Acessibilidade / Reportar erro

Análises de livros

Análises de livros

AFASIAS, APRAXIAS, AGNOSIAS. LU 18 BARRAQUER BORDAS. Um volume encadernado com 338 páginas. Segunda edição. Ediciones Toray S.A., Barcelona, 1976.

A publicação, em 1974, da primeira edição deste livro veio cobrir importante lacuna por ser vultosa a literatura sobre estes campos da psiconeurologia (afasias, apraxias e agnosias) e os neurólogos não-especializados dificilmente têm oportunidade de compulsar mesmo as publicações mais importantes. Somente alguém com grande vivência do assunto poderia produzir um livro no qual fossem condensadas tantas noções sobre temas complexos e de difícil correlacionamento anátomo-fisiológico e anátomo-clínico. Por outro lado, a psiconeurologia evoluiu muito nos últimos anos com a introdução de sofisticados métodos de exame da visão e da audição, como sejam a estimulaçâo taquistoscópica e dicótica que permitem estudar isoladamente a atividade nervosa superior de cada um dos hemisférios cerebrais. Também se modificou a interpretação das gnosias visuais e auditivas com o conceito de desconexão e com a descrição renovadora do "cérebro em funcionamento", tão bem exposta por Luria. O conceito das áreas secundárias de asociação, conjugado com os conceitos emitidos por Geschwind, abriu novas pistas para a compreensão dos fenômenos ligados à atividade nervosa superior que dependem de conexões dinâmicas de áreas de associação vísuo-verbais-cinestésicas.

No livro de Barraquer-Bordas são analisadas as funções de um cérebro dinâmico, bem mais próximo do estabelecimento da relação entre a elaboração mental e os efetores que executam o ato final da comunicação. É impossível fazer um resumo deste volume tão condensado e tão diversificado no seu conteúdo. O importante é lembrar que o espírito crítico que dera a tônica da primeira edição tornou-se ainda mais aguçado na segunda, agora apresentada. Cite-se, como demonstração, a ampliação introduzida no capítulo em que foram expostas as afasias, no qual foram revistas as afasias das crianças, dos canhotos, das demências tardias e aquelas raras formas que ocorrem nos manidextros cruzados. Digno de menção também é o estudo das afasias nos naturais de paises de escrita não-alfabética; são expostas detalhadamente as características das afasias dos japoneses e chineses, de tanta importância para quem vive em país tão cosmopolita como o Brasil.

Foi revista a elaboração da dominância hemisférica como processo dinâmico. O autor chama a atenção para a similaridade entre certas particularidades das afasias das crianças com as dos canhotos e dextro-cruzados, na medida em que nelas se observa dominância incompleta das funções da linguagem. Uma lesão com a mesma sede (zona de Wernicke) produziria uma afasia "motora" em uma criança, uma afasia de condução em um jovem adulto e jargonofasia em um ancião. A diversidade do caráter das afasias decorreria do acometimento de estratos ontogenéticos sucessivos (J. Brown). Nas crianças de poucos anos a expressão verbal estaria difusamente organizada, de tal forma que numa lesão frontal, parietal ou temporal (mesmo na área de Wernicke) daria iugar a uma afasia "motora". Com o avançar da idade, a especificação das áreas estaria de tal maneira aperfeiçoada, que a lesão desta mesma área de Wernicke daria lugar a uma jargonafasia. São, também, discutidas as idéas de Brown e Jaffe na medida em que sugerem ser o hemisfério direito o dominante no estágio prelinguístico que corresponde à primeira infância, época em que a comunicação é predominantemente visual e acústica, isto é, não-verbal. Como argumento em favor dessa hipótese é muito sugestivo o fato de que a maioria dos lactentes gira a face para a direita quando deitado, apoiando o ouvido direito no leito, expondo o ouvido esquerdo para receber os estímulos do meio ambiente; como é sabido pelas experiências de estimulaçâo dicótica o ouvido esquerdo, conectado principalmente com o hemisferio direito, é mais propenso à recepção de sons não-verbais. O processo de domi-nância recebral se faria de maneira diferente para a compreensão e para a expressão; esta última se localizaria mais precocemente nas áreas correspondentes do hemisfério esquerdo, enquanto que a compreensão permaneceria localizada à direita.

