Acessibilidade / Reportar erro

EPICAUTA ATOMARIA (GERM.) (COLEOPTERA, MELOIDAE), PRIMEIRO REGISTRO DE OCORRÊNCIA EM POMARES DE MARACUJÁ (PASSIFLORA EDULIS VAR. FLAVICARPA, DEGENER) NA REGIÃO OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

EPICAUTA ATOMARIA (COLEOPTERA: MELOIDAE) (GERM.), FIRST RECORD OF OCCURRENCE IN ORCHARDS OF PASSION FRUIT (PASSIFLORA EDULIS F. FLAVICARPA, DEGENER) IN THE WEST REGION, STATE OF SÃO PAULO, BRAZIL

RESUMO

Assinala-se a ocorrência de Epicauta atomaria (Germ.) (Coleoptera: Meloidae) em cultura de maracujá (Passiflora edulis var. flavicarpa, Degener) nos campos experimentais do Instituto Biológico localizados na região oeste do Estado de São Paulo, a partir do ano agrícola 96/97. Danos causados ao desenvolvimento vegetativo das plantas e as perdas obtidas pelos produtores são descritas.

PALAVRAS CHAVE:
Epicauta atomaria; Passiflora edulis var; flavicarpa; maracujá.

ABSTRACT

This paper reports the occurrence of Epicauta atomaria (Germ.) (Coleoptera: Meloidae) in passion fruit (Passiflora edulis f. flavicarpa, Degener) in the experimental fields of the Instituto Biológico in the west region of São Paulo state. Damages to crop and losses in the yield are reported.

KEY WORDS:
Epicauta atomaria; Passiflora edulis f; flavicarpa; passion fruit.

Com a expansão da cultura do maracujá na região oeste do Estado de São Paulo, muitos insetos começaram a surgir como pragas da cultura. Esse é o caso de Epicauta atomaria conhecida popularmente como vaquinha ou burrinho. No ano agrícola 96/97, nos campos experimentais de maracujá, do Instituto Biológico, localizados nos municípios de Vera Cruz e Garça, SP, constatou-se a presença desse inseto. As primeiras infestações ocorreram em reboleiras, inicialmente, nas bordas dos pomares onde um grande número de adultos alimentavam-se vorazmente das folhas deixando-as restritas as nervuras ou reduzindo consideravelmente a área fotossintética (Fig.1). Com o passar dos meses, houve um grande aumento da população do inseto e focos começaram a surgir por toda cultura. Os adultos, além das folhas, passaram a alimentar-se dos ponteiros impedindo o desenvolvimento das plantas e dos pedúnculos florais, ocasionando sua queda.

Esses insetos são altamente polífagos tendo sido assinalados no Brasil, até a presente data, nas culturas de batata-doce, batatinha, pimentão, pimenteira, jiló, tomate, beringela, maria-preta, alfafa; faveiro, tremoço, Crotalaria spp., Nicotina sp., beterraba, acelga, soja, espinafre, caruru e algodão (FONSECA, 1934FONSECA, J.P. Relação das principais pragas observadas nos anos de 1931, 1932 e 1933, nas plantas de maior cultivo no Estado de São Paulo. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.5, p. 263-289, 1934.; MARICONI & ZAMITH, 1954MARICONI, F.A.M. & ZAMITH, A.P.L. A “vaquinha” ou “burrinho” das solanáceas. Biológico, São Paulo, v. 20, n. 9, p. 147-157, 1954.; MARICONI, 1963MARICONI, F.A.M. Inseticidas e seu emprego no combate as pragas. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1963.; ORLANDO, 1965ORLANDO, A. Principais pragas da batatinha que ocorrem no Estado de São Paulo e indicações de combate. Bol. Campo, n. 190, junho/julho, 1965.; SILVA, 1968SILVA, G.C. (Coord.) Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil; seus parasitas e predadores. Rio de Janeiro: Min. Agric., 1968.; GALLO, 1988GALLO, D. (Coord.) Manual de Entomologia Agrícola. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1988.).

