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ASPECTOS DISCURSIVOS E SOCIOIDEOLÓGICOS NO POEMA “PROMETEU”, DE GOETHE: UMA CONTRAPALAVRA À TRAGÉDIA GREGA

RESUMO

Este estudo objetiva discutir aspectos discursivos e socioideológicos no poema Prometeu , de Goethe, na perspectiva dialógica da linguagem, observando como este se configura como uma contrapalavra à tragédia grega Prometeu . Para tanto, encontramos respaldo teórico-metodológico no pensamento de Bakhtin (2006a, 2006b [1979]; 2010 [1930-34]), Medviédev (2016a, 2016b [1928]), Volóchinov (2017 [1929]) e Benjamin (2018), os quais subsidiam a pesquisa. Por meio da abordagem dialógica delimitamos como lócus do estudo o poema intitulado Prometeu , de autoria de Goethe. A partir do instante em que compreendemos o poema goetheano como uma contrapalavra, é possível vislumbrar uma mudança de concepção na construção da personagem, resultante de interações discursivas entre Prometeu e Zeus. Além disso, há um processo de descontinuidade da narrativa mítica, uma vez que a perspectiva de Goethe revela diálogos com o sistema sociopolítico alemão entre os séculos XVIII e XIX. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de cunho qualitativo-interpretativo. Os resultados apontaram para o fato de que os pontos de vista de Goethe, em sua obra-enunciado (BAKHTIN, 2006d [1979]), diferenciam-se da perspectiva trágica visibilizada no Mito de Prometeu , em que o personagem se tornou escravo e teve castigo eterno.

Aspectos Discursivos e Socioideológicos; Prometeu; Goethe

ABSTRACT

This study aims to discuss discursive and socio-ideological aspects in Goethe’s poem Prometheus , from the dialogical perspective of language, observing how it is configured as a counterword to the Greek tragedy Prometheus . For in such a way, we find theoretical and methodological endorsement in the thought of Bakhtin (2006a, 2006b [1979]; 2010 [1930-34]), Medviédev (2016a, 2016b [1928]), Volóchinov (2017 [1929]) and Benjamin (2018), which subsidize the research. Using a dialogical approach, we delimited as locus of the study the poem entitled Prometheus , authored by Goethe. From the moment when we understand the poem by Goethe as a counterword, it is possible to glimpse a change of conception in the construction of the character, resulting of discursive interactions between Prometheus and Zeus. In addition, there is a process of discontinuance of the mythical narrative, since Goethe’s perspective reveals dialogues with the German sociopolitical system between the 18th and 19th centuries. It is, therefore, considered a research of qualitative and interpretative matrix. The results had pointed to the fact that the points of view of Goethe, in his work-statement (BAKHTIN, 2006d [1979]), differentiate of the tragic perspective visualized in the Myth of Prometheus , where the character has become a slave and had perpetual punishment.

Discursive and Socio-Ideological Aspects; Prometheus; Goethe

Introdução

Inscrever-se na perspectiva dialógica dos estudos da linguagem implica a responsabilização da palavra que é enunciada/lançada à luz do conhecimento ( SANTANA; SILVA-JÚNIOR; FRANCELINO, 2020SANTANA, W. K. F.; SILVA-JÚNIOR, S. N.; FRANCELINO, P. F. Perspectiva dialógica no livro didático de língua portuguesa: um estudo discursivo. Revista Prolíngua, João Pessoa, v. 15, n. 1, p. 119-133, 2020. ). Cada vez mais temos o cuidado em divulgar a palavra em esferas ética, estética e científica tendo em vista sua especificidade, uma vez que, enquanto pesquisadores, o que mobilizamos – os objetos de investigação – influencia muitas consciências, seja didática ou academicamente ( BRAIT; PISTORI, 2012BRAIT, B.; PISTORI, M. H. C. A produtividade do conceito de gênero em Bakhtin e o círculo. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 56, n. 2, 2012. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/5531. Acesso em: 20 out. 2022.
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). Desse modo, em um contexto de estudos dialógicos, inserimo-nos em um arsenal de produções já existentes acerca da linguagem e do discurso ( FRANCELINO, 2007FRANCELINO, P. F. A autoria no gênero discursivo aula: uma abordagem enunciativa. 2007. 230f. Tese (Doutorado em Linguística) - Programa de Pós Graduação em Letras, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007. ; GRILLO, 2017GRILLO, S. Marxismo e Filosofia da linguagem: uma resposta à ciência da linguagem do século XIX e início do XX. Ensaio introdutório. In: VOLOCHÍNOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. p. 7-79. ; ROHLING; VIEIRA, 2021ROHLING, N.; VIEIRA, I. J. S. O horizonte temático-valorativo em Fóruns on-line, na formação de professores de Língua Portuguesa: uma análise dialógica. Working Papers Em Linguística, Florianópolis, v. 22, p. 141-157, 2021. ).

