Resumo
Em O ensaio e seu tema (2001), César Aira sintetiza os fundamentos do ensaio na escolha temática, tanto que, se fosse o certo - arrisca - “se escreveria sozinho” (AIRA, 2001, p. 9). A afirmação é uma boutade, mais uma na lista utópica da arte que se faria, mas mesmo assim, ou por isso mesmo, o que poderia significar? A partir daqui, tentar-se-á articular um passeio pelos ensaios biográficos que César Aira escreveu sobre Osvaldo Lamborghini (“Prólogo” a Novelas y Cuentos de Ediciones del Serbal, 1988) e Alejandra Pizarnik (Alejandra Pizarnik, Beatriz Viterbo, 1998, e Alejandra Pizarnik, 1936-1972, Ediciones Omega, 2001) sob a hipótese de que, ao fazê-lo, não só executa o dispositivo borgeano de reativação da literatura argentina, cujo modelo se encontra em Evaristo Carriego (1930), de Borges, mas também institui um “ato de justiça” em relação à lenda negra que os cercava. Na medida em que o “mito pessoal” - ou “fábula de estilo” - opera uma neutralização dessa lenda, uma “mediação” entre a vida e a literatura, Aira parece executar leitores e exegetas crédulos, biógrafos ladinos, todos eles cristalizadores e perpetuadores de uma imagem equivocada pactuada por uma hermenêutica inocente, como que assumindo o perfil atenuado de um defensor que maneja argumentos biográfico-literários e recorre, sem preconceitos, à memória de amigos que desde o início souberam-se póstumos.
Palavras-chave:
César Aira; ensaio biográfico; mito pessoal do escritor; Osvaldo Lamborghini; Alejandra Pizarnik