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DETERMINAÇÃO DA MICROFLORA DO TRATO GASTRINTESTINAL DE AVESTRUZES (STRUTHIO CAMELUS) CRIADOS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, SUBMETIDAS À NECRÓPSIA

DETERMINATION OF THE GASTROINTESTINAL MICROFLORA OF OSTRICHES (STRUTHIO CAMELUS) FROM THE NORTHWEST AREA OF THE SÃO PAULO STATE, BRAZIL, SUBMITTED TO NECROPSY

RESUMO

A criação de avestruz (Struthio camelus) vem sendo implantada no país, despontando como uma alternativa lucrativa na pecuária brasileira, atraindo cada vez mais o interesse de novos criadores. A necessidade do conhecimento da microflora aeróbica e anaeróbica que compõem o trato gastrintestinal destas aves, além de contribuir para a própria sanidade destes animais, seria de identificar-se possíveis portadores de microrganismos patogênicos para o homem e os animais. O presente trabalho teve por objetivos identificar as espécies de microrganismos aeróbios e anaeróbios que compõem a microbiota gastrintestinal de animais necropsiados pela disciplina de Ornitopatologia do Departamento de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal. Do total de 30 aves necropsiadas, de ambos os sexos e com idade varindo entre 1 dia a 3 anos de idade foram isoladas 53 amostras de Escherichia coli (61,0%), 7 de Candida spp. (8,0%), 6 de Salmonella spp. (6,9%), 5 de Morganella spp. (5,7%), 4 de Klebisiella spp. (4,6%), 3 de Providencia spp. (3,45%), 2 de Pseudomonas spp. e Staphylococcus spp. (2,3%) e 1 de Citrobacter spp., Edwarsiella tarda, Enterococcus spp., Moerella spp. e Proteus mirabilis. Da microbiota anaeróbica, foram isolados 19 amostras de Lactobacillus sp. (38%), 15 de Clostridium spp. (30%), 5 de Fusobacterium spp. (10%) e 4 de Peptoestreptococcus spp. (8%). Da mucosa do próventrículo foram identificadas 15 amostras de Candida spp. (51,7%), 6 de Lactobacillus spp. (20,7%), 5 de Aspergillus spp. (17,24%), 2 de Penicillium spp. (7%) e 1 de Staphylococcus spp. (3,45%), enquanto que da moela foram isolados 21 amostras de Candida spp. (58,3%), 9 de Aspergillus spp. (25%), 5 de Lactobacillus spp. ( 13,9%) e 1 amostra de Sthaphylococcus spp. (2,8%).

PALAVRAS-CHAVE:
Avestruz (Struthio camelus); aeróbica; anaeróbica; microflora gastrintestinal.

ABSTRACT

The raising of ostriches (Struthio camelus) has been implanted in Brazil as a lucrative alternative in the Brazilian livestock, attracting the interest of new farmers. The knowledge of the aerobic and anaerobic gastrointestinal microflora of these birds, besides contributing to their health, would help in the identification of pathogenic microorganisms that also infect the human being and other animals. The present study was aimed to identify of the aerobioc and anaerobioc microorganisms that compose the gastrointestinal microbiota of ostriches submitted to necropsy in the Avian Pathology Service, Medicine Veterinary Course, UNESP, Campus of Araçatuba. Out of 30 birds necropsied, from both sexes and with age varying between 1 day to 3 years of age, 53 samples of Escherichia coli (61.0%), 7 of Candida spp. (8.0%), 6 of Salmonella spp. (6.9%), 5 of Morganella spp. (5.7%), 4 of Klebsiella spp. (4.6%), 3 of Providencia spp. (3.45%), 2 of Pseudomonas spp. and Staphylococcus spp. (2.3%) and 1 of Citrobacter spp., Edwarsiella tarda, Enterococcus spp., Moerella spp. and Proteus mirabilis were isolated. Of the anaerobic microbiota, 19 samples of Lactobacillus spp. (38%), 15 of Clostridium spp. (30%), 5 of Fusobacterium spp. (10%) and 4 of Peptoestreptococcus spp (8%) were isolated. From the proventriculus mucosa 15 samples of Candida spp. (51.7%), 6 of Lactobacillus spp. (20.7%), 5 of Aspergillus spp. (17,24%), 2 of Penicillium spp. (7%) and 1 of Staphylococcus spp. (3.45%) were identified. From the gizzard, 21 samples of Candida spp. (58.3%), 9 of Aspergillus spp. (25%), 5 of Lactobacillus spp. (13.9%) and 1 sample of Sthaphylococcus spp. (2.8%) were isolated.

