RESUMO
Este artigo analisa ações dirigidas ao reconhecimento da herança negra por meio de políticas de memória e patrimônio durante o primeiro governo do estado do Rio de Janeiro eleito democraticamente nos anos 1980, especialmente o tombamento da Pedra do Sal e a instalação do Monumento a Zumbi. Para compreender essas ações, é feita, inicialmente, uma leitura sobre os modos como as políticas de patrimônio em nível federal foram transformadas no contexto da redemocratização do país e estiveram em diálogo com as políticas implementadas no nível estadual do Rio de Janeiro. Este texto busca perceber os paradigmas que fundamentam tais narrativas, ao mesmo tempo que transita da macropolítica ao campo das lutas de memória, como universos entrelaçados. Na segunda parte, analisam-se eventos relacionados à patrimonialização da herança negra na cidade, nos anos 2000, a saber, o reconhecimento da Pedra do Sal como quilombo, em 2005, e os títulos de Patrimônio Mundial atribuídos à cidade pela Unesco, em 2012 e 2017. Busca-se, assim, capturar as representações da cidade patrimonializada e verificar os valores que prevalecem em cada situação, identificando a presença de dois paradigmas que tensionam o campo do patrimônio, aqui chamados de paradigma moderno e paradigma do patrimônio como direito. A noção de valor histórico acionada nas situações analisadas será um dos fios condutores por meio dos quais são estabelecidas conexões analíticas entre os paradigmas de patrimônio, os regimes de historicidade e as percepções de tempo passado e tempo presente.
PALAVRAS-CHAVE:
Pedra do Sal; Monumento a Zumbi; Rio de Janeiro; Políticas de memória e patrimônio; Valor histórico; Herança negra