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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

THE PLACEBO EFFECT: AN INTERDISCIPLINARY EXPLORATION. ANNE HARRINGTON (ed). Um volume (15x23 cm) com 260 páginas. ISBN 0-674-66936-X. Cambridge, 1997: Harvard University Press (79 Garden Street, Cambridge, Mass 02138 USA).

Este livro é composto de dez capítulos escritos por onze autoridades americanas nos campos de psiquiatria, psicologia clínica, psicologia experimental, clínica médica geral, neurologia, neurobiologia, neurofisiologia, antropologia, epidemiologia, gastroenterologia e na história da psiquiatria e das neurociências. A qualidade de todas as contribuições no livro é do mais alto valor.

O espectro dos tópicos no livro é bem mais amplo do que o seu título sugere. Até 1900, milhares de remédios utilizados em clínica não tinham efeitos que podiam ser explicados por seus constituintes químicos. As poucas exceções incluíam o ópio e seus derivados para dor, digitalis para algumas doenças cardíacas, quinino para malária, salicilatos para dor e hiperpirexia e alguns outros. Porquê substâncias de ação incerta ajudaram e ainda ajudam milhões de pacientes todos os dias quando elas não contêm elementos que podem, quimicamente, beneficiar estes doentes?

A eficácia de um placebo depende de: (a) a convicção do médico ou outro tipo de terapeuta que o remédio vai auxiliar o paciente; (b) a esperança do doente de que o medicamento vai ajudá-lo; (c) um ambiente cultural e social que aceita esse tipo de tratamento. Em contraste com os placebos estão os nocebos ¾ substâncias inertes ou rituais que todos acham que vão prejudicar ou até matar os receptores e que, na verdade, podem ter estes efeitos. Exemplos são "voodoo death" ou "macumba morte", acontecimentos que investigadores científicos verificaram; as vítimas ficaram doentes e até morreram devido a desidratação, inanição, infecções ou outros problemas secundários, quando se convenceram que iriam adoecer ou morrer, então desistiam de beber, comer e cuidar de si.

O número de estudos já feitos neste campo é grande. A eficácia de placebos em depressões psiquiátricas se situa entre 30 e 50% em vários estudos bem controlados. Substâncias inertes ministradas por médicos ou enfermeiras em hospitais são iguais na redução da dor, comparadas com o ópio, em 55% dos pacientes; substâncias inertes injetadas são mais eficazes que as tomadas oralmente. Existem agora cerca de 120 escolas ou tipos de psicoterapia e os resultados semelhantes que todas obtêm na ajuda a muitos pacientes podem ser explicados somente pelo efeito placebo que todos têm em comum. O número de "faith healers" que tratam todos os tipos de doenças físicas e mentais com exortações, orações e rituais é 15 000 na Inglaterra e 20 000 na França. Mesmo o velho Freud disse a várias pessoas, mas nunca publicou, que "a gruta de Lourdes cura mais doentes do que nós". Nos Estados Unidos, 43 bilhões de dólares são gastos todos os anos com tratamentos que não têm qualquer raciocínio ou explicação científica, ou farmacológica. E no Brasil?

Está provado agora que os fatores emocionais podem mobilizar o sistema imunológico para combater infecções ou para obter outros efeitos, criando o campo da psicoimunologia. A esperança de pacientes que injeções, que na verdade contêm água e sal, vão diminuir dores, causa a produção de endorfinas no cérebro, que de fato bloqueiam a percepção da dor na mesma maneira em que o ópio age.

Quase todas as páginas deste livro apresentam surpresas e revelações para nós e esperamos que todo leitor tenha a mesma experiência.

Este é um livro essencial. Uma edição em português seria uma contribuição importante para a medicina brasileira.

A. H. CHAPMAN

DJALMA VIEIRA E SILVA

SONO, SONHO E SEUS DISTÚRBIOS. RUBENS REIMÃO (ed). Um volume (14x21 cm) em brochura, com 145 páginas. São Paulo, 1999: Frôntis Editorial (Alameda Nothman 1003 / 22, 01216-001 São Paulo SP. Fax 11 3661 3652).

A Associação Paulista de Medicina através de seu Departamento de Neurologia publica este livro. Ele contém grande parte das apresentações do VII Simpósio Brasileiro de Sono e do I Congresso Paulista de Sono (São Paulo, novembro 1999). Rubens Reimão presidiu esses eventos e é o editor deste livro. Como bem salienta ele na Apresentação do compêndio, "a característica multidisciplinar é enfatizada como método de estudo das interrelações entre o sono, os sonhos e seus distúrbios". Nada melhor que sua maestria no tema para garantir a análise desses imbricamentos e dessas interrelações.

