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ATIVIDADES FARMACOLÓGICAS DAS FOLHAS DA SESBANIA VIRGATA (CAV.) PERS

PHARMACOLOGICAL ACTIVITIES OF LEAVES FROM SESBANIA VIRGATA (CAV.) PERS.

RESUMO

As atividades farmacológicas do sumo liofilizado (SL) das folhas da Sesbania virgata (Sv) (Cav.) Pers. foram estudadas in vivo. A administração oral do SL de 0,5 a 2 g/kg em ratos e camundongos produziu ptose, reduziu a motilidade espontânea e dispnéia. A DL50 foi de 11,30 (10,04 ↔12,71) g/ kg, indicando ausência de toxicidade. O tratamento oral com SL (1 e 2 g/kg) em camundongos não alterou a latência mas aumentou a duração do sono induzido pelo pentobarbital sódico (50 mg/ kg, i.p.). A atividade antinociceptiva do SL foi avaliada pelas contorções abdominais induzidas por ácido acético e pelo teste da formalina; enquanto que atividade antiinflamatória foi verificada pela indução do edema por óleo de cróton em orelhas e por carragenina nas patas de camundongos, respectivamente. O SL (1 e 2 g/kg) causou diminuição dose-resposta das contorções abdominais, inibiu em 91 e 89 %, a 2a fase da resposta no teste da formalina, reduziu o edema induzido por óleo de cróton em 58 e 61% e diminuiu em 24 e 31% o edema da pata induzido por carragenina, respectivamente. Os resultados demonstraram que o tratamento oral em camundongos com S. virgata diminui a reação ao estímulo doloroso e reduz o edema inflamatório.

PALAVRAS-CHAVE:
Sesbania virgata; toxicidade; atividades analgésica; antiinflamatória.

ABSTRACT

Pharmacological activities in vivo of the Sesbania virgata (Cav.) Pers. lyophilized leaf juice (Sv-SL) were studied. Oral administration of 0.5 to 2 g/kg of Sv-SL to rats and mice induced ptosis, reduced spontaneous motility and dyspnoea despite that the LD50 value was found to be 11.30 (10.04 ↔12.71) g/kg. Treatment in mice with Sv-SL (1 and 2 g/kg) did not alter the latency and increased sleeping time induced by sodium pentobarbital (50 mg/kg, i.p.). Antinociceptive activity of Sv-SL was evaluated by nociception assays of acetic-induced writhing and by formalin tests. Antiinflammatory activities were evaluated by tests of croton oil or carrageenin induced edemas, in ear and paw of mice, respectively. Sv-SL (1 and 2 g/kg) caused a dose-related reduction of writhing responses. At the same dose, Sv-SL caused: a) inhibition of 91 and 89%, respectively in the formalin test (2nd phase); b) reduction of 58 and 61%, respectively in ear edema induced by croton oil and c) decrease of 24 and 31%, respectively in paw edema induced by carrageenin. Thus, S.virgata was able to decrease the reaction to pain stimuli and to inhibit the inflammatory edema.

KEY WORDS:
Sesbania virgata; toxicity; antinociceptive; antiinflammatory activities.

INTRODUÇÃO

A leguminosa Sesbania virgata (Sv) da família Papilionoideae, conhecida popularmente como "saranzinho", "mãe-josé" e "feijãozinho", é um arbusto perene de 2 a 4 anos, com 1 a 4 m de altura, flor e fruto durante quase todo ano, ocorrendo em beira de estradas, campos alagáveis, solos arenosos ou argilosos e jardins. A Sv é nativa da região sul das Américas sendo distribuída nas regiões centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. O seu uso está restringido ao fornecimento de lenha e produção de mel. Na Argentina, as suas sementes torradas são empregadas como substituintes do café (POTT & POTT, 1994POTT, A. & POTT, V.J. Plantas do Pantanal. Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal - Corumbá, Ms: Embrapa-Spi, 1994. p.179.).

