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População em situação de rua: fatores para utilização dos serviços de saúde

Personas en situación de calle: factores para la utilización de los servicios de salud

Resumo

Objetivo

Analisar a associação entre fatores sociodemográficos, econômicos, condições de vida e utilização de serviços de saúde pela população em situação de rua em Belo Horizonte.

Métodos

Estudo transversal, analítico e de abordagem quantitativa, realizado na região central de Belo Horizonte, MG, com 390 pessoas em situação de rua. A coleta de dados foi realizada aplicando um questionário entre setembro e dezembro de 2021. Os dados foram analisados usando o teste qui-quadrado de Pearson e razão de prevalência com intervalo de confiança de 95%. A regressão de Poisson foi usada para verificar as associações relacionadas à utilização dos serviços de saúde e o modelo comportamental de Andersen foi utilizado como referencial teórico.

Resultados

O público foi predominantemente do sexo masculino e de cor parda. Os participantes relataram ter procurado algum serviço de saúde e 57,5% afirmaram ter procurado o serviço de Atenção Primária à Saúde. Foram identificadas associações significativas entre participação em movimento social (RP=1,26; IC95%: 1,01-1,57), escolha própria como motivo de ir para as ruas (RP=1,32; IC95%: 1,05-1,66), boa avaliação do estado de saúde (RP=0,68; IC95%: 0,54-0,87), uso de crack (RP=0,77; IC95%: 0,60-0,98) e medicamentos (RP=1,24; IC95%: 1,03-1,49), com a utilização dos serviços de saúde.

Conclusão

O uso de crack e medicamentos, a autoavaliação positiva de saúde, a escolha própria como motivo de ida às ruas e a participação em movimentos sociais representam fatores de predisposição e de necessidade do modelo comportamental de Andersen, que foram associados à utilização dos serviços pela população de rua.

Pessoas mal alojadas; Serviços de saúde; Acessibilidade aos serviços de saúde; Condições sociais

Resumen

Objetivo

Analizar la relación entre factores sociodemográficos, económicos, condiciones de vida y utilización de servicios de salud por parte de personas en situación de calle en Belo Horizonte.

Métodos

Estudio transversal, analítico y de enfoque cuantitativo, realizado en la región central de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, con 390 personas en situación de calle. La recopilación de datos se realizó mediante la aplicación de un cuestionario entre septiembre y diciembre de 2021. Los datos fueron analizados con la prueba ji cuadrado de Pearson y razón de prevalencia con intervalo de confianza de 95 %. Se utilizó la regresión de Poisson para verificar las relaciones respecto a la utilización de los servicios de salud, y el modelo de comportamiento de Andersen se usó como marco referencial teórico.

Resultados

El público fue predominantemente de sexo masculino y de color pardo. Los participantes relataron haber buscado algún servicio de salud y el 57,5 % afirmó haber recurrido al servicio de Atención Primaria de Salud. Se identificaron relaciones significativas entre participación em movimientos sociales (RP=1,26; IC95 %: 1,01-1,57), elección propia como motivo de estar en la calle (RP=1,32; IC95 %: 1,05-1,66), buena evaluación del estado de salud (RP=0,68; IC95 %: 0,54-0,87), consumo de crack (RP=0,77; IC95 %: 0,60-0,98) y medicamentos (RP=1,24; IC95 %: 1,03-1,49), y la utilización de los servicios de salud.

Conclusión

El consumo de crack y medicamentos, la autoevaluación positiva de la salud, la elección propia como motivo de estar en la calle y la participación en movimientos sociales representan factores de predisposición y necesidad del modelo de comportamiento de Andersen, que se asociaron a la utilización de los servicios por parte de las personas en situación de calle.

Personas con mala vivienda; Servicios de salud; Accesibilidad a los servicios de salud; Condiciones sociales

Abstract

Objective

To analyze the association between sociodemographic and economic factors, living conditions and use of health services by people experiencing homelessness in Belo Horizonte.

Methods

Cross-sectional, analytical and quantitative study of 390 people experiencing homelessness carried out in the central region of Belo Horizonte, MG. Data were collected with the application of a questionnaire between September and December 2021. The Pearson’s chi-square test and a prevalence ratio with a 95% confidence interval were used in data analysis. Poisson regression was used to verify associations related to the use of health services. The Andersen’s behavioral model was used as a theoretical framework.

