Open-access Análisis de los casos notificados de violencia sexual contra la población adulta

ape Acta Paulista de Enfermagem Acta Paul Enferm 0103-2100 1982-0194 Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo Resumen Objetivo Identificar la prevalencia de violencia sexual en la población adulta en el estado de Espírito Santo y analizar su relación con las características de la víctima, del agresor y del episodio. Métodos Estudio epidemiológico, analítico, transversal, realizado con notificaciones de violencia sexual en adultos de 20 a 59 años, entre 2011 y 2018 en el SINAN (Sistema de Información de Agravios de Notificación). Los datos fueron obtenidos por la Secretaría de Salud, luego de la aprobación del proyecto en Comité de Ética, en agosto de 2019. La variable dependiente fue la violencia sexual, y las independientes fueron las características de la víctima, del agresor y del episodio. El análisis se realizó a través del Stata 14.1 y los resultados de la regresión de Poisson fueron presentados por la razón de prevalencia. Resultados La violencia sexual fue responsable por el 6,2 % de las notificaciones de violencia interpersonal y cerca de seis veces más prevalente entre mujeres. La victimización en el grupo de edad de 20 a 29 años fue 1,51 veces mayor que entre 40 y 49 años, y en los que no tenían compañero fue 1,86 veces mayor. Además, estuvo asociada a la residencia en zona urbana (RP: 1,60), agresor de 25 años o más (RP: 1,50), desconocido (RP: 9,37), perpetrador único (RP: 1,62) y episodio en vía pública (RP: 1,38) Conclusión La violencia está presente entre los adultos y algunos son más vulnerables, como las mujeres, los adultos jóvenes y sin compañero, las víctimas de zona urbana, los episodios en vía pública y por único agresor, desconocido y de mayor edad. Los resultados pueden respaldar acciones estratégicas de enfrentamiento a la violencia. Introdução A violência sexual é um problema de saúde pública que afeta as diversas áreas da sociedade em todo o mundo. Esse agravo é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como qualquer ato sexual, tentativa de obter ato sexual, comentários ou investidas sexuais indesejadas ou atos para traficar ou direcionar contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção, por qualquer pessoa, independentemente de sua relação com a vítima, em qualquer ambiente, incluindo, mas não se limitando, a casa e o trabalho.(1) Por conseguinte, se estende a todos os ciclos da vida humana, de formas diferentes em cada fase do desenvolvimento, causando danos à saúde de homens e mulheres. Em idades produtivas, seus impactos na sociedade vão para além do setor saúde. Ampla e heterogênea, estima-se que a taxa de prevalência global de violência sexual entre as mulheres seja de 2.816 casos por 100.000 pessoas, enquanto essa taxa entre os homens estaria em 1.194 casos por 100.000 pessoas.(2) Importante ponderar que a violência sexual possui estimativas muito variáveis uma vez que se trata de um agravo de conceito amplo e fortemente influenciado por valores culturais, principalmente entre os homens onde os delitos sexuais são menos compreendidos e menos reconhecidos pela sociedade.(2) No Brasil, a taxa média de casos notificados para violência sexual é de 4,38 notificações por 100 mil habitantes, dado preocupante, uma vez que os registros institucionais da violência sexual são apenas uma fração da dimensão deste agravo, alcançando apenas as vítimas que de alguma forma acessaram os serviços assistenciais.(3) Sentimentos de culpa, vergonha e medo comumente atravessam as pessoas em situação de violência e as impedem de buscar serviços de apoio. Neste contexto, os profissionais de saúde assumem papel relevante no acolhimento qualificado e seguro das vítimas e no encaminhamento das demandas apresentadas aos diversos setores da assistência.(4) Da mesma forma, os sistemas de notificação em saúde assumem papel importante na linha de cuidado dando visibilidade ao problema, subsidiando os serviços e as políticas públicas.(5)A notificação oportuna e sistematizada da violência permite a articulação entre os serviços de saúde bem como a atuação em conjunto com os outros setores da sociedade implicados como a educação, a assistência social, o judiciário e as organizações não governamentais.