PRIMEIRA OCORRÊNCIA DO PARASITÓIDE <i>NASONIA VITRIPENNIS</i> (WALKER) (HYMENOPTERA: PTEROMALIDAE) EM PUPAS DE PECKIA C<i>HRYSOSTOMA</i> (WIEDEMANN) (DIPTERA: SARCOPHAGIDAE)

Marchiori, C.H.; Silva, C.G.; Caldas, E.R.; Almeida, K.G.S.; Carvalho, S.A.

doi:10.1590/1808-1657v68n1p1072001

RESUMO

Tem o presente trabalho a finalidade de verificar o parasitismo de Nasonia vitripennis em pupários de Peckia chrysostoma, ocorrente em fezes humanas. Para isso, utilizou-se a armadilha pitfall, onde se colocaram água, detergente e formol. Enterrada no chão, nela fixou-se o pote de isca composta de excrementos humanos, fígado, peixe e frutas podres. Retiraram-se as armadilhas quinzenalmente, mas, semanalmente trocavam-se as iscas, posteriormente analisadas para se verificar a possível presença de pupas de moscas com parasitóides. Após seis coletas, encontrouse, na isca de fezes humanas uma (01) pupa de Peckia chrysostoma (Diptera: Sarcophagidae) com sessenta e três (63) indivíduos do parasitóide Nasonia vitripennis (Hymenoptera: Pteromalidae).

PALAVRAS-CHAVE:
Insecta; Hymenoptera; Pteromalidae; Sarcophagidae; pitfall.

ABSTRACT

This current paper has the objective of verifying the parasitism of Nasonia vitripennis in pupae of Peckia chrysostoma ocurring in human dung. For this purpose it was used the trap pitfall in which water, detergent and formaldehyde were put. The trap was buried in the floor and a pot of bait composed of human dung, liver and rotten fruits were fixed in it. The traps were collected bi-monthly, but the bait was changed weekly and afterwards analysed to verify the possible presence of pupae of this with parasitoids. After six collects, it was found in the bait of the human dung one (01) pupae of muscoid Peckia chrysostoma (Diptera: Sarcophagidae) with sixtythree (63) individuals of the parasitoid Nasonia vitripennis (Hymenoptera; Pteromalidae).

KEY WORDS:
Insecta; Hymenoptera; Pteromalidae; Sarcophagidae; pitfall.

Os Diptera Cyclorrhapha possuem um número de espécies com graus variáveis de adaptação ao ambiente humano. Muitas espécies de moscas tem interesse médico e veterinário, uma vez que podem atuar na veiculação de patógenos ao homem e aos animais (CHOW, 1940CHOW, C.Y. The commom blue bottle fly Chrysomya megacephala as a carrier of pathogenic bacteria in Peiping, China. China’s Med., Peking, v.57, p. 145153, 1940). A associação ocorre pelo fato das moscas serem exploradoras de substâncias e resíduos orgânicos, que são produzidos pela atividade humana e animal, especialmente fezes e resíduos vegetais (MONTEIRO, 1995MONTEIRO, R.M. Microhimenópteros (Insecta: Hymenoptera) parasitóides e insetos predadores de moscas sinantrópicas (Insecta: Diptera) na Granja Capuavinha, Monte-Mor, SP. Campinas: 1995. 99p. [Dissertação (Mestrado) Unicamp].).

As famílias Calliphoridae, Muscidae e Sarcophagidae destacam-se por possuírem um grande número de espécies sinantrópicas, causadoras de miíases e transmissoras de patógenos ( GUIMARÃES et al., 1983GUIMARÃES, J.H.; PAPAVERO, N.; A.P. PRADO. As miíases na região Neotropical: identificação, biologia e bibliogra fia. Rev. Bras. Zool., v.1, p. 239-416, 1983., 1999GUIMARÃES, J.H.; PAPAVERO, N.; A.P. PRADO. As miíases na região Neotropical: identificação, biologia e bibliogra fia. Rev. Bras. Zool., v.1, p. 239-416, 1983.).

Peckia chrysostoma no Rio de Janeiro foi encontrada desenvolvendo-se em peixe, fígado bovino e fezes humanas (D’ALMEIDA, 1994, 1995).

Os Hymenoptera parasitóides representam o grupo mais rico de espécies dos Hymenoptera e dos insetos; são comuns e abundantes em todos os ecossistemas terrestres; desenvolvem se como parasitóides de muitos insetos, desempenhando um papel importante na regulação de populações de pragas e também dos insetos fitófagos, pois podem depositar seus ovos sobre ou diretamente dentro de seu hospedeiro (ovo, larva, pupa ou imago) que é sempre morto em virtude do desenvolvimento da larva que dele se alimenta. O grande número de Hymenoptera parasitóides combinado com a sua habilidade em responder à densidade das populações de seus hospedeiros torna-os essenciais para se manter o balanço ecológico e uma força que contribui para a diversidade de outros organismos (LA SALLE & GAULD 1992LA SALLE, J. & I. D. GAULD. Parasitic Hymenoptera and biodiversity crisis. Redia, v. 74, p. 315-334, 1992.).