Results

The population was predominantly male and brown. Participants reported having sought a health service and 57.5% said they had sought Primary Health Care services. Significant associations were identified between participation in social movements (PR=1.26; 95%CI: 1.01-1. 57), own choice as a reason for going to the streets (PR=1.32; 95% CI: 1.05-1.66), good assessment of health status (PR=0.68; 95% CI: 0.54 -0.87), use of crack (PR=0.77; 95% CI: 0.60-0.98) and medication (PR=1.24; 95% CI: 1.03-1.49), with the use of health services.

Conclusion

The use of crack and medication, positive self-assessment of health, own choice as a reason for going to the streets and participation in social movements represent predisposing and need factors in Andersen’s behavioral model, which were associated with the use of services by people experiencing homelessness.

Ill-housed persons; Health services; Health services accessibility; Social conditions

Introdução

A presença de pessoas que atualmente fazem das ruas sua moradia e sustento nas metrópoles é uma realidade incontestável.11. Lira CD, Justino JM, Paiva IK, Miranda MG, Saraiva AK. O acesso da população em situação de rua é um direito negado? REME-Rev Min de Enferm; 2019; 23: e-1157. Embora a existência de pessoas em situação de rua tenha uma história extensa e distinta em quase todo mundo, esse fenômeno foi intensificado no Brasil com o êxodo rural e com o processo migratório, impulsionado pelo crescimento industrial.22. Sicari AA, Zanella AV. Pessoas em Situação de Rua no Brasil: revisão Sistemática. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2018;38(4):662-79.O crescimento do número de pessoas vivendo em situação de rua devido às crises política, econômica e social que afetam o país, somado ao advento da pandemia de COVID 19, em 2020, favorecem vivências de violência e marginalização que podem aumentar as dificuldades de acesso a serviços básicos, tais como saúde, assistência social, moradia, educação e lazer.11. Lira CD, Justino JM, Paiva IK, Miranda MG, Saraiva AK. O acesso da população em situação de rua é um direito negado? REME-Rev Min de Enferm; 2019; 23: e-1157.

No Brasil, a Política Nacional para População em Situação de Rua (PNPRS), instituída pelo Decreto Presidencial 7.053; 23/12/2009, define população em situação de rua (PSR) como um grupo heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, que têm em comum a pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e ausência de uma habitação convencional regular, tendo as ruas como espaço de moradia e sustento. A PSR é um grupo historicamente excluído e marginalizado no acesso a bens e serviços, tais como emprego, educação, moradia, transporte, lazer e saúde.11. Lira CD, Justino JM, Paiva IK, Miranda MG, Saraiva AK. O acesso da população em situação de rua é um direito negado? REME-Rev Min de Enferm; 2019; 23: e-1157.,33. Brasil. Decreto Presidencial nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009. Institui a PolíticaNacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF. Seção. 2009 Dec;1:24.

Uma das expressões dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) é a utilização dos serviços de saúde, considerando que essa utilização compreende os contatos direto (consultas médicas e hospitalizações) ou indireto (realização de exames preventivos e diagnósticos) dos serviços de saúde.44. Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica. 2004;20 (Suppl 2):190-8. Dentre os modelos de explicação da utilização de serviços de saúde existentes, o modelo teórico comportamental de Andersen incorporou dimensões e variáveis que descrevem a utilização dos serviços de saúde como um tipo de comportamento humano.44. Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica. 2004;20 (Suppl 2):190-8.,55. Pavão AL, Coeli CM. Modelos Teóricos do Uso de Serviços de Saúde: Conceitos e Revisão. Cad Saúde Colet (Rio de Janeiro). 2008;16(3):471- 82.Decorrente da sua relativa facilidade de operacionalização e por se tratar de um dos modelos mais completos é amplamente utilizado em estudos de uso de serviços de saúde nacionais e internacionais, justificando, assim, sua escolha como marco de referência neste estudo.44. Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica. 2004;20 (Suppl 2):190-8.

5. Pavão AL, Coeli CM. Modelos Teóricos do Uso de Serviços de Saúde: Conceitos e Revisão. Cad Saúde Colet (Rio de Janeiro). 2008;16(3):471- 82.

6. Pinto R da S, Matos DL, Loyola Filho AI. Características associadas ao uso de serviços odontológicos públicos pela população adulta brasileira. Cien Saúde Colet. 2012;17(2):531-44.

7. Andersen R, Newman JF. Societal and individual determinants of medical care utilization in the United States. Milbank Mem Fund Q Health Soc. 1973;51(1):95-124.
-88. Palma AB, Ferreira RC, Martins AM, Assis KB, Duarte DA. Determining factors of the non-use of dental services by 5-year-old children. Arq Odontol 51(1):14-24.

