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CONTROLE DE PYRICULARIA GRISEA E BIPOLARIS SOROKINIANA EM SEMENTES DE TRIGO MEDIANTE TRATAMENTO COM FUNGICIDAS

CONTROL OF WHEAT SEED-BORNE PYRICULARIA GRISEA AND BIPOLARIS SOROKINIANA BY TREATMENT WITH FUNGICIDES

RESUMO

Foram conduzidos 4 experimentos em laboratório, 3 em casa-de-vegetação e 3 em campo, com o fim de avaliar a eficiência de fungicidas, em tratamento de sementes de trigo, para o controle de Pyricularia grisea Sacc, forma anamórfica de Magnaporthe grisea (Hebert) Barr, e Bipolaris sorokiniana (Sacc.) Schoemaker (Helminthosporium sativum Pammel, King & Bakke), forma anamórfica de Cochliobolus sativus (Ito & Kurib.) Drechs.: Dastur. Sementes das cultivares Anahuac e Batuíra foram tratadas com 20 fungicidas, em quatro fases consecutivas, e analisadas para sanidade, em laboratório, pelo método “deep-freezer”. Nos experimentos de casa-de-vegetação foram avaliados a emergência e os sintomas nas plântulas; em campo, além desses parâmetros, foi avaliada a produção. De acordo com os resultados obtidos, a maioria dos fungicidas foi eficiente para controlar os dois fungos. Os produtos avaliados, nas doses abaixo indicadas (g.de i.a. /100 kg de sementes) podem ser colocados em 4 grupos, em ordem decrescente de eficiência para controle de P. grisea e H.sativum em sementes de trigo: 1° grupo - iprodione+carbendazin (52,5+26,2), carbendazin+mancozeb (50+160) e triflumizole+tiofanato metílico (45+135); 2° grupo - iprodione + thiram (50+150) e carboxin + thiram (93,7+93,7); 3° grupo - iminoctadine (62,4), thiram (210), prochloraz (50) e carboxin+prochloraz (82,5+22,5); 4° grupo - triadimenol (67,5), guazatine+imazalil (60+4) e prochloraz (40). Thiabendazol (60), benomyl (125) e tricyclazol (75) controlaram eficientemente P.grisea, porém não controlaram B. sorokiniana, enquanto que flutriafol (7,5) e etiltrianol (4,9), que foram eficientes no controle deste fungo, não controlaram P.grisea. Foi obtida correlação negativa significante entre incidência de B. sorokiniana nas sementes e emergência, e positiva entre emergência e produção; não houve, entretanto, correlação significativa entre incidência de P.grisea e emergência. Este fungo foi transmitido pelas sementes de acordo com uma taxa (incidência nas sementes/n°de plantas com sintomas) que variou de 7,3:1 (13,6%) no inverno para 1,8:1 (55,5%) no verão, o que mostra a influência da temperatura sobre a transmissão do fungo.

PALAVRAS-CHAVE:
Triticum aestivum; fungos; patologia de sementes.

ABSTRACT

Laboratory, greenhouse and field experiments were carried out in order to evaluate the effectiveness of fungicides, in wheat seed treatment, to control Pyricularia grisea Sacc., anamorphic state of Magnaporthe grisea (Hebert) Barr and Bipolaris sorokiniana (Sacc.) Schoemaker (Helminthosporium sativum Pammel, King & Bakke), anamorphic state of Cochliobolus sativus (Ito & Kurib.) Drechs.: Dastur. Seeds of Anahuac and Batuíra cultivars were treated with 20 fungicides, in four consecutives fases, and analised for health, in laboratory, by the deep-freezer method. In greenhouse, emergence and seedlings symptoms were evaluated; in the field, besides these parameters, yield was also evaluated. According to the results obtained, most of the fungicides were efficient for controlling both fungi. The products evaluated, in the doses below (g of a.i./100 kg seeds) can be put in 4 groups, in decreasing order of effectiveness for the control of P.grisea and B. sorokiniana in wheat seeds: 1° group - iprodione+carbendazin (52,5+26,2), carbendazin+mancozeb (50+160) and triflumizole+methyl tiophanate (45+135); 2° group - iprodione+thiram (50+150) and carboxin+thiram (93.7+93.7); 3° group - iminoctadine (62.4), thiram (210), prochloraz (50) and carboxin + prochloraz (82.5+22.5); 4° group - triadimenol (67.5), guazatine+imazalil (60 + 4) and prochloraz (40). Thiabendazole (60), benomyl (125) and tricyclazol (75) controlled efficiently P.grisea, but did not control B. sorokiniana while flutriafol (7.5) and ethyltrianol (4.9), that were efficient to control this fungus, did not control P.grisea. There was a significant negative correlation between H. sativum seed incidence and emergence and a positive correlation between emergence and yield. Nevertless, there was no correlation between P.grisea seed incidence and emergence. This fungus was transmitted by seeds in a transmission rate (seed infection/seed transmission) which ranged from 7.3:1 (13.6%) in the winter, to 1.8:1 (55.5%) in the summer, that indicates the influence of the temperature on its seed transmission.