A matéria do livro abrange duas partes. A primeira reune textos que resultaram dos temas oficiais desses congressos e a segunda, documenta apresentações feitas como temas livres.

Chama particular atenção o conteúdo da primeira parte. Ela reune os textos sobre sono relacionados a estresse, qualidade de vida, ansiedade, humor, psicologia, psicossomática, psicanálise, cefaléia, pernas inquietas, narcolepsia, epilepsia, apnéia obstrutiva. Mais de uma vintena de especialistas apresentam sua experiência ao longo dos capítulos em que discutem esses temas. Rubens Reimão é coautor de vários desses capítulos. Escreveu ele, também, o ultimo capítulo dessa primeira parte. É um capítulo voltado ao resgate do esforço pioneiro em medicina do sono desenvolvido por Nathaniel Kleitman (1895-1999), que vale salientar.

Natural da Rússia, Kleitman desenvolveu sua carreira nos Estados Unidos. Em 1925 tornou-se membro do corpo docente de fisiologia da Universidade de Chicago, nela permanecendo até bem após sua aposentadoria em 1960. Mundialmente, Kleitman é reconhecido pelo descobrimento e obra acerca do sono REM. Manteve ele seu interesse pelo estudo do sono até praticamente o final de seus dias, com vitalidade invejável como testemunhou Reimão em Washington no ano de 1989, durante reunião da especialidade.

Qualidade de vida implica no sono e no sonhar, como salienta o autor do segundo capítulo do livro, José Carlos Souza, Professor de Psicologia em Campo Grande. A essa qualidade de vida acresce a patência com que o ser humano busca satisfazer sua curiosidade acerca das coisas. Neste aspecto, nossas coisas são aquelas da Neurologia. Este livro de Reimão oferece questões de primeira grandeza para estimular a curiosidade científica de cada um de nós.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

MEDICINA DO SONO. RUBENS REIMÃO (editor). Um volume (18,5x28,5 cm) encadernado, com 112 páginas. São Paulo, 1999: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01325-010 São Paulo SP. Fax 11 251 4300).

"Em nosso meio, a bibliografia referente ao sono tem um nome, chancela obrigatória: denomina-se Reimão. Sem dúvida alguma, as numerosas investigações e publicações mais amplas e frequentes têm, de alguma maneira, sua participação" ¾ assim se expressa no Prefácio deste livro Paulo Vaz Arruda, docente de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Escolhendo temas de interesse para a prática médica, Rubens Reimão edita este novo livro. Com ele, dez especialistas participaram do projeto e prepararam os onze capítulos da obra. Os capítulos são divididos em três conjuntos: insônia, distúrbios do sono, correlação sono e sonhos.

Insônia, o primeiro conjunto, tem cinco capítulos a propósito de seu tema central: epidemiologia, ansiedade, depressão, psicologia, indicação de hipnóticos. Distúrbios do sono é o segundo conjunto, tem capítulos relacionados com os temas: epilepsia, apnéia obstrutiva do sono, narcolepsia. Sono e sonhos é nome escolhido para a última parte, com dois capítulos.

O primeiro capítulo da última parte, da psicoterapeuta Cecília Helena Piraíno Grandke, trata da complexa vertente sono/sonhos/psicossomática. "Sono, mistério e acalanto" é o capítulo final, preparado pela psicanalista Ana Lúcia Cavani-Jorge.

Estes dois últimos capítulos oferecem subsídios de outro ângulos de visão do sono e dos sonhos para complementar aqueles dos aspectos clínicos discutidos duas primeiras partes do livro. Estas últimas foram igualmente preparadas de com precisão por José Carlos Souza, Fábio Lopes Rocha, Mônica M. Souza, Sueli Regina Gottochilich Rossini, Sandro Blasi Espósito, Attílio S. Melluso Filho, Sung Ho Joo e Rubens Reimão. A este ¾ Chefe de Escola ¾ coube também a regência editorial e a ordenação da matéria. Um adequado índice remissivo encerra o livro.

O cultor da neurologia e o residente em neurologia encontrarão neste compêndio os elementos e também o alento para atualizar seus conhecimentos na já extensa área da medicina do sono.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Abr 2000
  • Data do Fascículo
    Mar 2000
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