Estudo clínico e paraclíníco de uma criança do sexo feminino, de quatro anos de idade, que, após um processo encefalopático agudo, de etiologia não esclarecida, apresentou um quadro neuropsiquiátrico comparável ao descrito por Klüver e Bucy em primatas sub-humanos, após lobectomia temporal bilateral. O quadro clínico caracterizou-se por: hipermetamorfose, tendência oral, cegueira psíquica com conservação da acuidade visual e, aparentemente, dos campos visuais, afasia global, ausência de reação os estímulos auditivos e olfativos, não participação táctil no reconhecimento dos objetos e alterações afetivas (ausência das reações de medo e raiva, assim como do riso). A paciente foi observada no período de 7 meses, tendo apresentado somente modificações moderadas, no sentido de atenuação das manifestações. A pneumoventriculografia, a pneumocisternografia e a isotopoencefalometria objetivaram um comprometimento bilateral da região fronto-temporal. Entretanto, êstes exames não esclareceram a natureza das lesões, nem mesmo se os distúrbios decorriam apenas do processo relacionado com a moléstia atual ou se - visto tratar-se de paciente que desde os dois anos de idade vinha apresentando crises convulsivas - se correspondiam a uma disgenesia cerebral. Dada a importância de que se reveste a observação dêste caso, foram comentadas, em relação à fisiopatologia cerebral, algumas das principais manifestações psicopatológicas.