Ao reenunciarmos estudos que retratam a tragédia grega, estamos ecoando vozes, dentre as quais, as de estudiosos da religião e da mitologia, tais como apontados por Schleiermacher (1958)SCHLEIERMACHER, F. On Religion: Speeches to its Cultured Despisers. Translated by John Oman. New York: Harper & Row Publishers, 1958. , Rosa (1979)ROSA, M. Psicologia da religião. 2. ed. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1979. , Otto (2007)OTTO, R. O sagrado: aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o racional. Tradução de Walter O. Schlupp. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2007. e Eliade (2010ELIADE, M. História das crenças e das ideias religiosas: da idade da Pedra aos mistérios de Elêusis. Trad. Roberto Cortes de Lacerda. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. v.1. , 2013ELIADE, M. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. Trad. Rogério Fernandes. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. ). Nesse direcionamento, dialogamos com estudos discursivos contemporâneos que estejam norteados pela teoria dialógica a fim de assumirmos posturas concretas diante do auditório social que nos constitui ( MEDVIÉDEV, 2016bMEDVIÉDEV, P. A corrente formal nos estudos da arte da Europa Ocidental. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016b [1928]. p.87-102. [1928]). Vale a pena, nesse sentido, rememorar o que é postulado por Santana e Silveira (2019)SANTANA, W. K. F.; SILVEIRA, É. L. Reflexos e refrações educacionais: do dizer ao fazer (Apresentação). In: SANTANA, W. K. F. de.; SILVEIRA, É. L. (org.). Educação: ressonâncias teóricas e práticas. São Carlos: Pedro & João Editores, 2019. v.1. p. 7-8. sobre o fato de que há necessidade de se criarem efeitos de responsabilidade ativa por aquilo que assinamos e/ou enunciamos para refletir não apenas sobre o objeto de estudo e as palavras enunciadas, mas consciências plurais ( BAKHTIN, 2006bBAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006b [1979]. p. 261-306. [1979]).

Nesse sentido, delimitamos como objeto de estudo os aspectos discursivos e socioideológicos no poema Prometeu , de Goethe, que consiste em uma reenunciação da tragédia grega que protagoniza Prometeu1 1 A tragédia grega Prometeu é atribuída a Ésquilo. O mito de Prometeu aparece em outras obras gregas, tais como nos poemas de Hesíodo ( Teogonia, Trabalhos e os dias ). . Para formulação dos pressupostos teóricos, reportamo-nos a Bakhtin (2006aBAKHTIN, M. O autor e a personagem. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006a [1979]. p.3-20. , 2006bBAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006b [1979]. p. 261-306. , 2006cBAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006c [1979]. p. 307-336. [1979]), Volóchinov (2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. [1929]) e Medviédev (2016aMEDVIÉDEV, P. A ciência das ideologias e suas tarefas imediatas. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016a [1928]. p.41-56. , 2016bMEDVIÉDEV, P. A corrente formal nos estudos da arte da Europa Ocidental. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016b [1928]. p.87-102. [1928]), uma vez que a remissão aos aspectos socioideológicos no universo enunciativo-discursivo é recorrente na produção dos estudiosos russos. Além disso, sob agenda histórica, recorremos a Benjamin, cuja produção reúne ensaios sobre Goethe articulando sistema político e produção literária, afinal de contas, registra o crítico que, logo após 1772 “[d]esenrola-se, pela primeira vez, o procedimento que irá caracterizar a obra literária de Goethe: ele sempre cede à tentação dos temas revolucionários, para depois se esquivar deles ou abandoná-los em forma de fragmento” ( BENJAMIN, 2018BENJAMIN, W. Goethe. In: BENJAMIN, W. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Trad. Mônica Bornecusch Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2018. p. 123-178. , p. 129).

Diante de tal configuração, o corpus consiste no Poema “Prometeu”, de Goethe, e o objetivo do trabalho é o de analisar os aspectos discursivos e socioideológicos desse enunciado (poema), na perspectiva dialógica da linguagem, observando como é construído como uma contrapalavra à tragédia grega. A partir do instante em que compreendemos o poema goetheano como uma contrapalavra, é possível vislumbrar diferentes formas de presença do outro, ou seja, presença de diversas vozes sociais resultantes de interações discursivas. Além disso, há linhas descontínuas, uma vez que a perspectiva de Goethe revela diálogos com o sistema sociopolítico alemão entre os séculos XVIII e XIX.

Quanto ao procedimento metodológico, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental que assume uma abordagem qualitativo-interpretativa na análise dos dados. Ou ainda, considerando a perspectiva teórica adotada, trata-se de uma leitura dialógica dos enunciados que compõem os dados da pesquisa.

Em termos estruturais, para cumprimento de nossos objetivos, subdividimos o manuscrito em três seções, além da Introdução e das Considerações finais. A primeira seção, intitulada Aspectos discursivos e socioideológicos sob prisma de Bakhtin e o Círculo, promove uma discussão teórica sobre conceitos fundamentais do pensamento de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev, tais como discurso, enunciado e ideologia. A segunda seção, Prometeu, o mito grego e algumas de suas reacentuações traça um percurso histórico-conceitual em torno da tragédia grega Prometeu, bem como suas variações interpretativas ao longo do tempo. Em sequência, a terceira seção Marcas discursivas e socioideológicas da tragédia grega em Prometeu, de Goethe consiste na análise do poema Prometeu, tendo em vista o arsenal teórico-metodológico aqui mobilizado.