O modelo teórico comportamental de Andersen diz que o uso é dependente de determinantes individuais agrupados aos fatores de predisposição, capacitação e de necessidade.77. Andersen R, Newman JF. Societal and individual determinants of medical care utilization in the United States. Milbank Mem Fund Q Health Soc. 1973;51(1):95-124. Os fatores de predisposição se referem às características individuais que podem aumentar a chance de uso de serviços de saúde, p.ex; as variáveis sociodemográficas e familiares: idade, sexo, raça, atitudes e crenças.44. Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica. 2004;20 (Suppl 2):190-8. Os fatores de capacitação se referem à capacidade de o indivíduo procurar e receber serviços de saúde que estão associados às condições econômicas e à oferta de serviços.66. Pinto R da S, Matos DL, Loyola Filho AI. Características associadas ao uso de serviços odontológicos públicos pela população adulta brasileira. Cien Saúde Colet. 2012;17(2):531-44. Diferentemente, os fatores de necessidade estão ligados às percepções subjetivas das pessoas e ao estado de saúde.55. Pavão AL, Coeli CM. Modelos Teóricos do Uso de Serviços de Saúde: Conceitos e Revisão. Cad Saúde Colet (Rio de Janeiro). 2008;16(3):471- 82.

As barreiras existentes no processo de busca e utilização dos serviços de saúde restringem seletivamente as oportunidades aos grupos sociais para obterem o cuidado, resultando em um quadro de injustiça social.99. Pedraza DF, Nobre AM, Albuquerque FJ, Menezes TN. Acessibilidade às Unidades Básicas de Saúde da Família na perspectiva de idosos. Cien Saude Colet. 2018;23(3):923-33.As condições e o modo de vida da PSR determinam diferenciadamente o processo de saúde-doença, o acesso e a utilização dos serviços de saúde e cuidado devido às várias vulnerabilidades às quais esse grupo é suscetível.22. Sicari AA, Zanella AV. Pessoas em Situação de Rua no Brasil: revisão Sistemática. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2018;38(4):662-79. Duas revisões, uma integrativa e outra sistemática apontam a dificuldade da efetiva aproximação e inserção dos serviços de saúde no cuidado à PSR.1010. Hino P, Santos JO, Rosa AS. Pessoas que vivenciam situação de rua sob o olhar da saúde. Rev Bras Enferm. 2018;71:684-92.,1111. Omerov P, Craftman AG, Mattsson E, Klarare A. Homeless persons' experiences of health- and social care: A systematic integrative review. Health Soc Care Community. 2020;28(1):1-11.

Embora estejam identificados os fatores associados à utilização de serviços de saúde por públicos diversos e existam estudos que buscam compreender facilidades e dificuldades para a utilização destes serviços pela PSR, há uma lacuna nos estudos analíticos sobre os fatores associados à utilização de serviços por esse grupo social. Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar a associação entre fatores sociodemográficos, econômicos, condições de vida e utilização de serviços de saúde pela população em situação de rua em Belo Horizonte.

Métodos

Este estudo transversal e analítico realizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Esta região é um cenário que concentra um grande número de pessoas em situação de rua e disponibiliza serviços de saúde e apoio social especializados para a PSR, como os Centros de Referência da População em Situação de Rua (Centros POP), os Consultórios na Rua (eCR), abrigos e albergues.1212. Belo Horizonte. Rede de Apoio para Pessoas em Situação de Rua de Belo Horizonte. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. 2020. Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/prefeitura-amplia-servicos-de-acolhimento-populacao-em-situacao-de-rua
https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/p...

Participaram da presente pesquisa 390 pessoas em situação de rua que atendiam aos critérios de inclusão: apresentar idade igual ou maior que 18 anos, estar em situação de rua por um período maior que um mês e ter a regional Centro-Sul como local de convivência prioritário. Os critérios de exclusão foram: pessoas em situação de rua com déficit cognitivo ou apresentando alterações comportamentais por qualquer motivo, como questões de saúde mental ou uso de substâncias, no momento da entrevista. Para evitar desconfortos e garantir privacidade, o questionário foi aplicado em local reservado no próprio cenário de coleta, por equipe treinada. Foi garantido o anonimato dos participantes por meio da substituição de seus dados por um código.

