Análises de livros

doi:10.1590/S0004-282X1964000100008

Depois de resumir estudos fisiológicos sôbre as modificações da respiração que ocorrem em experiências que determinam excitação e inibição do sistema nervoso central, correlacicnando-as com os dados já registrados na literatura sôbre as modificações da respiração em patologia neurológica, o autor apresenta os resultados que obteve em 370 verificações feitas em 170 pacientes neurológicos e 10 pessoas normais. Nas lesões cerebrais determinadas por traumatismos cranianos e na fase aguda do pós-operatório imediato de tumores intracranianos, o autor, mediante espirometria e registros gráficos, descreve 7 tipos de alterações do ritmo respiratório: respiração regular, respiração levemente irregular, respiração fortemente irregular, respiração periódica, respiração ondulante, respiração em suspiro, respiração arquejante ou terminal. O rendimento da absorção de oxigênio nesses diversos tipos de respiração parece ser satisfatório, sendo, entretanto, deficitário o equivalente respiratório, isto é, a relação do volume respiratório por minuto com a quantidade de oxigênio absorvido. O estudo do equivalente respiratório confirma que as funções cerebrais podem ser profundamente alteradas tanto em regime de hipo como de hiperventilação: a primeira determina sofrimento por falta de oxigenação e por hipercapnia secundária; a segunda determina diminuição da tensão de ácido carbônico com vasoconstrição e redução da irrigação sangüínea. Depois de estudar a economia da respiração, a equivalência respiratória e sua influência sôbre a evolução clínica, o autor analisa o mecanismo da excitabilidade dos centros respiratórios e dos distúrbios centrais da respiração, indicando, a seguir, as medidas terapêuticas aconselháveis para corrigir o mais precocemente possível os distúrbios respiratórios cuja persistência são a causa de lesões cerebrais irremissíveis. Esta monografia, elaborada por R. A. Frowein na Clínica Neurocirúrgica da Universidade de Colônia, dirigida por Wilhelm Tönnis, deve ser lida por todos os que tenham a responsabilidade do tratamento de pacientes com lesões cerebrais traumáticas ou cirúrgicas agudas; dada a complexidade dos mecanismos reguladores da respiração, o autor, não podendo estabelecer esquematização quanto ao diagnóstico e à terapêutica, preocupou-se em expor os fatos observados para facilitar o prognóstico e para chamar a atenção para a necessidade da manutenção do equilíbrio na oxigenação.

O. Lange

ELEKTROENCEPHALOGRAPHIE IN KLINIK UN PRAXIS. Johann Kugler. Um volume (17X24) com 190 páginas e 96 figuras. Georg Thieme Verlag. Stuttgart, 1963.

Destinado a neurologistas e a eletrencefalografistas, êste livro aborda de maneira clara e concisa os mais importantes campos de aplicação da eletrencefalografia em Neurologia, Psiquiatria e em Clínica Médica, fornecendo também, ao eletrencefalografista, atualizado conjunto de técnicas e dados relacionados com a prática de sua especialidade. Após um resumo histórico, o autor passa em revista os fundamentos e a técnica da eletrencefalografia, assim como a interpretação dos traçados, descrevendo particularidades normais e anormais. Os métodos de ativação são considerados, a seguir e em capítulo especial, por Robert S. Schwab com a autoridade de sua longa experiência. A prática da eletrocorticografia, a utilização de eletrodos profundos e de eletrodos permanentes são abordadas de maneira sumária. Cêrca de 2/3 do livro são dedicados às aplicações clínicas, sendo comentados os quadros eletrencefalográficos das epilepsias e sua correlação nos diversos tipos de crises; crises epiléticas atípicas e crises não epiléticas de diagnóstico duvidoso do ponto de vista clínico mereceram atenção especial, o que é perfeitamente justificável considerando-se o interêsse particular que assume a eletrencefalografia nesses casos, tanto do ponto de vista diagnóstico e prognóstico como do ponto de vista terapêutico. Os capítulos seguintes tratam da aplicação da eletrencefalografia ao estudo dos tumores intracranianos, acidentes vasculares cerebrais, encefalites e traumatismos crânio-encefálicos; outras manifestações da patologia encefálica, tais como facomatoses, moléstia de Wilson, coréia, esclerose múltipla são tratadas de maneira menos detalhada. A contribuição da eletrencefalografia à Psiquiatria e à Clínica Médica é analisada em capítulos especiais, sendo descritos os achados eletrencefalográficos encontradiços em condições e afecções encefálicas de natureza variada, tais como psicoses sintomáticas, intoxicações, efeitos da aplicação de eletrochoque, anemias e outras afecções sistêmicas. Particularmente interessante é a inclusão, no fim da maioria dos capítulos, de questionários que possibilitam ao leitor ajuizar do aproveitamento auferido; um glossário, assim como extensa e atualizada bibliografia finalizam o volume.