KEY WORDS:
Triticum aestivum; fungi; seed pathology.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos o fungo Bipolaris sorokiniana (Sacc.) Shoemaker (Helminthosporium sativum Pammel, King & Bakke) forma anamórfica de Cochliobolus sativus ( Ito & Kurib.) Drechs.:Dastur têm sido o patógeno mais freqüente em sementes de trigo do Estado de São Paulo, constituindo, as mesmas, significante fonte de inóculo desse microrganismo. A sua presença em sementes de trigo foi relatada em diversas partes do mundo (RICHARDSON, 1979RICHARDSON, M.J. An annotated list of seed-borne diseases. 3 ed. Zurich: CAB/CMI/ISTA, 1979. 320p.) e os danos por ele ocasionados quando veiculado pela semente foram estudados por LASCA et al.. (1984bLASCA, C.C.; VALARINI, P.J, BARROS, B.C. ; CHIBA, S. Avaliação de danos ocasionados por Helminthosporium sativum P.K. & B. em sementes de trigo com diferentes níveis de infecção. Fitopatol. Bras., v.9, n.2, p.381, 1984b. (Resumo), 1984cLASCA, C.C.; VALARINI, P.J.; CHIBA, S. Efeito do tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum L) com diferentes níveis de infecção por Helminthosporium sativum sobre a germinação e emergência. Fitopatol. Bras., v.9, n.2. p.381, 1984c.(Resumo) e 1986LASCA, C.C.; VALARINI, P.J.; BARROS, B.C.; CASTRO, J.C. Danos à cultura do trigo (Triticum aestivum L) ocasionados por Helminthosporium sativum P.K. & B. veiculado por sementes. Summa Phytopathol., v.12, n.1-2, p.17, 1986. (Resumo)). Diversos trabalhos foram realizados com o fim de selecionar fungicidas eficientes para o controle de B. sorokiniana em sementes de trigo, tendo sido comprovada a eficiência de diversos produtos (REIS, 1982REIS, V. M. Sementes de trigo infectadas por Helminthosporium sativum: fonte de inóculo para a podridão comum das raízes e seu controle pelo tratamento com fungicidas. Summa Phytopathol., v.8, n. 3-4, p. 29-39, 1982.; VIEDMA et al., 1984VIEDMA, L. Q.; BOZZANO, G.; TORRES, R.; ALARCON, E. Controle químico de la Helminthosporiose del trigo transmitida por semilla. Minist. Agric. Ganad. Bul. Invest., Assuncion, v.26, p. 1 a 14, 1984.; LASCA et al., 1984aLASCA, C.C.; BARROS, B.C.; VALARINI, P.J.; FREGONEZI, L.F. ; CHIBA, S. Eficiência de fungicidas em tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum L) para o controle de Helminthosporium sativum PAMMEL, KING & BAKKE. Biológico, São Paulo, v.50, n.6, p.125-130, 1984a. e 1985LASCA, C.C.; BARROS, B.C.; VALARINI, P.J.; CASTRO, J.C.; CHIBA, S. Ação de fungicidas em tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum L) no controle de Helminthosporium sativum PAMMEL, KING & BAKKE. Biológico, São Paulo, v.51, n.9, p.225-231, 1985.; FORCELINI & REIS, 1988FORCELINI, C.A. & REIS, E.M. Controle de Helminthosporium sativum, Septoria modorum, Fusarium graminearum e Erisiphe graminis f.sp. tritici pelo tratamento de sementes com fungicidas. Fitopatol. Bras., v.13, n.1, p 28-31, 1988.; GOULART, 1988GOULART, A C. P. Eficiência de três fungicidas no tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum L.) visando o controle do fungo Helminthosporium sativum P.K. & B. em condições de laboratório. Rev. Bras. Sementes, v.10, n.1, p.55-61, 1988.; GOULART et al., 1990GOULART, A. C. P.; MESQUITA, A. N.; PAIVA, F. de A Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Pyricularia oryzae e Cochliobolus sativum (Helminthosporium sativum). Fitopatol. Bras., v.15, n.4, p.302-305, 1990.; GOULART & PAIVA, 1993GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. A. Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Helminthosporium sativum e Pyricularia oryzae. Summa Phytopathol., v.19, n.3-4, p.199-202, 1993.)