KEY WORDS:
Ostriches (Struthio camelus); aerobic; anaerobic; gastrointestinal microflora.

INTRODUÇÃO

A criação de avestruz (Struthio camelus) vem sendo implantada no país, despontando como uma alternativa lucrativa na pecuária brasileira, atraindo cada vez mais o interesse de novos criadores.

O avestruz é uma ave originária da África do Sul, onde atualmente encontra-se localizado o maior plantel do mundo, seguido pelos Estados Unidos, Austrália e Canadá.

O 1o sistema de criação extensiva de avestruz implantado no Brasil iniciou-se em 1995 no Município de Bragança Paulista no Estado de São Paulo e a partir daí vem se espalhando para outras regiões do país. (CATÁLOGO RURAL, 2004CATÁLOGO RURAL. Avestruz Disponível em: <http://www.agrov.com/animais/peq_ani/avestruz.htm>. Acesso em: 31 ago. 2004.
http://www.agrov.com/animais/peq_ani/ave...
). O avestruz é a maior ave viva presente no planeta incapaz de voar. Isto devese ao fato de que o esterno destas aves não possuem quilha, que abrigaria os poderosos músculos responsáveis pelo vôo. Anatomicamente o esterno do avestruz apresenta o formato achatado (do Latim ratis) originando por sua vez o termo ratitas (HUCHZERMEYER, 1998).