A. Freitas Julião

CLINICAL CORRELATIONS OF EXPERIMENTAL HYPNOSIS. Compilado e editado por Milton V. Kline. Um volume (16X23,5) com 524 páginas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois) USA, 1963.

O presente volume é uma coletânea de numerosos trabalhos sôbre aspectos experimentais e clínicos da hipnose, cobrindo múltiplas e variadas facetas dêste problema sempre aberto para o clínico prático: a conceituação científica da hipnose e suas implicações teóricas. Ênfase especial foi dada ao abismo existente entre os dados experimentais e aquêles colhidos na prática clínica; a maneira ampla com que o assunto foi estudado leva à conclusão de que as contradições existentes entre os dois campos de estudo decorreriam, na realidade, menos de uma oposição de idéias do que de uma maneira diversa de focalizar os mesmos problemas. Recentes estudos sôbre a psicofisiologia do conhecimento trouxeram muitas luzes para os aspectos volitivos implicados na hipnose e na dinâmica interpessoal. Milton V. Kline sistematizou a apresentação dêstes trabalhos, aparentemente contraditórios, com vistas para sua utilização por investigadores e clínicos, procurando não apenas uma integração entre os dados experimentais e clínicos, mas também abrindo perspectivas para novas pesquisas no campo da investigação teórica.

A obra consta de 6 capítulos introdutórios em que são estudados aspectos mais genéricos e conceituais, dentre os quais os problemas relacionados com a transferência, as transformações do ego e os fenômenos de regressão implicados na hipnoterapia; aspectos clínicos e experimentais relacionados com a medicina psicossomática e a hipnoanálise também foram abordados nesta primeira parte. A segunda parte consta de 27 trabalhos sôbre aspectos mais detalhados da patogenia e terapêutica de numerosas afecções, mostrando a interferência de fatôres psíquicos sôbre distúrbios gastrintestinais, cardíacos, alérgicos, cutâneos, sôbre a atividade reflexa mais ou menos elementar e, mesmo, sôbre a atividade elétrica cerebral registrada pela eletrencefalografia.

Antonio B. Lefèvre

SOCIAL PSYCHIATRY. Maxwell Jones. Um volume (15,5X23,5) com 129 páginas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), USA, 1962.