Em 1985 foi assinalada no Brasil a presença do fungo P.grisea Sacc. forma anamórfica de Magnaporthe grisea (Hebert) Barr (ROSSMAN et al., 1990ROSSMAN, A Y.; HOWARD, R.J., VALENT, B. Pyricularia grisea, the correct name for the rice blast disease fungus. Mycologia, v.82, n.4, p.509-512, 1990.) atacando trigo e em 1987 esse fungo já ocasionava prejuízos consideráveis nos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, com perdas que, no Paraná, alcançaram 100% da produção (GOULART et al., 1989aGOULART, A. C. P.; PAIVA, F. A.; MESQUITA, A. N. Ocorrência da bruzone do trigo ( Pyricularia oryzae Cav.) no Estado do Mato Grosso do Sul. Summa Phytopathol., v.15, n.1, p.9,1989a. (Resumo) e 1989b; MENTEN et al.,1988; IGARASHI et al. 1986IGARASHI, S.; UTIAMADA, C. M.; IGARASHI, L. C., KASUMA, A. H.; LOPES, R. S. Pyricularia sp. em trigo. 1. Ocorrência de Pyricularia sp. no Estado do Paraná. Fitopatol. Bras., v.11,n.2, p.351, 1986. (Resumo).; LASCA et al., 1988aLASCA, C.C.; KOHARA, E.Y.; BARROS, B.C. Incidência de Pyricularia oryzae em sementes de trigo produzidas no Estado de São Paulo. In: REUNIÃO DA COMISSÃO CENTRO-SUL BRASILEIRA DE PESQUISA DO TRIGO, 4., 1988, Campinas, SP. Resultados de Pesquisa. Campinas: Instituto Biológico, 1988a, n.p.). Esta ocorrência trouxe grande preocupação aos triticultores devido à gravidade da doença e da já conhecida importância desse fungo na cultura do arroz. Diversos aspectos dessa nova doença passaram a ser investigados, entre os quais o papel que a semente representa na sua disseminação (MENTEN & MORAES, 1987MENTEN, J. O.M.; & MORAES, M.H.D. Pyricularia sp.em sementes de trigo; métodos de detecção, localização e transmissão do patógeno. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SEMENTES, 1.,2.,1987,Gramado, RS. Resumo dos trabalhos técnicos. Brasília: ABRATES, 1987. p.179. e 1988MENTEN, J. O.M. & MORAES, M.H.D. Importância da semente na disseminação de Pyricularia sp. na cultura do trigo. Summa Phytopathol., v.14, n.1-2, p.53, 1988. (Resumo).; TANAKA et al., 1988TANAKA, M.A.S.; ALVES, M.L.B.; MENTEN, J.O.M.. Pyricularia spp. de trigo e arroz: II - Transmissão através de sementes inoculadas. Fitopatol. Bras., v.13, n. p.106, 1988. (Resumo).; GOULART & PAIVA, 1990GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. de A. Transmissão de Pyricularia oryzae através de sementes de trigo (Triticum aestivum L.). Fitopatol. Bras.,v.15, n.4, p.359-362, 1990.) e o seu controle por meio de tratamento de sementes com fungicidas (LOPES & BUENO, 1988LOPES, M.E.B.M. & BUENO, J.T. Eficiência do tratamento de sementes de trigo com fungicidas. Fitopatol. Bras., v.13, n.2, p.106, 1988, (Resumo).; LASCA et al., 1988bLASCA, C.C.; SCHIMIDT, J.R.; KRUPPA, P.C.; BARROS, B.C. Eficiência de fungicidas em tratamento de sementes de trigo no controle de fungo Pyricularia oryzae. In: REUNIÃO DA COMISSÃO CENTRO-SUL BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO, 4., 1988, Campinas, SP. Resultados de Pesquisa. Campinas: Instituto Biológico, 1988b, n.p.; GOULART et al., 1989GOULART, A. C. P.; MESQUITA, A. N.; PAIVA, F. A. Avaliação de perdas em trigo causadas por Pyricularia oryzae Cav.. Summa Phytopathol., v.15, n.1, p.10, 1989b. (Resumo),1990; GOULART & PAIVA, 1993GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. A. Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Helminthosporium sativum e Pyricularia oryzae. Summa Phytopathol., v.19, n.3-4, p.199-202, 1993.). Os trabalhos de tratamento de sementes, inicialmente, foram realizados avaliando-se para o controle de P.grisea, a eficiência de produtos já recomendados para B. sorokiniana.

O presente trabalho teve por finalidade avaliar a eficiência de fungicidas já utilizados para o controle de B. sorokiniana em sementes de trigo, bem como de novos produtos, isoladamente ou em misturas, no controle dos fungos P.grisea e B. sorokiniana.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram conduzidos 4 experimentos em laboratório, 3 em casa-de-vegetação e 3 em campo, com sementes das cultivares Anahuac e Batuíra, altamente susceptíveis à P.grisea, em 4 fases consecutivas.

1ª fase: foi realizado experimento de laboratório inteiramente casualizado, com 8 tratamentos e quatro repetições(dezembro/87), com sementes da cultivar Anahuac com cerca de 23% de incidência de P.grisea e 65% de B. sorokiniana. As sementes foram tratadas com 7 fungicidas , nas formulações e doses indicadas no Quadro 1, e analisadas para sanidade pelo método “deep-freezer” (LIMONARD, 1966LIMONARD, T. A. A modified blotter test for seed health. Neth. J. Plant Pathol., v.72 p.319-321, 1966.). Em cada tratamento foram analisadas 400 sementes, em repetições de 100. As sementes foram distribuídas em placas de petri de plástico de 9 cm de diâmetro contendo 3 discos de papel de filtro previamente embebidos em água, e incubadas à 20±2° C, com períodos alternados de luz negra e escuro de 12 horas. Após 24 horas, foram colocadas em um freezer à -20° C, onde permaneceram 24 horas, retornando, a seguir, à temperatura de 20±2° C até completar 7 dias. A identificação dos fungos que se desenvolveram sobre as sementes foi feita por meio de exames ao microscópio estereoscópico e microscópio composto.