A criação de avestruz tem sido alvo de grande interesse por parte dos pecuaristas devido ao seu grande potencial zootécnico, aliado a uma grande diversidade de produtos, como plumas, couro, carne, ovos e matrizes. Atualmente, a região de Araçatuba vem se tornando um pólo de referência no abate e na criação dessas aves, sendo responsável pela comercialização e o fornecimento de matrizes e demais produtos do avestruz para outras regiões, amplificando desta forma a necessidade de maiores conhecimentos à respeito destas aves. Alguns trabalhos vem sendo desenvolvidos em diversas áreas como na anatomia, fisiologia, entomologia entre outras, entretanto pouco se conhece sobre a microbiologia dessas aves. As mortes decorrentes de processos infecciosos representam grandes perdas econômicas, principalmente, por não existir limite de idade para as infecções por enterobactérias (SATHYANARAYANA et al., 1981SATHYANARAYANA RAO M.; RAMACHANDRA, R.N., ZIAUDDIN, S; RAGHAVAN, R. Colibacillosis in an ostrich (Struthio camelus). Indian J. Comp. Microbiol. Immunol. Infect. Dis., v.2, p.40-41, 1981.) e por se tratar de uma ave que facilmente estressa-se às mínimas alterações de manejo como, transporte, quarentena e ou mudança de ambiente, predispondo assim às infeccções por bactérias oportunistas. Como na septicemia e aerossaculite por Pseudomonas aeruginosa (ANON, 1989). O Clostridium perfringens é um habitante normal da flora de avestruzes, contudo sob condições de estresse agudo ou mudança de alimentação, em que se criem condições favoráveis a sua multiplicação, produzem toxinas que levam a um quadro de enterotoxemia (HUCHZERMEYER et al., 1998). A infecção por megabaterioses é responsável por alta mortalidade em várias espécies de aves. Os sinais clínicos variam desde perda de peso a diarréia, vômitos e hemorragias, principalmente com lesões em proven-trículo e em ventrículo (BAKER, 1992BAKER, J.R. Megabacteriosis in exhibition budgerigars. Vet. Rec., v.13, p.12-14, 1992.). Nos últimos anos os processos infecciosos por megabacteria em avestruz vem sendo cada vez mais freqüentes, principalmente, em aves jovens e com alta mortalidade. A necessidade do conhecimento da microflora aeróbica, microaeróbica e anaeróbica que compõe o trato gastrintestinal destas aves, além de contribuir para a própria sanidade destes animais, seria de identificar-se possíveis portadores de microrganismos patogênicos para o homem e os animais. Pelo exposto o presente trabalho tem por objetivo identificar microrganismos aeróbios e anaeróbios presentes em fezes do trato gastrintestinal de aves necropsiados pela disciplina de Ornitopatologia do Departamento de Clínica e Cirurgia.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram colhidas 30 amostras de fezes do trato gastrintestinal e de conteúdo de próventrículo e ventrículo de aves necropsiadas pela disciplina de Ornitopatologia do Departamento de Clínica e Cirurgia. O material após a coleta foi enviado para o Laboratório de Microbiologia do Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal da Faculdade de Odontologia e Curso de Medicina Veterinária da Unesp-Campus de Araçatuba. Do trato gastrintestinal de cada ave foram colhidos 3 amostras de fezes, com o auxílio de um "swab" estéril, os quais foram imediatamente acondicionados em isopor com gelo e encaminhados para o Laboratório de Microbiologia, onde foram semeadas em Ágar Sangue e Ágar MacConkey e incubadas a 37º C em aerobiose por 24h. Simultaneamente, uma amostra foi semeada em Ágar Sangue e submetida à temperatura de 37º C em atmosfera de anaerobiose, por 72h. Posteriormente, foi realizado a bacterioscopia que caracterizou o microrganismo quanto à coloração de Gram e quanto a sua morfologia. Os microrganismos que apresentaram crescimento em 24h em Agar MacConkey e na coloração de Gram apresentaram formas de bacilos ou cocobacilos Gram-negativos foram submetidos às provas bioquímicas para enterobactérias, que após a inoculação em TSI foram classificadas em cinco grupos de acordo com a fermen-tação de carboidratos glicose, lactose e sacarose, produção de gás e H2S (QUINN et al., 1992QUINN, P.J.; CARTER, M.E.; MARKEY, B.; CARTER, G.R. Enterobacteracea In: QUINN, P.J.; CARTER, M.E.; MARKEY, B.; CARTER, G.R. (Eds.). Clinical medicine veterinary. Londres: Wolfe, 1992. 848p.). Para a classificação bioquímica foram utilizadas as seguintes provas: do citrato, da uréase, da descarboxilação de aminoácidos, do indol, da fenilalanina; da motilidade e da fermentação de carboidratos. Os microrganismos que apresentaram crescimento em Ágar Sangue às 72h em anaerobiose, foram submetidos à coloração de Gram e Verde Malaquita para visualização dos esporos (QUINN et al.,1992QUINN, P.J.; CARTER, M.E.; MARKEY, B.; CARTER, G.R. Enterobacteracea In: QUINN, P.J.; CARTER, M.E.; MARKEY, B.; CARTER, G.R. (Eds.). Clinical medicine veterinary. Londres: Wolfe, 1992. 848p.). Para o isolamento de Megabacteria pequenos fragmentos de tecido da (diretamente da superfície interna da camada coilina) da mucosa do próventrículo e da moela foram retirados e imediatamente enviados em isopor com gelo para o Laboratório de Microbiologia, onde foram submetidos inicialmente ao pré-enriquecimento em caldo de MRS por 12h a 37º C, em atmosfera de 5-10% de CO2. Após o período de incubação, o material foi semeado em Agar MRS e incubado por 48h em idênticas condições de atmosfera e de temperatura. As colônias suspeitas de Megabacteria foram reinoculadas em meio de Ágar Sangue triptose e novamente incubadas em 37º C por 48h em condições de microaerofilia que macroscopi-camente deveriam apresentar tamanho pequeno, cor cinza, com bordos irregulares, e halo de hemólise. Posteriormente, foram feitos esfregaços das colônias e submetidos ao Gram, e as amostras suspeitas de Megabacteria foram submetidos às provas bioquímicas de catalase, oxidase, e de fermentação da sacarose, maltose e lactose (HUCHZERMEYER, 1998).