Foi usado o cálculo amostral para populações finitas. Para o cálculo da amostra, foram considerados os parâmetros seguintes: prevalência de 50%, intervalo de confiança de 95%, precisão de 5% e tamanho da população de 4.667 indivíduos. Além disso, optou-se por acrescentar 10% para repor eventuais recusas, perdas e erros de preenchimento.

Neste estudo, as variáveis preditoras foram as características sociodemográficas, econômicas e as condições de vida e saúde. A utilização dos serviços de saúde no último mês representou o desfecho. A variável dependente foi baseada na pergunta seguinte: “No último mês, você procurou algum lugar, serviço ou profissional de saúde para atendimento relacionado à sua saúde?” A resposta a esta pergunta foi dicotomizada em sim ou não.

Foi considerado como utilização dos serviços de saúde o recebimento de atendimento referido pelo usuário nos 30 dias anteriores à entrevista. Foi considerado como não utilização dos serviços de saúde pessoas que não procuraram os referidos serviços nesse período e aqueles que procuraram, mas não receberam atendimento.

A coleta de dados ocorreu entre setembro e dezembro de 2021 por meio de um questionário elaborado pelos pesquisadores. Os participantes foram abordados nas ruas, em seus locais de vivência e nos centros de referência, sendo informados sobre os objetivos da pesquisa e garantidos de sua privacidade. O questionário foi constituído por 52 questões e dividido em quatro blocos: (I) Dados Sociodemográficos; (II) Dados sobre a trajetória da rua; (III) Dados sobre o estado de saúde, uso de álcool, drogas e tabaco e (IV) Dados sobre a utilização de serviços de saúde.

Os dados foram analisados estatisticamente usando o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®, v.20.0). Análises descritivas com base na distribuição proporcional foram realizadas para as características dos blocos I-IV.

Para avaliar os fatores associados, foram estimados a Razão de Prevalência (RP) e os Intervalos de Confiança (IC 95%) para as variáveis independentes. As diferenças estatísticas foram avaliadas usando o teste qui-quadrado de Pearson usando o nível de significância de 5% (p<0,05). Para desenvolver o modelo de Regressão Multivariada de Poisson com um estimador robusto, foram selecionadas as variáveis com p-valor<0,20, respeitando a mesma resposta de referência em cada variável. Os valores de p foram obtidos pelo teste de Wald.

O estudo foi submetido à apreciação e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (parecer 4.576.471/ CAAE 42358921.9.0000.5149). Foram respeitados todos os preceitos éticos estabelecidos nas Resoluções 466 (12/12/2012) e 510 (07/04/2016).

Resultados

A média de idade dos 390 participantes foi 38,8 (DP: 13,2) anos, a maioria era do sexo masculino (85,6%), pardos autodeclarados (41,8%), heterossexuais (92,1%), e sem renda fixa mensal (58,0%). Entre aqueles que declararam sua renda, a média mensal foi de R$364 (DP: 628). A maioria, (196; 50,3%) negou receber benefícios de transferência de renda, afirmou frequentar alguma unidade de acolhimento (337; 86,4%) e relatou não participar de movimento social (346; 88,7%). Entre as razões para estar na rua, as mais citadas foram as condições financeiras. A maioria dos indivíduos autoavaliou seu estado de saúde como bom (155; 39,7%) e afirmou apresentar alguma doença. A principal comorbidade relatada foi dependência química/álcool (39,3%), seguida por problema mental (30%). Houve relato de uso de drogas ilícitas e medicamentos. A procura por serviços de saúde nos últimos 30 dias foi reportada por 174 (60,0%) indivíduos, sendo devida a doença, acidentes, lesões e/ou imunização. O centro de saúde foi o serviço usualmente procurado pela PSR (56,6%) e também o mais usado (57,0 %) no último mês (Tabela 1).

Tabela 1
Características da população em situação de rua

Nas análises bivariadas, não foi identificada diferença estatisticamente significativa entre variáveis sociodemográficas e econômicas na utilização dos serviços de saúde. A tabela 2 mostra as variáveis de condições de vida e saúde que apresentaram diferença quando comparadas com a utilização de serviços de saúde (p-value<0,20).

Tabela 2
Análise bivariada dos fatores relacionados à utilização dos serviços de saúde nos 30 dias anteriores à pesquisa

O modelo de Poisson foi usado só com as variáveis com significância ou p-valor<0,20, respeitando a mesma resposta de referência em cada variável. Assim, só quatro variáveis se mostraram associadas à utilização dos serviços de saúde pela PSR (Tabela 3).