As espécies do gênero Sesbania tem rápido crescimento e capacidade de fixar nitrogênio mesmo de solos deficientes, permitindo seu uso como adubo verde e nas agroflorestas (NDOYE et al., 1990NDOYE, I.; TOMEKPE, K.; DREYFUS, B.; D OMMERGUES, Y.R. Sesbania and Rhizobium symbiosis: nodulation and nitrogen fixation. In: MACKLIN, B. & EVANS, D.O.(Eds.) Perennial Sesbania Species In Agroforestry Systems. Wamanalo: Nitrogen Fixing Tree Association, 1990. p.31-38.). VEASEY et al. (1999)VEASEY, E.A.; SCHAMMASS, E.A.; VENCOCSKY, R.; MARTINS, P.S.; BANDEL , G. Morphological and agronomical characterization and estimates of genetic parameters of Sesbania Scop. (Leguminosae) accessions. Genet. Mol. Biol., v.22, n.1, p.81-93, 1999., ao estudar vários acessos de algumas sesbanias verificou grande potencial protéico nas folhas da espécie S. virgata com teores de 15 a 28% comparáveis a S. sesban, forrageira amplamente utilizada como suplemento protéico para ruminantes nas regiões tropicais da África e Austrália (GUTTERIDGE, 1994GUTTERIDGE, R.C. The perennial Sesbania species. In: GUTTERIDGE, R.C. & SHELTON, H.M. (Eds.) Forage tree legumes in tropical agriculture. Queensland: CAB International, 1994. p.49-64.; GUTTERDGE et al., 1995GUTTERIDGE , R.C., SHELTON , H.M., ORAM, R.N. Register of Australian herbage plant cultivars. B. Legumes. 24. Sesban (A) Sesbania sesban (L.) Merril (Sesban) Cv. Mount Cotton. Aust. J. Exp. Agric., v.35, p.561, 1995.). Por outro lado, as favas de Sv produziu intoxicação em criança com sintomas de diarréia em uma creche de São Paulo, sendo confirmada experimentalmente em cobaias (TSUHAKO et al., 1989TSUHAKO, M.H.; SANTOS, M.; HARAGUCHI, M.; NOBRE, D.; LEME, M.; MACRUZ, R. Presença de princípios ativos tóxicos nas sementes da leguminosa Sesbania virgata Arq.Inst.Biol,, São Paulo, v.56, n.1/2, p.27-29, 1989.). Outra espécie, como S. drummondii, conhecida como tóxica para bovinos, caprinos, suínos e aviários (FLORY & HEBERT, 1984FLORY, W. & H EBERT, C.D. Determination of the oral toxicity of Sesbania drummondii seeds in chickens. Am. J. Vet. Res., v. 45, n.5, p.955-958, 1984.), contém substâncias biologicamente ativas como os alcalóides sesbanimidas A, B e C, com elevada atividade antitumoral (POWELL et al., 1984POWELL, R.G.; SMITH JR., C.R.; WEISLEDER, D. Sesbanimide A and related tumor inhibitors from Sesbania drummondii: structure and chemistry. Phytochemistry, v.23, n.12, p.2789-2796, 1984.). Apesar da suspeita das substâncias nocivas existentes na Sesbania virgata, o presente trabalho verificou além da toxicidade, os efeitos analgésico e antiinflamatório do sumo liofilizado das suas folhas.

MATERIAL E MÉTODOS

A espécie Sesbania virgata (Cav.) Pers. foi cultivada no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa, SP, e identificada pelo Prof. Reinaldo Monteiro do Instituto de Biociências da UNESP, Rio Claro, SP, cuja exsicata foi depositada no Herbarium Rio Clarense sob o número HRCB 17378. As suas folhas frescas (3,9 kg) foram trituradas e prensadas obtendo-se um líquido verde escuro que após a liofilização forneceu o sumo liofilizado, SL (65,8 g = 1,7% de rendimento).