Aspectos discursivos e socioideológicos sob prisma de Bakhtin e o Círculo

Compreendemos, por meio do pensamento de Bakhtin (2006aBAKHTIN, M. O autor e a personagem. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006a [1979]. p.3-20. , 2006bBAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006b [1979]. p. 261-306. , 2006cBAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006c [1979]. p. 307-336. , 2006dBAKHTIN, M. Metodologia das ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006d [1979]. p. 393-410. [1979]), Volóchinov (2017 [1929]) e Medviédev (2016a, 2016b [1928]), que a linguagem é carregada de uma multiplicidade de sentidos e ideologicamente preenchida. Assim, nos diversos contextos em que ela se manifesta, são construídos pontos de vista decorrentes das situações de interação discursiva. Na perspectiva dos estudiosos do Círculo de Bakhtin, os discursos que produzimos podem gerar modos diversificados de se posicionar, evidenciando o caráter vivo da língua ( VOLÓCHINOV, 2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. ), bem como dos gêneros discursivos que a ela se vinculam.

Empenhados em discutir a linguagem social e ideológica, ao tratarem da relação entre cultura e vida, Bakhtin (2010BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Trad. Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010 [1924]. [1924]) e Medviédev (2016aMEDVIÉDEV, P. A ciência das ideologias e suas tarefas imediatas. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016a [1928]. p.41-56. [1928]) atuaram em defesa da inseparabilidade entre esses dois mundos 2 2 A expressão “mundos” deve ser compreendida como esferas, como espaços interconstitutivos de dizeres e acontecimentos. Em termos bakhtinianos, da forma como por nós foi postulada, a palavra “mundo” consiste em um horizonte de possibilidades de acontecimentos. , como era comum se averiguar nas Ciências Naturais, na Filosofia da Vida bergsoniana e na estética formalista ( SANTANA, 2018SANTANA, W. K. F. Relações axio(dia)lógicas na arquitetônica do discurso de Jesus sobre o pão da vida. 2018. 124f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018. ). Nesse direcionamento, Medviédev, em seu escrito A ciência das ideologias e suas tarefas imediatas , afirma que

Todos os atos individuais participantes da criação ideológica são apenas os momentos inseparáveis dessa comunicação e são seus componentes dependentes e, por isso, não podem ser estudados fora do processo social que os compreende como um todo. [...] O sentido ideológico, abstraído do material concreto, é oposto, pela ciência burguesa, à consciência individual do criador ou do intérprete. [...] Cada produto ideológico e todo seu “significado ideal” não estão na alma, nem no mundo interior e nem no mundo isolado das ideias e dos sentidos puros, mas no material ideológico disponível e objetivo, na palavra, no som, no gesto, na combinação das massas, das linhas, das cores, dos corpos vivos, e assim por diante ( MEDVIÉDEV, 2016aMEDVIÉDEV, P. A ciência das ideologias e suas tarefas imediatas. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016a [1928]. p.41-56. [1928], p. 49-50).

O pesquisador russo estava alertando para o fato de que a consequência da cisão entre o processo cultural (meio sócio-ideológico) e o objeto seria o imediato apagamento da ideologia. Um signo não pode ser avaliado longe de sua realidade sócio-histórica, das vozes que o constituem. Bakhtin (2006cBAKHTIN, M. O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006c [1979]. p. 307-336. [1979]), em O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas , compreende que as fronteiras não atuam como marco divisor de interpretações, nem se alinham a um segmento de estudos pautado no texto como pura forma, mas são inscritas como assinaturas de movimentos axiológicos, o que convoca os sentidos nos discursos.

Uma vez que os sentidos promovem a compreensão do enunciado, Bakhtin, em seu escrito Metodologia das ciências humanas , atesta que a compreensão se concretiza a partir do seu desmembramento em atos particulares. “Na compreensão efetiva, real e concreta, eles se fundem indissoluvelmente em um processo único de compreensão, porém, cada ato particular tem autonomia semântica (de conteúdo) ideal e pode ser destacado do ato empírico concreto” ( BAKHTIN, 2006dBAKHTIN, M. Metodologia das ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006d [1979]. p. 393-410. [1979], p. 398). É nessa arena que se alcança a “compreensão ativo-dialógica (discussão-concordância). A inserção no contexto dialógico. O elemento valorativo na compreensão e seu grau de profundidade e universalidade” ( BAKHTIN, 2006bBAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006b [1979]. p. 261-306. [1979], p. 398).

