Resumo
Objetivo
Analisar os fatores associados à hesitação vacinal entre os profissionais de saúde de um hospital universitário.
Métodos
Estudo transversal, descritivo e analítico, desenvolvido em um hospital universitário federal de Pernambuco, entre os meses de junho e novembro de 2022, com trabalhadores de saúde da instituição com formação de nível médio e superior. Foram analisadas as variáveis preditoras aspectos socioeconômicos, ocupacionais, histórico de reação vacinal, medos relativos às vacinas e aspectos das dimensões do modelo dos 3Cs (confiança, conveniência e complacência) com o desfecho hesitação vacinal, definido como atraso ou recusa da vacinação, apesar da disponibilidade desse serviço. Utilizou-se a regressão logística binária, segundo o método stepwise backward, para verificar as associações (p < 0,05).
Resultados
Participaram 283 trabalhadores de saúde, sendo estatisticamente associados à hesitação vacinal o medo de eventos supostamente atribuíveis à vacinação ou imunização (OR: 2,047; IC:1,165-3,595; p = 0,013), ter acontecido algo que os fizesse desacreditar na eficácia das vacinas (OR: 2,964; IC: 1,265-6,944; p = 0,012) e disponibilidade do imunobiológico na unidade de saúde no momento da atualização do cartão (OR: 0,314; IC: 0,136-0,723; p = 0,006).
Conclusão
Observou-se que o medo de eventos supostamente atribuíveis à vacinação ou imunização aumenta em duas vezes a chance de hesitação vacinal; que ter acontecido algo que fizesse desacreditar na eficácia das vacinas eleva em quase três vezes; e que a disponibilidade do imunobiológico na unidade de saúde no momento da atualização do cartão diminui a ocorrência desse fenômeno.
Vacinação; Pessoal de saúde; Hesitação vacinal; Hospitais universitários
Resumen
Objetivo
Analizar los factores asociados a la indecisión a las vacunas entre profesionales de la salud de un hospital universitario.
Métodos
Estudio transversal, descriptivo y analítico, llevado a cabo en un hospital universitario federal del estado de Pernambuco, entre los meses de junio y noviembre de 2022, con trabajadores de la salud de la institución, cuya formación era de nivel medio y superior. Se analizaron las variables predictoras aspectos socioeconómicos, ocupacionales, antecedentes de reacciones a vacunas, miedos relacionados con las vacunas y aspectos de las dimensiones del modelo de las 3C (confianza, conveniencia y complacencia) con el resultado indecisión a las vacunas, definido como retraso o rechazo a la vacunación, a pesar de la disponibilidad del servicio. Se utilizó la regresión logística binaria, de acuerdo con el método stepwise backward, para verificar las relaciones (p<0,05).
Resultados
Participaron 283 trabajadores de la salud. La indecisión a las vacunas se relacionó estadísticamente con el miedo de eventos supuestamente atribuibles a la vacunación o inmunización (OR: 2,047; IC:1,165-3,595; p = 0,013), con algún hecho que los hiciera desacreditar de la eficacia de las vacunas (OR: 2,964; IC: 1,265-6,944; p = 0,012) y con la disponibilidad del inmunobiológico en la unidad de salud en el momento da la actualización del carnet (OR: 0,314; IC: 0,136-0,723; p = 0,006).
Conclusión
Se observó que el miedo de eventos supuestamente atribuibles a la vacunación o inmunización aumenta dos veces la probabilidad de indecisión a las vacunas, que la existencia de algún hecho que los hiciera desacreditar de la eficacia de las vacunas eleva casi tres veces la indecisión y que la disponibilidad del inmunobiológico en la unidad de salud en el momento da la actualización del carnet disminuye la incidencia de este fenómeno.
Vacinación; Personal de salud; Vacilación a la vacunación; Hospitales universitarios
Abstract
Objective
To analyze the factors associated with vaccine hesitancy among healthcare professionals at a university hospital.
Methods
This is a cross-sectional, descriptive and analytical study, developed at a federal university hospital in Pernambuco, between June and November 2022, with institution healthcare workers with high school and higher education. The predictor variables socioeconomic and occupational aspects, history of vaccine reactions, fears related to vaccines and aspects of 3Cs model (confidence, compliance, convenience) dimensions with the outcome vaccine hesitancy, defined as delay or refusal of vaccination, despite the availability of this service, were analyzed. Binary logistic regression was used, according to the stepwise backward method, to verify associations (p < 0.05).
Results
A total of 283 healthcare workers participated, with vaccine hesitancy being statistically associated with fear of Events Supposedly Attributable to Vaccination or Immunization (OR: 2.047; CI: 1.165-3.595; p = 0.013), having something happen that made them disbelieve in vaccine effectiveness (OR: 2.964; CI: 1.265-6.944; p = 0.012) and immunobiological agent availability in the health unit to update the card (OR: 0.314; CI: 0.136-0.723; p = 0.006).
