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APRESENTAÇÃO

A Alfa encerra seu volume de 2017, apresentando aos leitores oito artigos, frutos inéditos do trabalho de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. O conjunto dos textos se organiza, para além da especificidade de objeto e abordagem de cada um, em três subgrupos.

Abrem este número dois artigos voltados para a análise de fenômenos de natureza morfossintática e morfossemântica em espanhol e em purépecha (língua nativa do México), respectivamente. No primeiro deles, Sánchez, Jaichenco e Sevilla apresentam e discutem os resultados de um experimento que visou medir a possível influência de fatores sintáticos (ordem de constituintes) e semânticos (leitura distributiva) sobre o processamento da concordância em espanhol. A concordância é fenômeno largamente investigado em variedades do espanhol e do português, mas sobretudo na perspectiva da produção. O estudo das autoras o explora na perspectiva da percepção, concluindo pela interação dos fatores no processamento da concordância.

O estudo sobre o purépecha, por sua vez, focaliza os usos e valores advindos do sufixo -perani, que pode ser agregado aos numerais. Maldonado, autora do estudo, mostra que tais numerais produzem uma leitura definida dos sintagmas nominais que integram. O papel desse afixo no sistema de referenciação se destaca pela ausência de artigo definido em purépecha. Para além da descrição do purépecha, a análise revela uma organização que contrasta com aquela de línguas europeias, contribuindo, em uma possível e desejável perspectiva constrastiva, para uma melhor compreensão dos processos de referenciação que operam na linguagem.

Um segundo subconjunto de quatro artigos se articula em torno do eixo comum do discurso, explorando diferentes objetos, questões e abordagens teórico-metodológicas. Santos e Rodrigues discutem a relação entre os modos de apropriação do discurso de outrem e a expressão de posicionamentos ideológicos por meio da análise de notícias veiculadas nos jornais Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio a respeito do então candidato à presidência Eduardo Campos. Assumem a perspectiva do Círculo de Bakhtin para analisar o posicionamento do sujeito-jornalista frente ao seu objeto de enunciação.

É esse mesmo olhar teórico que é adotado por Fuza, em seu estudo sobre a heterogeneidade da escrita acadêmica. Tomando como hipótese a não pertinência de uma concepção corrente quanto à homogeneização da escrita acadêmico-científica, a autora analisa artigos científicos brasileiros relativos às várias áreas de conhecimento. Conclui que tanto estratégias e elementos objetivos quanto subjetivos estão presentes nos textos de todas as áreas, mas que tal presença se relativiza por uma gradação de maior subjetividade em textos de Humanas e menor subjetividade em textos de outras áreas.

Soares explora o diálogo de diferentes linguagens na construção de sentidos, particularmente de persuasão, ao analisar escolhas linguísticas e imagéticas aplicadas na produção de duas capas do jornal popular Super Notícia. Por meio de um estudo de caso, fundamentado nos pressupostos da Análise Crítica do Discurso e da Multimodalidade, o autor reafirma a relevância e necessidade de considerar a interação multimodal, que tanto serve para criar discursos explícitos ou implícitos a serviço de ideologias.

O quarto artigo que tem por foco o discurso se propõe a investigar o papel de conectores na “co-construção de imagens identitárias”, escolhendo como objeto específico de estudo o emprego da conjunção mas em debates eleitorais. Adotando como base teórica o Modelo de Análise Modular do Discurso, Cunha interpreta o efeito do emprego do mas nesse processo, identificando dois tipos de manobras discursivas: de ataque ao adversário (heteroataque) e de ataque ao próprio candidato (autoataque).

Finalizando este número, temos dois artigos que compartilham a temática da relação entre língua(gem) e ensino-aprendizagem. O texto de Ninin e Magalhães resulta da análise de um corpus de discussões sobre suas práticas didático-pedagógicas, por parte de professores participantes de um projeto de formação. Com base nas propostas da “linguagem da colaboração crítica no desenvolvimento da agência” e da Pesquisa Crítica de Colaboração, as autoras discutem como os s participantes manifestam seu posicionamento a respeito de suas práticas, permitindo identificar um processo de transformação na direção de uma “prática profissional responsiva”.

O artigo de Oliveira, que fecha esta edição, traz para discussão o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras. Esse campo ainda oferece muitos desafios a educadores e linguistas, em particular no que se refere ao desenvolvimento da recepção e da produção oral. A isso se alia a expansão no desenvolvimento e utilização de aplicativos, plataformas, portais com fins educacionais, recursos que colocam o aprendiz como agente principal do processo. Nesse contexto, a autora propõe-se a avaliar como se caracterizam e qual a potencial efetividade de portais educacionais de língua inglesa, em particular aqueles destinados à aprendizagem de inglês com fins específicos.

Com este conjunto de textos, somados àqueles publicados nos dois outros números de 2017, a Alfa reafirma seu compromisso com a divulgação de pesquisas de alta qualidade, sintonizadas com os recentes desenvolvimentos e questionamentos de nossa área.

Como esse trabalho é um esforço que depende de muitos, é momento de agradecer a confiança dos autores, a dedicação generosa dos avaliadores, o interesse dos leitores e a numerosa equipe técnica que torna possível, com extrema competência, a publicização dos nossos três números anuais. De todos vocês depende a continuidade de nosso periódico.

Que tenham todos uma proveitosa leitura e que nossa parceria se mantenha e consolide ainda mais em 2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017
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