2ª fase: foram conduzidos experimentos com sementes da cultivar Anahuac, com cerca de 11 % de P.grisea e 64 % de B. sorokiniana, em laboratório, casade-vegetação e campo (maio/88), para avaliação de 12 produtos fungicidas nas formulações e doses constantes do Quadro 1. Tanto em laboratório como em casa de vegetação o delineamento estatístico foi inteiramente casualizado com 13 tratamentos e 4 repetições. Após o tratamento, as sementes foram analisadas para sanidade pelo método “deep-freezer” (200 sementes/tratamento, em repetições de 50, incubação por 6 dias). Em casa-de-vegetação foram semeadas 200 sementes por tratamento, em caixas de sementeira contendo terra esterilizada; cada repetição consistiu de uma caixa, na qual foram semeadas 50 sementes. Foi feita a avaliação da emergência e do ataque à plântulas por P.grisea e B. sorokiniana. O experimento de campo foi conduzido em terreno telado, na Estação Experimental do Instituto Biológico, em Campinas, seguindo o delineamento de blocos ao acaso, com 13 tratamentos e 4 repetições; cada parcela consistiu de 5 linhas de 2 metros de comprimento, espaçadas entre si de 0,20m. Os parâmetros avaliados foram: emergência, ataque à plântulas e produção. A emergência foi avaliada nas duas linhas vizinhas à linha central da parcela. Para a avaliação da produção considerou-se toda a parcela. Foram feitas análises de correlação para os seguinte parâmetros: incidência de B. sorokiniana nas sementes versus emergência , incidência de P.grisea versus emergência e emergência versus produção.

3ª fase: Nessa fase (dezembro/88) foram avaliados 6 produtos fungicidas (Quadro 1) para tratamento de sementes da cultivar Batuíra com cerca de 20 % de P. grisea e 47 % de B. sorokiniana. Procedeu-se ao tratamento e à análise de sanidade das sementes (“deep-freezer”, 200 sementes/tratamento, em repetições de 50, incubação de 6 dias), em experimento inteiramente casualizado com 7 tratamentos e 4 repetições; em casa-de-vegetação foi conduzido experimento seguindo o mesmo delineamento, de acordo com metodologia já descrita na fase anterior.

4ª fase: Nessa fase (maio/89), os produtos que apresentaram maior eficiência nos experimentos realizados nas fases anteriores (Quadro 1), foram reunidos e avaliados em experimentos de laboratório, casade-vegetação e campo. Foram utilizadas sementes da cultivar Batuíra com cerca de 27 % de incidência de P.grisea e 41 % de B. sorokiniana. Em laboratório e casade-vegetação foram utilizadas 200 sementes por tratamento, seguindo-se a mesma metodologia já descrita para os experimentos das fases anteriores. Nos experimentos de campo, conduzidos nos municípios de Cosmópolis, SP e Maracaí, SP, o delineamento foi o de blocos ao acaso com 13 tratamentos e 4 repetições; cada parcela consistiu de 5 linhas de 3 metros de comprimento, espaçadas de 0,20m. Foram semeadas cerca de 200 sementes por linha. Em Cosmópolis, o experimento foi instalado em 11/5 e conduzido com irrigação por aspersão na primeira fase do ciclo da cultura. A avaliação da emergência foi feita em 24/5, registrando-se o número de plantas das duas linhas vizinhas a linha central da parcela. Em Maracaí, o experimento foi instalado em 12/5 e a emergência, retardada pela seca, foi avaliada em 20/6, registrando-se o número de plantas das 3 linhas centrais da parcela, e em 04/7, registrando-se o número de plantas das 2 linhas externas. Para a avaliação da produção, considerou-se, em Cosmópolis, as três linhas centrais da parcela e em Maracaí, toda a parcela. Nessa localidade, foram consideradas todas as linhas, para evitar distorções devidas à germinação irregular observada em algumas parcelas, motivada pela seca prolongada que se verificou na região.

Quadro 1
Fungicidas utilizados para tratamento de sementes de trigo das cultivares Anahuac e Batuira visando o controle de Pyricularia grisea e Bipolaris sorokiniana.

O tratamento de sementes, em todos os ensaios, foi feito de acordo com o seguinte procedimento: os fungicidas em pó foram misturados com as sementes, agitando-se a mistura e nos tratamentos com pó molhável adicionou-se água, na quantidade de 10 a 15 mL/kg de sementes. Na avaliação do ataque de P.grisea e B. sorokiniana em casa-de-vegetação e campo, as plantas com sintomas foram arrancadas e examinadas em laboratório para identificação do agente causal da doença. Os dados de incidência dos fungos nas sementes após o tratamento, de emergência e de produção de todos os experimentos foram analisados estatisticamente por análise de variância, aplicando-se os testes F e Tukey a 5% de probabilidade. Para a comparação das médias, os dados de incidência foram transformados em arc sen x/100 e os de emergência em arc sen x/100 e x.