Conclusion
It was observed that: fear of Events Supposedly Attributable to Vaccination or Immunization increases the chance of vaccine hesitancy by two times; the fact that something happened that led to disbelief in vaccine effectiveness increases it by almost three times; and immunobiological agent availability in the health unit to update the card reduces the occurrence of this phenomenon.
Vacination; Health personnel; Vaccination hesitancy; Hospitals university
Introdução
Em 2023, o Programa Nacional de Imunização (PNI) completou 50 anos e, ao longo desse tempo, consolidou-se como uma importante estratégia de saúde pública no Brasil, reconhecido por sua capilaridade em todo o território nacional e alinhamento aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O PNI foi responsável pela erradicação da poliomielite, eliminação da rubéola, da síndrome da rubéola congênita e do tétano neonatal, além de minorar a ocorrência de outras doenças transmissíveis, como difteria, tétano e coqueluche.(11. Domingues CMAS, Maranhão AGK, Teixeira AM, Fantinato FFS, Domingues RAS. [The Brazilian National Immunization Program: 46 years of achievements and challenges]. Cad Saúde Pública. 2020;36(2)e00222919:1-17. Portuguese.)
A despeito dos avanços, desde 2016, o Brasil tem registrado baixos índices de cobertura vacinal (ICV), assemelhando-se àqueles encontrados na década de 1980, o que tem levado ao recrudescimento e iminente risco de reintrodução de doenças já controladas ou erradicadas,(11. Domingues CMAS, Maranhão AGK, Teixeira AM, Fantinato FFS, Domingues RAS. [The Brazilian National Immunization Program: 46 years of achievements and challenges]. Cad Saúde Pública. 2020;36(2)e00222919:1-17. Portuguese.
2. Sato APS, Boing AC, Almeida RLF de, Xavier MO, Moreira R da S, Martinez EZ, et al. [Measles vaccination in Brazil: where have we been and where are we headed?]. Ciênc saúde coletiva. 2023;28(2):351-62. Portuguese.-33. Domingues CMAS, Teixeira AMDS, Moraes JC. [Vaccination coverage in children in the period before and during the COVID-19 pandemic in Brazil: a time series analysis and literature review]. J Pediatr (Rio J). 2023;99(1):12-21. English.) fato agravado pela pandemia de COVID-19.(44. Procianoy GS, Rossini Junior F, Lied AF, Jung LFPP, Souza MCSC de. [Impact of the COVID-19 pandemic on the vaccination of children 12 months of afe and under: an ecological study]. Ciênc saúde coletiva. 2022;27(3):969-978. Portuguese.,55. Silveira MM, Conrad NL, Leivas Leite FP. [Effect of COVID-19 on vaccination coverage in Brazil]. J Med Microbiol. 2021; 70(11):1-5. English.)
Entre os principais motivos para queda da cobertura, pode-se citar: a complexidade do calendário nacional de vacinação do PNI; reduções temporárias no abastecimento de vacinas; dificuldades para manejar o sistema de informação do PNI; barreiras de acesso por restrições de horário e local das salas de vacinas; subfinanciamento do SUS; número de profissionais de saúde inferior à demanda e com capacitação insuficiente; notícias falsas; baixa percepção do risco das doenças; falta de confiança na eficácia das vacinas; experiência negativa prévia; medo; influência de líderes; e hesitação vacinal.(66. Brasil. Ministério da Saúde. [Pesquisa nacional sobre cobertura vacinal, seus múltiplos determinantes e as ações de imunização nos territórios municipais brasileiros]. Brasília (DF): Ministério da Saúde 2023. [citado 2023 jan 24]. Disponível em: https://conasems-ava-prod.s3.sa-east-1.amazonaws.com/institucional/publicacoes/publicacao-imunizasus-230123-3-1674844436.pdf. Portuguese.
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,77. Araújo TM de, Souza F de O, Pinho P de S. [Vaccination and associated factors among healthcare workers]. Cad Saúde Pública. 2019;35(4):e00169618. Portuguese.)
O Strategic Advisory Group of Experts on Immunization (SAGE), grupo da Organização Mundial da Saúde (OMS), define o fenômeno da hesitação vacinal como o atraso ou recusa da vacinação, apesar da disponibilidade desse serviço. É considerado um evento complexo e específico de um contexto que pode variar segundo o tempo, a vacina e o local.(88. MacDonald NE; SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. [Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants]. Vaccine. 2015;33(34):4161-4. English.) Esse grupo de especialistas propôs um modelo para análise da hesitação vacinal intitulado de “3Cs”: complacência (não perceber as doenças como de alto risco e vacinação como necessária); confiança (falta de confiança na segurança e eficácia das vacinas); e conveniência (disponibilidade física, acessibilidade geográfica, capacidade de compreensão e qualidade dos serviços de imunização).(88. MacDonald NE; SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. [Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants]. Vaccine. 2015;33(34):4161-4. English.)