Ainda de acordo com o filósofo, no manuscrito A ciência da literatura hoje ( BAKHTIN, 2017BAKHTIN, M. A ciência da literatura hoje. In: BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1970]. p.9-20. [1970], p. 14), é sobretudo graças aos aspectos históricos e ideológicos na linguagem que “As obras dissolvem as fronteiras de sua época, vivem nos séculos, isto é, no grande tempo, e além disso levam frequentemente uma vida mais intensa e plena do que em sua atualidade”. Imersos nessa concepção de linguagem abrangente e viva, qualquer processo dialógico de análise poderá compreender a concretude dos enunciados produzidos em diferentes situações de interação discursiva por sujeitos socialmente organizados, haja vista que

Todo enunciado, mesmo que seja escrito e finalizado, responde a algo e orienta-se para uma resposta. Ele é apenas um elo na cadeia ininterrupta de discursos verbais. Todo monumento continua a obra dos antecessores, polemiza com eles, espera por uma compreensão ativa e responsiva, antecipando-a etc.[...] O monumento como qualquer enunciado monológico é orientado para ser percebido [...] na formação daquela esfera ideológica, da qual ele é um elemento indissolúvel ( VOLOCHINOV, 2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. [1929], p. 184-185).

Sob as lentes do estudioso russo, o enunciado, que emerge da intersubjetividade ( VOLÓCHINOV, 2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. ), carrega conteúdo ideológico, de modo que todo sujeito falante tende a ser um respondente a outros sujeitos nos processos interacionais do cotidiano. De acordo com Bakhtin (2010BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Trad. Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010 [1924]. , p. 53), em sua filosofia (social) do ato, “no momento do ato, o mundo se reestrutura em um instante, a sua verdadeira arquitetura se restabelece, na qual tudo o que é teoricamente concebível não é mais que um aspecto”. Por meio de uma crítica ao modo como vinha sendo construída a filosofia tradicional, ao desconsiderar o sujeito da participação real da vida, afirma Bakhtin que há uma reedificação das construções sociais a cada ato produzido pelo sujeito, e isso não se dá apenas mediante sua responsabilidade ética moral, mas no contato vivo entre duas ou mais consciências. Dessa maneira, é preciso alçar vozes que reinsiram em discussão fatores sociopolíticos, não unitários, mas vozes que ecoem uma multiplicidade de fatores histórico-ideológicos, que agreguem a responsabilidade social.

Assim, para Volóchinov (2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. [1929]), na medida em que a palavra é o fenômeno ideológico por excelência, esta é povoada de signos também ideológicos. Por sua vez, os discursos são vivos e dinâmicos nas interações discursivas, as quais são, para Volóchinov (2017 [1929]), a realidade fundamental da língua. É nesse sentido que tratamos das esferas ideológicas ( MEDVIÉDEV, 2016aMEDVIÉDEV, P. A ciência das ideologias e suas tarefas imediatas. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016a [1928]. p.41-56. ), as quais colidem entre si de modo a constituir arenas discursivas, no entanto, comportam perspectivas ideológicas diversas, sendo interdependentes umas das outras. Desse modo, tornar-se-á visível que, no poema Prometeu, escrito por Goethe, vozes se entrecruzam; e por meio de um conjunto de conteúdos ideológicos se manifestam em práticas discursivas.

Prometeu, o mito grego, e algumas de suas reacentuações

Nas diversas versões do mito de Prometeu, como as narrações que remontam aos anos 470 a.C., em Hesíodo e Homero, aos anos 700 a.C., em Ésquilo e Platão (com sua obra Protágoras), até as mais recentes adaptações do mito, de maneira a tentar transmitir o trágico acontecimento com o titã, temos acesso à história de Prometeu, que enganou o pai dos deuses, Zeus em favor da raça humana.

De início, atentamos para o mito narrado por Protágoras, de Platão. O personagem nos conta que, em um tempo em que ainda não existia nenhuma criatura mortal, somente os deuses, quando aprouve ao destino que essas criaturas fossem formadas, concederam a Prometeu e a seu irmão, Epimeteu, a tarefa de oferecer o que fosse necessário às criaturas para que pudessem sobreviver e não desaparecessem. Assim, Epimeteu pediu a Prometeu que o deixasse cumprir com a tarefa, na condição de passar por sua aprovação. De tal maneira, ele fez o acordado:

A alguns atribuiu força sem velocidade, dotando de velocidade os mais fracos; a outros deu armas; para os que deixara com natureza desarmada, imaginou diferentes meios de preservação: os que vestiu com pequeno corpo, dotou de asas, para fugirem, ou os proveu de algum refúgio subterrâneo; os corpulentos encontravam salvação nas próprias dimensões. Destarte agiu com todos, aplicando sempre o critério de compensação ( PLATÃO, 2002PLATÃO. Protágoras. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Ed. da Universidade Federal do Pará, 2002. , p. 19).

Por um descuido e falta de compreensão, Epimeteu esqueceu de dar provisão à geração dos homens. Quando o titã Prometeu chegou para fazer a revisão final, percebeu que de tudo tinha para os animais e o homem encontrava-se desprovido. Chegado o dia de serem levados para a luz, Prometeu, não sabendo o que fazer para garantir ao homem a salvação, roubou de Atena e Hefesto a sabedoria das artes e o fogo e deu-os ao homem “pois, sem o fogo, além de inúteis as artes, seria impossível o seu aprendizado” ( PLATÃO, 2002PLATÃO. Protágoras. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Ed. da Universidade Federal do Pará, 2002. , p. 65). Desse modo, o homem conseguiu boas condições para sobreviver e Prometeu foi preso nos grilhões de Hefesto em uma montanha no Cáucaso, por culpa de Epimeteu.

