FAUNA DE LEPIDÓPTERA ASSOCIADA A UM ECOSSISTEMA NATURAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

FAUNA OF LEPIDOPTERA ASSOCIATED TO A NATURAL ECOSYSTEM OF THE STATE OF SÃO PAULO, BRAZIL

RESUMO

Realizaram-se no período de abril de 1997 a maio de 1998, coletas semanais de lepidópteros, através de armadilhas luminosas na Estação Experimental de Tupi, em Piracicaba, SP. As armadilhas foram instaladas em áreas de mata, na qual as espécies predominantes eram: guapuruvu (Schizolobium parahyba), guarantã (Esenbeckia leiocarpa), pau-ferro (Caesalpinia ferrea), pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha), canela (Nectandra rigida), angico (Anadenanthera sp.), jequitibá (Cariniana legalis), cinamomo (Melia azedarach), espatódea (Spathodea campanulata) e Eucalyptus saligna. Foram coletados lepidópteros pertencentes às seguintes famílias: Geometridae (49,2%), Noctuidae (19,7%), Pyralidae (7,6%), Notodontidae (6,7%), Amatidae (5,3%), Arctiidae (5,3%), Sphingidae (2,3%), Lymantriidae (1,4%), Saturniidae (0,8%), Stenomidae (0,7%), Megalopygidae (0,5%) e Dalceridae (0,5%). Dentre as espécies identificadas, observaram-se algumas cujas lagartas são desfolhadoras de importância florestal: Glena sp., Oxydia sp.¹, Oxydia vesuliata (Geometridae), Sarsina violascens (Lymantriidae), Automeris amphirene, Dirphia sp., Eacles imperialis e Hylesia sp. (Saturniidae).

PALAVRAS-CHAVE:
Entomologia florestal; lepidópteros desfolhadores; levantamento.

ABSTRACT

This paper deals with the survey of Lepidoptera occurring in a wood composed by the following tree species: Schizolobium parahyba (guapuruvu), Esenbeckia leiocarpa (guarantã), Caesalpinia ferrea (pau-ferro), Piptadenia gonoacantha (pau-jacaré), Nectandra rigida (canela), Anadenathera sp. (angico), Carinana legalis (jequitibá), Melia azedarach (cinamomo), Spathodea campanulata (espatódea) and Eucalyptus saligna. The collections were made weekly using light traps from April 1997 to May 1998. The insect families collected were: Geometridae (49.2%), Noctuidae (19.7%), Pyralidae (7.6%), Notodontidae (6.7%), Amatidae (5.3%), Arctiidae (5.3%), Sphingidae (2.3%), Lymantriidae (1.4%), Saturniidae (0.8%), Stenomidae (0.7%), Megalopygidae (0.5%), and Dalceridae (0.5%). Among the identified species there were observed forest pests such as: Glena sp., Oxydia sp., Oxydia vesuliata (Geometridae), Sarsina violascens (Lymantriidae), Automeris amphirene, Dirphia sp., Eacles imperialis, and Hylesia sp. (Saturniidae).

KEY WORDS:
Forest entomology; lepidopterous pests; survey.

INTRODUÇÃO

O setor florestal brasileiro ainda pode ser considerado uma atividade econômica nova, pois foi somente a partir da década de 70 que começou a tomar impulso. Neste contexto, a entomologia florestal é, ainda, mais recente, pois os trabalhos sobre pragas, com exceção das formigas cortadeiras são bastante novos (ZANUNCIO et al., 1993). O gênero Eucalyptus com mais de 600 espécies conhecidas, apresenta uma série de características especiais, fazendo com que as interações entre as árvores e os insetos fitófagos a elas relacionados sejam mais diversificadas do que em outras associações (BERTI FILHO, 1981; WILCKEN, 1991). No Brasil, esta planta exótica adaptada aos diversos ambientes, é atacada por diversas espécies de lepidópteros desfolhadores.

As diferentes espécies de lepidópteros, pragas primárias ou secundárias, freqüentemente encontradas em áreas florestais em alguns estados no Brasil, são relatadas por vários autores (MACEDO, 1975; BERTI FILHO, 1981; ALVES et al., 1991; BATISTA et al., 1991; BRAGANÇA et al., 1991; JUSSELINO FILHO et al., 1991; SARAIVA et al., 1991; VINHA et al., 1991; WILCKEN, 1991; BRAGANÇA, 1995; HORA et al., 1998; GOMES et al., 1998).

BERTI FILHO (1981) realizou coletas em 26 municípios do Estado de São Paulo e identificou 125 espécies pertencentes à Ordem Lepidoptera, sendo várias de importância florestal.

São poucos os registros de artrópodes (benéficos e nocivos) sobre espécies vegetais nativas e, ou eucalipto no Estado de São Paulo, principalmente, na região de Piracicaba, SP. O objetivo deste trabalho foi verificar as espécies de lepidópteros que ocorrem em um ecossistema desta região.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na Estação Experimental de Tupi, localizada na região de Piracicaba, SP, em áreas de Eucalyptus saligna e vegetação natural, sendo as principais espécies: guapuruvu (Schizolobium parahyba), guarantã (Esenbeckia leiocarpa), pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha), pau-ferro (Caesalpinia ferrea), canela (Nectranda rigida), angico (Anadenanthera sp.), cinamomo (Melia azedarach), jequitibá (Cariniana legalis) e espatódea (Spathodea campanulata).

