Analises de livros
SUMMARY OF PROGRESS IN CHILDHOOD DISORDERS OF BRAIN AND NERVOUS SYSTEM. Research Profile n° 11. Publicação do U.S. Department of Health, Education and Welfare, Public Health Service, Washington, U.S.A., 1965.
Um grande trabalho prospectivo do qual participam 14 centros médicos e o National Institute of Neurological Diseases and Blindness, está sendo realizado nos Estados Unidos da América do Norte, com o objetivo de verificar a relação entre certos distúrbios (paralisia cerebral, retardo mental, epilepsia e surdez) com causas atuantes nos períodos pré-natal, natal e pós-natal. O trabalho, iniciado em 1959 depois de 4 anos de planificação e que recebeu a denominação de "Collaborative Perinatal Research Project", inclui o estudo de 50.000 mulheres cuja gestação foi acompanhada detalhadamente e de 40.000 crianças nascidas dessas gestações e cuja evolução será seguida com exames neurológicos, psiquiátricos e psicológicos periódicos até a idade de 12 anos. A enorme massa de dados será submetida a análises estatísticas visando ao estabelecimento de possíveis correlações. Ao final do trabalho será feita comparação com pesquisas semelhantes que estão sendo realizadas no Canadá, Inglaterra, Alemanha, Polônia e Uruguai.
É dispensável salientar a importância dêste projeto. Todos os especialistas sabem como são precárias as correlações estabelecidas retrospectivamente, em geral baseadas em deficientes informes anamnésticos, levando a rotular como encefalopatias decorrentes de um fator pré-natal, natal ou pós-natal, casos em que não é possível afirmar categóriamente a relação de causa e efeito. Os resultados da pesquisa já estão sendo publicados nos "Research Profile"; o de número 11 que estamos analisando traz os primeiros resultados obtidos nos períodos pré-natal e natal. Os dados publicados nos parecem tão importantes que merecem divulgação, apesar de serem preliminares, ainda não analisados totalmente sob o ponto de vista estatístico.
Importante foi a verificação de que 2% das crianças incluídas na pesquisa apresentam alguma anormalidade, neurológica ou mental, ao fim do primeiro ano de vida; parece-nos que esta é a primeira constatação neste terreno, realizada dentro de critério rigoroso, com um grupo grande e não selecionado de pacientes. As correlações já estabelecidas permitem tirar conclusões de ordem prática que, embora não sejam inesperadas, trazem pela primeira vez uma verificação numérica digna de crédito. Foi comprovado que o pêso por ocasião do nascimento tem relação proporcionalmente inversa com a incidência de anormalidades: entre as crianças com pêso igual ou maior que 2.500 g sòmente 1,5% apresenta anormalidades antes de completar um ano de idade; esta proporção sobe para 4,5% entre as que nascem com pêso compreendido entre 2.001 e 2.500 g, para 10% entre as de pêso entre 1.000 e 2.000 g e, para 25 a 30%, entre as de pêso inferior a 1.000 g.
Embora outros fatôres (parto pélvico, incompetência do istmo cervical) possam incidir simultâneamente com a prematuridade, tornando difícil a análise de cada fator especificamente, foi possível demonstrar que a coexistência de vários dêstes fatôres aumenta não somente a mortalidade neonatal como a incidência de complicações neurológicas e mentais. Nos casos de placenta prévia, cêrca de 50% das gestantes deram à luz a prematuros, 30% dos quais natimortos ou mortos precocemente; entre os sobreviventes a incidência de complicações neurológicas foi duas vêzes maior que no grupo dos nascidos a têrmo. O estudo dos casos com incompetência do istmo cervical proporcionou interessante campo para verificação dos resultados da cirurgia corretiva: os casos não tratados resultam em 50% de prematuridade com mortalidade perinatal de 55 a 70%; nos casos tratados cirürgicamente essa mortalidade diminuiu para 25% e as anormalidades neurológicas passaram de 40% para 9%. A idade materna também é muito importante; a incidência de complicações neurológicas duplica nas mulheres mais idosas (40 anos ou mais), sendo também elevada nas mães muito jovens (15 anos ou menos). Está sendo estudada a influência das infeccões que ocorrem durante a gestação, principalmente as devidas a vírus e ao toxoplasma. A incidência de toxoplasmose congênita foi excepcionalmente alta (uma criança afetada para 1.000 a 2.000 nascidas). O exame neurológico feito no período neonatal, além de constituir parte importante da pesquisa em sua generalidade, está sendo testado como elemento de segurança para o prognóstico; o boletim APGAR está sendo submetido a teste semelhante.
O projeto chama a atenção para a necessidade de uma assistência pós-natal completa, levando em conta os riscos a que estão sujeitos os recém-nascidos neste momento crucial para sua vida e, particularmente, para seu futuro neurológico e mental. A verificação de que, a cada ano, a legião dos casos de paralisia cerebral existentes nos Estados Unidos da América do Norte, aumenta de 20.000 novos pacientes é um grito de alarme para todos os países que levam a sério a profilaxia, pois a assistência a tais pacientes é dispendiosa, sendo calculado que o custo para a vida média de cada um dêles varia entre 75.000 a 150.000 dólares.
