FAUNA DE PARASITÓIDES ASSOCIADOS À DIPTERA CYCLORRHAPHA (INSECTA)

FAUNA OF PARASITOIDS ASSOCIATED THE DIPTERA CYCLORRHAPHA (INSECTA)

RESUMO

Este trabalho visa conhecer as espécies de parasitóides de Diptera que ocorrem em áreas de vegetação nativa e pastagens em Itumbiara, Goiás. O material foi obtido na Fazenda da Faculdade de Agronomia, através de coletas semanais, utilizando-se armadilhas de bacias amarelas. As espécies que apresentaram preferências pela área de mata nativa foram: Aphaereta sp., Asobara sp. (Alysiinae), Phaenocarpa sp. (Alysiinae), Odonteucoila sp. e Zaeucoila sp. (Eucoilidae) e pelas pastagens, Paraganaspis egeria, Triplasta atrocoxalis (Figitidae) e Spalangia cameroni (Pteromalidae).

PALAVRAS-CHAVE:
Braconidae; Alysiinae; pastagens; vegetação nativa; bacias amarelas.

ABSTRACT

This work was done to determine the species of parasitoids of Diptera that occur in the native vegetation and pasture of Itumbiara, Goiás. The material was obtained in the Fazenda da Faculdade de Agronomia, through weekly collections done using yellow bucket traps. The species which preferred the native woods were: Aphaereta sp., Asobara sp. (Alysiinae), Phaenocarpa sp. (Alysiinae), Odonteucoila sp. and Zaeucoila sp. (Figitidae) and the pasture Paraganaspis egeria, Triplasta atrocoxalis (Eucoilidae) and Spalangia cameroni (Pteromalidae).

KEY WORDS:
Braconidae; Alysiinae; pasture; native vegetation; yellow buckets.

INTRODUÇÃO

Os Braconidae constituem a segunda maior família dos Hymenoptera (SCATOLINI & DIAS, 1997). Estimase que existem cerca de 40.000 espécies espalhadas pelo mundo (SHARKEY, 1993).

A família encontra-se dividia em 45 subfamílias (ACHTERBERG, 1993). A subfamília Alysiinae compõe-se de endoparasitóides coinobiontes de Diptera Cyclorrapha com mais de 1.000 espécies descritas, distribuídos por todo o mundo (WHARTON, 1984). As principais famílias de muscóides hospedeiros desse grupo pertencem aos Calliphoridae, Muscidae, Phoridae, Sarcophagidae e Anthomyiidae (SHENEFELT, 1974).

Eles põem os seus ovos em larvas ou ovos dos hospedeiros e emergem dos pupários, sendo principalmente gregários. A maioria dos registros pertence às espécies associadas a fezes e outros substratos em decomposição (MARCHIORI et al., 1998).

Os Figitidae (Hymenoptera: Cynipoidea) são endoparasitóides coinobiontes que ovipõem no estágio larval de Diptera Cyclorrapha e emergem como adultos do pupário de seu hospedeiro (RONQUIST, 1994; RONQUIST, 1995).

Os Figitinae (Hymenoptera: Cynipoidea) são parasitóides de Neuroptera e Diptera (GAULD & BOLTON, 1988; MARCHIORI & LINHARES, 1999b). Possuem espécies parasitóides de Neuroptera e endoparasitóides de dípteros (WELD, 1952; GAULD & BOLTON, 1988), ovipondo em larvas jovens e emergindo como adulto do pupário de seu hospedeiro (ASKEW, 1971).

A família Pteromalidae (Hymenoptera, Chalcidoidea) inclui um grande número de espécies parasitóides, muitas das quais têm importância no controle biológico de muscóides sinantrópicos (RUEDA & AXTELL, 1985).

A subfamília Spalanginae (Hymenoptera: Chalcidoidea: Pteromalidae) possui 12 espécies na região Neotropical. O gênero Spalangia apresenta parasitóides pupais associados com moscas das famílias Muscidae, Calliphoridae, Sarcophagidae, Drosophilidae, Chloropidae (GRISSELL & SCHAUFF, 1990; MARCHIORI & LINHARES, 1999a; MARCHIORI et al., 1999) e Fanniidae (MONTEIRO, 1995).