RESULTADOS

1ª fase: os resultados obtidos no experimento de laboratório dessa fase encontram-se na Tabela 1. Todos os produtos reduziram significativamente o fungo P. grisea nas sementes, tendo apresentado maior eficiência os seguintes: thiabendazol, benomyl, carboxin+thiram e carboxin. Com relação a B. sorokiniana, houve redução significativa nos tratamentos com carboxin, iprodione+thiram, guazatine + imazalil, carboxin + thiram e thiram; apenas thiabendazol e benomyl não controlaram esse fungo, comportando-se semelhantemente à testemunha .

2ª fase: a Tabela 2 mostra os resultados dos experimentos de laboratório, casa-de-vegetação e campo realizados nessa fase. Nos testes de laboratório, índices de incidência de P.grisea significativamente inferiores aos da testemunha foram verificados nas sementes tratadas, os quais ficaram reduzidos à zero na maioria dos tratamentos; em casa-de-vegetação foram observados sintomas ocasionados por esse fungo em plantas dos tratamentos com carboxin, captan, tricyclazol e testemunha, cerca de um mês após a semeadura. As plantas apresentaram clorose seguida de amarelecimento e seca total da parte aérea; exames de laboratório comprovaram a presença do fungo P.grisea na região do colo e raízes. No tratamento com triadimenol foram observados sintomas semelhantes que, todavia, não tiveram a sua causa comprovada. No que diz respeito à B. sorokiniana, apenas no tratamento com thiabendazol a sua incidência nas sementes foi semelhante à testemunha; nos demais tratamentos foi significativamente inferior. Os produtos que melhor controlaram o fungo nas sementes foram: carboxin + thiram, guazatine + imazalil, carboxin, iprodione+carbendazin e iprodione + thiram. Com exceção dos tratamentos com benomyl, thiabendazol e tricyclazol, todos os produtos propiciaram elevação significativa da emergência das sementes em solo esterilizado. Em campo, os melhores tratamentos quanto à emergência foram carboxin + thiram, thiram, iprodione + thiram e iminoctadine, seguidos pelo carboxin, iprodione + carbendazin e tricyclazol; os demais foram semelhantes à testemunha. Foram observados sintomas semelhantes aos causados por P.grisea em número reduzido de plantas dos tratamentos com iprodione + thiram e tricyclazol, cujo agente causal, entretanto, não foi determinado. Não foram obtidas diferenças estatísticamente significativas entre os tratamentos, em relação à produção. Obteve-se, contudo, correlação negativa significativa entre incidência de B. sorokiniana nas sementes e emergência em casa-de-vegetação (r = -0,86) e campo (r = 0,75) e correlação significativa positiva entre emergência e produção (r = 0,62). Não houve correlação significativa entre P.grisea nas sementes e emergência em casade-vegetação (r = -0,40) e campo (r = -0,47).

3ª fase: os resultados dos experimentos conduzidos nessa fase estão contidos na Tabela 3. Em laboratório observou-se redução significativa de P.grisea nas sementes dos tratamentos com carbendazin + mancozeb, carboxin + prochloraz, triflumizole + tiofanato metílico e prochloraz. Em casa-de-vegetação não foram observados sintomas de P.grisea em plantas desses tratamentos, enquanto que nos tratamentos com etiltrianol e flutriafol, nos quais os testes de laboratório não acusaram redução desse fungo, foram registrados altos índices de plantas com sintomas provocados por P.grisea. Todos os produtos reduziram significativamente o nível de B. sorokiniana, verificando-se incidência zero nas sementes dos tratamentos com os fungicidas carboxin + prochloraz, triflumizole + tiofanato metílico e flutriafol. Poucos sintomas foram observados em casa-de-vegetação nos tratamentos com carbendazin + mancozeb, etiltrianol e flutriafol, enquanto que no tratamento testemunha o número de plantas com sintomas de B. sorokiniana foi 6 vezes superior ao daqueles. Não foi observado nenhum efeito significativo do tratamento de sementes sobre a emergência.