(6) Frente ao exposto, entendemos que a violência sexual constitui uma questão de saúde pública, ampla e complexa, mas que precisa ser melhor compreendida para ser adequadamente enfrentada. Este estudo permite ampliar o conhecimento sobre o fenômeno, dando subsídios à elaboração de estratégias de prevenção e enfrentamento à violência na população adulta. Nessa perspectiva, o objetivo dessa pesquisa foi identificar a prevalência de casos notificados de violência sexual na população adulta do estado do Espírito Santo, entre os anos de 2011 e 2018, e analisar sua associação com as características da vítima, do agressor e da agressão. Métodos Trata-se de um estudo epidemiológico, analítico do tipo transversal, realizado com os dados das notificações do Sistema de Informação de Agravos e Notificação – SINAN do estado do Espírito Santo, Brasil, entre os anos de 2011 e 2018. Os dados foram extraídos do sistema pela Secretaria Estadual de Saúde em setembro de 2019 após a aprovação da pesquisa em comitê de ética. Foram incluídos na análise todos os casos deste agravo registrados no sistema durante o período estabelecido. A escolha pelo período de coleta dos dados se deu por conta da obrigatoriedade da notificação dos casos de violência a partir da Portaria 104 de janeiro de 2011, por todos os serviços de saúde.(7) Enquanto agravo de notificação compulsória, os casos de violência são monitorados através da ficha de notificação de violência interpessoal e autoprovocada. A variável de desfecho do estudo foi a violência interpessoal sexual (sim/não). Já as variáveis independentes foram compostas pelas características da vítima: sexo (feminino/masculino), idade (20 a 29 anos/30 a 39 anos/40 a 49 anos/50 a 59 anos), raça/cor (branca/preta ou parda), escolaridade (0 a 4 anos/5 a 8 anos/9 anos ou mais), situação conjugal (com companheiro/sem companheiro), zona de residência (urbana ou periurbana/rural) e presença de deficiência ou transtorno (sim/não); pelas características do agressor: sexo (feminino/masculino), faixa etária (até 24 anos/25 anos ou mais), vínculo com a vítima (parceiro íntimo atual ou ex/conhecido/ desconhecido) e suspeita de uso de álcool (sim/não); e características da ocorrência do evento: número de envolvidos (um/dois ou mais), local da ocorrência (residência/via pública/ outros) histórico de repetição (sim/não) e encaminhamentos para outros serviços (sim/ não). Foi realizada análise descritiva por meio das frequências relativa e absoluta e intervalos de confiança de 95%, na análise bivariada foi utilizado o teste Qui-Quadrado de Pearson e para a multivariada a Regressão de Poisson, através do modelo hierárquico, com as características da vítima como primeiro nível e as características do agressor e da agressão como segundo nível. As variáveis que entraram no modelo foram aquelas que obtiveram valor de p menor que 0,2 na análise bivariada; sua manutenção no modelo seguiu o critério de p menor que 0,05, e os resultados expressos em Razão de Prevalência (RP), bruta e ajustada, com os seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%). A variável sexo do autor não entrou no modelo por conta do baixo quantitativo de casos nas categorias. Todas as análises foram realizadas no software Stata 14.1 e para a apresentação do estudo foi utilizada as recomendações da iniciativa STROBE. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo com parecer sob número 2.819.597 e as normas e diretrizes das Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde foram observadas (CAAE: 88138618.0.0000.5060). Resultados Entre os anos de 2011 e 2018 foram realizadas 1.332 (P:6,2%; IC 95%:5,9-6,5) notificações de violência sexual na população adulta do Espírito Santo; destas, 1.282 notificações foram contra mulheres e 50 casos cometidos contra homens (dado não apresentado em tabela). A tabela 1 apresenta as características da população. Na maioria dos casos as vítimas de violência sexual são mulheres (P: 96,2%; IC 95%: 95,1-97,1), sendo que 44% (IC 95%: 41,4-46,7) tinham entre 20 e 29 anos, autodeclaradas como pretas ou pardas (P: 67,3%; IC95%: 64,7-69,9), e, cerca