RESULTADOS

Foram colhidos amostras de fezes do trato gastrointestinal e de raspado de mucosa de próventrículo e moela de 30 aves necropsiadas pela disciplina de Ornitopatologia do Departamento de Clínica e Cirurgia. Do total das 30 amostras, 23 foram provenientes de aves fêmeas e 7 de machos. A idade das aves variou de 1 dia até a idade adulta de 3 anos, todas provenientes do município de Araçatuba.

A microbiota gastrintestinal de avestruz (Struthio camelus) nas porções do trato gastrintestinal, após o cultivo de 24 e 48h em meio de Ágar-sangue e MacConkey em atmosfera de aerobiose a 37º C foi constituída de bactérias Gram positivas e Gram negativas, como: Staphylococcus spp., Escherichia coli, Edwarsiella tarda, Citrobacter spp., Moerella spp., Morganella spp., Klebsiella spp. e Pseudomonas spp. apresentados na Tabela 1.

Tabela 1
Relação da freqüência de microrganismos aeróbicos, presentes em amostras de fezes de avestruz, de acordo com seu isolamento.Araçatuba, 2003.

A microbiota anaeróbica do trato gastrintestinal de avestruz (Struthio camelus), após o cultivo de 72h em meio de Ágar-Sangue a temperatura de 37º C, constituiu-se de Bacillus spp., Peptostreptococcus spp., Cocobacilos gram positivos, Fusobacterium spp. e Costridium spp., conforme dados apresentados na Tabela 2.

Tabela 2
Relação da freqüência de bactérias anaróbicas, presentes em amostras de fezes de avestruz, de acordo com seu isolamento.Araçatuba, 2003.

Os microrganismos isolados a partir do raspado da mucosa do próventrículo e da moela de avestruz (Struthio camelus), em meios de MRS e em condições de microaerofilia foi constituído basicamente das mesmas espécies de microrganismos, variando apenas a freqüência de isolamento, exceto para o Penecillium spp. que foi isolado em 2 amostras provenientes do próventrículo. A Candida spp foi o microrganismo mais prevalente, tanto de amostras oriundas do próventrículo como da moela com 51,7% e 58,3%, respectivamente. O Aspergillus spp. foi mais predominante em culturas a partir da mucosa da moela com 25%, enquanto que em amostras provenientes do próventrículo houve uma freqüência de 17,24%. O Lactobacillus spp. apresentou uma maior prevalência no próventrículo do que na moela com 20,7% e 13,9% respectivamente. Outras bactérias formam isoladas em menor freqüência como o Sthaphylococcus spp. em que foi observado em uma única colônia em ambas as mucosas, enquanto que o Penicillium spp. foi observado somente no próventrículo com 7% de prevalência, conforme dados apresentados na Tabela 3.

Tabela 3
Relação da freqüência de microrganismos, isolados da mucosa do próventrículo e de moela de avestruz, em condições de microaerofilia de acordo com seu isolamento. Araçatuba, 2003.

