ANTOLOGIA
Antologia Dinu Flămând
Seleção e tradução de Marco Lucchesi1 1 Marco Lucchesi é professor da Faculdade de Letras da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Letras. Recebeu, entre outros prêmios, o Marin Sorescu, na Romênia.
1
albastru spălat de ploaie al zidurilor
oase deformate ale cubului meu cranian
urmă a sandalei rămasă pe dealul paharului
dis-de-dimineaţă tăcerea nopţii
la fereastră cenuşa timpului
*
o azul desses muros lavados de chuva
ossos disformes de meu cubo craniano
marca da sandália na colina de barro
a poeira da pele na beira do copo
silêncio noturno ao primeiro amanhecer
junto à janela as cinzas do tempo
2
Holan
Philemon poet comic
la un veac de la moartea lui Euripide
se lăuda spunând că dacă morţii nu-şi pierd sentimentele
s-ar spânzura numai să poată sta de vorbă cu el
iar eu pentru Holan - cel stigmatizat cu un "H" de la Hamlet
*
Holan
Filemon poeta cômico
a um século da morte de Eurípides
gabava-se ao dizer que se os mortos não perdem os sentimentos
havia de enforcar-se para falar com ele
faria o mesmo para Holan - estigmatizado com um "H" de Hamlet.
3
Munţi
Iar din acele triumfale acorduri ale asfinţitului
La marginea marelui ocean
Ies deodată să te salute munţii
Ce continua să crească în amintirea ta
Tomnatecul
Heniul
Suhardul în depărtare
Piscuri de umbră împadurită
Din copilăria neatinsă de timp
*
Montanhas
E longe dos acordes triunfais do ocaso
Às margens do imenso oceano
Erguem-se as montanhas que saúdam
e seguem a crescer nas lembranças
O Tomnatec
O Heniu
O Suhard na distância
picos de sombra silvestre
de uma infância que o tempo não tocou.
4
plante semănate de nimeni
în mâini ce nu le-au atins niciodată
fotosinteză a invizibilului
difuză convingere ce te menţine
pe dinlăuntru
nemuritor şi impenetrabil
număr numărat care numără
de om trăit
care se trăieşte
iar timpul nu este
nu este decât răbdare
în altădată ca niciodată.
*
plantas semeadas por ninguém
mãos que não chegaram a tocá-las
fotossíntese do invisível
difusa opinião que te guarda
dentro de ti
imorredouro e impenetrável
número numerado que enumera
do homem vivo
que vive por si
e o tempo não é
não é mais que a paciência
do passado como nunca
5
Un Cocoş Pentru Asclepios
Pleacă de la mine această vară
Pe care nici un cântec n-o mai reţine
Socrate dansa pe imensele ei coline
Bolnav de viaţă
Pleacă aceasta vară...
*
Um Galo Para Asclépio
Vai-se de mim este verão
Sem uma canção peregrina
Sócrates dança nas colinas
enfermo de vida
vai-se de mim este verão...
Dinu Flămând nasceu em 1947 numa pequena aldeia da Transilvânia - cujas altitudes evoca em seus poemas (como Munţi). Participou da criação da revista "Echinox", enquanto estudava na universidade de Cluj. Trabalhou em diversas redações literárias na capital romena, publicando livros renomados, como Apeiron, Poezii, Altoiuri, além de Stare de asediu (estado de sítio). Traduz, dentre outros, Carlos Drummond de Andrade, Herberto Helder, Beckett, Saba, Vallejo e Pessoa. Vive em Portugal, exilado, com uma bolsa de estudos até o início de 1989, quando pede asilo político na França, onde vive até hoje, como funcionário da Radio France Internationale. Laureado com os mais diversos prêmios na Europa.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Abr 2014 -
Data do Fascículo
Jun 2014