O conhecimento do papel funcional do corpo caloso também mereceu especial atenção. Os estudos relacionados com a transferência de informações interhemisféricas progrediram muito com as tentativas de terapêutica cirúrgica à custa da secção do corpo caloso, que ofereceram oportunidade para a realização de verdadeiras experimentações psiconeurológicas com seres humanos. Estas secções do corpo caloso têm como característica o fato de que elas não afetam a simbolização em si mesma, limitando-se a bloquear uma determinada fração da informação recebida e percebida. Esta noção é fundamental para a compreensão das síndromes de desconexão interhemisféricas.

Barraquer Bordas discute amplamente a alexia agnósica restrita ao campo visual homônimo lateral esquerdo, citando as opiniões de Oxbury e Humphrey que consideram a incapacidade de reconhecer e denominar cores, que pode acompanhar este quadro, não apenas como conseqência da desconexão mas também como um transtorno de natureza afásica.

Outro tópico atualizado é aquele em que são discutidas as afasias transcorticals e as afasias de condução. As primeiras resultariam do isolamento da zona da linguagem, como um todo, do resto do cortex cerebral; elas são atribuídas por Geschwind à desconexão ; entretanto Korney e Brown contestam esta patogenia considerando-a como como simplista e incapaz de abarcar toda a complexidade deste tipo de afasia, Korney fez o estudo anátomo-clínico de três casos de afasia transcortical; os pacientes apresentavam ecolalia compulsova e, nos três casósj; foi encontrada uma lesão na parte póstero-interna do lóbulo frontal esquerdo, território de vascularização da artéria cerebral anterior. Brcwn critica também as concepções de Geschwind em seus aspectos semiológicos; para ele a repetição não é uma função especial da linguagem mas sim um caminho para a exploração clínica. A perda da capacidade de repetir não seria uma particularidade própria da afasia de condução pois é encontrada em todos os distúrbios afásicos. Brown considera injustificável relacionar a incapacidade de repetir com a interrupção de determinada via de conexão. Para este autor, a afasia de condução, como a transcortical, deve ser explicada de maneira dinâmica, ligada à idéia de realização simultânea dos componentes motor e perceptivo do ato da linguagem.

Desejamos, com a citação das discussões destes tipos de afasias, chamar a atenção para o cuidado com que foi revista a primeira edição do livro de Barraquer Bordas. Ele já era imprescindível, obrigatório para todos os estudiosos da psiconeurologia. Com a segunda edição novos conhecimentos foram acrescentados, tornando o conjunto ainda mais meritório. Amplas referências bibliográficas são encontradas no fim de cada capítulo, facilitando as consultas às fontes originais.

ANTONIO B. LEFÈVRE

MULTIPLE SCLEROSIS, J. S. PORTERFIELD, editor. Exemplar do British Medical Bulletin (Vol. 33, nº 1, págs. 1-88, 1977), publicado sob o patrocínio do Medical Department of the British Council, Londres.