DISCUSSÃO

A microflora normal das mucosas das aves e dos animais tem grande importância no desenvolvimento do ser. De uma maneira geral estes microrganismos que compõem a microflora desempenham funções múltiplas que variam desde a produção de ácido lático e acético que auxiliam no processo digestivo até a competição por receptores de mucosas. O sinergismo entre as espécies, beneficiando a sobrevivência mútua ou a ação competitiva entre as espécies, impedindo que cepas patogênicas venham a desenvolver-se é apenas uns dos exemplos da importância do estabelecimento da flora natural. A colonização intestinal, particularmente, em recém-nascidos, por microrganismos benéficos como Lactobacillus e Streptococcus auxiliam na proteção do animal contra amostras potencialmente patogênicas como Salmonella e E. coli (MILES, 1982). A literatura apresenta trabalhos que elucidam a ação antagônica do Lactobacillus acidophilus sobre microrganismos patogênicos com a Candida albicans (FITZSIMMONS et al., 1994FITZSIMMONS, N. & BERRY, D.R. Inhibition of Candida albicans by Lactobacillus acidophilus: evidence for the involvement of peroxidase system. Microbios, v.80, p.125-133, 1994.), o Staphylococcus aureus (Andersson, 1986ANDERSSON, R. Inhibition of Staphylococcus aureus and spheroplasts of Gram negative bacteria by an antagonistic compound produced by a strain of Lactobacillus plantarum. J. Food. Microbiol., v.3, p.149160, 1986.) e Campylobacter jejuni (SNOEYENBOS et al., 1982SNOEYENBOS, G.H. & W EINACK, O.M. Intestinal colonization and competitive exclusion of Campylobacter fetus subsp. jejuni in young chicks. Avian Dis., v.26, p.520540, 1982.).

Em nosso trabalho a microflora entérica aeróbica de avestruz (Struthio camelus) apresentou-se de forma diversificada de uma maneira geral. Sendo constituída de membros da família das Enterobacteriaceae como, E. coli, Klebsiella spp., Morganella spp., Moerella spp., Citrobacter spp., Edwarsiella tarda, Salmonella spp., Proteus mirabilis e Providencia spp. e de bactérias do gênero pseudomonas, Staphylococcus spp. e Enterococcus spp. Quanto aos agentes mais freqüentemente isolados, a partir de amostras de fezes, a E. coli foi o microrganismo mais prevalente (61,%), seguido pela Candida spp. (8,0%), Salmonella spp. (6,9%), Morganella spp. (5,7%), Klebsiella spp. (4,6%), Providencia spp. (3,45%), Pseudomonas e Staphylococcus com (2,3%) sendo que o Citrobacter spp., a E. tarda, o P. mirabilis e Enterococcus spp. apresentaram a mesma prevalência de isolamento (1,15%).