4ª fase: os resultados dos experimentos dessa fase estão expressos nas Tabelas 4 e 5. Houve redução estatisticamente significativa do fungo P.grisea nas sementes tratadas com triflumizole + tiofanato metílico, carbendazin + mancozeb, iprodione + carbendazin, prochloraz 500 e 400g do produto comercial, carboxin + thiram, carboxin + prochloraz, iprodione + thiram, guazatine + imazalil, thiram e triadimenol. Em casa-devegetação e campo todos os produtos ofereceram bom controle a esse fungo, impedindo ou reduzindo expressivamente o aparecimento de sintomas. Com relação à B. sorokiniana, todos os produtos reduziram a zero, ou a índices próximos de zero, a incidência desse fungo nas sementes e protegeram contra o ataque à plântulas em casa-de-vegetação e campo. As diferenças em emergência entre os tratamentos, observadas em casa-devegetação e campo, no Município de Cosmópolis, não foram significativas em nível estatistico. No Município de Maracaí verificou-se que na primeira avaliação da emergência, que foi retardada pela seca, os tratamentos com carboxin + thiram, iprodione + thiram, thiram, iminoctadine, iprodione + carbendazin, carbendazin + mancozeb e triflumizole + tiofanato metílico foram superiores à testemunha; na segunda avaliação, mantiveram essa superioridade os produtos iprodione + thiram, iprodione + carbendazin, carbendazin + mancozeb e triflumizole + tiofanato metílico. Houve aumento significativo da produção nos tratamentos com iprodione + thiram e carbendazin + mancozeb; os demais ficaram em posição intermediária entre esses tratamentos e a testemunha.

Tabela 1
Incidência (%) de fungos em sementes de trigo da cultivar Anahuac tratadas com fungicidas e avaliadas pelo método “deep freezer” (400 sementes/tratamento). São Paulo, 1987.
Tabela 2
Incidência de P.grisea e B. sorokiniana , emergência, sintomas de plântulas e produção em experimentos de tratamento de sementes de trigo(cultivar Anahuac) em laboratório, casa de vegetação (São Paulo) e campo (Campinas), 1988.

DISCUSSÃO

Com base nos resultados obtidos nos diversos experimentos realizados, algumas considerações podem ser feitas. No experimento de laboratório, realizado na 1° fase, embora todos os produtos tenham oferecido controle a P.grisea, esse fungo foi melhor controlado pelo produtos sistêmicos, ou por misturas de fungicidas que continham pelo menos um produto sistêmico, como thiabendazol, benomyl, carboxin e carboxin+thiram. Por outro lado, alguns desses produtos, como o benomyl e o thiabendazol não deram controle a B. sorokiniana, que foi eficientemente controlado por carboxin + thiram, iprodione + thiram, guazatine + imazalil e carboxin. Esses produtos deram controle aos dois fungos, mostrando maior eficiência o carboxin+thiram e o carboxin. Na 2ª e 3ª fase, considerando todos os parâmetros avaliados em experimentos de laboratório, casa-de-vegetação e campo, apresentaram maior eficiência no controle dos dois fungos os seguintes produtos: carboxin + thiram, iprodione + thiram, iprodione + carbendazin, thiram, iminoctadine, guazatine + imazalil, carbendazin + mancozeb, carboxin + prochloraz, triflumizole + tiofanato metílico, triadimenol e prochloraz. O carboxin aparentemente apresentou bom controle a P.grisea nos testes de laboratório, como havia sucedido na 1ª fase, entretanto, não deu proteção completa em casa-de-vegetação contra o ataque desse fungo. Por outro lado o thiram, que a julgar pelo testes de laboratório foi pouco eficiente no controle de B. sorokiniana, deu proteção completa contra o ataque deste fungo em casa-de-vegetação e campo. Esses resultados mostram a importância da realização de testes de germinação em solo ou terra esterilizada para complementar os testes de laboratório, devido ao efeito secundário de alguns produtos, que se verifica após a semeadura (NEERGAARD, 1979NEERGAARD, P. Seed Pathology. London: Mc Millan, 1979. v.1, 839 p.).

Os produtos acima, reavaliados na 4ª fase, em experimentos de laboratório, casa-de-vegetação e campo, nas localidades de Cosmópolis e Maracaí, foram, de maneira geral, eficientes no controle dos dois fungos, obedecendo a seguinte ordem decrescente de eficiência: carbendazin + mancozeb, iprodione + carbendazin e triflumizole + tiofanato metílico; iprodione + thiram e carboxin + thiram; iminoctadine, prochloraz na maior dose, thiram e carboxin + prochloraz; triadimenol, guazatine + imazalil e prochloraz na menor dose.

Dentre todos os fungicidas testados, thiabendazol e benomyl ofereceram controle eficiente apenas para P.grisea, enquanto que etiltrianol e flutriafol não controlaram esse fungo, mas deram bom controle à B. sorokiniana. Esses resultados sugerem que esses produtos poderão ser usados, com bons resultados, em culturas onde prevaleça apenas um dos fungos citados.