Os profissionais de saúde têm potencial de influenciar a adesão à vacinação pelos usuários dos serviços de saúde.(66. Brasil. Ministério da Saúde. [Pesquisa nacional sobre cobertura vacinal, seus múltiplos determinantes e as ações de imunização nos territórios municipais brasileiros]. Brasília (DF): Ministério da Saúde 2023. [citado 2023 jan 24]. Disponível em: https://conasems-ava-prod.s3.sa-east-1.amazonaws.com/institucional/publicacoes/publicacao-imunizasus-230123-3-1674844436.pdf. Portuguese.
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,99. Nobre R, Guerra LD da S, Carnut L. [Vaccination hesitation and refusal in countries with universal health systems: an integrative review about their effects]. Saúde debate. 2022;46(1):303-21. Portuguese.,1010. Paterson P, Meurice F, Stanberry LR, Glismann S, Rosenthal SL, Larson HJ. [Vaccine hesitancy and healthcare providers]. Vaccine. 2016;34(52):6700-6706. English.) Entretanto, a literatura aponta que as recomendações dadas aos pacientes são mais frequentes quando eles confiam na sua habilidade de comunicar sobre os riscos e benefícios e nas fontes oficiais de informação sobre as vacinas, sendo dependente do seu próprio comportamento, suas atitudes e conhecimento sobre a segurança e eficácia desses imunobiológicos.(1010. Paterson P, Meurice F, Stanberry LR, Glismann S, Rosenthal SL, Larson HJ. [Vaccine hesitancy and healthcare providers]. Vaccine. 2016;34(52):6700-6706. English.,1111. Verger P, Fressard L, Collange F, Gautier A, Jestin C, Launay O, et al. [Vaccine Hesitancy Among General Practitioners and Its Determinants During Controversies: A National Cross-sectional Survey in France]. EBioMedicine. 2015;2(8):891-7. English.) O endosso da sociedade, o apoio dos colegas e a vontade do paciente ou cuidador também influenciam na confiança dos profissionais de saúde nas vacinas e na vontade de recomendá-las.(1010. Paterson P, Meurice F, Stanberry LR, Glismann S, Rosenthal SL, Larson HJ. [Vaccine hesitancy and healthcare providers]. Vaccine. 2016;34(52):6700-6706. English.)
Estudo de síntese de revisões sistemáticas e metanálises sobre hesitação vacinal para COVID-19 entre profissionais de saúde apontou determinantes multifatoriais associados a esse fenômeno, como fatores sociodemográficos (ex: sexo feminino, raça negra, menor escolaridade, baixa renda), ocupacionais (ex: categorias enfermeiro e auxiliar de enfermagem), de saúde (ex: possuir condições crônicas de saúde), relativos à vacina (ex: ter receio dos efeitos à longo prazo), relativos à falta de confiança (ex: no governo, nos fabricantes de vacina e autoridades de saúde) e relativos à informação (ex: ausência de conhecimento suficiente sobre a vacina).(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.) Estudo nacional que investigou a associação entre os determinantes do modelo 3Cs e a hesitação vacinal para influenza entre trabalhadores da saúde observou que quanto menor a confiança e maior a complacência, maior a hesitação vacinal para influenza.(1313. Souza FO, Werneck GL, Pinho PS, Teixeira JRB, Lua I, Araújo TM. [Influenza vaccine hesitancy among health workers, Bahia State, Brazil]. Cad Saúde Pública. 2022;38(1):e00098521. Portuguese.)
Outrossim, destaca-se que a imunização dos profissionais de saúde é parte integrante dos programas de controle de saúde ocupacional, devido ao risco aumentado dessa categoria à exposição a agentes biológicos infecciosos, constituindo-se uma medida necessária à sua proteção e da clientela.(1414. Sociedade Brasileira de Imunizações. Guia de imunização SBIm/Anamt. Medicina do trabalho 2018-2019. [Internet]. [citado 2023 mai 29]. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/guia-sbim-anamt-medicina-trabalho-2018-2019-180730b-web.pdf.
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) Como a hesitação vacinal varia de acordo com o local, é plausível pensar que trabalhadores de saúde que atuam no cenário de um hospital escola assumam atitude menos hesitantes, devido ao risco de contaminação por tais agentes e à possível influência que exercem.