Os testes foram realizados em camundongos (Mus musculus) e ratos (Rattus norvegicus), adultos, de ambos sexos, com peso de 25 a 30 g e 120 a 150 g, respectivamente, provenientes do biotério do Instituto Biológico. Os animais foram previamente mantidos no biotério experimental em condições controladas de temperatura (22 ± 1o C) e iluminação (ciclo claro/ escuro de 12 h) com livre acesso a ração e água. Eles foram submetidos a jejum de uma noite antes dos tratamentos.

Para as observações dos efeitos farmacológicos gerais, os camundongos e ratos separados em grupos controle e experimental foram tratados com o veículo (água, v.o. e/ou salina 0,9% i.p.) e com o SL (0,1 a 5 g/ kg, v.o., i.p.) respectivamente e verificados nos primeiros 30 min (em intervalos de 5 min) seguidas de 1, 8, 24, 48 h e 7 dias (MALONE, 1977MALONE, M. H. Pharmacological approaches to natural products, screening and evaluation. In: WAGNER, H. & WOLF, P. New natural products and plants drugs with pharmacological, biological or therapeutical activiy. Berlin, Springer-Verlag, 1977. p.23.). A atividade tóxica foi avaliada em camundongos que receberam o SL por gavagem (1 a 15 g/kg) permanecendo em observações por 14 d. A DL50 foi determinada pelo método de THOMPSON & WEIL (1952)THOMPSON,W.R. & WEIL, C.S. On thuction of tables for moving average interpolation.Biometrics, v.8, p.51, 1952..

Os camundongos foram tratados 30 ou 60 min antes com SL (1 e 2 g/kg,v.o.) ou veículo (controle) e submetidos aos estudos farmacológicos. A atividade depressora do sistema nervoso central (SNC) foi investigada através da medida do tempo de sono induzido pelo pentobarbital sódico (50 mg/kg, i.p.) medindo-se o tempo de latência e a duração do sono (CARLINI et al., 1986CARLINI, E.A.; CONTAR, J. DE D.P.; SILVA FILHO, A.R.; SILVEIRA FILHO, N.G. DA; FROCHTENGARTEN, M.L.; BUENO, O.F. Pharmacology of lemongrass (Cymbopogon citratus Stapf). I. Effects of teas prepared from the leaves on laboratory animals. J. Ethnopharmacol., v.17, n.1, p.3764, 1986.). A atividade analgésica foi avaliada pelo número de contorções abdominais induzidas com ácido acético 0,8% (0,1 mL/10g, i.p.) durante 30 min (KOSTER et al., 1959KOSTER, R.; ANDERSON, M.; BEER, E.J. Acetic acid for analgesic screening. Fed. Proc., v.18, p.412, 1959.) e pela injeção subplantar de 20 µL de formalina 3% (formaldeído 1,2% em tampão fosfato em salina), para a medida da reatividade em segundos(s) dos animais em lamber ou morder a pata de 0-5 min (1a fase) e 15-30 min (2a fase) após injeção de formalina (HUNSKAAR et al., 1985HUNSKAAR, S.; FASMER, O.B.; HOLE, K. Formalin test in mice, a useful technique for evaluating mild analgesics. J. Neurosci. Methods, v.14, p.69-76, 1985.). A indometacina (10 mg/kg, v.o.) foi usada como controle positivo para ambos os testes. A atividade antiinflamatória foi testada no edema agudo da orelha após aplicação tópica de 10 µL de óleo de cróton (2,5% em acetona) tendo como controle a orelha contralateral administrado com o mesmo volume de acetona. Após 4 h os animais foram sacrificados e removidos discos de 5 mm de diâmetro das orelhas e pesados (SCHIANTARELLI et al., 1982SCHIANTERELLI, P.; CADEL, S.; ACERBI , D.; PAVESI, L. Antiinflamatory activity and bioavailability or percutaneous piroxicam. Arzneim-Forsch. Drug. Res., v.32, n.3, p. 230-235, 1982.). A diferença entre o peso das orelhas foi tomada como o edema induzido por óleo de cróton. O controle positivo utilizado foi a dexametasona (1 mg/kg, v.o.). O outro teste realizado foi o edema de pata induzido por 50 µL de carragenina a 1% (subplantar) e na pata contralateral foi injetado igual volume de salina como controle (WINTER et al., 1962WINTER, C.A.; RISLEY, E.A.; NUSS, G.W. Carrageenan-induced edema in hind paw of the rat as an assay for antiinflammatory drugs. Proc. Soc. Exp. Biol. Med., v.111, p.544-547, 1962.). Após 3 horas os animais foram sacrificados e retirados as patas na região do maléolo lateral e pesadas. A indometacina (10 mg/kg, v.o.) foi usada como controle positivo do teste.

