Este trabalho, depois de discutir o sentido da palavra política, mostra que há quatro possíveis abordagens para a questão das relações entre língua, discurso e política: a) a natureza intrinsecamente política da linguagem e das línguas; b) as relações de poder entre os discursos e sua dimensão política; c) as relações de poder entre as línguas e a dimensão política de seu uso; d) as políticas linguísticas. Este texto desenvolve apenas os dois primeiros itens. A linguagem e as línguas têm uma natureza intrinsecamente política, porque sujeitam os falantes a sua ordem. Os silenciamentos operados pelo discurso manifestam uma relação de poder. A circulação dos discursos no espaço social está também submetida à ordem do poder. Os usos linguísticos podem ser o espaço da pertença, mas também da exclusão, da separação e até da eliminação do outro. Por isso, a língua não é um instrumento neutro de comunicação, mas é atravessada pela política, pelo poder, pelos poderes. A literatura, pelos deslocamentos que produz, é uma forma de trapacear a língua, desvelando os poderes nela inscritos.
poderes; silenciamentos; circulação dos discursos; preconceito linguístico; deslocamentos linguísticos