Em outra versão ( BRANDÃO, 2015BRANDÃO, J. S. Mitologia grega. 26. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. v.1. ), Prometeu teria enganado Zeus, o pai dos deuses, com o objetivo de beneficiar os mortais. Em consequência disso, Zeus punira os homens, negando-lhes o direito ao fogo. O titã, contrariando a vontade do pai dos deuses, rouba o fogo do Olimpo e o dá aos homens. Para tal feito, dois castigos são declarados por Zeus:

  1. aos homens é enviada a caixa de Pandora 3 3 Como castigo a Prometeu e Epimeteu por terem roubado o fogo do Olimpo, Júpiter (equivalente romano de Zeus) teria enviado a primeira mulher chamada Pandora, “feita no céu, e cada um dos deuses contribuiu com alguma coisa para aperfeiçoá-la.” ( BULFINCH, 2017 , p. 20) Epimeteu aceitou o presente de bom grado de Júpiter, apesar de ter sido advertido pelo irmão para que tomasse cuidado com os presentes do pai dos deuses. Pandora encontrou uma caixa pertencente a Epimeteu que guardava artigos malignos e, tomada de muita curiosidade, a abriu deixando escapar pragas que atingiram o homem. , que abriga todos os males do mundo;

  2. Prometeu é acorrentado em uma coluna, onde, diariamente, uma ave devora seu fígado.

Em termos de registro histórico, ao tecer notas resenhísticas sobre a produção literária goetheana, afirma Benjamin (2018)BENJAMIN, W. Goethe. In: BENJAMIN, W. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Trad. Mônica Bornecusch Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2018. p. 123-178. que

Já em seu primeiro drama Goethe subtraía-se à influência da energia revolucionária do Tempestade e ímpeto, o que se torna mais evidente numa comparação com os dramas de seus contemporâneos. A burguesia alemã não estava de modo nenhum suficientemente forte para manter, com seus próprios meios, uma atividade literária ampla . Em consequência dessa situação, a literatura continuou a depender do feudalismo, ainda nos casos em que a simpatia do literato estava ao lado da classe da burguesia ( BENJAMIN, 2018BENJAMIN, W. Goethe. In: BENJAMIN, W. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Trad. Mônica Bornecusch Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2018. p. 123-178. , p. 130, grifo nosso).

No que diz respeito ao contexto histórico em que Goethe escreveu seu poema, o século XVIII foi marcado pelo Iluminismo (ou Esclarecimento), período que, segundo Kant (2002)KANT, I. Resposta à pergunta: que é o iluminismo? In: KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2002. p.11-19. , marca a saída do homem da sua menoridade, “a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem.” ( KANT, 2002KANT, I. Resposta à pergunta: que é o iluminismo? In: KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2002. p.11-19. , p. 11).

Nessa época, o conhecimento começa a se afastar de preceitos religiosos e o homem dá início a tentativas de testar, experimentar e tomar por base a ciência, o que abre espaço para o ideal da razão ( KESTLER, 2006KESTLER, I. M. F. Johann Wolfgang von Goethe: arte e natureza, poesia e ciência. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, p. 39-54, 2006. ) e, assim, o homem passa a se questionar, a caminhar mais livremente sem as amarras da religião. Em contrapartida, nesse mesmo período, acontecia o movimento literário que precedia o romantismo alemão denominado Sturm und Drang . O movimento era composto por produções sentimentais ( COLEN; DRUMMOND, 2010COLEN, É.; DRUMMOND, L. (org.). Das tempestades: a poesia alemã do Sturm und Drang. Edição bilíngue. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2010. ) de vários poetas jovens, dentre eles Johann Wolfgang von Goethe, que escreveu o poema a ser analisado neste artigo e que era visto como símbolo de resistência radical ao Iluminismo ( HOBSBAWN, 2011HOBSBAWN, E. J. A era das Revoluções, 1789-1848. Trad. Maria Tereza Teixeira e Marcos Penchel. São Paulo: Paz e Terra, 2011. ). O Sturm und Drang procurava contrariar a racionalidade com produções sentimentais e a poesia ( COLEN; DRUMMOND, 2010COLEN, É.; DRUMMOND, L. (org.). Das tempestades: a poesia alemã do Sturm und Drang. Edição bilíngue. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2010. ).

Diante de tais considerações, propusemo-nos a analisar os aspectos discursivos e socioideológicos no poema Prometeu , de Goethe, que consiste em uma reenunciação da tragédia grega que protagoniza Prometeu. Este poema, que dialoga com o mito de Prometeu, foi escrito por Johann Wolfgang von Goethe, considerado um dos maiores poetas da língua alemã ( KESTLER, 2006KESTLER, I. M. F. Johann Wolfgang von Goethe: arte e natureza, poesia e ciência. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, p. 39-54, 2006. ) que viveu entre os séculos XVIII e XIX. Em sua estrutura, Prometeu de Goethe é composto por 7 estrofes e 57 versos. Podemos encontrar no poema traços que marcam a ascendência do rebelde que se opõe à injustiça e ao domínio tirânico dos deuses ( GAMA, 1996GAMA, R. Uma declaração de intenções: o mito de Prometeu. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, São Paulo, v. 10, n. 41, p. 135-140, 1996. ).