Não é sem razão que Dreikurs assinala o enfoque social dos problemas psiquiátricos - indicando os conceitos de tratamento de grupo e de comunidade, assim como os de psiquiatria administrativa - como a terceira grande revolução dentro da Psiquiatria. Significativas correntes do pensamento psiquiátrico passaram da perspectiva individual do tratamento psicanalítico à consideração dos sistemas de fôrças atuantes nas comunidades e grupos sociais. Como resultado disso uma soma respeitável de estudos tem sido acumulada, se bem que dentro de diretrizes extremamente variáveis que não permitem a construção de um sólido corpo de doutrina. Nesta "Social Psychiatry" não é tentada a discussão dos problemas conceituais e o próprio autor traça limites definidos para o têrmo: "Mais do que propor questões específicas ou programas específicos, a Psiquiatria Social dá-nos uma base para novas aproximações para uma efetiva vida social". É evidente que algumas questões fundamentais deverão ser suscitadas, porém, aqui, o terreno torna-se extremamente movediço e a análise não é levada a suas últimas conseqüências. O autor ressalta algumas posições conceituais que, na prática, são tomadas como definitivamente resolvidas, mas que, na realidade, só por ilusão seriam consideradas cientìficamente válidas. Considera o problema proposto pela terapêutica de promover o "ajustamento" social do indivíduo e, após considerar suas implicações, chega a afirmar que se pensa muito pouco na possibilidade de modificar a cultura para conduzir ã saúde mental. O que se coaduna com o pensamento de Barbara Wootton, ao ressaltar os juízos diferentes que seriam feitos sôbre o ajustamento de criminosos a um modo mais suave de vida ou o ajustamento de profissionais liberais á um regime nazista, o que, em última análise, conduz a julgamentos puramente éticos. Considerações de ordem conceituai são levantadas apenas para apoiar ou orientar as de ordem prática, que constituem fundamentalmente o objetivo da obra. Em cinco capítulos, que estudam a Psiquiatria Social na comunidade em mudança, nos hospitais, nas prisões, as comunidades terapêuticas e o treinamento em Psiquiatria Social, o autor realiza um trabalho extenso e fecundo que deve atingir não só o investigador como o psiquiatra prático, que teriam poucas oportunidades de encontrar condensado, em um único trabalho, cabedal tão vasto de experiência, capaz de servir de apoio e orientação para o pensamento e a atividade prática nesta época em que as implicações sociais são fartamente suscitadas e muito pouco assimiladas.

M. Wilson Penna

OPENING DOORS FOR TROUBLED PEOPLE. David S. Shapiro e Leonard T. Maholick. Um volume (16X23,5) com 121 páginas e 7 tabelas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), USA, 1963.

Nesta monografia são descritas as sucessivas etapas de pesquisa feita com o fito de transformar um centro psiquiátrico - The Bradley Center - num local onde a população tivesse a oportunidade de fazer um "check-up" de saúde mental; além do atendimento dos casos clínicos, foi visada a transformação do centro para promover a expansão e melhoria dos serviços psiquiátrico e social. Na primeira etapa não houve plano sistemático para a escolha do material, apesar de haver, entre os 103 voluntários, uma variabilidade ampla de idade, educação e situação sócio-econômica, permitindo respostas a questões importantes. O problema crucial de tempo e dinheiro necessários para a avaliação da saúde mental foi contornado pela utilização de testes e questionários. A entrevista diferia, radicalmente, de um exame psiquiátrico para outro e o entrevistado tinha oportunidade de meditar e rever os sucessos e fracassos de sua vida, assim como seus desejos e temores. O grupo foi examinado do ponto de vista de sua adaptação (familiar, social, profissional, conjugal) e do tipo de problemas apresentados. Em etapas sucessivas a pesquisa foi-se ampliando, obedecendo a um plano que visava aplicação mais ampla da abordagem e técnicas preconizadas pelos autores que concluíram admitindo que o fator principal é o tempo, isto é, a identificação precoce dos problemas, e que a técnica utilizada era vantajosa para executar um programa de melhoria da saúde mental na comunidade. A seguir demonstram como foram bem sucedidos no preparo de grupos sem treino psiquiátrico, tais como pastores, clínicos e assistentes sociais. Após algumas horas de aprendizado êstes profissionais julgaram-se capazes de aplicar as técnicas e métodos preconizados, auxiliando os médicos na compreensão de problemas de seus clientes. Em apêndice são reproduzidos o material para a avaliação da saúde mental e para o aconselhamento, sendo expostos os recursos para avaliação da adaptação nas diferentes situações vitais.

Jayme Gonçalves

LA PLACE DE L'EPIDÉMIOLOGIE EN PSYCHIATRIE. Tsung-yi Lin e C. C. Standley. Monografia com 86 páginas (Cahiers de Santé Publique, nº 16). Organisation Mondiale de la Santé, Genève, 1962.