Trata-se de um conjunto de trabalhos planejado por comissão constituída pelos Professores A. N. Davison e W. I. MacDonald e Drs. L. A. Liversedge e ?. M. Wis-niewski, presidida pelo próprio editor, Prof. J. S. Porterfield. Foram abordados assuntos da maior relevância e atualidade para melhor conhecimento de doença tão enigmática como seja a esclerose múltipla. Em cada trabalho é apresentada extensa e bem atualizada lista de referências bibliográficas, sendo expostos e criteriosamente analisados resultados das pesquisas até agora realizadas. A introdução, bem elaborada por J. M. D. Miller, dá idéia precisa da situação atual da esclerose múltipla em quase todos os seus aspectos e as perspectivas, futuras sobre a etiologia e tratamento. Os assuntos foram assim distribuídos: 1 — Diagnóstico e classificação (W. I. MacDonald e A. M. Halliday); 2 — Epidemiologia (E. D. Acheson); 3 — Patologia e progressão das lesões (C. W. M. Adams); k — Fisiopatologia da doença desmielinizante (A. M. Halliday e W. I. MacDonald). 5 — Diagnóstico de laboratório: aspectos bioquímicos e imunológicos (E. J. Thompson); 6 — Esclerose múltipla e virologia (Κ. B. Fraser); 7 — Significado dos anticorpos contra virus (Margaret Haire); 8 — Imunidade celular (Stella CL Knight); & — Fatores feumarais envolvidos na processo imunitário da esclerose múltipla e da encefalomielite alérgica (B. A. Gfaspary); 10 — Imunopatologia da desmie-Unização nas doenças auto-imunes e nas infecções a virus (Η. Μ. Wisniewski); 11 — Imunoquímica e bioquímica da mielina (A. N. Davison e M. L. Cuzner); 12 — Relevância dos ácidos graxos na esclerose múltipla (J. Mertin e C. J. Meade); 13 — Antí-genos de histocompatibilidade e sua relevância na esclarose múltipla (J. R. Batchelor); 14 — Tratamento e conduta médica (L. A. Liversedge).

A maioria dos trabalhos, como se vê, enfatiza os problemas etiopatogênicos da esclerose múltipla. Alguns analisam aspectos imunoquímicos e bioquímicos, assim como a importância do metabolismo dos ácidos graxos e dos antígenos de histocompatibilidade. Faltou um capítulo dedicado aos aspectos clínicos que são apenas referidos de modo superficial em alguns trabalhos, especialmente naqueleg que dizem respeito à fisiopatologia da doença desmielinizante e à patologia da esclerose múltipla. A leitura do último capítulo, dedicado ao tratamento e aos cuidados no seguimento dos pacientes, deixa o especialista um tanto desalentado pois nada de novo foi acrescentado ao ainda precário arsenal terapêutico contra a doença. Entretanto as investigações desenvolvidas de modo persistente e em níveis técnicos cada vez mais elevados, vem permitihclo acumular informações mais precisas a respeito da etiologia e patogenia, o que, a par das tentativas terapêuticas com novas substâncias e métodos mais adequados, permitem acalentar a esperança de que a meta desde há muito almejada, qual seja a do tratamento específico e/ou preventivo, está próxima.

JOSÉ LAMARTINE DE ASSIS

ADVANCES IN PAIN RESEARCH AND THERAPY. JOHN J. BONICA e DENISE ALBE-FECCARD, editores. Um volume encadernado (16 x 24) com 1056 páginas, 273 ilustrações e 95 tabelas. Raven Press, New York, 1976. Preço: US$ 84,00.

Este alentado volume contém 148 trabalhos selecionados rigorosamente entre os apresentados ao Primeiro Congresso Mundial sobre a Dor, realizado em Florença (Itália), entre 5 e 8 de setembro de 1975, sendo a escolha dos trabalhos publicados baseada na avaliação e graduação dos respectivos valores por dois ou três membros do Conselho Editorial. O congresso foi promovido pela International Association for the Study of Pain, com a presença de mais de 1100 participantes representando 75 diferentes disciplinas médicas sediadas em 35 países. Durante quatro dias foram apresentados 250 trabalhos, pronunciadas 18 conferências por convidados especiais, apresentados 6 filmes cinematográficos e realizados seis simpósios ou mesas-redondas, tudo pertinente aos problemas desencadeados pelas dores. John J. Bonica, que presidiu o certame, salientou, na sessão inaugural, a utilidade relativa da dor aguda e paroxística que é o sintoma que mais comumente compele os pacientes à busca de auxílio e tratamento, contrastando com a forma crônica e persistente na qual a dor pode ser considerada como um malefício que quase sempre impõe, além de desconforto físico, transtornos emocionais, econômicos e sociais, tanto para os pacientes como para seus parentes mais chegados. Considerada quanto às suas manifestações e repercussões a dor crônica é totalmente diferente da dor aguda e paroxística. A ansiedade, por exemplo, que caracteriza os quadros dolorosos agudos é substituída paulatinamente, nas síndromes dolorosas crônicas, por depressão reativa e hipocondria, atribuíveis a processos somatogênicos ou psico-gênicos. Daí a necessidade e premência de estudos multidisciplinares que abordem não somente o condicionamento das dores como, e principalmente, os mecanismos de suas deletérias repercussões sobre a constituição emocional dos pacientes, com influências sobre suas reações afetivas e sobre seu comportamento em geral.