Com respeito aos produtos avaliados, iprodione + thiram, carboxin + thiram, guazatine + imazalil, thiram, triadimenol, iminoctadine e triflumizole + tiofanato metílico já mostraram eficiência para o controle de B. sorokiniana em sementes de trigo em trabalhos de diversos autores (LASCA et al., 1984aLASCA, C.C.; BARROS, B.C.; VALARINI, P.J.; FREGONEZI, L.F. ; CHIBA, S. Eficiência de fungicidas em tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum L) para o controle de Helminthosporium sativum PAMMEL, KING & BAKKE. Biológico, São Paulo, v.50, n.6, p.125-130, 1984a. e 1985LASCA, C.C.; BARROS, B.C.; VALARINI, P.J.; CASTRO, J.C.; CHIBA, S. Ação de fungicidas em tratamento de sementes de trigo (Triticum aestivum L) no controle de Helminthosporium sativum PAMMEL, KING & BAKKE. Biológico, São Paulo, v.51, n.9, p.225-231, 1985.; VIEDMA et al., 1984VIEDMA, L. Q.; BOZZANO, G.; TORRES, R.; ALARCON, E. Controle químico de la Helminthosporiose del trigo transmitida por semilla. Minist. Agric. Ganad. Bul. Invest., Assuncion, v.26, p. 1 a 14, 1984.; FORCELINI & REIS, 1988FORCELINI, C.A. & REIS, E.M. Controle de Helminthosporium sativum, Septoria modorum, Fusarium graminearum e Erisiphe graminis f.sp. tritici pelo tratamento de sementes com fungicidas. Fitopatol. Bras., v.13, n.1, p 28-31, 1988.; GOULART et al., 1990GOULART, A. C. P.; MESQUITA, A. N.; PAIVA, F. de A Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Pyricularia oryzae e Cochliobolus sativum (Helminthosporium sativum). Fitopatol. Bras., v.15, n.4, p.302-305, 1990.; GOULART & PAIVA, 1993GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. A. Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Helminthosporium sativum e Pyricularia oryzae. Summa Phytopathol., v.19, n.3-4, p.199-202, 1993.). Em relação ao controle de P.grisea, em trabalho de GOULART et al. (1990)GOULART, A. C. P.; MESQUITA, A. N.; PAIVA, F. de A Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Pyricularia oryzae e Cochliobolus sativum (Helminthosporium sativum). Fitopatol. Bras., v.15, n.4, p.302-305, 1990., os produtos iprodione + thiram, carboxin, etiltrianol, flutriafol, thiabendazol, iminoctadine e triflumizole + tiofanato metílico, entre outros, foram eficientes no controle desse fungo, em nível de 10 % de incidência nas sementes. Esses produtos, com exceção de etiltrianol, carboxin e flutriafol, também mostraram eficiência no presente trabalho, no qual foram utilizadas sementes com níveis mais altos de incidência de P.grisea. As diferenças de resultados obtidas com relação ao etiltrianol e flutriafol podem ter sido motivadas, em parte, pelas doses utilizadas, que foram mais elevadas no trabalho dos referidos autores; enquanto que no trabalho citado foram utilizadas 15g do i.a. de etiltrianol e 10g de flutriafol, no presente trabalho, por indicação do fabricante, foram utilizadas 4,9 e 7,5 g do i.a., respectivamente. Com estas doses, em trabalho posterior, GOULART & PAIVA (1993)GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. A. Eficiência do tratamento químico de sementes de trigo no controle de Helminthosporium sativum e Pyricularia oryzae. Summa Phytopathol., v.19, n.3-4, p.199-202, 1993. obtiveram resultados semelhantes aos obtidos na presente pesquisa. As misturas iprodione + carbendazin e triflumizole + tiofanato metílico, que apresentaram grande eficiência, tanto para o controle de P.grisea como de B. sorokiniana, foram também avaliadas por esses autores, que obtiveram bons resultados. Além delas, destacou-se em eficiência no controle dos dois fungos, no presente trabalho, a mistura carbendazin + mancozeb.