de seis em cada dez com 9 anos de estudo ou mais e sem companheiro. Observa-se ainda que 84,4% (IC 95%: 82,3-86,3) não apresentam deficiências e 94,3% (IC 95%: 92,9-95,5) são residentes em área urbana ou periurbana. Quanto às características do agressor, quase a totalidade são homens (P: 98,6%; IC 95%: 97,8-99,1); com 25 anos ou mais (P: 80,0%; IC 95%: 77,0-82,8); e, 45,2% (IC 95%: 42,5-48,0) são desconhecidos da vítima. A suspeita de uso de álcool ocorreu em 55,6% (IC 95%: 52,3-58,9) das notificações, em 84,1% dos casos havia apenas um agressor (IC 95%: 82,0-86,0) e a residência foi o principal local de ocorrência (P: 54,1%; IC 95%: 51,3-56,9). Não houve repetição do agravo em 62,6% dos casos e nove em cada dez foram encaminhados para seguimento em outros serviços (Tabela 1). Tabela 1 Caracterização dos casos de violência sexual notificados na população adulta, de acordo com os dados da vítima, do agressor e da ocorrência Variáveis n(%) IC 95% Sexo Masculino 50(3,8) 2,9-4,9 Feminino 1282(96,2) 95,1-97,1 Faixa etária 20 a 29 anos 586(44,0) 41,4-46,7 30 a 39 anos 412(30,9) 28,5-33,5 40 a 49 anos 215(16,1) 14,3-18,2 50 a 59 anos 119(8,9) 7,5-10,6 Raça/Cor Branca 397(32,7) 30,1-35,3 Preta/Parda 819(67,3) 64,7-69,9 Escolaridade 0 a 4 anos 116(11,4) 9,6-13,5 5 a 8 anos 285(28,1) 25,4-30,9 9 anos ou mais 615(60,5) 57,5-63,5 Situação conjugal Sem companheiro 813(66,1) 63,5-68,7 Com companheiro 416(33,9) 31,3-36,6 Deficiências/Transtornos Não 1023(84,4) 82,3-86,3 Sim 189(15,6) 13,7-17,8 Zona de residência Urbana/Periurbana 1212(94,3) 92,9-95,5 Rural 73(5,7) 4,5-7,1 Sexo do agressor Masculino 1289(98,6) 97,8-99,1 Feminino 10(0,8) 0,4-1,4 Ambos 8(0,6) 0,3-1,2 Faixa etária do agressor 0 – 24 anos 145(20,0) 17,2-23,1 25 anos ou mais 581(80,0) 77,0-82,8 Vínculo com a vítima Parceiro íntimo (atual ou ex) 358(28,0) 25,6-30,5 Conhecido 343(26,8) 24,4-29,3 Desconhecido 579(45,2) 42,5-48,0 Suspeita de uso de álcool Não 391(44,4) 41,1-47,7 Sim 490(55,6) 52,3-58,9 Número de envolvidos Um 1063(84,1) 82,0-86,0 Dois ou mais 201(15,9) 14,0-18,0 Local de ocorrência Residência 668(54,1) 51,3-56,9 Via pública 358(29,0) 26,5-31,6 Outros 208(16,9) 14,9-19,1 Violência de repetição Não 758(62,6) 59,9-65,3 Sim 452(37,4) 34,7-40,1 Encaminhamento Não 130(9,9) 8,4-11,6 Sim 1187(90,1) 88,4-91,6 IC 95% - Intervalo de confiança de 95% Na análise bivariada, constata-se relação da violência sexual com as variáveis sexo, faixa etária, escolaridade, situação conjugal e zona de residência da vítima, bem como, faixa etária e sexo do agressor, vínculo com a vítima, suspeita de uso de álcool pelo agressor, número de envolvidos, local de ocorrência, histórico de repetição e encaminhamento para outros serviços (p<0,05). Apenas as variáveis raça/cor e presença de deficiências/transtornos não esteve relacionada a esse tipo de violência (Tabela 2). Tabela 2 Análise bivariada da violência sexual notificada na população adulta de acordo com as características da vítima, do agressor e da ocorrência Variáveis n(%) IC 95% p-value Sexo Masculino 50(1,2) 0,9-1,6 <0,001 Feminino 1282(7,3) 7,0-7,7 Faixa etária 20 a 29 anos 586(7,6) 7,0-8,2 <0,001 30 a 39 anos 412(5,6) 5,1-6,1 40 a 49 anos 215(4,8) 4,2-5,5 50 a 59 anos 119(5,7) 4,8-6,8 Raça/Cor Branca 397(6,6) 6,0-7,2 0,706 Preta/Parda 819(6,4) 6,0-6,9 Escolaridade 0 a 4 anos 116(5,4) 4,5-6,4 <0,001 5 a 8 anos 285(6,8) 6,1-7,6 9 anos ou mais 615(7,9) 7,4-8,6 Situação conjugal Sem companheiro 813(8,6) 8,1-9,2 <0,001 Com companheiro 416(4,8) 4,4-5,3 Deficiências/Transtornos Não 1023(6,9) 6,5-7,3 0,152 Sim 189(6,2) 5,4-7,1 Zona de residência Urbana/Periurbana 1212(6,4) 6,1-6,8 <0,001 Rural 73(3,4) 2,7-4,2 Sexo do agressor Masculino 1289(9,6) 9,1-10,1 <0,001 Feminino 10(0,2) 0,1-0,3 Ambos 8(2,7) 1,3-5,2 Faixa etária do agressor 0-24 anos 145(4,1) 3,5-4,9 0,006 25 anos e mais 581(5,3) 4,9-5,7 Vínculo com a vítima Parceiro íntimo (atual ou ex) 358(4,4) 4,0-4,9 <0,001 Conhecido 343(8,7) 7,9-9,6 Desconhecido 579(30,8) 28,8-32,9 Suspeita de uso de álcool Não 391(4,9) 4,5-5,4 <0,001 Sim 490(7,4) 6,8-8,1 Número de envolvidos Um 1063(6,1) 5,7-6,4 <0,001 Dois ou mais 201(8,4) 7,3-9,5 Local de ocorrência Residência 668(4,8) 4,5-5,2 <0,001 Via pública 358(11,0) 