A segunda parte do "Research Profile" nº 11 é dedicada especialmente ao relato preliminar dos estudos sôbre a paralisia cerebral. Chama-se a atenção para a enorme importância da hiperbilirrubinemia pós-natal na etiologia. Um grande número de casos está sendo estudado, inclusive sob o ponto de vista anátomo-patológico.
O Laboratório do Instituto de Fisiologia Perinatal de Pôrto Rico tem desenvolvido importantes trabalhos no campo da asfixia perinatal. A pesquisa tem sido feita com macacos criados em liberdade, sendo as macacas gestantes recolhidas a uma "maternidade" ao final da gestação e os produtos submetidos a hipoxia pré ou pós-natal de intensidade e duração variáveis. Os recém-nascidos são submetidos a exames neurológicos periódicos e, após o óbito, a exame anátomo-patológico para o estabelecimento das correlações anátomo-clinicas. Os quadros clínicos apresentados pelos macaquinhos lembram aqueles de paralisia cerebral, retardo mental, epilepsia e surdez. O quadro de paralisia cerebral mais característico observado nos macaquinhos lembra aquêle do kernicterus humano. Foi verificado também que os efeitos danosos da asfixia sôbre o cérebro não se limitam ao período em que o animal ficou privado de oxigênio, mas se prolongam em uma cadeia de eventos por vários dias. Está sendo procurado um método para interferir nesta cadeia, visando interromper e mesmo reverter os efeitos deletérios da asfixia; já existem evidências no sentido de que a administração endovenosa de glicose e soluções alcalinas reduzem os riscos de lesão sobre o cérebro, fazendo a profilaxia de certas formas de paralisia cerebral. O retardo mental também está sendo estudado sob várias faces visando a investigar a importância de numerosas causas e controlar a segurança dos meios diagnósticos e prognósticos. A maior parte dos casos de retardo mental (75 a 80%) ainda tem sua causa desconhecida. Os investigadores estão analisando fatôres maternos como: idade, doenças, tabagismo, má nutrição, infecções a vírus ou outros microorganismos, reações imunológicas, irradiações, anormalidades meta-bólicas, ação de drogas, traumas físicos, distúrbios circulatórios ou respiratórios, obviamente, grande importância está sendo atribuída a eventos relacionados com o parto, mas cada vez mais está sendo destacada a importância de fatores tóxicos ou infecciosos que atuam sôbre o recém-nascido. Com êste fim foram estudados 4.946 casos de paralisia cerebral procurando comparar as causas natais e pré-natais com as pós-natais, sendo verificado que 624 casos (14%) adquiriram a moléstia depois do nascimento, 65% antes dos 2 anos de idade e 92% antes dos 8. Um estudo de grande interêsse está sendo realizado visando a ação da deidrogenase láctica sôbre o crescimento do cérebro.
Em síntese, ao que tudo indica, estão sendo projetadas as primeiras luzes sôbre um dos mais obscuros campos da medicina, podendo-se antever a solução de alguns dos mais sérios problemas da neuropsiquiatria infantil.
Antonio B. Lefèvre
ENTWICKLUNGSDIAGNOSTIK IN DER KINDERNEUROLOGIE. Ivan Lesny. Um volume (12X19) com 151 páginas e 29 figuras. Veb Verlag Volk und Gesundheit, Berlin, 1965.
Neste livro, destinado aos clínicos, os dois primeiros capítulos são dedicados ao estudo da filo e ontogênese do sistema nervoso, tendo maior interêsse para antropologistas. O capítulo seguinte é dedicado ao desenvolvimento funcional do sistema nervoso, fazendo-o o autor de modo sucinto, objetivo e simples, salientando suas contribuições pessoais, seja na descrição de sinais ou reflexos, seja na correlação entre o desenvolvimento psicomotor da criança e os padrões eletrencefalográficos. Baseado em Marion Hines, o autor apresenta útil divisão dêste desenvolvimento, em quatro fases: holocinética, monocinética, dromocinética e craticinética. O capítulo seguinte é dedicado à sintomatologia das afecções neurológicas que ocorrem na infância, com incursões a respeito de alguns aspectos da patologia do sistema nervoso (lipidoses e gargulismo). De interêsse é o capítulo que expõe a nosologia do desenvolvimento patológico (doenças pré e perinatais, hipogenesias, disgenesias e encefalopatias). O livro é encerrado com pequenos capítulos que tratam das doenças do sistema nervoso adquiridas precocemente, do retardo e da parada do desenvolvimento do sistema nervoso central.
Aron J. Diament
CLINICAL ELECTROENCEPHALOGRAPHY. L. G. Kiloh E J. W. Osselton. Segunda edição. Um volume (22X28) com 147 páginas, 102 figuras e 2 tabelas. Butterworths & Co. Ltd., Londres, 1986.