Nos experimentos realizados na 2ª fase, a correlação negativa significativa obtida entre infecção de sementes por B. sorokiniana e emergência mostrou o efeito negativo desse fungo sobre a germinação e emergência de sementes de trigo. Esse efeito ficou evidente em casa-de-vegetação, onde os tratamentos com os produtos benomyl, thiabendazol e tricyclazol, que foram os de menor eficiência no controle de B. sorokiniana, tiveram a emergência semelhante à testemunha, enquanto que os demais tratamentos foram superiores. A correlação positiva significativa entre emergência e produção obtida no experimento de campo instalado com sementes do mesmo lote, que receberam o mesmo tratamento, mostra a influência do fungo B. sorokiniana sobre a produção, comprovando o benefício do tratamento de sementes para o controle desse fungo. No que se refere à P.grisea, não houve correlação entre a sua incidência em sementes e a emergência, tanto em casa-de-vegetação como em campo, o que indica que o fungo não afeta o trigo nessa fase do seu ciclo. GOULART & PAIVA (1990)GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. de A. Transmissão de Pyricularia oryzae através de sementes de trigo (Triticum aestivum L.). Fitopatol. Bras.,v.15, n.4, p.359-362, 1990. obtiveram resultados semelhantes com sementes de trigo e VALARINI et al. (1985)VALARINI, P.J.; VECHIATO, M.H.; LASCA, C.C. Sobrevivência de Pyricularia oryzae Cav. em sementes de arroz (Oryza sativa L.) Fitopatol. Bras., v.10, n.2, p.361, 1985. (Resumo). com sementes de arroz. No presente trabalho, os sintomas observados em todos os experimentos realizados em casa-de-vegetação, comprovaram a transmissão do fungo pela semente, visto que os mesmos foram conduzidos em solo esterilizado e ambiente protegido de contaminação vinda do exterior. Em nenhum dos casos de transmissão foram observados sintomas de manchas de folhas típicas de brusone ou manchas no coleóptile, como observado por MENTEN & MORAES (1987)MENTEN, J. O.M.; & MORAES, M.H.D. Pyricularia sp.em sementes de trigo; métodos de detecção, localização e transmissão do patógeno. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SEMENTES, 1.,2.,1987,Gramado, RS. Resumo dos trabalhos técnicos. Brasília: ABRATES, 1987. p.179., TANAKA et al. (1988)TANAKA, M.A.S.; ALVES, M.L.B.; MENTEN, J.O.M.. Pyricularia spp. de trigo e arroz: II - Transmissão através de sementes inoculadas. Fitopatol. Bras., v.13, n. p.106, 1988. (Resumo). e GOULART & PAIVA (1990)GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. de A. Transmissão de Pyricularia oryzae através de sementes de trigo (Triticum aestivum L.). Fitopatol. Bras.,v.15, n.4, p.359-362, 1990.. O amarelecimento e seca observados consistiram de sintomas reflexos ocasionados pelo ataque do fungo na região da planta abaixo do solo. A morte de plântulas de trigo ocasionada pelo fungo P.grisea proveniente da semente foi também observada por GOULART & PAIVA (1990)GOULART, A. C. P. & PAIVA, F. de A. Transmissão de Pyricularia oryzae através de sementes de trigo (Triticum aestivum L.). Fitopatol. Bras.,v.15, n.4, p.359-362, 1990. e evidenciada por SUZUKI, citado por LAMEY (1970)LAMEY, H. A. Pyricularia oryzae in rice seeds in the United States. Plant Dis., v.11, n.54, p.931-935, 1970., em plântulas de arroz obtidas de sementes infectadas. Nos experimentos conduzidos no inverno (instalados em maio) a taxa de transmissão do fungo P.grisea pelas sementes não tratadas (infecção de sementes/transmissão) foi de 7,3:1 e de 6,1:1 (cerca de 15%), enquanto que em experimento realizado no verão (instalado em dezembro), essa taxa foi de 1,8:1 (55,5%), indicando que a temperatura elevada favorece a transmissão do fungo pela semente. É importante levar em conta que para estabelecer essa taxa com precisão, o método para detecção do fungo nas sementes deve ser eficiente e permitir a obtenção de resultados os mais próximos possíveis da incidência real.

Tabela 3
Incidência de fungos em sementes, emergência e sintomas de plântulas em experimentos de tratamento de sementes de trigo (cultivar Batuira) com fungicidas em laboratório e casa-de-vegetação - São Paulo, SP, 1988.
Tabela 4
Incidência de fungos em sementes, emergência e sintomas de plantas obtidos em experimentos de tratamento de sementes de trigo (cultivar Batuira) com fungicidas. Laboratório e casa de vegetação, São Paulo, 1989.
Tabela 5
Emergência e produção em experimentos de campo de tratamento de sementes de trigo (cultivar Batuira) com fungicidas. Cosmópolis, SP e Maracaí, SP, 1989.

Comparando os resultados dos experimentos de campo, observa-se o seguinte: a emergência e a produção do experimento no município de Cosmópolis, conduzido com irrigação na 1ª fase do ciclo da cultura, não foram afetadas pelo tratamento de sementes, embora diversos produtos tenham controlado eficientemente os fungos P.grisea e B. sorokiniana nas sementes; em Maracaí, entretanto, onde as condições foram adversas devido à seca prolongada, que resultou em baixa produção, houve resposta positiva ao tratamento, com elevação significativa da emergência e da produção, evidenciando o benefício do tratamento de sementes naquelas condições.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos em todos os experimentos realizados permitem concluir que:

a) dentre os produtos avaliados, os abaixo relaci-onados, nas doses utilizadas, apresentam eficiência no controle de P.grisea e B. sorokiniana, podendo ser colocados em 4 grupos, em ordem decrescente de eficiência: 1° grupo - carbendazin+mancozeb, iprodione + carbendazin e triflumizole + tiofanato metílico; 2° grupo - iprodione + thiram e carboxin + thiram; 3° grupo - iminoctadine, prochloraz 50 g, thiram e carboxin + prochloraz; 4° grupo - triadimenol, guazatine + imazalil e prochloraz 40g.

b) os seguintes produtos, nas doses utilizadas,são eficientes no controle de P.grisea, sem, contudo, controlar B. sorokiniana: thiabendazol, benomyl e tricyclazol. Por outro lado, os produtos a seguir controlam eficientemente B. sorokiniana, porém não controlam P.grisea: etiltrianol e flutriafol.

c) o fungo P.grisea não afeta a emergência, sendo transmitido pela sementes de trigo de acordo com uma taxa variável, influenciada pela temperatura.

d) o fungo B. sorokiniana, no nível de 64% de incidência nas sementes de trigo, pode afetar a emergência e a produção.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Jun 2001

Histórico

  • Recebido
    06 Set 2000
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