A primeira parte do livro agora comentado contêm trabalhos de pesquisa a respeito das qualidades e dos mecanismos básicos das várias espécies de dores que acometem o organismo animal; na segunda parte são analisadas as bases experimentais das terapêuticas hodiernamente utilizadas. Os trabalhos foram dispostos em seqüência cientificamente lógica, do mais simples para o mais complexo (sistema aferente periférico e receptores, sistemas de transmissão periféricos e centrais, interferências de fatores psicológicos, medições e avaliações objetivas das dores crônicas, modulação e terapêutica calcada em recentes aquisições farmacológicas, supressão das dores por estimulações periféricas e centrais, ação de analgésicos não-narcotisantes e de drogas psicotrópicas, ação de analgésicos narcóticos e de seus antagonistas, bloqueios psicológicos, farmaco-lógicos e cirúrgicos das vias de condução e dos centros de recepção e de modulação subjetiva, indicações e contraindicações da acupuntura). Capítulos especiais são dedicados, no final, às algias oro-faciais e às cefaléias, às dores músculo-esqueléticas, às trigeminalgias, às causalgias, às dores dos membros fantasmas, às simpatalgias decorrentes de moléstias oclusivas arteriais periféricas.

Complementando este vultoso material que interessa sobremodo a neurologistas e psiquiatras e a cultores de ciências afins, os editores tiveram a oportuna idéia de incluir, no final do livro, os resumos das partes principais de trabalhos apresentados em simpósios sobre as dores realizados anteriormente, dando ênfase à necessidade da coleta internacional e multidisciplinar de dados e à constituição de bancos de dados visando a acumular elementos para estudos em extensão e profundidade, à uniformização do fichamento para a computarização e para a taxonomia dos quadros dolorosos. Com estes acréscimos os editores procuram diminuir a incidência de causas que até agora impediram o tratamento realmente eficiente da generalidade das síndromes dolorosas crônicas, causas ordenadas em três grupos principais: falta de conhecimentos exatos sobre os mecanismos e a fisiopatologia da dor; falta de comunicações entre os pesquisadores que trabalham em diferentes disciplinas e falta de comunicações entre pesquisadores e clínicos trabalhando em variadas especializações; deficiência das escolas médicas em geral quanto ao ensino da problemática da dor. Bem organizado índice final facilita a consulta a este livro que deve ser considerado como indispensável em todas as bibliotecas médicas porque atualiza os conhecimentos adquiridos até agora e abre novas sendas para o profícuo trabalho de especialistas — cientistas ou clínicos — que se dedicarem a melhorar, senão curar os pacientes com síndromes dolorosas persistentes, sem o risco de seqüelas cirúrgicas irremomíveis e sem conseqüências iatrogênicas.

O. LANGE

THE BASAL GANGLIA. MELVIN D. YAHR, editor. Um volume encadernado (16 χ 24) com 496 páginas, 181 figuras e 23 tabelas. Volume n<? 55 da série Research Publications editada sob os auspícios da Association for Research in Nervous and Mental Diseases. Raven Press, New York, 1976. Preço: US$ 42,00.

