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Editorial

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Em 1857, eram publicadas As Flores do Mal, de Charles Baudelaire. Única coletânea de poemas daquele que seria considerado o poeta da modernidade por excelência, o livro, diante de um público despreparado para acolhê-lo, seria imediatamente condenado por atentado aos costumes e à moral. Mas é evidente que a hostilidade suscitada pelas Flores não se deve tanto ao seu "seu realismo grosseiro", ao seu poder de ofender o pudor dos contemporâneos – razão alegada para a condenação de seis poemas dessa primeira edição –, quanto à atitude crítica e irônica com que choca os valores do século – a religião do progresso, por exemplo – e explora as contradições e ambivalências do homem – seu fascínio pela violência que o atinge e o aliena, por exemplo.

Por outro lado, mais do que qualquer outro poeta, Baudelaire, sem renunciar à sua vocação quase clássica para o apuro e a concisão formais, tornará indissociáveis a reflexão crítica inerente à imaginação poética – seu poder próprio de pensar o mundo – e a necessidade de um trabalho rigoroso de invenção lingüística, sem as quais o poema não passa de mera utopia pedagógica, de inútil retórica acadêmica. Assim, As Flores embaralharão e redefinirão todas as tendências estéticas da segunda metade do século XIX, oferecendo ao que se configuraria como tradição moderna veios poéticos que ainda hoje parecem não ter sido esgotados. Quer conceba a poesia como busca do desconhecido subjacente ao presente da experiência e de formas novas para dizê-lo, quer privilegie sua dimensão auto-reflexiva e autocrítica, quer se lance incansavelmente à experimentação formal, forçando as fronteiras da língua, ou vise à intensificação das faculdades sensíveis no intuito de produzir analogias e correspondências, não há poeta nos últimos 150 anos que, ainda que sem o saber, não dialogue com Baudelaire e suas Flores do Mal.

Para isso concorrem também, bem entendido, não somente o Spleen de Paris, com sua prosa poética, como todos os ensaios teórico-críticos do poeta em torno da pintura, da literatura e da música, dos "paraísos artificiais", além das notas de Meu coração desnudado.

Estes dois números de 2007 (9/1 e 9/2) da Revista Alea visam justamente a permitir, uma vez mais, um retorno às Flores do Mal e a toda esta constelação de textos que constitui o nome Baudelaire, de modo a mostrar, sobretudo, de que maneira específica podemos ainda considerá-lo nosso contemporâneo.

Os Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ Av. Horácio Macedo, 2151, Cidade Universitária, CEP 21941-97 - Rio de Janeiro RJ Brasil , - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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