O período das coletas foi de maio de 1997 a maio de 1998, utilizando-se três armadilhas luminosas. Em cada amostragem, realizada semanalmente, as armadilhas ficavam ligadas por 12 horas (das 18:00 às 6:00 horas do dia seguinte), e todo material coletado era guardado em sacos plásticos etiquetados, registrandose o número da armadilha e data da coleta. O material era trazido ao Laboratório de Controle Biológico no Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da ESALQ/USP e guardado em freezer. No laboratório, todo material era separado, registrando-se os números obtidos. Posteriormente, as espécies foram montadas, acondicionadas em caixas entomológicas com paraformaldeído e identificadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados lepidópteros pertencentes a 12 famílias: Amatidae, Arctiidae, Dalceridae, Geometridae, Lymantriidae, Megalophigidae, Noctuidae, Notodontidae, Pyralidae, Saturniidae, Sphingidae e Stenomidae.

BERTI FILHO (1981) e MEZZOMO (1995) relatam Sarsina violascens (Lymantriidae) como praga primária para o eucalipto nos estados de Minas Gerais e São Paulo, sendo esta espécie, dentre as identificadas, a única representante desta família.

Em relação à família Geometridae, representada por 49,2% dos lepidópteros coletados, foram identificadas as seguintes espécies de pragas primárias de eucalipto: Oxydia vesuliata, Oxydia sp.¹ e Glena sp.¹; além das espécies já citadas, verificou-se a presença de: Anacamptodes sp., Drepana sp., Epimeas sp., Eudule trichoptera, Pantherodes pardalaria, Phrygionis argentuostriata e Semiothisa sp. Os dados obtidos concordam com GALLO et al. (2002) que relatam a importância dos geometrídeos como pragas de importância florestal.

Na família Saturniidae, com apenas 0,8% dos lepidópteros coletados, foram identificadas como pragas de importância florestal, Automeris amphirene, Dirphia sp., Eacles imperialis e Hylesia sp. Os representantes desta família, exceção do gênero Hylesia, foram coletados em Paineiras, MG por MEZZOMO (1995) e classificados como pragas secundárias para o eucalipto. Além das espécies já citadas, também foram coletados os saturnídeos Adeloneivaia subngulata e Hyperchiria incisa.

Algumas espécies pertencentes à superfamília Noctuoidea foram identificadas, sendo que destas, muitas são de importância econômica devido à proximidade do local de coleta com áreas de cultivo de cana-de-açúcar. Observou-se que alguns noctuídeos coletados são insetos-praga de importância agrícola, Pseudaletia sequax (lagarta-do-trigo), Pseudoplusia includens (lagarta falsamedideira), Spodoptera eridania, Spodoptera latifascia, Mocis sp. e Trichoplusia oxygramma (lagarta-mede-palmo) (GALLO et al., 2002). A família Noctuidae respondeu por 19,7% dos indivíduos coletados e foram identificadas: Anomis erosa, Anomis editrix, Bagisara subusta, Deinopa sp., Endocima procus, Eriopyga sp., Gonodonta sp., Leucania humidicola, Leucania jaliscana, Leucania sp.¹, Melipotis sp., Ophisma tropicalis, Perigea hyppia e Thysania zenobia. Como representantes da família Arctiidae (5,3%), foram identificadas: Agoraea simivitrea, Ammalo helops, Antarctia paula, Antarctia sp.¹, Carales astur, Dycladia lucetius, Elysius conspersa, Hyalurga leucophora, Hyalurga sp.¹, Hyponerita tysolis, Melese sp.¹, Opharus procides, Opharus sp¹., Pareuchaetes insulata e Pericopis sp. Da família Notodontidae (6,7%), foram identificados: Disphragia sp., Hemiceras sp., Monodes deltoides e Rosema sp., enquanto em Pyralidae, com 7,6% dos lepidópteros coletados, foram identificados: Desmia melanopolis, Hyalea sp., Margaronia hyalinata, Margaronia quadistriamolis, Polygrammodes ponderalis e Samea sp.

Aclytia heber, Correbidia sp., Cosmosoma auge, Cosmosoma remotum, Dicladia lucetius, Eucereon marcata, Eucereon setosum e Macrocnema thyridia foram os representantes da família Amatidae (5,3%). MEZZOMO (1995) relata que as espécies do gênero Cosmosoma são pragas secundárias para o eucalipto.

Além das espécies já relatadas, observou-se a presença de Agrius cingulatus, Protoparce sexta, Perigonia sp. e Triptogon sp. (Sphingidae), Norape plumosa (Megalophigidae), Timocratica sp. (Stenomidae) e Zadalcera sp. (Dalceridae) que, de acordo com MEZZOMO (1995), são insetos sem importância definida para o eucalipto.

CONCLUSÕES

• A família Geometridae é a mais representativa em número de indivíduos coletados nas áreas de mata da Estação Experimental de Tupi.

• Dentre as espécies identificadas, Glena sp., Oxydia sp.¹, Oxydia vesuliata (Geometridae), Sarsina violascens (Lymantriidae), Automeris amphirene, Dirphia sp., Eacles imperialis e Hylesia sp. (Saturniidae) são desfolhadores de importância florestal.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Prof. Dr. Sinval Silveira Neto pelo auxílio na identificação dos lepidópteros.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  23 Set 2024
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2003

Histórico

• Recebido
  30 Set 2002
• Aceito
  07 Jan 2003