9,9-12,1 Outros 208(11,0) 9,7-12,5 Violência de repetição Não 758(10,2) 9,6-10,9 <0,001 Sim 452(4,8) 4,4-5,3 Encaminhamento Não 130(3,4) 2,9-4,0 <0,001 Sim 1187(7,0) 6,6-7,4 IC 95% - Intervalo de confiança de 95% A tabela 3 mostra que após análise ajustada, a violência sexual foi 6,26 vezes (IC 95%: 4,63-8,48) mais frequente em mulheres. Além disso, a vitimização no grupo de 20 e 29 anos foi 1,51 vezes (IC 95%: 1,28-1,77) maior em relação ao grupo de 40 a 49 anos. Outro achado associado foi não possuir companheiro (RP: 1,86; IC 95%: 1,66-2,09). Ainda, ser residente na zona urbana/periurbana revela uma frequência 1,60 vezes maior do evento (IC 95%: 1,25-2,05). Quanto às características dos agressores, encontrou-se maior prevalência de perpetradores de 25 anos ou mais (RP: 1,50; IC 95%: 1,26-1,78). A agressão sexual contra adultos é cerca de oito vezes mais cometida por desconhecidos (RP: 9,37; IC 95%: 7,80-11,24), e, 1,62 vezes mais frequente envolvendo um agressor na ocorrência (IC 95%: 1,32-1,98). Quanto ao local da ocorrência da agressão sexual, a via pública foi 1,38 (IC 95%: 1,06-1,16) vezes mais frequente do que em outros locais (Tabela 3). Tabela 3 Análises bruta e ajustada das características da vítima, do agressor e da ocorrência relacionadas à violência sexual notificada na população adulta Variáveis Análise bruta Análise ajustada RP IC 95% p-value RP IC 95% p-value Sexo Masculino 1,0 <0,001 1,0 <0,001 Feminino 6,03 4,55-7,98 6,26 4,63-8,48 Faixa etária 20 a 29 anos 1,57 1,35-1,83 <0,001 1,51 1,28-1,77 <0,001 30 a 39 anos 1,16 0,98-1,36 1,13 0,95-1,34 40 a 49 anos 1,0 1,0 50 a 59 anos 1,19 0,95-1,48 1,27 1,01-1,60 Escolaridade 0 a 4 anos 1,0 <0,001 1,0 0,477 5 a 8 anos 1,27 1,03-1,56 1,06 0,85-1,32 9 anos ou mais 1,47 1,21-1,78 1,12 0,91-1,38 Situação conjugal Sem companheiro 1,80 1,60-2,02 <0,001 1,86 1,66-2,09 <0,001 Com companheiro 1,0 1,0 Deficiências/Transtornos Não 1,12 0,96-1,30 0,153 0,99 0,83-1,19 0,964 Sim 1,0 1,0 Zona de residência Urbana/Periurbana 1,90 1,51-2,40 <0,001 1,60 1,25-2,05 <0,001 Rural 1,0 1,0 Faixa etária do agressor 0-24 anos 1,0 0,006 1,0 <0,001 25 anos e mais 1,28 1,07-1,53 1,50 1,26-1,78 Vínculo com a vítima Parceiro íntimo (atual ou ex) 1,0 <0,001 1,0 <0,001 Conhecido 1,97 1,70-2,27 2,40 1,98-2,91 Desconhecido 6,96 6,16-7,86 9,37 7,80-11,24 Suspeita de uso de álcool Não 1,0 <0,001 1,0 0,240 Sim 1,50 1,32-1,71 1,10 0,94-1,30 Número de envolvidos Um 0,73 0,63-0,84 <0,001 1,62 1,32-1,98 <0,001 Dois ou mais 1,0 1,0 Local de ocorrência Residência 0,81 0,79-0,84 <0,001 1,02 0,98-1,07 <0,001 Via pública 1,09 1,06-1,13 1,38 1,06-1,16 Outros 1,0 1,0 Violência de repetição Não 2,12 1,89-2,37 <0,001 1,09 0,91-1,30 0,362 Sim 1,0 1,0 RP - razão de prevalências; IC95% - intervalo de confiança de 95% Discussão Os resultados apresentados mostram que 6,2% das notificações de violência interpessoal entre adultos foram tipificadas como sexual. Além disso, a vitimização foi cerca de seis vezes mais prevalente entre pessoas do sexo feminino, mais frequente entre adultos mais jovens na faixa etária de 20 a 29 anos e quase duas vezes mais prevalente entre os que referiram não possuir companheiro. Esse tipo de violência ainda esteve associado ao fato de a vítima residir em zona urbana ou periurbana, à agressores com mais de 25 anos de idade e com a ocorrência em via pública e com apenas um perpetrador. A agressão por desconhecidos foi cerca de nove vezes mais prevalente do que no grupo de agressores que possuíam algum vínculo com a vítima. Quanto a sua magnitude, a violência sexual foi responsável por 6,2% das notificações de violência registradas na população adulta do Espírito Santo. O VIVA Inquérito, estudo nacional realizado em diversas capitais do pais, estima que 1,5% dos atendimentos por violência ocorridos nos hospitais de urgência e emergência são motivados por agressões sexuais.(8)Esse resultado acompanha o cenário geral das violências no país e suas tendências, reforçando a posição do Espírito Santo como estado onde os altos números da violência ainda perduram.(9) Foi observado ainda que a violência sexual foi 6,26 vezes (IC 95%: 4,63-8,48) mais frequente em mulheres. Tal dado se assemelha a estudos nacionais em que 86% das notificações eram de pessoas do sexo feminino.