A família Pteromalidae (Hymenoptera, Chalcidoidea) inclui um grande número de espécies parasitóides, muitas das quais têm importância no controle biológico de muscóides sinantrópicos (CARDOSO & MILWARD-DE-AZEVEDO 1996CARDOSO, D. & MILWARD-DE-AZEVEDO, E. Aspectos da biologia de Nasonia vitripennis (Walker), (Hymenoptera, Pteromalidae) em pupas de Chrysomya megacephala (Fabricius) e C. albiceps (Wiedemann) (Diptera, Calliphoridae), sob condições de laboratório. Rev. Bras. Entomol., v.40, p. 143-146, 1996., RUEDA & AXTELL, 1985RUEDA, L.M., AXTELL, R.C. “Guide to common species of pupal parasites (Hymenoptera: Pteromalidae) of the house fly and other muscoid flies associated with poultry and livestock manure”. North Carolina Agric. Res. Serv. Tech. Bull., n.278, p. 1-88, 1985.). Eles podem ser solitários ou gregários, ectoparasitóides ou endoparasitóides, parasitóides primários ou secundários, coinobiontes ou idiobiontes. A maioria é idiobionte e muitos se desenvolvem como ectoparasitóides em larvas ou pupários de Diptera, Coleoptera, Hymenoptera, Lepidoptera e Siphonaptera (IORIATTI, 1995IORIATTI, M.C.S.S. Contribuição ao estudo da biologia e taxonomia dos Hymenoptera parasitóides de Diptera das famílias Tephritidae e Lonchaeidae. São Carlos, SP: Universidade Federal de São Carlos, 1995. 92p. [Dissetrtação (Mestrado) Universidade Federal de São Carlos].).

Fig. 1
armadilha “pitfall”

O objetivo desse trabalho consiste, portanto, em relatar o parasitismo de Nasonia vitripennis em pupários de Peckia chrysostoma coletada em fezes humanas.

A armadilha pitfall consiste de um recipiente plástico de 15 cm de diâmetro por 10cm de altura. Nesse recipiente foram colocados um litro de água, 20 mL de detergente e 2 mL de formol. Ele foi enterrado à altura do chão. Um copo de 150 mL foi usado para se colocar a isca. O copo ficou preso ao recipiente através de um arame fino que transpassou o pote de isca perto da borda, para mantê-lo pendurado e centralizado na armadilha. A armadilha foi protegida do sol excessivo e da chuva, através de um telhado de papelão apoiado num arame que ficou a 10 cm de altura do chão. As iscas foram compostas de excrementos humanos, fígado mais peixe e frutas podres (banana e maçã), uma isca para cada armadilha.

Um total de 6 armadilhas foram utilizadas; três foram colocadas em pastagem e três em remanescente de mata. As armadilhas ficaram à distância de 4 m uma da outra. As armadilhas foram retiradas quinzenalmente, mas as iscas trocadas semanalmente. O conteúdo das iscas foi analisado para se verificar a presença de pupas de moscas com parasitóides. As pupas foram individualizadas em cápsulas de gelatina até a emergência das moscas e/ou dos parasitóides.

Essa armadilha não é especifica para a captura de muscóides mas, diante da coleta de pupários desses dípteros e da verificação da presença de parasitóides visitando a mesma, aventou-se a possibilidade de, através delas, coletarem-se parasitóides de dípteros.

Após 6 coletas na isca de fezes humanas coletouse uma pupa do muscóide Peckia chrysostoma (Diptera: Sarcophagidae) com 63 indivíduos do parasitóide Nasonia vitripennis (Hymenoptera: Pteromalidae).

Nasonia vitripennis comporta-se como parasitóide gregário, é ectoparasitóide em pupas de várias espécies de famílias de Diptera: particularmente de Calliphoridae, Muscidae, Sarcophagidae e Tachinidae. É um inseto polífago parasitando mais de 68 espécies de dípteros (WHITING 1967WHITING, A.R. The biology of the parasitic wasp Mormoniella vitripennis [Nasonia brevicornis] (Walker). Q. Rev. Biol., v.42, p. 333-406, 1967.). No Brasil, MADEIRA E NEVES (1985)MADEIRA, N.G. & NEVES, D.P. Encontro de microhimenópteros Spalangia endius e Nasonia vitripennis (Pteromalidae) em pupas de Calliphoridae (Diptera) em Belo Horizonte (MG). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, n.12, 1985, Campinas, SP. Resumos. Campinas: 1985, p. 388-339. fizeram o primeiro relato de N. vitripennis em pupas de Chrysomya sp.

Esse estudo relata a primeira ocorrência do parasitóide Nasonia vitripennis em pupários de Peckia chrysostoma.

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Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
20 Set 2024
Data do Fascículo
Jan-Jun 2001

Histórico

Recebido
06 Nov 2000

Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons.

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