Tabela 3
Modelo final de regressão de Poisson para utilização dos serviços de saúde nos 30 dias anteriores à pesquisa

Discussão

Observou-se associação estatisticamente significativa entre as condições de vida e a utilização dos serviços de saúde pela PSR. Por outro lado, não se observou associação do desfecho aos fatores sociodemográficos e econômicos. As condições de vida identificadas como fatores associados à utilização dos serviços de saúde pela PSR foram a autoavaliação positiva do estado de saúde e uso de medicamentos e crack, esses considerados como fatores de necessidade no modelo comportamental de Andersen; a escolha própria como motivo que levou às ruas e a participação em movimento social, esses últimos, considerados fatores de predisposição. Os fatores de capacitação não apresentaram associação com a utilização dos serviços de saúde.

Apesar da condição de vida adversa nas ruas, a maior parte dos participantes avaliou positivamente seu estado de saúde e essa avaliação foi associada à maior utilização dos serviços de saúde. Isto pode ser explicado por uma concepção restrita de saúde, associada à capacidade de estar vivo e resistir ao cotidiano de dificuldades enfrentadas nas ruas, naturalizando a vulnerabilidade. Por outro lado, a doença é associada ao estado de debilidade, que compromete a realização de tarefas simples, o trabalho e a própria subsistência.

A saúde pode ser concebida em uma perspectiva ampla, resultando de condições de habitação, alimentação, educação, renda, emprego, lazer e acesso a bens e serviços, isto é, fatores que extrapolam o setor saúde e envolvem aspectos sociais e econômicos.1313. Vargas ER, Macerata I. Contribuições das equipes de Consultório na Rua para o cuidado e a gestão da atenção básica. Rev Panam Salud Publica. 2018;42:170. As pessoas em situação de rua têm percebido sua saúde além do aspecto biológico, contemplando a qualidade de vida.1313. Vargas ER, Macerata I. Contribuições das equipes de Consultório na Rua para o cuidado e a gestão da atenção básica. Rev Panam Salud Publica. 2018;42:170.

14. Melo LJ, Aragão FB, Cunha JH, Carneiro TG, Fiorati RC. Acessibilidade e qualidade de vida de pessoas em situação de rua e a atenção primária. REFACS. 2022;10(1):49-56.
-1515. Valle FA, Farah BF. A saúde de quem está em situação de rua: (in)visibilidades no acesso ao Sistema Único de Saúde. Physis. 2020;30(2):e300226. Assim, foi sugerido abordar a saúde do público na perspectiva de compreensão do processo saúde-doença e utilização de serviços para enfrentar problemas.1515. Valle FA, Farah BF. A saúde de quem está em situação de rua: (in)visibilidades no acesso ao Sistema Único de Saúde. Physis. 2020;30(2):e300226.,1616. Vale AR, Vecchia MD. O cuidado à saúde de pessoas em situação de rua: possibilidades e desafios. Estud Psicol. 2019;24(1):42-51. Abordar os significados de saúde da PSR é dar um espaço de vocalização uma vez que o público tende a permanecer em condição de invisibilidade, destituídos da condição de cidadãos.1717. Prado MA, Gonçalves M, Silva SS, Oliveira PS, Santos KD, Fortuna CM. Homeless people: health aspects and experiences with health services. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e20190200.,1818. Cervieri NB, Uliana CH, Aratani N, Fiorin PM, Giacon BC. Access to health services from the perspective of homeless people. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2019;15(4):1-8.

Em Los Angeles, uma investigação com PSR mostrou que a maioria dos entrevistados avaliou sua saúde geral como “boa” ou “ótima”, embora eles tenham utilizado os serviços de saúde mais vezes.1919. Loubière S, Tinland A, Taylor O, Loundou A, Girard V, Boyer L, et al. Determinants of healthcare use by homeless people with schizophrenia or bipolar disorder: results from the French Housing First Study. Public Health. 2020;185:224-31. Em Juiz de Fora, MG, também predominou o número de entrevistados que autoavaliaram sua saúde como “boa”.1515. Valle FA, Farah BF. A saúde de quem está em situação de rua: (in)visibilidades no acesso ao Sistema Único de Saúde. Physis. 2020;30(2):e300226.Uma investigação conduzida em Ribeirão Preto, SP, identificou que 20% da PSR avaliou sua condição de saúde como “boa” ou “ótima”. Porém, seus autores afirmaram que esses indivíduos reconheceram como saúde só o aspecto biológico de “ausência de doença”; só 13% dos entrevistados citaram a saúde além da não-doença, reconhecendo suas condições de moradia, alimentação e lazer como más condições de saúde.1414. Melo LJ, Aragão FB, Cunha JH, Carneiro TG, Fiorati RC. Acessibilidade e qualidade de vida de pessoas em situação de rua e a atenção primária. REFACS. 2022;10(1):49-56.