A complexidade e variedade dos fenômenos associados às lesões dos gânglios basais criam grandes dificuldades para a interpretação da sintomatologia; em relação às sindromes determinadas no indivíduo humano nem sempre é fácil distinguir qual é a sintomatologia deficitária, quais são os sintomas liberados pela ação de centros subjacentes e hierarquicamente inibidos, nem tampouco quais são as reações compensatórias de tais lesões que, por si mesmas, modificam todo o mecanismo da motricidade, seja voluntária ou institivo-automática. Apesar de numerosas contribuições experimentais e neurocirúrgica, ainda não está bem esclarecido o exato papel dos gânglios basais na movimentação em geral e, em particular, na chamada motricidade extrapiramidal, capítulo extenso e intrincado da fisio-patologia do sistema nervoso central. Por isso tudo são extremamente úteis as revisões periódicas pertinentes à neurofisiologia, à histologia, à neuroquímica dos núcleos cinzentos da base do encéfalo. O livro aqui apresentado faz parte de uma coleção valiosa - Research Publications of the Association for Research in Nervous and Mental Diseases - cuja idoneidade é amplamente assegurada nos meios científicos internacionais, e vem complementar e atualizar dados fornecidos por outro livro de título quase igual (The Disease of the Basal Ganglia), constituindo o volume 21 da mesma coleção, editado em 1940. Ele contêm 28 trabalhos de especialistas de alto gabarito, apresentados, em dezembro de 1975, à 55* reunião da Associação acima citada. No intervalo entre a publicação destes dois livros muita coisa foi definitivamente resolvida, sendo vultosos os conhecimentos já adquiridos e utilizados correntemente para efeitos diagnósticos e terapêuticos. Entretanto ainda permanecem dúvidas sobre questões relevantes que vêm sendo estudadas com afinco, tanto do ponto de vista clínico, como em seus aspectos morfológicos e fisiopatológicos. Novas abordagens, além da neurocirúrgica e histopatológica, têm sido utilizadas com vantagens, sobressaindo as atinentes à neuroquímica e à farmacologia dos núcleos basais, que constituem pontos-chaves da atual tendência das investigações científicas.

O material contido no livro foi distribuído em 7 capítulos. No primeiro devem ser destacados o artigo de Malcoln B. Carpenter atualizando a organização anatômica do corpo estriado e dê núcleos correlacionados, o de Dominick P. Purpura sobre a organização geral dos núcleos basais sob o ponto de vista histo-fisiológico, e, especialmente, o de D. Denny-Brown e N. Yanagisawa sobre o papel dos núcleos da base encefálica na iniciação dos movimentos de qualquer natureza, este último trabalho com vultosa e excelente documentação experimental. No segundo capítulo — Mecanismos transmissores nas afecções dos gânglios basais — 7 trabalhos versam sobre os intrincados problemas atinentes ao neuroquimismo para a transmissão de impulsos, destacando-se, aqui, o trabalho de Oleh Hornykiewics (Interações neuro-humorais e função e disfunção dos gânglios basais). Nos 4 capítulos seguintes são apresentadas as mais recentes aquisições, respectivamente, sobre o parkinsonismo, sobre as coréias, sobre as distonias e sobre as discinesias tardias. Nesta última parte são de grande valor as contribuições de I. S. Cooper sobre os resultados das abordagens cirúrgicas e suas conseqüências no tratamento das distonias, e de Julius Korein e Joseph Brudny explicando e aplicando princípios de cibernética no tratamento do torticolis espasmódico e das distonias focais, tudo abundantemente documentado com o estudo prospectivo de 80 casos. O último capítulo, com um único trabalho, estuda a síndrome de Gilles de la Tourete, a moléstia dos tiques, sendo analisadas acuradamente as abordagens bioquímicas para o seu estudo e as grandes modificações que essa doença provoca no comportamento geral dos pacientes.

O. LANGE

CEREBROVASCULAR DISEASE. PERITZ SCHEINBERG, editor. Um volume encadernado (16 χ 24) com 408 páginas, 86 figuras e 77 tabelas. Volume 10 da coleção Princeton Conference on Cerebrovascular Diseases. Raven Press, New York. Preço: US$ 24,00.