Diante do exposto e considerando o papel fundamental que exercem no incentivo da adesão da população à vacinação, além de serem escassos os estudos nacionais que abordam a problemática da hesitação vacinal entre trabalhadores de saúde e o cenário escolhido para esta investigação (hospital escola), este estudo teve como objetivo analisar os fatores associados à hesitação vacinal entre os profissionais de saúde de um hospital universitário (HU).
Métodos
Estudo transversal, de natureza quantitativa, com objetivos descritivos e analíticos, norteado pela iniciativa STrengthening the Reporting of OBservational studies in Epidemiology (STROBE), desenvolvido em um HU federal do estado de Pernambuco, com perfil para o ensino, pesquisas e inovação. Presta atendimento ambulatorial e de internação em diversas especialidades, e conta com Unidades de Terapia Intensiva (adulto, cirúrgica e neonatal), centros cirúrgicos, obstétricos e dialíticos, totalizando 418 leitos. No ambulatório de pediatria, há uma sala de vacina que atende a funcionários, pacientes e à população geral. Desde 2014, é gerido por uma empresa pública que presta serviços hospitalares.(1515. Brasil. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Hospitais universitários. Hospital das Clínicas da UFPE. Institucional. 2023. [citado 2023 set 16]. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-nordeste/hc-ufpe/acesso-a-informacao/institucional
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)
A população do estudo foi composta por trabalhadores de saúde da instituição com idade maior ou igual a 18 anos e formação de nível médio e superior (enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem, técnicos de nutrição, auxiliares de enfermagem e técnicos em radiologia), sendo excluídos os profissionais técnico-administrativos.
Para o cálculo amostral, considerou-se uma população de 2.195 trabalhadores (1.120 com escolaridade em nível médio e 1.075 com escolaridade em nível superior). Entre eles estão servidores da universidade e da empresa prestadora de serviços hospitalares, com uma frequência de hesitação vacinal de 25,4%,(1313. Souza FO, Werneck GL, Pinho PS, Teixeira JRB, Lua I, Araújo TM. [Influenza vaccine hesitancy among health workers, Bahia State, Brazil]. Cad Saúde Pública. 2022;38(1):e00098521. Portuguese.) margem de erro de 5% e intervalo de confiança (IC) de 95%. O cálculo foi realizado utilizando a ferramenta Statcalc do software estatístico Epi info 7. A amostra obtida foi de 257 trabalhadores, sendo acrescidos 10% para possíveis recusas/perdas, assim, 283 trabalhadores compuseram a amostra final. A amostragem dos participantes foi não probabilística e por conveniência.
A coleta dos dados ocorreu em ambiente virtual entre os meses de junho e novembro de 2022. Foi solicitada ao setor de comunicação do HU a colaboração para divulgação da pesquisa no site e redes sociais da instituição, sendo encaminhado o endereço eletrônico contendo o convite para participação na pesquisa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o formulário (Google Forms®).
O formulário era autoaplicável e continha 24 questões objetivas, as quais versavam sobre as variáveis de interesse do estudo. As variáveis preditoras foram aspectos socioeconômicos (faixa etária em anos, sexo, escolaridade de maior titulação, cor/raça, renda em salário mínimo), ocupacionais (categoria profissional, tempo de trabalho em anos, tipo de vínculo empregatício), histórico de reação vacinal, medos relativos às vacinas (aplicação e Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI)) e aspectos das dimensões do modelo 3Cs. A confiança envolve o conhecimento e a percepção sobre assuntos relacionados à segurança e eficácia das vacinas, além de levar em consideração o histórico de reações adversas e a credibilidade dos profissionais de saúde, instituições e serviços associados ao processo de vacinação. A conveniência avalia o acesso à informação e a capacidade de compreensão do indivíduo, além da disponibilidade de vacinas e insumos e acessibilidade aos serviços de vacinação. Já a complacência abrange a percepção individual sobre as vacinas e a percepção do risco das doenças imunopreveníveis.(88. MacDonald NE; SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. [Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants]. Vaccine. 2015;33(34):4161-4. English.)
A variável desfecho hesitação vacinal foi definida como a situação autorreferida de atraso ou recusa da vacinação, apesar da disponibilidade desse serviço.(88. MacDonald NE; SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. [Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants]. Vaccine. 2015;33(34):4161-4. English.)Em relação à variável categórica dicotômica (sim/não), considerou-se a resposta sim à pergunta “Você possui alguma vacina em atraso?”. O atraso se referiu a qualquer vacina, segundo a recomendação atual do Ministério da Saúde aos profissionais de saúde.
O PNI orienta para esse grupo o recebimento das seguintes vacinas, de acordo com a situação vacinal: dT/dTpa tipo adulto; Hepatite B; tríplice viral; influenza; COVID-19; e varicela.(1616. Brasil. Ministério da Saúde. Calendário nacional de vacinação. Calendário vacinal 2022. Instrução normativa - Calendário Nacional de Vacinação 2022. 2023. [citado 2023 set 16]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao/calendario-vacinal-2022/instrucao-normativa-calendario-nacional-de-vacinacao-2022/view
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/...