A maioria da PSR é caracterizada por procurar os serviços de saúde devido à agudização de doenças e/ou comorbidades que prejudicam a vivência na rua, não para seu acompanhamento.11. Lira CD, Justino JM, Paiva IK, Miranda MG, Saraiva AK. O acesso da população em situação de rua é um direito negado? REME-Rev Min de Enferm; 2019; 23: e-1157.,1818. Cervieri NB, Uliana CH, Aratani N, Fiorin PM, Giacon BC. Access to health services from the perspective of homeless people. SMAD Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. 2019;15(4):1-8.

19. Loubière S, Tinland A, Taylor O, Loundou A, Girard V, Boyer L, et al. Determinants of healthcare use by homeless people with schizophrenia or bipolar disorder: results from the French Housing First Study. Public Health. 2020;185:224-31.

20. Oliveira MA, Boska GA, Oliveira MA, Barbosa GC. Access to health care for people experiencing homelessness on Avenida Paulista: barriers and perceptions. Rev Esc Enferm USP. 2021;55:e03744.
- 2121. Tucker JS, D'Amico EJ, Pedersen ER, Garvey R, Rodriguez A, Klein DJ. Behavioral health and service usage during the COVID-19 Pandemic among emerging adults currently or recently experiencing homelessness. J Adolesc Health. 2020;67(4):603-5. Entretanto, é possível identificar uma transição na busca por atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS) pela PSR.2222. Barata RB, Carneiro N Junior. Ribeiro MC, Silveira C. Desigualdade social em saúde na população em situação de rua na cidade de São Paulo. Saude Soc. 2015;24(Supl 1):219-32.

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24. Hungaro AA, Gavioli A, Christóphoro R, Marangoni SR, Altrão RF, Rodrigues AL, et al. Homeless population: characterization and contextualization by census research. Rev Bras Enferm. 2020;73(5):e20190236.
-2525. Verlinde E, Verdée T, Van de Walle M, Art B, De Maeseneer J, Willems S. Unique health care utilization patterns in a homeless population in Ghent. BMC Health Serv Res. 2010;10(1):242.A APS deve assegurar o acesso e a utilização de seus serviços pela PSR por meio de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento, reabilitação, redução de danos, em articulação com diferentes setores da rede na perspectiva de integralizar o cuidado.2222. Barata RB, Carneiro N Junior. Ribeiro MC, Silveira C. Desigualdade social em saúde na população em situação de rua na cidade de São Paulo. Saude Soc. 2015;24(Supl 1):219-32.

23. Belo Horizonte. Terceiro Censo de População em Situação de Rua e Migrantes de Belo Horizonte, 2014]. Belo Horizonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/Centro Regional de Referência em Drogas; 2014.

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-2525. Verlinde E, Verdée T, Van de Walle M, Art B, De Maeseneer J, Willems S. Unique health care utilization patterns in a homeless population in Ghent. BMC Health Serv Res. 2010;10(1):242. Com o aumento na prevalência de doenças crônicas no país (especialmente hipertensão arterial e diabetes) deve-se considerar também a dinâmica epidemiológica como resultado do envelhecimento populacional da PSR nos últimos anos.1717. Prado MA, Gonçalves M, Silva SS, Oliveira PS, Santos KD, Fortuna CM. Homeless people: health aspects and experiences with health services. Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e20190200. Apesar da procura e oferta de serviços serem fatores de capacitação, de acordo com o modelo teórico de Andersen, descritos nesse estudo, esses não apresentaram associação a utilização dos serviços de saúde pela PSR.

Paralelamente, foi observado um aumento na utilização de medicamentos necessários ao controle e prevenção de problemas relacionados à saúde desses indivíduos.2626. Costa CM, Silveira MR, Acurcio FA, Guerra AA, Guibu IA, Costa KS, et al. Use of medicines by patients of the primary health care of the Brazilian Unified Health System. Rev Saude Publica. 2017;51 suppl 2:18s. O acompanhamento do cuidado de condições crônicas de saúde e a disponibilização de medicamentos devem ser desenvolvidos por serviços de atenção primária. Esta investigação revelou que o uso de medicamentos esteve associado à utilização dos serviços de saúde. Em Paris, em um estudo com PSR, foi apontado maior utilização dos serviços de saúde por pessoas em situação de rua em tratamento de doenças psiquiátricas e afirmado ocorrer uma associação significativa entre o uso de medicamentos e a utilização dos serviços de saúde.2727. Dauriac-Le Masson V, Mercuel A, Guedj MJ, Douay C, Chauvin P, Laporte A. Mental Healthcare Utilization among Homeless People in the Greater Paris Area. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(21):8144.

