Open-access Estratégias de enfrentamento durante a pandemia da COVID-19 em uma instituição de ensino superior de Enfermagem

Ocenário imposto pela pandemia da COVID-19 exigiu que as universidades públicas brasileiras organizassem seus processos de trabalho para equacionar os problemas ou as situações críticas e emergenciais desvelados por essa emergência sanitária mundial. A Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE-Unifesp), no auge dos seus 81 anos de fundação, sentiu-se extremamente comprometida com essa realidade e buscou adotar estratégias que respondessem eficazmente às demandas de ensino, pesquisa, extensão, gestão e assistência.

Assim como no Brasil, em outros países do mundo(1) os estudantes de Enfermagem foram suspensos das práticas assistenciais hospitalares e de extensão comunitária e, a partir dessa decisão, numerosas ações foram compartilhadas em relação à formação profissional dos estudantes e às atividades que seriam realizadas para não comprometer o currículo acadêmico.

Nacionalmente, no ensino, inúmeras atividades foram planejadas para manter o vínculo com os estudantes, mesmo a distância, bem como para repensar o currículo dos cursos, de modo que garantissem o conhecimento e o compromisso social necessários para a formação de profissionais qualificados para o Sistema Único de Saúde (SUS). A EPE, seguindo orientações da Pró-Reitoria de Graduação da Unifesp, adotou o regime de atividades domiciliares especiais como estratégia para assegurar o cumprimento das atividades teóricas. Para os estudantes do último ano do curso de graduação, optou-se pelo reinício das atividades práticas. Embora o risco de adquirir a COVID-19 durante a prática assistencial seja considerável,(2) estudantes no mundo se preocupam com a extensão das consequências da pandemia e buscam propor ações que minimizem impactos negativos em suas formações.(3) Dessa forma, o compromisso social da EPE em formar enfermeiros para o SUS num momento de tamanha emergência sanitária fez-nos planejar esse retorno, garantindo a máxima segurança possível.

Sobre as atividades de pesquisa, por incentivo público, foram destinados para o país recursos que contribuem com novos métodos de diagnóstico, tratamento e interrupção da transmissão relacionados ao combate da COVID-19. A iniciativa engloba pesquisas relacionadas à história natural da doença; o desenvolvimento e a avaliação de testes, de alternativas terapêuticas e de vacinas; a avaliação da atenção à saúde nos três níveis de complexidade diante da epidemia; o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) nas ações de prevenção, controle e manejo; a adesão e o cumprimento das medidas de prevenção e controle; a gestão de serviços na pandemia, entre outros temas relacionados à doença. As linhas de pesquisa foram definidas a partir de diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), alinhadas às prioridades nacionais em discussão entre o Ministério da Saúde e especialistas de todo o país, considerando a necessidade de resposta rápida e investimentos em estudos mais promissores.(4) Nossos docentes e pesquisadores responderam a essa demanda e submeteram diversos projetos pleiteando subsídios para a realização dos seus estudos, tendo como compromisso responder com ciência a essa pandemia ( Quadro 1 ).

Quadro 1
Projetos de pesquisa elaborados durante a pandemia na EPE-Unifesp

Na extensão, as atividades de interação entre a comunidade e a universidade foram redirecionadas de modo que a fusão do conhecimento popular com o científico garantisse o intercâmbio de novos conhecimentos e ampliasse o envolvimento da sociedade com o combate relacionado à transmissibilidade do coronavírus e ações de promoção da saúde.(5) Estudantes e docentes participaram de campanhas de imunização para a sociedade, bem como desenvolveram, por meio de recursos tecnológicos, estruturas que permitissem maior aproximação dos indivíduos com a sociedade, visando dirimir prejuízos psicossomáticos reportados pela população durante o período de isolamento social.