Os resultados foram expressos como médias ± erro padrão das médias. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) seguido pelo teste de Newman-Keuls. Valores de p menores que 0,05 (p < 0,05) foram considerados indicativos de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A administração do SL em camundongos e ratos produziu contorções abdominais nas doses 0,5 a 1 g/ kg, i.p. e acima de 2 g/kg por via oral. Também foram observados diminuição da atividade motora espontânea, ptose, ataxia, sugerindo depressão do SNC, além de prostração, dispnéia, diarréia, piloereção e convulsão. Nas doses acima de 8 g/kg ocorreram mortes após 6 ou 12 h da administração. Os efeitos foram dependentes da via de administração, proporcionais às doses e tempo de observação. Após a morte dos animais, exames macroscópicos não revelaram lesão. O tratamento com o SL (0,1 a 2 g/kg, v.o.) em camundongos não alterou o comportamento e a DL50 foi de 11,30 (10,04 ↔12,71) g/kg, n = 6, indicando ausênci a de toxicidade aguda segundo critérios de Loomis, 1982LOOMIS, T.A. Fundamentos de toxicologia. Zaragoza, Editorial Acribia, 1982. p.33. (Cav.) Pers. 53.

O efeito depressor do SNC foi confirmado em camundongos com o pentobarbital sódico, após o tratamento prévio de 30 ou 60 min do SL (1 e 2 g/kg) o qual potencializou a duração do sono induzido pelo barbiturato em 232; 99 e 196% respectivamente comparados aos animais tratados com o veículo (C = 93,5 ± 8,5 min; p < 0,001; n = 10).Contudo, não alterou o tempo de latência (Fig. 1).

Fig. 1
Efeito do tratamento prévio (30 ou 60 min) com o veículo (C = controle) e o SL da S.virgata (1 e 2 g/kg, v.o.) na latência A e duração B do sono induzido por pentobarbital sódico (50 mg/kg, i.p.) em camundongos. As colunas e barras verticais representam a média + e.p.m. (*p<0,01).

A atividade analgésica foi avaliada através de estímulos químicos induzidos por ácido acético e por formalina. O número de contorções abdominais produzidos pelo ácido acético em camundongos controles, acumuladas por 30 min, foi de 58,4 ± 5,1; o pré-tratamento (30 min) com o SL (1 g/kg) reduziu em 44% à semelhança do composto referência a indometacina (41%). Na dose de 2 g/kg, o SL administrado 30 e 60 min antes, inibiu o efeito em 62 e 30%, respectivamente, comparado ao grupo controle (p < 0,01; n = 10) (Fig. 2). No teste da formalina, a primeira fase (dor de origem neurogênica) não foi inibida. Os animais tratados com o veículo lamberam e morderam a pata durante 122,4 ± 16,5 s na segunda fase do teste (p < 0,001; n = 10). Entretanto, a administração prévia (30 min) do SL, nas doses de 1 e 2 g/kg, reduziu a segunda fase de nocicepção (dor de origem inflamatória) em 91 e 89%, respectivamente, seguindo um perfil semelhante ao da indometacina que inibiu 92% (Fig. 3).