Além do uso de medicamento, o uso de crack foi associado à utilização dos serviços de saúde. Uma realidade semelhante foi observada no Reino Unido, onde a PSR usuária de drogas recorreu mais vezes aos serviços de saúde.2828. Gunner E, Chandan SK, Marwick S, Saunders K, Burwood S, Yahyouche A, et al. Provision and accessibility of primary healthcare services for people who are homeless: a qualitative study of patient perspectives in the UK. Br J Gen Pract. 2019;69(685):e526-36. O consumo prejudicial de álcool e outras drogas por pessoas em situação de rua promove alívio físico e psíquico, tornando-se frequentemente a única possibilidade de suportar a vulnerabilidade inerente às suas vidas.1515. Valle FA, Farah BF. A saúde de quem está em situação de rua: (in)visibilidades no acesso ao Sistema Único de Saúde. Physis. 2020;30(2):e300226.,2929. Rodrigues MLAC, Barbosa, LNF, Beltrão MJB, Cardoso YF Jordán APW, Leite BA. Perfil sociodemográfico e epidemiológico da população em situação de rua atendida pelas equipes do consultório na rua do Recife. Recife: Faculdade Pernambucana de Saúde; 2019. Como consequência desse consumo, há maior suscetibilidade a enfermidades, dependência de substâncias psicoativas e continuidade dessas pessoas na rua, justificando o processo “crônico” de viver na rua e a procura por serviços de saúde.2929. Rodrigues MLAC, Barbosa, LNF, Beltrão MJB, Cardoso YF Jordán APW, Leite BA. Perfil sociodemográfico e epidemiológico da população em situação de rua atendida pelas equipes do consultório na rua do Recife. Recife: Faculdade Pernambucana de Saúde; 2019.

Reconhecendo-se que o uso de medicamentos e de crack são fatores de necessidades, de acordo com o modelo teórico de Andersen, e valendo-se dos princípios da integralidade e equidade do SUS, faz-se necessário atender as subjetividades do público. Assim, devem ser articuladas ações de atenção a pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas considerando a complexidade desse uso. A busca de redução de danos situa o uso de drogas como uma questão de saúde pública, requerendo a elaboração de estratégias de cuidado mais próximas da realidade, junto com as pessoas que fazem uso prejudicial de drogas psicoativas. Ao adotar uma postura pragmática e ampliada, a busca da redução de danos requer noções de cuidado e autocuidado contextualizadas e compartilhadas, valorizando a autonomia das pessoas que usam drogas.3030. Hino P, Fornari LF, Egry EY, Santana CL, Oliveira E. Indicadores de boas práticas em saúde para a população de rua: revisão de escopo. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE00476.,3131. Souza SE, Mesquita CF, Sousa FS. Abordagem na rua às pessoas usuárias de substâncias psicoativas: um relato de experiência. Saúde Debate. 2017;41(112):331-9.

É primordial, portanto, uma interlocução entre saúde, serviço social e usuários. Além disso, é necessário o planejamento terapêutico adequado, para proporcionar condições básicas e autonomia visando a reabilitação e a integralidade do cuidado.

A escolha própria como principal motivo que levou à rua foi associada à maior utilização dos serviços de saúde. Consideramos que tal escolha é permeada por questões familiares, sociais e culturais que influem na decisão individual. Neste estudo, as questões de ordem financeira foram relatadas como as principais razões para estar em situação de rua. A literatura também aponta como motivos o uso de álcool e outras drogas, o rompimento de vínculos familiares e desemprego.22. Sicari AA, Zanella AV. Pessoas em Situação de Rua no Brasil: revisão Sistemática. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2018;38(4):662-79.,1515. Valle FA, Farah BF. A saúde de quem está em situação de rua: (in)visibilidades no acesso ao Sistema Único de Saúde. Physis. 2020;30(2):e300226.,1919. Loubière S, Tinland A, Taylor O, Loundou A, Girard V, Boyer L, et al. Determinants of healthcare use by homeless people with schizophrenia or bipolar disorder: results from the French Housing First Study. Public Health. 2020;185:224-31.,2121. Tucker JS, D'Amico EJ, Pedersen ER, Garvey R, Rodriguez A, Klein DJ. Behavioral health and service usage during the COVID-19 Pandemic among emerging adults currently or recently experiencing homelessness. J Adolesc Health. 2020;67(4):603-5.