Quanto a sua distribuição geográfica, estão presentes nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (MARICONI, 1963MARICONI, F.A.M. Inseticidas e seu emprego no combate as pragas. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1963.; SILVA , 1968SILVA, G.C. (Coord.) Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil; seus parasitas e predadores. Rio de Janeiro: Min. Agric., 1968.).

O adulto de E. atomaria possui de 8 a 17 mm de comprimento e vive na parte aérea da planta. São delicados, de cabeça e pronoto mais ou menos da mesma largura; élitros mais largos que o pronoto na base e ampliados para a extremidade. Corpo recoberto por uma densa pubescência cinza azulado e ornado com um grande número de manchas pretas arredondadas (Fig. 2). Antenas inseridas do lado da fronte e adiante dos olhos. Pernas alongadas, pouco robustas e tarsos longos (FONSECA, 1930FONSECA, J.P. (Coord.) Guia da Seção de Entomologia e Parasitologia Agrícolas. São Paulo: Instituto Biológico de defesa Agrícola e Animal, 1930.; SNIPES & VANETTI, 1952SNIPES, B.T. & VANETTI, F. Entomologia aplicada. Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, 1952, v. 2, 235p. (mimeografado).; MARICONI & ZAMITH, 1954MARICONI, F.A.M. & ZAMITH, A.P.L. A “vaquinha” ou “burrinho” das solanáceas. Biológico, São Paulo, v. 20, n. 9, p. 147-157, 1954.; LIMA, 1955LIMA, A.M. da C. Insetos do Brasil: Coleópteros, 3a parte. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1955, t.9, 3.pt.; MARICONI, 1963MARICONI, F.A.M. Inseticidas e seu emprego no combate as pragas. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1963.; ORLANDO, 1965ORLANDO, A. Principais pragas da batatinha que ocorrem no Estado de São Paulo e indicações de combate. Bol. Campo, n. 190, junho/julho, 1965.; BORROR & DELONG, 1969BORROR, D.J. & DELONG, D.M. Estudo dos insetos. Rio de Janeiro: Edgard Blücher, 1969.; GIANOTTI et al., 1972GIANOTTI, O; ORLANDO, A; PUZZI, D.; CAVALCANTE, R.D.; MELLO, E.J.R. Noções básicas sobre praguicidas, generalidades e recomendação de uso na agricultura do Estado de São Paulo. Biológico, São Paulo, v. 38, n.8/9, p.223239, 1972. e GALLO, 1988GALLO, D. (Coord.) Manual de Entomologia Agrícola. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1988.). As posturas são feitas normalmente no solo, porém, quando o nível populacional é muito alto, podem colocar os ovos na face inferior das folhas. Cada fêmea ovipõe em média 120 ovos que ficam aderentes uns aos outros. De formato cilíndrico, são inicialmente brancos, tornando-se amarelos posteriormente. Dez dias após a postura ocorre a eclosão dos ovos. As larvas possuem cabeça grande, pernas alongadas e transformam-se em pupas no solo (FONSECA, 1930FONSECA, J.P. (Coord.) Guia da Seção de Entomologia e Parasitologia Agrícolas. São Paulo: Instituto Biológico de defesa Agrícola e Animal, 1930.; MARICONI & ZAMITH, 1964; NAKANO, 1982NAKANO, O. O controle das principais pragas de batata. Correio Agríc., n. 3, p. 454-459, 1982.; ORLANDO, 1965ORLANDO, A. Principais pragas da batatinha que ocorrem no Estado de São Paulo e indicações de combate. Bol. Campo, n. 190, junho/julho, 1965.; SNIPES & VANETTI, 1952SNIPES, B.T. & VANETTI, F. Entomologia aplicada. Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, 1952, v. 2, 235p. (mimeografado).). Segundo GANDARILLAS (1956)GANDARILLAS, H. El cultivo de la papa. Boletins Experimental, n. 4, 1956. e MARICONI (1963)MARICONI, F.A.M. Inseticidas e seu emprego no combate as pragas. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1963., ocorre uma única geração por ano. Na fase adulta além de destruir as plantações, são agentes transmissores de doenças como a murcha bacteriana. Na fase jovem são de hábitos subterrâneos e alimentam-se de radicelas e tubérculos principalmente de batatas (MARICONI & ZAMITH, 1954MARICONI, F.A.M. & ZAMITH, A.P.L. A “vaquinha” ou “burrinho” das solanáceas. Biológico, São Paulo, v. 20, n. 9, p. 147-157, 1954.; ORLANDO, 1965ORLANDO, A. Principais pragas da batatinha que ocorrem no Estado de São Paulo e indicações de combate. Bol. Campo, n. 190, junho/julho, 1965.; NAKANO, 1982NAKANO, O. O controle das principais pragas de batata. Correio Agríc., n. 3, p. 454-459, 1982.).