Fig. 2
Contorções induzidas pelo ácido acético (0,8%) em camundongos tratados previamente (30 ou 60 min), veículo (C), indometacina (Ind, 10 mg/kg, v.o.) e com o SL da S. virgata (1 e 2 g/kg, v.o.). As colunas e barras verticais representam a média + e.p.m. (*p<0,01).

Fig. 3
Reatividade subplantar de formalina (3%) em camundongos previamente tratados (30 min), veículo (C), indometacina (Ind, 10 mg/kg, v.o.) e SL da S. virgata (1 e 2 g/kg, v.o.). As colunas e barras verticais representam a média + e.p.m. (*p<0,001).

O SL inibiu significativamente a dor produzida por ácido acético e formalina. Embora as contorções abdominais induzidas pelo ácido acético representem um modelo de nocicepção periférica, o qual consiste de estímulos de alta intensidade e a resposta nociceptiva de curta duração, este não é um modelo específico, uma vez que diferentes classes de substâncias também inibem as contorções. São elas: os hipotensores, depressores e estimulantes do SNC (HENDERSHOT & FORSAITH, 1959HENDERSHOT, L. C., & FORSAITH, J. Antagonism of the frequency of phenylquinone-induced writing in the mouse by weak analgesics and non analgesics. J. Pharmacol. Exp. Ther., v.125, p.237-240, 1959.), anti-histamínicos (YEN, 1985YEH, S.Y. Potentiation of pentazocine antinociception by tripelennamine in the rat. J. Pharmacol. Exp. Ther., v. 235, p.683-689, 1985.) e antidepressivos triciclícos (TAKAHASHI & PAZ, 1987TAKAHASHI, R.N. & PAZ, M.M. Influence of naloxone on analgesic effects of antidepressants in mice. Braz. J. Med. Res., v.20, p.607-610, 1987.). Portanto, a interpretação da redução da dor através do estímulo pelo ácido acético, deve ser efetuada de forma cautelosa em conjugação com outros testes. Por outro lado, o teste da formalina é mais específico e muito usado para o estudo de nocicepção. A injeção de formalina produz resposta bifásica distinta: a primeira fase representa o efeito irritante da formalina nas fibras sensoriais do tipo C que caracteriza a dor neurogênica e a segunda fase é a dor inflamatória. Os analgésicos de ação central como a morfina, inibem as duas fases, enquanto que drogas de ação periférica, como os antiinflamatórios e corticóides inibem somente a segunda fase (HUSNKAAR & HOLE, 1987). Esta técnica é útil para detectar analgésicos do tipo aspirina além de ser capaz de dissociar dor do tipo inflamatório e não-inflamatório. Além disso, permite avaliar em animais a dor contínua de intensidade moderada causada pela lesão do tecido e o papel dos sistemas endógenos na regulação da dor (TJOLSEN et al., 1992TJOLSEN, A.; BERGE, O.G.; HUNSKAAR, S.; ROSLAND, J. H.; HOLE, K. The formalin test: an evaluation in the formalin test. Pain, v.51, p.5-17, 1992.). Os resultados obtidos com o SL indicam que o efeito antinociceptivo seria através de mecanismos semelhantes àqueles descritos para outras substâncias analgésicas/antiinflamatórias como aspirina e indometacina onde os efeitos analgésicos são descritos por inibição da síntese de prostaglandinas (FERREIRA & VANE, 1974FERREIRA, S.H. & VANE, J.R. New aspects of the mode of action of non-steroid antiinflammatory drugs. Annu. Rev. Pharmacol., v.14, p.57-73, 1974.) e diminuição da sensibilidade de receptores nociceptivos periféricos (BERKENKOPF & WEICHMAN, 1988BERKENKOPF, J.W. & WEICHGMAN, B.M. Production of prostacyclin in mice following intraperitoneal injection of acetic acid, phenybenzoquinone and zymosan: Its role in the writing response. Prostaglandins, v.36, p.693-709,1988.).