(10)Este cenário expressa as relações desiguais de poder que cercam homens e mulheres, resultado de valores culturais e religiosos que colocam a mulher em situação de vulnerabilidade e o homem em posição de dominação e força. Somados a isso, atentamos para as dificuldades de acesso e de compreensão desse tipo de violência por parte dos serviços assistenciais, o que tornam essa equação ainda mais desigual.(2) As análises apontam ainda que a violência sexual acomete maior prevalência de adultos jovens, com prevalência 1,51 vezes maior (IC 95%: 1,28-1,77) na faixa etária entre 20 e 29 anos em relação às vítimas de 40 a 49 anos; semelhante a estudo realizado no Piauí, onde mulheres com 20 a 29 anos eram 1,33 vezes mais vítimas desse agravo.(11) A vitimização sexual, em especial entre as mulheres, é mais frequente entre as mais jovens e à medida que acontece o envelhecimento, se torna menos prevalente considerando que as vítimas se tornam mais produtivas e independentes economicamente.(11) Sobre a situação conjugal, observou-se prevalência 1,86 vezes maior (IC 95%: 1,66-2,09) entre as que declararam não possuir companheiro. Em estudo realizado na Bélgica, ter um companheiro foi associado a uma diminuição do risco de vitimização sexual no último ano, quando comparado aos entrevistados que não possuíam parceiro.(12)Essa associação ainda é pouco explorada, no entanto, ela tem se justificado na possibilidade da falta de vínculo afetivo ser fator encorajador para a denúncia.(11) A prevalência de violência sexual foi 1,60 vezes maior (IC 95%: 1,25-2,05) entre as residentes de zona urbana ou periurbana, corroborando com os resultados de outros estudos realizados nos estados de Minas Gerais,(13) Pernambuco(14) e Bahia(15) onde a zona urbana apareceu com maior frequência de vitimados. Estes resultados indicam como possibilidades que pessoas da zona rural sofrem ou denunciam menos as situações de violência,(15) ou que locais onde haja maior desenvolvimento econômico e social possuem maior número de unidades notificadoras.(3) Além disso, maiores prevalências foram evidenciadas por agressores com 25 anos ou mais (RP: 1,50; IC 95%: 1,26-1,78), e entre as ocorrências de apenas um perpetrador (RP: 1,62; IC95%: 1,32-1,98). Em São Paulo a faixa etária mais prevalente do agressor era de adultos jovens.(16) Já no Paraná foi observado apenas um agressor em cerca de 79% dos casos,(17) enquanto no estado do Piauí foi próxima de 90% em estudo realizado com mulheres entre 10 e 49 anos de idade.(11) Sobre o vínculo com o agressor, a violência sexual foi 9,37 vezes mais perpetrada por desconhecido. Este dado se assemelha a estudo realizado com vítimas de violência sexual no Piauí, justificando pela provável subnotificação desses casos, uma vez que a culpa e a vergonha que a vítima traz consigo, quando o agressor faz parte do seu círculo familiar, são obstáculos no reconhecimento e registro desses casos nos serviços assistenciais.(11) Outro resultado deste estudo foi o local de ocorrência da violência sexual mais frequente na via pública. De maneira geral, este é o cenário encontrado para este tipo de violência na população adulta, a ocorrência da agressão em local público é associada à violência sexual.(11)Essa associação deve servir de alerta para a segurança pública, uma vez que a abordagem às vítimas por seus agressores em ambiente público durante seus deslocamentos cotidianos remete à necessidade de maior visibilidade à esse tipo de agressão, permitindo ações protetivas de enfrentamento a esse agravo.