Apesar de algumas plantas de maracujá terem apresentado queda de 100% dos botões florais, as perdas na produção, causadas pelo inseto, não atingiram 5%, muito pouco quando comparado aos prejuízos causados pelos percevejos e lagartas à cultura do maracujá.

Notou-se uma certa apreensão por parte de alguns produtores pois os inseticidas fosforados recomendados para o maracujá tem apresentado baixa eficiência no controle desse inseto. Recomenda-se manter a cultura no limpo evitando-se principalmente a mariapreta e o carurú, que são focos de proliferação da vaquinha.

Este é o primeiro registro de E. atomaria em pomares de maracujá.

Fig. 1
Dano causado a folha de maracujá

Fig. 2
Adulto de Epicauta atomaria (Germ.)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  • BORROR, D.J. & DELONG, D.M. Estudo dos insetos Rio de Janeiro: Edgard Blücher, 1969.
  • FONSECA, J.P. (Coord.) Guia da Seção de Entomologia e Parasitologia Agrícolas São Paulo: Instituto Biológico de defesa Agrícola e Animal, 1930.
  • FONSECA, J.P. Relação das principais pragas observadas nos anos de 1931, 1932 e 1933, nas plantas de maior cultivo no Estado de São Paulo. Arq. Inst. Biol, São Paulo, v.5, p. 263-289, 1934.
  • GANDARILLAS, H. El cultivo de la papa. Boletins Experimental, n. 4, 1956.
  • GALLO, D. (Coord.) Manual de Entomologia Agrícola São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1988.
  • GIANOTTI, O; ORLANDO, A; PUZZI, D.; CAVALCANTE, R.D.; MELLO, E.J.R. Noções básicas sobre praguicidas, generalidades e recomendação de uso na agricultura do Estado de São Paulo. Biológico, São Paulo, v. 38, n.8/9, p.223239, 1972.
  • LIMA, A.M. da C. Insetos do Brasil: Coleópteros, 3a parte. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1955, t.9, 3.pt.
  • MARICONI, F.A.M. Inseticidas e seu emprego no combate as pragas São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1963.
  • MARICONI, F.A.M. & ZAMITH, A.P.L. A “vaquinha” ou “burrinho” das solanáceas. Biológico, São Paulo, v. 20, n. 9, p. 147-157, 1954.
  • NAKANO, O. O controle das principais pragas de batata. Correio Agríc., n. 3, p. 454-459, 1982.
  • ORLANDO, A. Principais pragas da batatinha que ocorrem no Estado de São Paulo e indicações de combate. Bol. Campo, n. 190, junho/julho, 1965.
  • SILVA, G.C. (Coord.) Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil; seus parasitas e predadores Rio de Janeiro: Min. Agric., 1968.
  • SNIPES, B.T. & VANETTI, F. Entomologia aplicada. Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, 1952, v. 2, 235p. (mimeografado).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Dec 2000

Histórico

  • Recebido
    14 Abr 2000
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br