)
As análises estatísticas foram efetuadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 23, para Windows®. Inicialmente, realizou-se análise bivariada para testar as associações entre as variáveis preditoras e o desfecho, por meio dos testes qui-quadrado (X2) de Pearson e exato de Fisher, sendo obtidas as estimativas brutas das Odds Ratio (OR) com os respectivos IC de 95%. As variáveis que apresentaram valor mínimo de p < 0,20 seguiram para a regressão logística binária, sendo adotado o método stepwise backward. Nesse tipo de regressão, todos os preditores são incluídos de uma só vez na equação, e depois são retirados, um a um, até que se identifiquem os melhores preditores.
A pesquisa respeitou os princípios éticos da Resolução no 466/2012, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob Parecer nº 5.385.880 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 58045622.9.0000.8807.
Resultados
A amostra foi composta por 283 trabalhadores de saúde do HU. A média de idade dos participantes foi de 42,4 anos (DP: 10,10), sendo a maioria técnicos de enfermagem (n= 101; 35,6%). A frequência de hesitação vacinal foi de 31,8%. Na análise bivariada, nenhuma das variáveis sociodemográficas e ocupacionais apresentou significância estatística (p < 0,05), conforme observado na tabela 1.
Quando verificadas as associações entre as variáveis preditoras histórico vacinal, medos, dimensões do modelo 3Cs (confiança, conveniência e complacência) e o desfecho hesitação vacinal, verificou-se significância estatística para medo de ESAVI e dos itens da dimensão confiança “ter acontecido algo que fizesse desacreditar na eficácia das vacinas” (p < 0,001), “ter informações suficientes sobre os riscos e benefícios das vacinas” (p < 0,036) e “disponibilidade do imunobiológico na última vez que compareceu à unidade de saúde para atualização do cartão” (p < 0,04) (Tabela 2).
A tabela 3 apresenta o modelo final ajustado da regressão logística binária. Observou-se que o medo de ESAVI aumenta em duas vezes a chance de hesitação vacinal (OR: 2,047; IC:1,165-3,595; p = 0,013), ter acontecido algo que fizesse desacreditar na eficácia das vacinas eleva em quase três vezes (OR: 2,964; IC: 1,265-6,944; p = 0,012) e que a disponibilidade do imunobiológico na unidade de saúde no momento da atualização do cartão diminui a hesitação vacinal (OR: 0,314; IC: 0,136-0,723; p = 0,006).
Regressão logística binária bruta e ajustada entre medos, confiança, conveniência, complacência e hesitação vacinal em profissionais de saúde de um hospital universitário
Discussão
A frequência de hesitação vacinal entre os profissionais de saúde do HU investigado foi elevada e esteve associada ao medo de ESAVI, ao fato de ter acontecido algo que os fizesse desacreditar na eficácia das vacinas e à disponibilidade do imunobiológico na unidade de saúde no momento da atualização do cartão.
O percentual de atraso vacinal foi superior ao observado para a vacina influenza(1313. Souza FO, Werneck GL, Pinho PS, Teixeira JRB, Lua I, Araújo TM. [Influenza vaccine hesitancy among health workers, Bahia State, Brazil]. Cad Saúde Pública. 2022;38(1):e00098521. Portuguese.) e inferior aos verificados para as vacinas dT, Hepatite B e influenza(1717. Souza TP, Lobão WM, Santos CAST, Almeida MCC, Moreira ED. [Factors associated with the acceptance of the influenza vaccine among health workers: knowledge, attitude and practice]. Ciênc saúde coletiva. 2019;24(8):3147-3158. Portuguese) entre trabalhadores de saúde brasileiros. Estudo de revisão sistemática apontou taxas de aceitação para vacina contra COVID-19 variáveis neste público (20,7% - 81,1%), sendo as menores entre enfermeiros (20,7% - 40%).(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.)
A elevada taxa identificada, possivelmente, deve-se à não especificação de hesitação para uma dada vacina. Destaca-se que a hesitação vacinal varia de acordo com o tempo, local e vacina, e encontra-se no hiato entre a aceitação total e a recusa total, ou seja, o indivíduo pode aceitar algumas, atrasar ou recusar determinadas vacinas.(88. MacDonald NE; SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. [Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants]. Vaccine. 2015;33(34):4161-4. English.) Nesta investigação, foi adotado o termo “hesitação”, apesar do questionamento para a definição do desfecho ser “Você possui alguma vacina em atraso?”, entendendo que, caso o participante da pesquisa rejeitasse certa vacina, o atraso vacinal estaria presente.