As conferências de Princeton são afamadas porque, convocadas a cada dois anos aproximadamente a partir de 1954, reunem especialistas multidisciplinares que expõem suas experiências e suas idéias exclusivamente sobre problemas atinentes aos acidentes cerebrovasculares. Em cada conferência são apresentadas novidades e revistos aspectos já discutidos em reuniões anteriores com adendos fornecidos pelo progresso da tecnologia, pelos estudos comparativos dos resultados obtidos em trabalhos colaborativos, pelas descrições de novas técnicas e de novas abordagens, pela exposição de novos dados quanto à frequência e epidemiologia, pelas mais recentes aquisições no domínio do tratamento médico e cirúrgico. Assim, o conhecimento do que foi apresentado e discutido nessas reuniões tem suma importância para neurologistas e neurocirurgiões, no sentido de modernizar sua atuação frente a pacientes acometidos por insultos cerebrovasculares. Daí o alto valor dos 10 livros publicados desde 1954 até 1976, período em que o estudo dos acidentes cerebrovasculares progrediu extraordinariamente tornando-se, sem Cúvida, meta de grande responsabilidade médica e cirúrgica.

No livro ora apresentado, contendo trabalhos relatados e amplamente discutidos na 10* Conferência de Princeton (Janeiro de 1976) e na qual tomaram parte ativa 90 participantes, o material foi disposto em 4 capítulos. No primeiro (Crises isquêmicas transitórias), depois de excelente mise-au-point feita por H. J. M. Barnett sobre a patogênese — com ilustrações das mais convincentes sobre os fatores causais — são consideradas a freqüência, a sintomatologia e o tratamento, tudo com base em estudos cooperativos realizados simultaneamente em várias instituições norte-americanas. O segundo capítulo é dedicado à ateroesclerose, sendo analisadas as forças hemodinâmicas causais, as alterações ultraestruturais no endotélio arterial, a influência da hiperlipidemia, a ação das plaquetas sangüíneas, a patobiologia celular, sendo tudo como que condensado no trabalho final de Frank Μ. Yatzu (Ateroesclerose para o neurologista). No capítulo seguinte (Receptores e neurotransmissores nos acidentes cerebrovasculares) são relatados estudos experimentais e clínicos de grande importância sobre o papel dos neurotransmissores na casualidade dos insultos vasculares encefálicos, e, logo a seguir, sobre os fenômenos de regeneração que explicam a plasticidade do sistema nervoso central frente a lesões destrutivas. Nestas regenerações também tomam parte ativa os neurotransmissores como primeira ajuda para a recomposição funcional dos neurônios eventualmente lesados. Merece destaque, aqui, o excelente trabalho de S. Bjõrklund e colaboradores sobre a regeneração de neurônios no sistema nervoso central, similar à que ocorre no sistema nervoso periférico, sendo semelhantes também as reações dos neurônios monoaminérgicos e colinérgicos às interrupções axonais. Logo a seguir são expostas tentativas, por enquanto ainda no terreno experimental, para facilitar o processamento da plasticidade do sistema nervoso (Tratamento farmacológico de desordens do comportamento ocorrentes após insultos cerebrovasculares experimentais). O quarto capítulo contêm material misto, começando com estudos epiiemiológicos calcados em análises colaborativas visando a esmiuçar as razões da elevada freqüência de acidentes cerebrovasculares no Japão e terminando com dois trabalhos magistrais: o primeiro, de autoria de Charles G. Drake, sobre a cirurgia dos aneurismas encefálicos, assunto em que o autor tem vasta experiência; o segundo, também de uma grande autoridade, O. Howard Reichman, sobre a experiência obtida durante 5 anos no tratamento de isquemias cerebrais pelas anastomoses microneurocirúrgicas. O último capítulo deste valioso livro contém trabalhos versando sobre assunto que parece um tanto deslocado na programação geral, como seja o dos problemas relativos ao envelhecimento, sendo apresentadas as teorias que tentam explicar o envelhecimento biológico e estudadas a morfologia e a neuroquímica do cérebro envelhecido.

O. LANGE

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 1977
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org