Destinado principalmente a neurologistas e psiquiatras, conforme a intenção expressa pelos autores, êste livro aborda de maneira precisa e objetiva os principais campos de aplicação da eletrencefalografia em Neurologia, Psiquiatria e Medicina Geral. Dos 8 capítulos, 5 são dedicados, respectivamente, ao EEG nas epilepsias, nas lesões que ocupam espaço, nos traumatismos cranencefálicos e lesões vasculares, nas encefalopatias infecciosas e não infecciosas, e em Psiquiatria. O primeiro capítulo trata das técnicas de registro eletrencefalográfico e o segundo se ocupa do EEG normal; no último capítulo fazem os autores um estudo crítico sôbre o "valor e limitações da eletrencefalografia", em suas aplicações à Clínica. Quanto às limitações, fazem notar que elas não constituem, em Medicina, monopólio da Eletrencefalografia; abordam então os problemas dos "focos à distância", da disritmia paroxística bilateral síncrona secundária, dos traçados anormais em indivíduos sem sintomatologia clinica. Com respeito ao valor da Eletrencefalografia, analisam separadamente suas aplicações ao estudo das epilepsias, das lesões expansivas, dos traumatismos cranencefálicos e das infecções encefálicas, em Psiquiatria e em Medicina Geral, assim como em Medicina Forense.
O volume oferece, ao fim de cada capítulo, extensa e atualizada bibliografia. As ilustrações, em sua quase totalidade representadas por traçados eletrencefalográficos, primam pela nitidez das reproduções. Em comparação com a primeira edição, publicada em 1961, nota-se a inclusão, ou o tratamento mais detalhado, de vários assuntos, tais como síndrome HHE, hipsarritmia, espículas positivas 14 e 6 por segundo, injeção intracarotídea de amilobarbital e outros. Os diferentes tópicos são expostos em linguagem clara e concisa, e a apresentação tipográfica nada deixa a desejar. Não se trata de livro útil apenas para neurologistas, psiquiatras e clínicos. É, também, de grande interêsse para eletrencefalografistas, pois contém, de maneira condensada e precisa, grande número de conhecimentos relativos à especialidade e possibilita, graças às numerosas referências bibliográficas, estudo mais pormenorizado nos diversos setores de aplicação da Eletrencefalografia.
Adail Freitas Julião
LIVROS RECEBIDOS
Nota da Redação - A notificação dos livros recentemente recebidos não importa em compromisso da Redação da revista quanto à publicação ulterior de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na biblioteca do Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
ENTWICKLUNGSDIAGNOSTIK IN DER KINDERNEUROLOGIE. Ivan Lesny. Um volume (12X19) com 151 páginas e 29 figuras. Veb Verlag Volk und Gesundheit, Jena-Berlin, 1965. Preço: MDN 19,50.
NEURO-CHIRURGIE INFANTILE. Marc-Richard Klein. Um volume (16X24) com 456 páginas e 350 figuras. Èditions Doin-Deren .& Cie., Paris, 1966. Preço: 98 F.
HALLUCINATIONS TROUBLES NEUROTIQUES. Guy Benoit. Um volume (15X24) com 183 páginas. Fascículo VII da coleção Conferences de Psychiatric Èditions Doin-Deren & Cie., Paris, 1966. Preço: 18 F.
OTFRID FOERSTER. ARZT UND NATURFORSCHER. Klaus Joachim Zülch. Monografia (18X24) com 116 páginas e 14 figuras. Springer Verlag, Berlin-Heidelberg-New York, 1966. Preço: DM 16.
PROBLEME DER PHARMAKOPSYCHIATRIE. J. D. Achelis e Theo Scholibo. Monografia (17X24) com 119 páginas e 32 figuras. Georg Thieme Verlag, Stuttgart, 1966. Preço: DM 22.-
ON INTRAPAIR DIFFERENCES IN MALE TWINS. Pekka Tienari. Monografia (16x24) com 166 páginas e 31 tabelas. Suplemento 188 do volume 42 de Acta Psyquiatrica Scandinavica. Munksgaard, Copenhagen, 1966.
DELIRIUM TREMENS IN COPENHAGEN. Johannes Nielsen. Monografia (15X24) com 92 páginas, 25 tabelas e 18 figuras. Suplemento 187 do volume 41 de Acta Psychiatrica Scandinavica. Munksgaard, Copenhagen, 1965.
CLINICAL ELECTROENCEPHALOGRAPHY. L. G. Kilch e J. W. Osselton. Um volume (22X28) com 147 páginas, 102 figuras e 2 tabelas. Segunda edição. Butterworths & Co. Ltd., Londres, 1966. Preço: £ 2 17s. 6d.
PATHOLOGY OF THE SPINAL CORD. J. Trevor Hughes. Um volume (14X21) com 193 páginas, 60 figuras e 2 tabelas. Year Book Medical Publishers, Inc. Chicago, USA, 1966.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
14 Ago 2013 -
Data do Fascículo
Set 1966