Os aspectos sociodemográficos e ocupacionais não mostraram associação com o desfecho hesitação vacinal. Entretanto, a literatura aponta maior aceitação para vacina contra influenza entre trabalhadores de saúde de maior idade e do sexo masculino(1818. Dini G, Toletone A, Sticchi L, Orsi A, Bragazzi NL, Durando P. [Influenza vaccination in healthcare workers: A comprehensive critical appraisal of the literature]. Hum Vaccin Immunother. 2018;14(3):772-789. English.) e para vacina contra COVID-19 entre profissionais de saúde de cor branca, com maior escolaridade e renda.(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.)
Quando consideradas as categorias profissionais, alguns estudos sinalizam que enfermeiros apresentam baixos níveis de aceitação vacinal para a influenza(1919. Paoli S, Lorini C, Puggelli F, Sala A, Grazzini M, Paolini D, et al. [Assessing Vaccine Hesitancy among Healthcare Workers: A Cross-Sectional Study at an Italian Paediatric Hospital and the Development of a Healthcare Worker's Vaccination Compliance Index]. Vaccines (Basel). 2019;7(4):201. English.
20. Moretti F, Visentin D, Bovolenta E, Rimondini M, Majori S, Mazzi M, et al. [Attitudes of Nursing Home Staff Towards Influenza Vaccination: Opinions and Factors Influencing Hesitancy]. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(6):1851. English.-2121. Hall CM, Northam H, Webster A, Strickland K. [Determinants of seasonal influenza vaccination hesitancy among healthcare personnel: An integrative review]. J Clin Nurs. 2022;31(15-16):2112-2124. English.) e COVID-19,(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.,2222. Caiazzo V, Witkoski Stimpfel A. [Vaccine hesitancy in American healthcare workers during the COVID-19 vaccine roll out: an integrative review]. Public Health. 2022;207:94-104. English.,2323. Willems LD, Dyzel V, Sterkenburg PS. [COVID-19 Vaccination Intentions amongst Healthcare Workers: A Scoping Review]. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(16):10192. English.) quando comparados a outras funções ocupacionais. Esses achados parecem paradoxais, tendo em vista a relação de proximidade entre a enfermagem e essa importante medida de prevenção de doenças. Neste estudo, profissionais de enfermagem se mostram mais hesitantes, contudo o dado precisa ser interpretado com cautela, visto que não foram investigadas a hesitação para uma vacina específica e o fenômeno varia em função da vacina.(88. MacDonald NE; SAGE Working Group on Vaccine Hesitancy. [Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants]. Vaccine. 2015;33(34):4161-4. English.)
Ainda é importante considerar que a enfermagem é uma profissão majoritariamente formada por mulheres, e representa mais da metade da força de trabalho em saúde em todo o mundo(2424. World Health Organization (WHO). [State of the world's nursing 2020: investing in education, jobs and leadership]. Geneva: WHO 2020 [cited 2023 September 16]. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240003279. English.
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) e que tal achado possa estar mascarado pela influência do sexo, uma vez que a amostra foi composta por pessoas do sexo feminino.
Meta-análise que analisou as diferenças de gênero na intenção de se vacinar contra COVID-19 verificou menor chance de vacinação entre as mulheres e efeito maior do sexo entre profissionais de saúde.(2525. Zintel S, Flock C, Arbogast AL, Forster A, von Wagner C, Sieverding M. [Gender differences in the intention to get vaccinated against COVID-19: a systematic review and meta-analysis]. J Public Health (Berl.). 2023; 31:1303-1327. English.) Questões relativas à fertilidade e procriação podem pesar na tomada de decisão vacinal e merecem ser estudadas.(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.)
O medo dos ESAVI mostrou-se associado à hesitação vacinal, em consonância com os resultados de estudo sobre os fatores associados à vacinação contra influenza, em trabalhadores de saúde de um Complexo Hospitalar baiano, no qual maior aceitação foi encontrada entre aqueles que não temiam os efeitos pós-vacinais (OR = 1,93; IC95%:1,26-2,95).(1717. Souza TP, Lobão WM, Santos CAST, Almeida MCC, Moreira ED. [Factors associated with the acceptance of the influenza vaccine among health workers: knowledge, attitude and practice]. Ciênc saúde coletiva. 2019;24(8):3147-3158. Portuguese) Os achados corroboram estudos internacionais que avaliaram a hesitação vacinal para COVID-19 entre trabalhadores de saúde.(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.,2626. Biswas N, Mustapha T, Khubchandani J, Price JH. [The Nature and Extent of COVID-19 Vaccination Hesitancy in Healthcare Workers]. J Community Health. 2021;46(6):1244-1251. English.,2727. Noushad M, Nassani MZ, Al-Awar MS, Al-Saqqaf IS, Mohammed SOA, Samran A, et al. [COVID-19 Vaccine Hesitancy Associated With Vaccine Inequity Among Healthcare Workers in a Low-Income Fragile Nation]. Front Public Health. 2022;10:914943. English.)