(18) Os limites deste estudo estão associados ao delineamento transversal proposto que não permite relação de causalidade entre as variáveis, limitando os resultados à população estudada. Além disso, o estudo trata da análise de um banco de dados secundários de um sistema de informação em saúde, limitado a um período temporal, inviabilizando análises mais amplas e atuais que a temática requer. No entanto, contribui com informações importantes para elucidar este cenário. Conclusão Este é o primeiro estudo que se tem conhecimento, sobre a frequência da violência sexual na população adulta do Espírito Santo, evidenciando a problemática e a magnitude deste agravo no estado. Os resultados apontam para uma prevalência significativa desse tipo de violência na população adulta, associada a vítimas do sexo feminino, adultos jovens, que não possuíam companheiro e residentes em zona urbana ou periurbana. Quanto aos agressores e à agressão, a violência esteve associada a perpetradores com mais de 25 anos, desconhecidos de suas vítimas, com o envolvimento de um único agressor e ocorrência em local público. O conhecimento das prevalências da violência sexual e de seus fatores associados contribui substancialmente para o planejamento de ações estratégicas de saúde pública e de enfrentamento ao agravo, bem como para a qualificação dos profissionais e dos serviços envolvidos no acolhimento e no manejo de pessoas em situação de violência. Para tanto, são necessários o fortalecimento dos sistemas de informação em saúde enquanto potência no fomento desses dados e o reconhecimento do protagonismo do setor saúde e de seus profissionais no acompanhamento especializados dos casos. Referências 1 1. World Health Organization (WHO). Violence against women – Intimate partner and sexual violence against women. Geneva: WHO; 2011 [cited 2021 Jun 14]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/112325/WHO_RHR_14.11_eng.pdf World Health Organization (WHO) Violence against women – Intimate partner and sexual violence against women Geneva WHO 2011 cited 2021 Jun 14 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/112325/WHO_RHR_14.11_eng.pdf 2 2. Borumandnia N, Khadembashi N, Tabatabaei M, Majd HA. The prevalence rate of sexual violence worldwide: a trend analysis. BMC Public Health. 2020;20(1):1-7. Borumandnia N Khadembashi N Tabatabaei M Majd HA The prevalence rate of sexual violence worldwide: a trend analysis BMC Public Health 2020 20 1 1 7 3 3. Silva JVD, Roncalli AG. Trend of social iniquities in reports of sexual violence in Brazil between 2010 and 2014. Rev Bras Epidemiol. 2020;23:e200038. Silva JVD Roncalli AG Trend of social iniquities in reports of sexual violence in Brazil between 2010 and 2014 Rev Bras Epidemiol 2020 23 e200038 4 4. Polidoro M, Cunda BV, Oliveira DC. Vigilância da violência no Rio Grande do Sul: panorama da qualidade e da quantidade das informações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 2014 a 2018. Saúde em Redes]. 2020;6(2):195-206. Polidoro M Cunda BV Oliveira DC Vigilância da violência no Rio Grande do Sul: panorama da qualidade e da quantidade das informações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 2014 a 2018 Saúde em Redes 2020 6 2 195 206 5 5. Marinho-Neto KR, Girianelli VR. Evolução da notificação de violência contra mulher no município de São Paulo, 2008-2015. Cad Saude Colet. 2020;28(4):488-99. Marinho-Neto KR Girianelli VR Evolução da notificação de violência contra mulher no município de São Paulo, 2008-2015 Cad Saude Colet 2020 28 4 488 499 6 6. Teofilo MM, Kale PL, Eppinghaus AL, Azevedo OP, Farias RS, Maduro JP, et al. Violência contra mulheres em Niterói, Rio de Janeiro: informações do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (2010-2014). Cad Saude Colet. 2019;27(4):437-47. Teofilo MM Kale PL Eppinghaus AL Azevedo OP Farias RS Maduro JP et al Violência contra mulheres em Niterói, Rio de Janeiro: informações do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (2010-2014) Cad Saude Colet 2019 27 4 437 447 7 7. Brasil. Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2011 [citado 2021 Jun 14]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html Brasil Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional 2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde Brasília (DF) Ministério da Saúde 2011 citado 2021 Jun 14 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html 8 8. Souto RM, Barufaldi LA, Nico LS, Freitas MG. Perfil epidemiológico do atendimento por violência nos serviços públicos de urgência e emergência em capitais brasileiras, Viva 2014. Ciênc Saúde Coletiva. 2017;22(9): 2811-23. Souto RM Barufaldi LA Nico LS Freitas MG Perfil epidemiológico do atendimento por violência nos serviços públicos de urgência e emergência em capitais brasileiras, Viva 2014 Ciênc Saúde Coletiva 2017 22 9 2811 2823 9 9. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Atlas da violência 2020. IPEA; 2020 [citado 2021 Jun 14]. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=36488&Itemid=432 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Atlas da violência 2020 IPEA 2020 citado 2021 Jun 14 https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=36488&Itemid=432 10 10. Gaspar RS, Pereira MU. Evolução da notificação de violência sexual no Brasil de 2009 a 2013. Cad Saúde Pública. 2018;34(11):e00172617. Gaspar RS Pereira MU Evolução da notificação de violência sexual no Brasil de 2009 a 2013 Cad Saúde Pública 2018 34 11 e00172617 11 11. Madeiro A, Rufino AC, Sales IC, Queiroz LC. Violência física ou sexual contra a mulher no Piauí, 2009-2016. J Health Biol Sci. 2019;7(3):258-64. Madeiro A Rufino AC Sales IC Queiroz LC Violência física ou sexual contra a mulher no Piauí, 2009-2016 J Health Biol Sci 2019 7 3 258 264 12 12. Schapansky E, Depraetere J, Keygnaert I, Vandeviver C. Prevalence and Associated Factors of Sexual Victimization: Findings from a National Representative Sample of Belgian Adults Aged 16-69. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(14):7360. Schapansky E Depraetere J Keygnaert I Vandeviver C Prevalence and Associated Factors of Sexual Victimization: Findings from a National Representative Sample of Belgian Adults Aged 16-69 Int J Environ Res Public Health 2021 18 14 7360 13 13. Kataguiri LG, Scatena LM, Rodrigues LR, Castro SS. Characterization of sexual violence in a state from the southeast region of Brazil. Texto Contexto Enferm. 2019;28:e20180183. Kataguiri LG Scatena LM Rodrigues LR Castro SS Characterization of sexual violence in a state from the southeast region of Brazil Texto Contexto Enferm 2019 28 e20180183 14 14. Holanda ER, Holanda VR, Vasconcelos MS, Souza VP, Galvão MT. Fatores associados à violência contra as mulheres na atenção primária de saúde. Rev Bras Promoç Saúde. 2018;31(1):1-9. Holanda ER Holanda VR Vasconcelos MS Souza VP Galvão MT Fatores associados à violência contra as mulheres na atenção primária de saúde Rev Bras Promoç Saúde 2018 31 1 1 9 15 15. Silva MP, Santos BO, Ferreira TB, Lopes AO. Violence and its repercussions in the life of contemporary women. Rev Enferm UFPE On Line. 2017;11(8):3057-64. Silva MP Santos BO Ferreira TB Lopes AO Violence and its repercussions in the life of contemporary women Rev Enferm UFPE On Line 2017 11 8 3057 3064 16 16. Armond JE, Armond RE, Silva CV, Rodrigues CL, Oliveira JC. Uma visão geral de um país em desenvolvimento sobre homens vítimas de violência física e sexual. Nurs (São Paulo). 2020;23(269):4741-50. Armond JE Armond RE Silva CV Rodrigues CL Oliveira JC Uma visão geral de um país em desenvolvimento sobre homens vítimas de violência física e sexual Nurs (São Paulo) 2020 23 269 4741 4750 17 17. Batista VC, Back IR, Monteschio LV, Arruda DC, Rickli HC, Grespan LR, et al. Profile of the notifications on sexual violence. Rev Enferm UFPE On Line. 2018;15(5):1372-80. Batista VC Back IR Monteschio LV Arruda DC Rickli HC Grespan LR et al Profile of the notifications on sexual violence Rev Enferm UFPE On Line 2018 15 5 1372 1380 18 18. Delziovo CR, Bolsoni CC, Nazário NO, Coelho EB. Características dos casos de violência sexual contra mulheres adolescentes e adultas notificados pelos serviços públicos de saúde em Santa Catarina, Brasil. Cad Saude Publica. 2017;33(6):1-13. Delziovo CR Bolsoni CC Nazário NO Coelho EB Características dos casos de violência sexual contra mulheres adolescentes e adultas notificados pelos serviços públicos de saúde em Santa Catarina, Brasil Cad Saude Publica 2017 33 6 1 13 10.37689/acta-ape/2022AO0184666 Original Article Analysis of reported cases of sexual violence against the adult population 0000-0001-8461-2984 Fiorotti Karina Fardin 1 0000-0002-2859-159X Pedroso Márcia Regina de Oliveira 2 0000-0002-6171-6972 Leite Franciéle Marabotti Costa 1 1 Brazil Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brazil. 