETAÇÃO			CAMPO
TRATAMENTOS	Incidência (%) C. lindemuthianum	Emergência arcsen $\sqrt{x/100}$ (%)	sintoma cotilédone (%)	Emergeência n° plantas em 8m $\sqrt{x}$		Produção g/ parcela $\sqrt{x}$
				Paulínia	Sorocaba	Paulínia	Sorocaba
Cabendazim + thiram	0,5a	70,88ab	1,0a	11,63a	9,10	168,47	344,77
Iprodione + carbendazim	1,5a	69,44ab	1,0a	ll,18ab	9,30	159,27	339,10
Iprodione + thiram	0,0a	69,94ab	0,5a	ll,21ab	9,34	159,35	344,65
Tiofanto metílico	1,0a	67,31ab	2,5ab	10,80b	9,37	151,22	282,32
Thiram	0,5a	73,76a	1,0a	10,84b	9,52	142,87	211,45
Benomyl	2,0a	63,46b	3,0ab	ll,14ab	9,42	148,07	323,82
Testemunha	7,5b	72,18ab	7,5b	ll,18ab	9,04	128,10	336,60
F	5,57*	2,91*	3,49*	5,90*	0,23 ns	0,96 ns	1,31 ns
CV	34,69	5,95	37,73	2,02	7,54	17,77	26,75
dms (Tukey 5%)	4,92	9,61	5,85	0,53

Em relação ao controle do patógeno nas sementes observou-se que os fungicidas iprodione + carbendazim, carbendazim + thiram, iprodione + thiram e thiram, reduziram significativamente o número de plântulas com sintomas de antracnose nos cotilédones (Tabela 1).

No que se refere ao carbendazim + thiram, SHARMA & SHUGA (1995) em experimentos de campo onde sementes de feijão foram tratadas com diversos fungicidas, visando controle de C. lindemuthianum, verificaram que esta mistura e carbendazim foram os mais efetivos no controle deste patógeno.

Nos experimentos de campo (Tabela2), nas regiões de Paulínia e Sorocaba, os resultados mostraram que não houve diferenças significativas entre os tratamentos com relação a emergência e produção, quando comparados com a testemunha.

Observou-se produção maior em Sorocaba, apesar de se registrar menor número de plantas emergidas do que em Paulínia. Esta aparente discrepância pode ser atribuída em parte à menor competição por nutrientes em Sorocaba, onde a população por unidade de área foi menor.

A não constatação do efeito significativo entre os tratamentos em relação à emergência, tanto em casa de vegetação como em campo, indicam que C. lindemuthianum, não teve efeito sobre a germinação das sementes. Esta característica do patógeno sobre a emergência também é citada pos MENEZES et al.(1981) PATRICIO et al. (1991) e VECHIATO et al.(1997).

Nos estudos de correlação (Tabela 2), registrouse em Sorocaba valores que variaram de 32,75 a 48,75% de plantas com sintomas de antracnose e valores de incidência do patógeno nas sementes que variaram de zero a 1,0%. Em Paulínia, a porcentagem de plantas com antracnose variou de 17,00 a 33,50% e a incidência nas sementes foi de zero a 5,5%.

Observa-se que, apesar da porcentagem de plantas com antracnose ser maior em Sorocaba, obtevese valores menores de incidência do patógeno nas sementes. Este fato, provavelmente, ocorreu porque a infecção das sementes em plantas com sintomas, pode ser influenciada por diversos fatores tais como: condições climáticas (LIMA et al.,1985, PIZZINATO et al.,1991), época de infecção da planta pelo patógeno (ARAUJO et al., 1995; OLIVEIRA, 1991) e raça do patógeno (ARAUJO & ZAMBOLIN, 1993).

O valor do coeficiente de correlação obtido (Tabela 2) tanto em Paulínia como em Sorocaba, mostrou não haver correlação entre a porcentagem de plantas com sintomas de antracnose no campo e a incidência C. lindemuthianum nas sementes. Resultados semelhantes foram obtidos por LASCA et al. (1980), GOMES & PORTO (1981), DHINGRA et al. (1986). Entretanto ARAYA et al. (1986) obtiveram correlação positiva significativa entre a porcentagem de vagens infectadas por antracnose e a incidência do patógeno nas sementes.

Tabela 2
Incidência (%) de antracnose em plantas de feijão da cultivar Carioca no campo e de Colletotrichum .lindemuthianum nas sementes colhidas, no plantio das águas, em Paulínia e Sorocaba, SP.

TRATAMENTOS	PAULÍNIA			SOROCABA
	Incidência campo	Incidência sementes	Incidência campo Incidência sementes
Carbendazim+thiran	20,50	1,0	32,75	0,5
Iprodione+carbendazim	17,00	0,5	37,00	0,0
Iprodione+thiran	20,25	2,0	33,00	0,0
Tiofanato metílico	25,75	0,0	36,50	0,5
Thiran	24,00	3,0	41,75	0,0
Benomyl	21,75	2,0	48,75	0,0
Testemunha	33,50	5,5	45,50	1,0
coeficiente de correlação r	0,74 ns			-0,029ns

Em estudos para verificar a correlação em diferentes níveis de severidade de antracnose em vagens de plantas de feijão e a incidência de C lindemuthianum nas sementes, em três regiões, nos plantios das águas e da seca, VECHIATO et al. (1997), obtiveram resultados que mostraram nem sempre haver esta correlação.

Com base nos resultados obtidos sobre a correlação entre a incidência de plantas de feijão com sintomas de antracnose e a infecção de sementes por C. lindemuthinum, neste trabalho, bem como de outros pesquisadores, sugere-se que, o aceite ou recusa de campos de produção de sementes não deve ser baseado somente nas inspeções de campo, mas nesta prática aliada à análise de sanidade das sementes em laboratório.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Set 2024
• Data do Fascículo
  Jan-Jun 2001

Histórico

• Recebido
  30 Jun 2000