Métodos epidemiológicos são utilizados para avaliar a prevalência de diferentes tipos de distúrbios mentais e conseguir base estatística para a ação preventiva e curativa. Os métodos epidemiológicos possibilitam evidenciar as correlações entre as características de uma população e a morbilidade, o que permite compreender as origens das doenças mentais; êles servem para verificar hipóteses etiológicas formuladas após trabalhos de laboratório ou estudos clínicos, para avallar o grau de curabilidade e apreciar, por comparação, a eficácia das medidas preventivas e terapêuticas. Dada a multiplicidade dos objetivos, é necessário recorrer a métodos muito variados. Na primeira parte desta monografia os autores analisam as vantagens e os inconvenientes da aplicação da epidemiologia às estatísticas hospitalares e aos dados obtidos pelos psiquiatras. A segunda parte trata do papel dos fatôres genéticos, somáticos e psicossociais mais freqüentemente estudados pelos métodos epidemiológicos e que podem desempenhar papel preponderante na etiologia e evolução das doenças mentais. Os autores comentam trabalhos que foram feitos sôbre as famílias de doentes mentais, os fatôres genéticos, as influências pré e paranatais, a condição social, o alojamento e as condições de vida, a migração, a profissão, a situação matrimonial, a vida urbana e rural, a insegurança econômica, os fatôres étnicos e culturais, as influências familiares. A seguir, passam rapidamente em revista os fatôres que influenciam a duração das doenças mentais, em particular os métodos terapêuticos, assinalando que modificações radicais ocorridas nos últimos anos em matéria de tratamento psiquiátrico, a saber, a substituição gradual da internação pura e simples por métodos modernos aplicados no quadro da coletividade, devem ainda ser objeto de pesquisas sistemáticas. Os autores admitem que os métodos epidemiológicos poderão ser empregados com proveito para todos êsses estudos.

LIVROS RECEBIDOS

Nota da Redação - A notificação dos livros recentemente recebidos não implica em compromisso da Redação da revista quanto à publicação ulterior de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na biblioteca do Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

AFAZIA SI SINDROAMELE CORELATE IN PROCESELE EXPANSIVE INTRACRANIENE. M. I. Botez. Um volume (18X24,5) com 225 páginas e 49 figuras. Editura Academiei Republicii Populare Romine, Bucaresti, 1962.

THE CHEMISTRY OF THINKING. George Humphrey e R. V. Coxon. Um volume (16X23,5) com 148 páginas e 19 figuras. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), USA, 1963. Preço: US$6.75.

CLINICAL CORRELATIONS OF EXPERIMENTAL HYPNOSIS. Milton V. Kline, editor. Um volume (16,5X23,5) com 524 páginas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), USA, 1963. Preço: US$15.75.

SELECTIVE VULNERABILITY OF THE BRAIN IN HYPOXAEMIA. J. P. Schadé e W. H. McMenemey, editores. Um volume (15,5X22,5) com 395 páginas. Blackwell Scientific Publications, Oxford, 1963.

LA PSICOANALISI. Leonardo Ancona. Um volume (13,5X20) com 230 páginas. Editrice La Scuola, Brescia, Itália, 1963.

REPORT ON THE SIXTEENTH CONGRESS OF SCANDINAVIAN NEUROLOGISTS. Sigvald Refsum, Hans M. Lossius e Per Dietrichson, editores. Um volume (16X24) com 363 páginas. Suplemento n° 4 de Acta Neurologica Scandinavica. Munksgaard, Copenhagen, 1963.

LA PLACE DE L'EPIDÉMIOLOGIE EN PSYCHIATRIE. Tsung-yi Lin e C. C. Standley. Monografia com 86 páginas (Cahiers de Santé Publique, m 16). Organisation Mondiale de la Santé, Genève, 1962.

GESTALTEN UND GEDANKEN. Ernst Kretschmer. Um volume (17,5X24) com 223 páginas. Georg Thieme Verlag, Stuttgart, 1983. Preço: DM 28.-.

A PSYCHIATRIC STUDY OF FAIRY TALES. Julius E. Heuscher. Um volume (16X23,5) com 224 páginas e 11 figuras. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois) USA, 1963. Preço: US$7.75.

ZENTRALE ATEMSTÖRUNGEN BEI SCHÀDEL-HIRN-VERLETZUNGEN UND BEI HIRNTUMOREN. Reinhold A. Frowein. Monografia com 159 páginas e 66 figuras. Springer-Verlag, Berlin-Göttingen-Heidelberg, 1963. Preço: DM 36.-.