Especialmente sobre a vacina contra COVID-19, embora raros, eventos supostamente atribuíveis às vacinas de vetor viral e de RNAm, respectivamente, síndrome trombolítica e miocardite/periardite, fizeram com que o Ministério da Saúde revisasse a orientação do tipo de vacina para uso em gestantes e puérperas, bem como reforçasse a recomendação para vacinação de crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos.(2828. Brasil. NOTA TÉCNICA Nº 2/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS. Trata-se de atualização das recomendações referentes a vacinação contra a covid-19 em gestantes e puérperas até 45 dias pós-parto. Publicada em 06 de Julho 2021. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/sei-ms--0021464579--nota--tecnica-gestantes.pdf. Portuguese.
https://sbim.org.br/images/files/notas-t...
,2929. Brasil. NOTA TÉCNICA Nº 1057/2021-CGPNI/DEIDT/SVS/MS. Dispõe sobre orientações para identificação, investigação e manejo do evento adverso pós vacinação de miocardite/pericardite no contexto da vacinação contra a COVID-19 no Brasil. Publicada em: 15 de Setembro 2021. Disponível em: https://sbim.org.br/images/files/notas-tecnicas/nt-pericardite-miocardite-eapv-covid19.pdf. Portuguese.
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) Esses eventos foram amplamente publicizados, e é possível que tenham contribuído para aumentar a hesitação vacinal da população brasileira, inclusive entre profissionais de saúde, apesar de não haver estudos científicos que apoiem essa inferência.
O fato de ter acontecido algo pessoal ou com pessoas do convívio do profissional de saúde que os fizesse desacreditar na eficácia das vacinas também esteve associado, de forma significativa, à hesitação vacinal neste estudo. Experiência prévia pessoal de ESAVI ou o fato de o trabalhador de saúde testemunhar um evento grave, embora não possa explicar a hesitação vacinal da COVID-19, pode impactar no recebimento da vacina.(3030. Dolu I, Turhan Z, Yalniz Dilcen H. [COVID-19 Vaccine Acceptance is associated with Vaccine Hesitancy, Perceived Risk and Previous Vaccination Experiences]. Disaster Med Public Health Prep. 2021;17:e97. English.,3131. Peterson CJ, Lee B, Nugent K. [COVID-19 Vaccination Hesitancy among Healthcare Workers-A Review]. Vaccines (Basel). 2022;10(6):948. English.) Revisão sistemática de estudos qualitativos com enfermeiros reportou o medo de possíveis eventos adversos e a ocorrência de más experiências pessoais ou em pessoas próximas com a vacina influenza como determinante para a hesitação vacinal.(3232. Pinatel N, Plotton C, Pozzetto B, Gocko X. [Nurses' Influenza Vaccination and Hesitancy: A Systematic Review of Qualitative Literature]. Vaccines (Basel). 2022;10(7):997. English.)
A variável “sentir-se informado suficiente sobre riscos/benefícios das vacinas” não manteve associação significante (p < 0,05) no modelo final. Destaca-se que a fonte dessas notícias interfere na hesitação. Os profissionais de saúde que utilizaram mídias sociais ou fontes não científicas apresentaram comportamento mais hesitante para a vacina contra COVID-19.(1212. McCready JL, Nichol B, Steen M, Unsworth J, Comparcini D, Tomietto M. [Understanding the barriers and facilitators of vaccine hesitancy towards the COVID-19 vaccine in healthcare workers and healthcare students worldwide: An Umbrella Review]. PLoS One. 2023;18(4):e0280439. English.) O baixo risco de transmissão e de óbito por gripe e o desenvolvimento da doença ao receber a vacina foram algumas das crenças equivocadas reportadas por enfermeiros para o não recebimento da vacina.(3232. Pinatel N, Plotton C, Pozzetto B, Gocko X. [Nurses' Influenza Vaccination and Hesitancy: A Systematic Review of Qualitative Literature]. Vaccines (Basel). 2022;10(7):997. English.)
Neste estudo, a disponibilidade do imunobiológico na unidade de saúde no momento da atualização do cartão, variável relativa à dimensão conveniência, também se mostrou associada ao fenômeno da hesitação vacinal entre trabalhadores de saúde. Essas barreiras de acesso podem corresponder à irregularidade no fornecimento dos imunobiológicos em virtude de problemas de produção e de logística na distribuição e armazenamento dos insumos, devido à complexidade para abastecer as salas de vacinação em um país de extensão continental como o Brasil.(11. Domingues CMAS, Maranhão AGK, Teixeira AM, Fantinato FFS, Domingues RAS. [The Brazilian National Immunization Program: 46 years of achievements and challenges]. Cad Saúde Pública. 2020;36(2)e00222919:1-17. Portuguese.) Em 2021, por exemplo, observou-se iniquidade na distribuição e aplicação de vacinas contra COVID-19 nas regiões Norte e Nordeste, as quais apresentaram menores coberturas vacinais.(3333. Castro-Nunes P, Ribeiro GR. [Health equity and vulnerability in the access to COVID-19 vaccines]. Rev Panam Salud Publica. 2022;46:e31. Portuguese.)