Os dados obtidos neste estudo têm por objetivo identificar as espécies de parasitóides de Diptera coletadas em áreas de mata nativa e pastagens em Itumbiara, Goiás.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Fazenda da Faculdade de Agronomia, situada próximo às margens do rio Paranaíba; distando 5 quilômetros do centro de Itumbiara, GO. A fazenda possui uma área de aproximadamente 12 alqueires.

Foram realizadas coletas semanais com 10 armadilhas amarelas, contendo água, colocadas em nível do solo e distribuídas ao acaso para amostrar áreas de pastagens e de vegetação nativa próximas a elas (5 bacias foram colocadas nos pastos e 5 na mata). Foram usadas bacias amarelas de aproximadamente 30 cm de diâmetro com mistura de 2 litros de água, 2mL de detergente e 2mL de formol. Os insetos, atraídos pela cor amarela da bacia caíam nessa mistura, ficando aí até serem retirados com uso de peneira fina e fixados em álcool a 70% para posterior identificação, realizada com um microscópio estereoscópico.

Possíveis diferenças entre a preferência dos parasitóides pelo ambiente (pasto ou mata) foram testadas por meio de Qui-Quadrado, em nível de 5% de probabilidade. Os Alysiiane e os Spalanginae foram identificados por Angélica Maria PenteadoDias e Denise Scatolini, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, da Universidade Federal de São Carlos e os Eucolinae foram identificados por Norma B. Diaz, do Departamento de Entomologia do Museu de La Plata (Argentina).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas 418 coletas no período de janeiro a dezembro de 1998 sendo capturados 183 parasitóides de Diptera. Nas matas, foi coletado maior número de parasitóides, 100 exemplares (54,6%) e, nas pastagens, foram obtidos 83 indivíduos (45,4%) (Tabela 1), porém, aí, houve maior diversidade de espécies .

Houve diferenças estatisticamente significantes em relação à preferência dos Alysiinae pela mata e dos Eucoilinae e Spalanginae pelo pasto (χ²=6,4; GL=3; P=7,82). As áreas de matas são importantes locais de origem de Alysiinae que são inimigos naturais de dípteros muscóides (MARCHIORI et al., 1998).

Tabela 1
Parasitóides coletados em armadilhas de bacias amarelas na região de mata e pastagens, na Fazenda do Curso de Agronomia no Município de Itumbiara, de janeiro a dezembro de 1998.

Grupo taxonômico	Mata	Pasto	Total
Alysiinae: Aphaereta sp.	17	07	24
Asobara sp.	25	03	28
Dinotrema sp.	00	02	02
Microcrasis sp.	00	01	01
Phaenocarpa sp.	13	01	14
Total	55	14	69
Eucoilinae: Agrostocynips sp.	00	01	01
Dettmeria sp.	00	03	03
Dieucoila sp.	01	01	02
Aganaspis pelleranoi	00	02	02
Odonteucoila sp.	09	01	10
Paraganaspis egeria	04	05	09
Triplasta atrocoxalis	01	06	07
Zaeucoila sp.	20	15	35
Total	35	34	69
Figitinae: Neralsia splendens	00	01	01
Pteromalidae: Spalangia cameroni	08	32	40
Spalangia endius	01	00	01
Spalangia drosophilae	00	01	01
Spalangia nigra	01	01	02
Total	10	34	44
Total geral	100	83	183

Aphaereta sp., Asobara sp. e Phaenocarpa sp. apresentaram preferência pela mata (χ²=867; GL=18; P=28,87). Entre os Alysiinae, Asobara sp. foi a espécie mais abundante com 40,5%.

SILVA (1991) coletou Aphaereta sp. com maior freqüência na região de pastagens, atingindo 80% das coletas, onde utilizou-se como isca fezes bovinas. WATTS & COMBS (1977) verificaram que as espécies de Aphaereta são componentes importantes na comunidade de fezes.

Espécies de Aphaereta foram coletadas em pupários de Musca autummalis De Geer, Haematobia irritans (L.), Musca domestica L. (Muscidae), Hemilucilia flavifacies Fabricius e Chrysomya albiceps Wiedemann (Calliphoridae); Patonella intermutans Walker (Sarcophagidae), Anastrepha sp. e Ceratitis capitata Wiedemann (WHARTON, 1984; SILVA, 1991; IORIATTI, 1995).

A maioria dos membros do gênero Dinotrema é parasitóide de Phoridae e quase todas as espécies de Asobara atacam Drosophilidae (WHARTON, 1984; PHILLIPS, 1993). IORIATTI (1995) coletou uma espécie de Asobara em pupário de Ceratitis capitata em São Carlos, SP. O gênero Microcrasis é freqüentemente coletado na região Neotropical (WHARTON, 1984).