A presença de indivíduos que foram para as ruas motivados por escolha própria, bem como a possibilidade de exercer algum controle social por meio de movimentos sociais, caracterizam-se como fatores de predisposição no modelo teórico de Andersen, sendo características individuais que promovem um melhor entendimento de sua trajetória na rede assistencial, potencializando, assim, a utilização dos serviços de saúde. A participação em movimentos sociais esteve associada a maior utilização dos serviços de saúde pela PSR. Esta perspectiva concorda com um estudo realizado no Canadá, o qual apontou que a PSR que utilizava unidades de acolhimento e estavam inseridas em movimentos sociais obtinham melhor acesso para utilizar os serviços de saúde.3232. Ramsay N, Hossain R, Moore M, Milo M, Brown A. Health Care While Homeless: Barriers, Facilitators, and the Lived Experiences of Homeless Individuals Accessing Health Care in a Canadian Regional Municipality. Qual Health Res. 2019;29(13):1839-49.Porém, é importante destacar que os estudos internacionais precisam ser comparados com ressalvas, considerando que, além de se tratar de diferentes sistemas de saúde, o contexto de vida de uma pessoa em situação de rua nesses países pode ser bastante diferente daquele existente no Brasil.

A organização política da PSR é fundamental para provocar o Estado a elaborar políticas públicas referenciadas a essa população.3333. Amorim AK, Nobre MT. Pesquisa-intervenção, políticas públicas e movimentos sociais: uma experiência junto à população em situação de rua. Rev Psicol Política. 2018;18(42):337-52. A criação da Política Nacional para População em Situação de Rua, Decreto Presidencial (7.053; 23/12/2009), ocasionou e ocasiona o fortalecimento político e organizativo das pessoas em situação de rua, pois estas passaram a se reconhecer como pessoas de direitos e se aproximaram do movimento social, buscando melhores condições de vida e acesso aos serviços assistenciais.22. Sicari AA, Zanella AV. Pessoas em Situação de Rua no Brasil: revisão Sistemática. Psicologia (Cons Fed Psicol). 2018;38(4):662-79.

Portanto, sugerimos uma articulação em rede, incluindo as organizações técnico-administrativas, socioassistenciais e de saúde, para incorporar segmentos populacionais vulneráveis tais como a PSR. Uma percepção ampliada de saúde pressupõe que a busca por serviços de saúde não ocorre necessariamente por motivo de doença, o que pode ter contribuído para a busca predominante da APS observada neste estudo.

Como limitações deste estudo, destacamos a característica transversal do estudo, a ausência de estudos nacionais sobre a utilização dos serviços de saúde por esse grupo social, dificultando comparações e a delimitação regional Centro-Sul; em outras áreas da cidade (inclusive em áreas mais periféricas), a realidade pode ser diferente daquela aqui apresentada. A maioria dos participantes utilizava os serviços de saúde e de assistência social; a realidade de grande parte da PSR sem acesso a esses serviços ainda é desconhecida e possivelmente mais complexa.

Conclusão

No presente estudo, foi observada associação entre as condições de vida e utilização dos serviços de saúde pela PSR, essa associação não foi identificada entre os fatores sociodemográficos e econômicos. O uso de crack e medicamentos, a autoavaliação positiva de saúde, a escolha própria como motivo de ida às ruas e a participação em movimentos sociais representam fatores de predisposição e de necessidade do modelo comportamental de Andersen, associados a utilização dos serviços pela população de rua. A procura e a utilização da Atenção Primária à Saúde foram predominantes. O conhecimento dos fatores associados à utilização dos serviços de saúde pela população em situação de rua pode subsidiar reflexões entre os profissionais de saúde e de outras áreas, propiciando ações que extrapolam a saúde, favorecendo a intersetorialidade, o cuidado integral e o engajamento do público em atividades que contribuem para formação de sujeitos sociais.

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Editado por

Editor Associado:

Rafaela Gessner Lourenço (https://orcid.org/0000-0002-3855-0003) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    16 Fev 2023
  • Aceito
    13 Maio 2024
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