O tratamento do SL (1 e 2 g/kg) em camundongos, 30 min antes do óleo de cróton, produziu inibição de 58 e 61%, respectivamente e para a dose de 2 g/kg, 60 min prévios ao estímulo inflamatório, a inibição foi de 63%. A injeção de dexametasona, controle positivo, teve redução de 84% (C = 7,97 ± 0,23 mg, p < 0,001, n =8 ) (Fig. 4).

Figura 4
Edema de orelha induzido por óleo de cróton (2,5%) em camundongos previamente tratados (30 ou 60 min) com o veículo (C), dexametasona (Dex, 1mg/kg) e o SL da S. virgata (1 e 2 g/kg, v.o.). As colunas e barras verticais representam a média ± e.p.m. (*p<0,001).

A injeção de carragenina 1% produziu edema na pata do camundongo após 3 h (C= 78,6 ± 3,96 mg; n = 8). A administração prévia (30 min) do SL (1 e 2 g/ kg) apresentou redução do edema de pata em 24 e 31%, respectivamente. Para a dose de 2 g/kg, 60 min antes do estímulo, a inibição foi de 32%. A indometacina produziu redução do edema em 47% (C = p < 0,001) (Fig. 5).

Fig. 5
Edema de pata induzido por carragenina (1%) em camundongos previamente tratados (30 ou 60 min) com o veículo (C), indometacina (Ind, 10 mg/kg, v.o) e o SL da S. virgata (1 e 2 g/kg, v.o.). As colunas e barras verticais representam a média + e.p.m. (*p<0,01).

Estes resultados determinam que o SL tem propriedade antiedematogência/antiinflamatória comprovada pela significante inibição do edema agudo nos dois modelos usados. O edema de orelha induzido por óleo de cróton, representa um modelo muito usado para estudar atividade antiinflamatória de drogas esteroidais e não esteroidais (TUBARO et al., 1986), assim como o edema de pata por carrragenina. Este último envolve a liberação de vários mediadores induzindo uma reação inflamatória em duas fases diferentes: a fase inicial que ocorre de zero até três horas após a injeção do agente flogístico, sendo atribuída a ação da histamina, serotonina e bradicinina (VINGER et al.,1987VINGER, R.; TRUAX, J. F.; SELPH, J. L.; JOHNSTON, P. R.; VENABLE, A. L.; MCKENZIE,R.K.Pathway to carrageenan-induced inflamation in the limb of rat. Fed.Proc., v. 46, p.118126,1987.) e a fase tardia que depende da produção de prostaglandinas dos tecidos (DI ROSA et al., 1971DI ROSA, M.; GIROUD, J.P.; WILLOUGHBY, D.A. Studies of mediators of the acute inflammatory response induced in rats in different sites by carrageenan and tupentine. J. Pathol., v.104, p.15-29, 1971.). O SL mostrou uma inibição dose-dependente, isto indica que o ele poderia inibir diferentes aspectos que estariam envolvidos vários mediadores químicos da inflamação (histamina, serotonina, bradicinina e prosta-glandinas).

CONCLUSÕES

Os resultados deste estudo mostram que o sumo liofilizado das folhas frescas da Sesbania virgata administrado em camundongos por via oral tem um perfil farmacológico exibindo um acentuado efeito depressor do SNC refletido pela potencialização do sono barbitúrico; possui propriedades analgésicas de origem periférica e/ou central, porém este efeito é mais evidente na dor de origem inflamatória e, por fim, produz efeitos antiinflamatórios contra edemas induzidos por carragenina e óleo de cróton.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o auxílio financeiro recebido da FAPESP (Proc.99/02500-1) e a valiosa colaboração dos estagiários Sérgio Luis Battistini e Sérgio Kiyoshi Yamada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2002

Histórico

  • Recebido
    29 Ago 2002
  • Aceito
    07 Nov 2002
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