MENTON et al. citado por HUCHZERMEYER (1998) trabalhando com o isolamento de patógenos bacterianos isolados de amostras de fezes de avestruz, na seção de Bacteriologia do Instituto de Onderstepoort, no período de janeiro a dezembro de 1992, obsevaram a maior prevalência de Psedomonas aeruginosa, (12 amostras) seguida de E. coli, (11 amostras), Salmonella spp. (10 amostras) e Klebsiella spp., (3 amostras) classificando este último como patógeno secundário. As espécies de enterobactérias mais freqüentemente isoladas por MEDEIROS (2002)MEDEIROS, A.A. Estudo da microbiota intestinal de avestruzes do interior do estado de São Paulo: avaliação in vitro de algumas espécies bacterianas para a utilização de probiotos. Jaboticabal: 2002. 72p. [Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Univ. Estadual Paulista]. a partir de conteúdo intestinal de avestruzes necropsiados após o sacrifício foram de amostras de Pseudomonas aeruginosa com 37,5% de freqüência, seguida por Serratia odorífera, Enterobacter sakazakii e E. coli com 12,5%. Outras espécies como E. cloacae, Salmonella spp., Proteus mirabilis e Klebsiella pneumoniae ozanae, foram isoladas com menor freqüência (6,25%). A microbiota natural pode ser subdividida de acordo com a área do trato alimentar, sendo quase contínua ao longo do intestino. Entretanto, a capacidade de sobrevivênvia do microrganismos em pH ácido ou base aliado a tolerância frente a ambientes ácidos determinam a permanência ou não da microbiota existente (MEDEIROS, 2002MEDEIROS, A.A. Estudo da microbiota intestinal de avestruzes do interior do estado de São Paulo: avaliação in vitro de algumas espécies bacterianas para a utilização de probiotos. Jaboticabal: 2002. 72p. [Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Univ. Estadual Paulista].). Os lactobacilos são os microrganismos mais predominantes no papo das aves, tolerando um pH entre 4 e 5 podendo ser observados também no ceco. O pH do próventrículo e da moela apresenta-se um pouco mais baixo em torno de 1 e 2 e a sobrevivência do microrganismo depende da sua capacidade de tolerância a produção de ácidos (FULLER, 1992). No presente estudo observa-se uma maior freqüência de amostras de Candida spp. presentes tanto na moela (58,3%) como no próven-trículo (51,7%), seguido de amostras de Lactobacillus (20,7%) e de Aspergillus spp. (17,24%). Enquanto que, na moela houve uma maior predominância de Aspergillus spp. (25%) em comparação com as amostras de Lactobacillus spp. (13,9%). Outras espécies com Staphylococcus spp. Penicillium spp. foram isoladas em menor quantidade. Dos microrganismos anaeróbios, os Bacillus spp. (38%), seguido pelo Clostridium spp. (30%), cocobacilos Gram positivos (14%), Fusobacterium spp. (10,0%) e Peptostreptococcus spp. (8%). MEDEIROS (2002)MEDEIROS, A.A. Estudo da microbiota intestinal de avestruzes do interior do estado de São Paulo: avaliação in vitro de algumas espécies bacterianas para a utilização de probiotos. Jaboticabal: 2002. 72p. [Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Univ. Estadual Paulista]., isolando bactérias anaeróbicas do intestino delgado e de ceco de avestruzes , observou uma maior prevalência de Eubacterium, seguidas de Clostridium spp. e Fusobacterium spp. Esses resultados também diferem dos encontrados por MENTON et al. citado por HUCHZERMEYER (1998), onde o C. perfringens apresentou total de 43 amostras. isoladas.

Segundo HUCHZEREYER (1993)HUCHZERMEYER, F.W; HENTON, M.M.; KEFFEN, R.H. High mortality associated with megabacteriosis of proventriculus and gizzard in ostrich chicks. Vet. Rec., v.133, p.143-144, 1993. as bactérias da espécie de Clostridium perfringens, Salmonella spp., E. coli, Klebsiella, Campylobacter e Pseudomonas aeruginosa são os principais agentes etiológicos responsáveis por quadros de enterite. No presente trabalho nem todas as aves que foram utilizadas apresentavam sintomas sugestivos de gastroenterites, entretanto, foram observados microrganismos com alto poder patogênico compondo parte da microbiota gastrintestinal. O grande isolamento de fungos a partir da mucosa do próventrículo e da moela prende-se ao fato de que estas aves são coprofágicas e ao baixo pH presente nestes locais. Entretanto, são microrganismos patogênicos e que em uma eventual imunossupressão poderão atuar como agentes etiológicos de infecções.

Com relação ao isolamento da Megabacteria spp. não obtive-se resultado positivo. Todas as colônias suspeitas eram na verdade Lactobacillus spp. Embora, haja na literatura um consenso de que a incidência de megabacteriose em aves esteja aumentando, a dificuldade de isolar o microrganismo em meio de cultura têm colaborado para o desconhecimento da doença (TOLINA et al., 2000).

AGRADECIMENTOS

À Fundação para o Desenvolvimento da Pesquisa - Fundunesp, pelo financiamento do Projeto processo no.146/2002-DFP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2004

Histórico

  • Recebido
    14 Jul 2004
  • Aceito
    14 Ago 2004
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