Phaenocarpa conspurcator (Haliday) foi coletada em pupas de Scatophaga stercoraria L. (Diptera: Scathophagidae), em fezes bovinas, na Inglaterra (WOODWARD, 1995).

Os Eucoilinae: Odontocoela sp. e Zaeucoila sp. tiveram preferência pela mata (χ²=867; GL=18; P=28,87), mas as espécies Dettmeria sp., Paraganaspis egeria (Díaz & Gallardo), Triplasta atrocoxalis (Ashmead), pelas pastagens (χ²=867; GL=18; P=28,87), sendo que Triplasta atrocoxalis, com 50,7%, foi a espécie mais freqüente.

Paraganaspis egeria e T. atrocoxalis apresentaram preferência pelas pastagens, provavelmente porque seus hospedeiros habituais são encontradas em fezes bovinas. Segundo DÍAZ & GALLARDO (1996)Triplasta atrocoxalis e Paraganaspis egeria apresentam como hospedeiros habituais, Palaeosepsis sp. (Diptera: Sepsidae) e Sarcophagula occidua (F.) (Diptera: Sarcophagidae) respectivamente, coletados em fezes bovinas.

MAES (1989) encontrou na Nicarágua espécies de Zaeucoila sp. em pupas de Anastrepha sp. (Diptera: Tepritidae). Zaeucoila Ashmead, pertence a um grupo de gêneros, entre os quais se encontram, Agrostocynips Díaz, Lopheucoila Weld, Penteucoila Weld, Dettmeria Borgmeier, Tropideucoila Ashmead e Monocoela Dalla Torre & Kieffer, todas endêmicas na região Neotropical e que se comportam como parasitóides de estágios imaturos de Diptera Cyclorrapha (DÍAZ & GALLARDO, 1997). Zaeucoila sp. comporta-se como parasitóide de Agromyzidae (Diptera) e Dettmeria sp. de Euxesta sp. (Diptera: Otitidae) (BORGMEIER, 1935).

O gênero Odonteucoila sp. apresenta mais de 10 espécies na região Neotropical: México, Costa Rica, Panamá, Trinidad, Venezuela, Suriname, Equador, Peru, Paraguai, Brasil, Argentina e espécies do gênero Dieucoila, provavelmente estão restritas à região Neotropical (NORDLANDER, 1982), tendo sido raros seus exemplares nas coletas das áreas de mata e pasto. Em levantamento realizado por GUIMARÃES (1998), sobre eucoilíneos no Brasil, Aganaspis pelleranoi (Bréthes) foi a mais abundante representando 29,93% de todos os Eucoilinae associados às larvas de moscas frugívoras (Diptera: Tephritidae). Diferentemente dos resultados obtidos nesse estudo onde se coletou apenas 2 exemplares de A. pelleranoi.

Spalangia cameroni apresentou preferência pelas pastagens (χ²=867; GL=18; P=28,87) e foi a espécie mais abundante entre os Spalanginae (90,9%).

Spalangia drosophilae é citada na literatura como parasitóide de pupas de dípteros pequenos das famílias Drosophilidae e Chloropidae (BOUCEK, 1963), mas também de H. irritans (DEPNER, 1968; LINDQUIST, 1936).

Spalangia nigra é descrita como espécie originalmente da região Holártica, com ampla distribuição na América do Norte e Canadá (LEGNER et. al., 1976). Spalangia cameroni foi encontrada em espécies da família Muscidae Sarcophagidae, Tephritidae, Otitidae e Anthomyiidae (BOUCEK, 1968; SERENO & NEVES, 1993; RUEDA & VO, 1994; MARCHIORI et al., 1999).

Spalangia endius é cosmopolita, sendo capaz de atacar pupas de Calliphoridae, Sarcophagidae, Muscidae, e Tephritidae (BOUCEK, 1963; LEGNER et. al., 1976, SERENO & NEVES, 1993; RUEDA & VO, 1994; MARCHIORI et al., 1999).

O presente estudo representa o primeiro registro de ocorrência de Alysiinae no Estado de Goiás.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  30 Set 2024
• Data do Fascículo
  Jul-Dec 2000

Histórico

• Recebido
  10 Dez 1999