Marcas discursivas e socioideológicas da tragédia grega em Prometeu, de Goethe

Nesta seção, centramo-nos na análise do poema Prometeu, presente em Das tempestades: a poesia alemã do Sturm und Drang (2010), organizado por Érico Colen e Luana Drummond. Buscamos mostrar e as aproximações da tragédia grega propostas pelo escritor do poema à sua realidade política os distanciamentos vivenciados no período em que o escreveu. Eis o poema, traduzido para o português brasileiro.

Prometeu

Encobre o teu céu, ó Zeus,

Com vapores de nuvens...

Mas a minha Terra

Hás de ma deixar,

E a minha cabana, que não construíste,

E o meu lar, Cujo braseiro

Me invejas.

Nada mais pobre conheço

Sob o sol do que vós, ó Deuses!

Mesquinhamente nutris

De tributos de sacrifícios

E hálitos de preces A vossa majestade;

E morreríeis de fome, se não fossem

Crianças e mendigos

Loucos cheios de esperança.

[...]

Quem me ajudou

Contra a insolência dos Titãs?

Quem me livrou da morte,

Da escravidão?

[...]

Pensavas tu talvez

Que eu havia de odiar a vida

E fugir para os desertos,

Lá porque nem todos

Os sonhos em flor frutificaram?

Pois aqui estou! Formo Homens

À minha imagem,

Uma estirpe que a mim se assemelhe:

Para sofrer, para chorar,

Para gozar e se alegrar,

E pra não te respeitar,

Como eu!

( GOETHE, 2010GOETHE, J. W. V. Prometheus. In: COLEN, É.; DRUMMOND, L. (org.). Das tempestades: a poesia alemã do Sturm und Drang. Edição bilíngue. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2010. p.6-33. , p.08).

O contexto político e social em que o poeta alemão Goethe se inscreve é marcado por debates que colocam em oposição o que se é considerado o ideal da razão (influência do Iluminismo) e as produções sentimentalistas produzidas pelos seguidores do movimento pré-romântico Sturm und Drang . Tendo isso em vista, Goethe se utiliza da tragédia grega para revelar a sua opinião acerca da sociedade alemã do período em questão, assim como “a revolta que sente com relação ao poder dos grandes” ( SOUTO, 2010SOUTO, I. P. Prometeu: Fragmento Dramático, de Goethe. Cadernos de Literatura em Tradução, São Paulo, n. 11, p. 203-241, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2359-5388.i11p203-241. Acesso em: 14 out. 2022.
https://doi.org/10.11606/issn.2359-5388....
, p. 205), sentimento que é notório em alguns versos do poema.

Inicialmente, recorremos a Bakhtin, para quem, “À semelhança do Prometeu de Goethe, Dostoiévski não cria escravos mudos (como Zeus), mas pessoas livres, capazes de colocar-se lado a lado com o seu criador, de discordar dele e até rebelar-se contra ele.” ( BAKHTIN, 2008BAKHTIN, M. O discurso em Dostoiévski. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense, 2008 [1963]. p.207-310. [1963], p. 4). Desse modo, partimos do princípio de que Goethe, como autor-criador, circunscreve um mundo de possibilidades de diálogo em seu poema, cujas personagens têm vida, vontade própria, voz, ou seja, a capacidade da contrapalavra.

Verificamos, na primeira estrofe do poema, que Prometeu se rebela contra o pai dos deuses ao fazer o seguinte pronunciamento “ Encobre o teu céu, ó Zeus, com vapores de nuvens... Mas a minha Terra/ Hás de ma deixar” , em que o uso do verbo “encobrir”, nesse trecho, traz um sentido de separação entre o que seria o domínio de Zeus (o céu, as nuvens) e o domínio do titã, a terra. Essa separação manifesta o posicionamento axiológico de Prometeu ao destacar que Zeus não possui mais domínio absoluto sobre a vida dos terrestres.

Após endossar sua indignação contra o autoritarismo e a mesquinhez dos deuses, nos versos “ Nada mais pobre conheço/ Sob o sol do que vós, ó Deuses/ Mesquinhamente nutris/ De tributos de sacrifícios ”, a personagem reporta-se aos desafortunados, aqueles que não tinham tanta importância do ponto de vista social, convocando-os como os responsáveis pela soberania divina: “ E morreríeis de fome, se não fossem/ Crianças e mendigos/ Loucos cheios de esperança ”. Com tais palavras, tendo como destinatários poéticos seres divinos, Goethe estabelece críticas severas e se posiciona contra o sistema político vigente de sua época, uma espécie de contrapalavra ao governo alemão. Quanto à figura do destinatário, uma das contribuições, em âmbito discursivo, está na capacidade de fala do outro – o fenômeno da alteridade. Afinal de contas, “A consciência do herói é dada como a outra, a consciência do outro, mas ao mesmo tempo não se objetifica, não se fecha, não se torna mero objeto da consciência do autor” ( BAKHTIN, 2008BAKHTIN, M. O discurso em Dostoiévski. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense, 2008 [1963]. p.207-310. [1963], p. 4).