Outro motivo que pode contribuir para a indisponibilidade da vacina na unidade de saúde são as perdas vacinais, que podem ser técnicas ou físicas. As primeiras correspondem às perdas de doses de frascos abertos que não foram utilizadas em virtude do encerramento do prazo de validade. Já as perdas físicas são aquelas em frascos fechados decorrentes do não respeito às boas práticas de vacinação (ex: quebra de frasco, falha na cadeia de frio, falta de energia elétrica, prazo de validade expirado, falha no transporte, etc.), portanto, consideradas evitáveis, estando associadas a elevados custos e à possibilidade de prejuízos na oferta dos imunobiológicos.(3434. Seabra Filho FT, Moura ADA, Braga AVL, Jereissati NCC, Câncio K, Silva MGC. [Physical wastage of immunobiological products in the state of Ceará, Brazil, 2014-2016]. Epidemiol. Serv. Saúde. 2020; 29(2): e2019004. Portuguese.) Assim, houve a necessidade de ações de educação permanente dos profissionais que atuam na rede de serviços de vacinação.
Reitera-se que o calendário de vacinação ocupacional 2022/2023 da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) recomenda aos trabalhadores de saúde as vacinas tríplice viral, hepatites A, B ou A e B, dupla adulto (dT) ou tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa), varicela, influenza, meningocócicas conjugadas ACWY ou C, meningocócica B e COVID-19.(3535. Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendário SBIm de vacinação ocupacional 2022/2023. [Internet]. [citado 2023 mai 29]. Disponível em: https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-ocupacional.pdf.
https://sbim.org.br/images/calendarios/c...
) Com exceção das vacinas hepatite combinada A e B e meningocócica B, esses imunobiológicos estão disponíveis na rede pública em Unidades Básicas de Saúde ou nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE).
O estudo da hesitação vacinal entre os profissionais de saúde é anterior à COVID-19, sendo a maioria das pesquisas precedentes com foco na vacinação contra influenza sazonal.(3131. Peterson CJ, Lee B, Nugent K. [COVID-19 Vaccination Hesitancy among Healthcare Workers-A Review]. Vaccines (Basel). 2022;10(6):948. English.) Com a pandemia do novo coronavírus, direciona-se o interesse à investigação da hesitação para as vacinas contra COVID-19. Esse fato fica evidente nas referências utilizadas, podendo até ser mencionada como uma limitação deste estudo a comparação dos achados com a literatura sobre a temática entre trabalhadores de saúde relacionada a outras vacinas, dada à escassez de publicações. Admitem-se ainda como possíveis limitações a realização do estudo em um único hospital, a ausência de informação quanto ao quantitativo de cada categoria profissional e, por conseguinte, o tipo de amostragem adotado para o recrutamento dos participantes, o qual impossibilitou analisar a representatividade de cada categoria na amostra. Apesar desses apontamentos, não há comprometimento da validação externa dos resultados, sendo recomendados para investigações futuras em cenário semelhante.
Conclusão
A hesitação vacinal entre os profissionais de saúde do HU esteve associada ao medo de ESAVI, ao fato de ter acontecido algo que os fizesse desacreditar na eficácia das vacinas e na disponibilidade do imunobiológico na unidade de saúde no momento da atualização do cartão. Espera-se que esses resultados possam somar esforços ao entendimento desse fenômeno entre os trabalhadores de saúde e subsidiar estratégias de enfrentamento a essa problemática.
Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES; Programa de Apoio a Pós-Graduação - PROAPS) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE; Pró-Reitoria de Pós-graduação - PROPG), pela concessão de auxílio financeiro à WKASP, por meio do Edital de Apoio ao Pesquisador vinculado aos Programas de Pós-Graduação da UFPE (Edital PROPG nº 06/2022). Processo: 23076.096167/2022-48. Ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq; Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq/PIBIC/HC-UFPE/Ebserh), pela concessão de bolsa à RVF, por meio do Edital PIBIC/CNPq/HC-UFPE/Ebserh 002/2022 (Termo de Cooperação CNPq e Rede Ebserh. Processo SEI - 23477.008697/2020-18).
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Set 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
20 Jun 2023 -
Aceito
25 Mar 2024