A EPE, diante do cenário apresentado, mobilizou-se e, no cumprimento da sua função gerencial, implementou, em parceria com as áreas de liderança da Unifesp (Pró-Reitoria de Administração e Gestão de Pessoas), o processo de trabalho remoto para os seus Servidores Docentes e Técnicos Administrativos. Foram realizadas escalas de trabalho que permitiram flexibilizar a linha operacional, tática e estratégica da instituição. Docentes e Técnicos Administrativos em Educação que não faziam parte do grupo de risco (profissionais acima de 60 anos, hipertensos, asmáticos, diabéticos e fumantes) participaram das atividades extensionistas programadas, bem como do estágio curricular supervisionado para os estudantes da 4ª série do curso de Graduação de Bacharelado em Enfermagem e com atividades domiciliares especiais com as três outras séries. As atividades acadêmicas da pós-graduação stricto sensu foram mantidas de forma remota. A equipe operacional foi dividida de modo que propiciou que todas as atividades administrativas ocorressem normalmente. Importantes medidas de segurança sanitária, físicas e eletrônicas foram inclusas como procedimento operacional padrão em meio à pandemia. Fisicamente, a administração da EPE aderiu ao uso obrigatório de máscara nas dependências da unidade universitária e foram instaladas barreiras de proteção na recepção e faixas de sinalização que pedem o distanciamento de 1,5 m de indivíduo para indivíduo. Dispensers de álcool em gel foram instalados e houve aumento considerável relacionado ao número de vezes em que as áreas comuns foram higienizadas, bem como passou-se a mensurar a temperatura individual de quem utiliza as dependências da escola. É fato que a diretoria da EPE-Unifesp enfrentou inúmeros desafios na condução dos seus processos de trabalho, todavia os métodos emergenciais chamados de “gestão de crise” adotados permitiram que, minimamente, a estrutura organizacional fosse mantida com o objetivo de assegurar a condução dos processos de trabalho.

Na assistência, medidas importantes foram potencializadas para garantir a segurança dos profissionais e estudantes e ampliar a dinâmica alinhada ao relacionamento e à integração das equipes. O que já era uma constância na prática profissional e estudantil tornou-se indispensável e fundamental para o exercício do cuidar. Os envolvidos nas atividades do Hospital São Paulo/Hospital Universitário (HSP/HU) e ambulatórios, vinculados à EPE-Unifesp, realizaram treinamentos presenciais e a distância, que tiveram como objetivo capacitar os enfermeiros e técnicos de enfermagem contratados pelo HSP/HU da Unifesp emergencialmente para assistir os pacientes com COVID-19.

A EPE-Unifesp, a partir do cenário apresentado, implementou inúmeras iniciativas de modo que se viabilizassem as atividades de ensino, pesquisa, extensão, gestão e assistência já programadas. Para orientar a comunidade estudantil, as famílias dos estudantes e dos colaboradores, os grupos interligados e os profissionais da saúde, em especial os da área de enfermagem, os departamentos que compõem a EPE-Unifesp construíram documentos digitais (fluxogramas, histórias em quadrinhos, cartazes educativos, entre outros), mobilizaram os estudantes para a realização da campanha de vacinação contra o vírus influenza (H1N1 e H2N3) para idosos, pessoas em condições especiais e militares, estimularam e implementaram treinamentos específicos para os profissionais que se mantiveram ativos durante a pandemia em suas atividades assistenciais, em especial aos auxiliares, técnicos e enfermeiros do HU ligado à EPE-Unifesp. Além disso, fomentaram importantes pesquisas em parcerias com instituições governamentais, sob incentivo público, para contribuir com o desenvolvimento de novas descobertas durante o período de isolamento social e o pico da transmissão do vírus SARS-CoV-2. Cabe ressaltar a campanha realizada acerca da doação de EPI, bem como o fornecimento de utensílios pelo HU/HSP-Unifesp.

A pandemia de COVID-19 tem ressaltado de maneira comovente o papel essencial que enfermeiras, enfermeiros e outros profissionais de saúde desempenham para proteger a saúde das pessoas e salvar vidas. Um novo relatório da OMS, intitulado “ The State of the World's Nursing 2020 ” (O Estado da Enfermagem no Mundo 2020), pede mais investimentos em educação, condições de trabalho e liderança para profissionais de enfermagem, fortalecendo suas contribuições aos sistemas de saúde.(6) Nesse contexto, muitas atividades ainda estão sendo previstas, mas com a certeza de que a contribuição social e o aprendizado adquirido no transcurso dessa pandemia serão permanentes e imprimirão um novo modo de ser e fazer enfermagem na EPE.

Agradecimentos

Agradecemos ao Especialista Bruno Henrique Sena Ferreira pela contribuição intelectual para a realização do editorial.

Referências

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020
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