Na sequência do poema, Prometeu faz uma série de interpelações:

Quem me ajudou

Contra a insolência dos Titãs?

Quem me livrou da morte,

Da escravidão?

[...]

Pensavas tu talvez

Que eu havia de odiar a vida

E fugir para os desertos,

Lá porque nem todos

Os sonhos em flor frutificaram?

Por meio de tais interrogativas, Prometeu se reporta a Zeus, rememorando-o de que, por parte dele e das divindades que vivem às suas sombras, não houve amparo, não houve compaixão, nem menos o reconhecimento de que a escravidão consiste no apagamento do outro, o silenciamento da voz alheia, sentenciando-o a um lugar inferior. Interessante observar a multiplicidade de sentidos das enunciações da personagem, ao remeterem também às condições políticas e socioideológicas da Alemanha oitocentista, uma vez que, conforme Volóchinov (2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. , p. 195-196), “O sentido da palavra é inteiramente determinado pelo seu contexto. Na verdade, existem tantas significações para uma palavra quanto contextos de seu uso”. Isso nos faz refletir sobre o aspecto criacional de Goethe, que, ao assumir a posição de artesão da palavra – um autor-criador – deu voz a suas personagens, impulsionou-as ao diálogo social, considerando que estas “não se encontram lado a lado, como se não percebessem um ao outro, mas estão em estado de interação e de embate tenso e ininterrupto” ( VOLOCHINOV, 2017VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Ed. 34, 2017 [1929]. , p. 197).

Ao referir-se a Goethe, notifica Benjamin (2018BENJAMIN, W. Goethe. In: BENJAMIN, W. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Trad. Mônica Bornecusch Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2018. p. 123-178. , p. 130) que “[o] grande autor, desde o princípio, converte seu mundo interior em assunto de interesse público, transforma cabalmente os problemas de seu mundo empírico e intelectual”. Então, ao compreender que o poeta alemão encontrou, no poema, palavras para expressar sua insatisfação para com o governo vigente, exemplifica a continuidade de suas críticas em obras como Sofrimentos de Werther , na qual “a burguesia da época encontrou sua patologia descrita de maneira a um só tempo incisiva e lisonjeira, como a burguesia atual encontra na teoria freudiana” ( BENJAMIN, 2018BENJAMIN, W. Goethe. In: BENJAMIN, W. Ensaios reunidos: escritos sobre Goethe. Trad. Mônica Bornecusch Irene Aron e Sidney Camargo. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2018. p. 123-178. , p. 130).

Goethe, então, não submerge no ritual de repetibilidade da tragédia, como um processo mimético, mas adentra à vivacidade da linguagem ( MEDVIÉDEV, 2016bMEDVIÉDEV, P. A corrente formal nos estudos da arte da Europa Ocidental. In: MEDVIÉDEV, P. O método formal nos estudos literários: introdução a uma poética sociológica. Tradutoras: Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Contexto, 2016b [1928]. p.87-102. [1928]) por meio de aspectos descontínuos. Nesse prisma de compreensão, registra Bakhtin que “Um artista como Goethe procura perceber todas as contradições existentes como diferentes etapas de um desenvolvimento uno, tende a ver em cada fenômeno do presente um vestígio do passado, o ápice da atualidade ou uma tendência do futuro” ( BAKHTIN, 2008BAKHTIN, M. O discurso em Dostoiévski. In: BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense, 2008 [1963]. p.207-310. [1963], p. 31). Então, na última estrofe do poema, afirma Prometeu:

Pois aqui estou! Formo Homens

À minha imagem,

Uma estirpe que a mim se assemelhe:

Para sofrer, para chorar,

Para gozar e se alegrar,

E pra não te respeitar,

Como eu!

É notória uma remissão de Prometeu ao ato da criação enunciada por Deus no livro de Gênesis da escritura sagrada judaico-cristã, conforme a narrativa de Moisés. Em Gênesis, registra Moisés: “Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu...”. (BÍBLIA, Gênesis, 1, 28-29). Naquele momento, a narrativa da criação 4 4 Dake tem o cuidado de especificar que, quando o homem e os animais foram trazidos à existência, “seus corpos foram formados, mas sua vida foi criada’. A criação do homem não foi realizada apenas por uma ordem divina, mas por um conselho divino (26-28). Portanto, Deus criou o homem à sua própria imagem” ( DAKE, 2012 , p. 62). está apontando para o fato de Deus ter criado o ser humano parecido com ele, em características exclusivas, tais como a racionalidade, a capacidade de pensar, de criar etc. No entanto, fica clara a grande diferença entre Deus, o criador, e o homem, a criatura. Em outras palavras, torna-se notório um distanciamento funcional entre o criador e as criaturas – o criador é aquele que tem o poder de fazer parecer ou diferenciar, e isso acontece pelas características constitutivas e exclusivas de Deus, tais como a onipotência, a onipresença e a presciência ( MACDONALD, 2010MACDONALD, W. Comentário bíblico popular do Antigo Testamento: versículo por versículo. Trad. Alfred Poland et al. São Paulo: Mundo Cristão, 2010. ).

