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Professor Edístio Pondé (1900-1971)

In memoriam

Professor Edístio Pondé (1900-1971)

Em 1971 perdeu a neurologia baiana uma de suas exponenciais figuras com a morte do Prof. Edistio Pondré que foi, durante 20 anos, catedrático de Clínica Neurológica da Universidade Federal da Bahia.

Descendente de ilustre e tradicional família baiana e nascido em 8 de novembro de 1900 na cidade de Inhambupe, Edistio Ponde cursou as primeiras letras nessa cidade, desde cedo se interessando pelas conquistas do espírito. Estudou com grande sacrifício e às suas próprias custas tendo sido empregado no comércio, repórter e funcionário do telégrafo. Concluído o ciclo de preparatórios, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, tendo realizado modelar currículo terminado em 1925, quando defendeu tese de doutoramento versando sobre "Espasmo de torção", aprovada com notas distintas. Exerceu, com grande senso de responsabilidade, a clínica geral nas cidades de Taperoá e Itaquera, tendo sido, em 1929, convidado, pelo Professor Alfredo Brito, para as funções de assistente de Clínica Neurológica na Faculdade por onde se diplomara.

Iniciando profícua atividade magisterial, seguiu com brilhantismo a austera e difícil série dos concursos tradicionais — docência livre, chefia de clínica, professor adjunto — até a sua nomeação para catedrático, em 1950, após festejado concurso. Disputou duas vezes a cátedra, a primeira, em 1943, apresentando tese sobre "Epilepsia" e, a segunda, 7 anos depois, quando defendeu tese sobre "O Curare na terapêutica da espasticidade".

Durante duas décadas foi eminente Professor de Neurologia, tendo sido considerado pelos seus assistentes e alunos como excelente didata, claro na descrição dos sintomas e sinais, assim como cuidadoso na arte de apreciação diagnostica. Mestre desprendido, humano com os doentes e que praticou a medicina ao lado da bondade, dispensava aos seus assistentes particular desvelo sendo que a um deles se vinculou por laços de sangue e a um outro por fraternal amizade que cultivou com especial carinho. Edistio Ponde escondia suas virtudes e talentos na modéstia, mas, nem por isso, deixou de ser o poeta primoroso que foi na mocidade, o homem de conhecimentos humanísticos, de sólida cultura não somente neurológica mas também em disciplinas afins, particularmente na Psiquiatria. Nesta especialidade se fez tão qualificado que, em 1957, recebeu convite para integrar comissão julgadora do concurso para provimento de cátedra de Clínica Psiquiátrica na então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, onde arguiu teses defendidas por ilustres mestres da Psiquiatria contemporânea, dentre os quais os professores Leme Lopes, Darcy Mendonça Uchôa, Alves Garcia, Nobre de Melo e Jurandir Manfredini. Examinou igualmente, com dignidade e competência, concursos para a cátedra e docência livre de Clínica Neurológica. Apesar de sua reconhecida cultura médica não legou vasta obra: redigiu todavia, com inconfundível orientação didática e em linguagem clara e escorreita trabalhos sobre o tratamento das polinevrites, sobre as perturbações mentais na síndrome basedoviana, sobre a terapêutica da coréia de Sydenham, sobre a punção occipital, tendo relatado interessantes casos de afasia, de tremor localizado, de meningite linfocitária de origem esquistossomótica, de esquistossomose medular. Paralelamente à sua produção científica, não se descurou Edistio Ponde de orientar seus assistentes, incentivando-os notadamente no estudo de aspectos regionais da neuro-patologia, como as determinações nervosas no curso das parasitoses, tema que constituiu, em 1960, acervo de contribuição da Escola Neurológica baiana ao Simpósio Internacional realizado no Instituto de Neurologia da Universidade Federal de Guanabara. As diretrizes científicas de Edistio Ponde estenderam-se à neurocirurgia, à neuro-pediatria, à eletrencefalografia e, para atender aos reclamos destas especialidades, enviou aos centros .neurológicos mais destacados do País auxiliares interessados em cursos de pós-graduação.

Nos últimos meses de vida o sombrio reverso da saúde o fez não somente retraído como também limitado na sua atividade magisterial até sua aposentadora compulsória a 8 de novembro de 1970, ocasião em que recebeu justas homenagens das figuras mais representativas da colenda Universidade Federal da Bahia, bem assim de colegas, alunos e de tantos quantos o admiravam. A 30 de abril do ano em curso, após grave enfermidade, Edistio Pondé foi roubado à afeição dos seus familiares e de todos os que o conheceram e o apreciaram. Sua existência foi uma sucessão harmoniosa de ciência e de espírito, transfundida nos ensinamentos que soube transmitir e nas belas virtudes que semeou.

Plínio Garcez de Sena

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1971
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