Quando nos reportamos ao poema goetheano, especificamente aos versos “ Pois aqui estou! Formo Homens/ à minha imagem, /Uma estirpe que a mim se assemelhe.. .”, constata-se, por meio de uma contrapalavra à perpetuação de ordenanças à figura do criador, um posicionamento axiológico de reformulação criativa: não é apenas o Zeus todo poderoso que tem o dom de criar, mas as criaturas também formam, criam, tornam-se juntamente criadoras e participantes do diálogo.

Por meio das entrelinhas do poema Prometeu , em horizonte histórico-ideológico, Goethe pôde explorar não somente o sistema político de sua nação, mas sobretudo reafirmar urgências no cronotopo psicossocial. A voz circunscrita por Goethe, que se materializa na personagem Prometeu, além de emancipar as tendências libertárias, propôs a exaltação e a liberdade de expressão popular. Uma vez que sua voz revolucionária não poderia ser efetivada no campo ético político, foi em arestas literárias que sua voz encontrou ecos e ressonâncias.

Considerações finais

A leitura dialógica do enunciado em análise – Prometeu , de Goethe – evidenciou o caráter dialógico do discurso na medida em que revelou a presença de outros discursos, provenientes, inclusive, de outras esferas da linguagem, como a religiosa, seja mantendo os sentidos do enunciado considerado “original’, primeiro (como ocorre numa paráfrase), seja reformulando-os, produzindo outros sentidos (como ocorre em paródias, ironias etc.). A alteridade constitutiva, nesse sentido, fez-se presente numa releitura, numa reenunciação, produzida pelo posicionamento axiológico do autor (Goethe), que propõe deslocamentos de sentidos a partir do quadro enunciativo que lhe permite (re)ler o clássico (o mito), renunciando-o com outros matizes e tons emotivo-volitivos.

Esse é o modo de funcionamento dos discursos numa sociedade, em que, seja no grande ou no pequeno tempo, eles se (re)encontram e estabelecem as mais variadas relações de sentido. No caso do poema em análise, o projeto enunciativo do autor ocorre por meio de uma contrapalavra, um processo de reelaboração de sentidos já existentes, como é o caso do desfecho da personagem Prometeu no texto clássico. Essa reenunciação decorre do posicionamento axiológico do autor e sua relação com o contexto sócio-histórico que engendrou a produção desse enunciado.

Na medida em que empreendemos uma análise em perspectiva dialógica, foi possível detectar que os pontos de vista de Goethe, em sua obra-enunciado ( BAKHTIN, 2006dBAKHTIN, M. Metodologia das ciências humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006d [1979]. p. 393-410. [1979]), se diferenciam da perspectiva trágica visibilizada no Mito de Prometeu , em que o personagem se tornou escravo e teve castigo eterno. Defende-se, com isso, que as práticas de análise de linguagem sob o horizonte dos estudos dialógicos potencializam o olhar do analista e o convocam a assumir uma postura reflexiva diante do texto, avaliando seus aspectos linguísticos e sócio-histórico-ideológicos e observando o movimento discursivo do autor no percurso criativo, no seu projeto enunciativo.

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  • 1
    A tragédia grega Prometeu é atribuída a Ésquilo. O mito de Prometeu aparece em outras obras gregas, tais como nos poemas de Hesíodo ( Teogonia, Trabalhos e os dias ).
  • 2
    A expressão “mundos” deve ser compreendida como esferas, como espaços interconstitutivos de dizeres e acontecimentos. Em termos bakhtinianos, da forma como por nós foi postulada, a palavra “mundo” consiste em um horizonte de possibilidades de acontecimentos.
  • 3
    Como castigo a Prometeu e Epimeteu por terem roubado o fogo do Olimpo, Júpiter (equivalente romano de Zeus) teria enviado a primeira mulher chamada Pandora, “feita no céu, e cada um dos deuses contribuiu com alguma coisa para aperfeiçoá-la.” ( BULFINCH, 2017BULFINCH, T. O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis. Tradução de David Jardim. Rio de Janeiro: Ediouro, 2017. , p. 20) Epimeteu aceitou o presente de bom grado de Júpiter, apesar de ter sido advertido pelo irmão para que tomasse cuidado com os presentes do pai dos deuses. Pandora encontrou uma caixa pertencente a Epimeteu que guardava artigos malignos e, tomada de muita curiosidade, a abriu deixando escapar pragas que atingiram o homem.
  • 4
    Dake tem o cuidado de especificar que, quando o homem e os animais foram trazidos à existência, “seus corpos foram formados, mas sua vida foi criada’. A criação do homem não foi realizada apenas por uma ordem divina, mas por um conselho divino (26-28). Portanto, Deus criou o homem à sua própria imagem” ( DAKE, 2012DAKE, F. J. Prefácio e comentários à Bíblia de Estudo DAKE. In: BÍBLIA DE ESTUDOS DAKE. Trad. Freitas et al. 2.ed. Belo Horizonte: Atos, 2012. p.13-1899. , p. 62).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jan 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    2 Out 2021
  • Aceito
    14 Jan 2022
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