2 Brazil Universidade Federal do Oeste da Bahia, Barreiras, BA, Brazil. Corresponding author: Franciéle Marabotti Costa Leite E-mail: francielemarabotti@gmail.com Associate Editor (Peer review process): Rosely Erlach Goldman (https://orcid.org/0000-0002-7091-9691) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brazil Collaborations Fiorotti KF, Pedroso MRO and Leite FMC declare that they contributed to the study design, data analysis and interpretation, article writing, relevant critical review of the intellectual content and approval of the final version to be published. Conflicts of interest: none to declare. Abstract Objective To identify the prevalence of sexual violence in the adult population of the state of Espírito Santo and analyze its association with characteristics of the victim, the aggressor and the occurrence. Methods Epidemiological, analytical, cross-sectional study developed with notifications of sexual violence in adults aged 20-59 years between 2011 and 2018 from the Information System for Diseases and Notification. Data were obtained by the Health Department after project approval by the Ethics Committee in August 2019. The dependent variable was sexual violence and the independent variables were the characteristics of the victim, the aggressor and the occurrence. The analysis was performed using Stata 14.1 and the Poisson regression results were presented by prevalence ratio. Results Sexual violence accounted for 6.2% of reports of interpersonal violence and was about six times more prevalent among women. Victimization in the age group of 20-29 years was 1.51 times higher compared to the group of 40-49 years and 1.86 times higher in those who did not have a partner. It was also associated with residence in an urban area (PR: 1.60), aggressor aged 25 years or older (PR: 1.50), unknown (PR: 9.37), a single perpetrator (PR: 1.62) and occurrence in public places (PR: 1.38). Conclusion Violence is present among adults and some are more vulnerable, such as women, young adults without a partner, victims in urban areas, occurrences in public places and perpetrated by an older, unknown, single aggressor. These findings can support strategic actions to combat violence. Violence Sex offenses Health information systems Adult Introduction Sexual violence is a public health problem that affects different areas of society worldwide. This problem is defined by the World Health Organization (WHO) as any sexual act, attempt to obtain a sexual act, unwanted sexual comments or advances, or acts to traffic, or otherwise directed, against a person’s sexuality using coercion, by any person, regardless of their relationship to the victim, in any setting, including but not limited to home and work.(1) It extends to all cycles of human life in different ways at each stage of development, causing harm to the health of men and women. In productive ages, its impacts on society go beyond the health sector. Broad and heterogeneous, it is estimated that the global prevalence rate of sexual violence among women is 2,816 cases per 100,000 people, and among men is 1,194 cases per 100,000 people.(2) It is important to consider that sexual violence has very variable estimates, since it is a problem with a broad concept and strongly influenced by cultural values, especially among men, where sexual crimes are less understood and less recognized by society.(2) In Brazil, the average rate of reported cases of sexual violence is 4.38 notifications per 100,000 inhabitants, a worrying fact, since institutional records of sexual violence are only a fraction of the dimension of this problem, representing only victims who somehow accessed care services.(3) Feelings of guilt, shame and fear commonly affect people in situations of violence and prevent them from seeking support services. Health professionals play a relevant role in this context by offering qualified and safe embracement to the victims and making referrals to various care sectors.(4) Likewise, health notification systems play an important role in the line of care by giving visibility to the problem and supporting services and public policies.(5) Timely and systematized notification of violence allows the coordination between health services and a joint action with other sectors of society, such as education, social services, the judiciary and non-governmental organizations.(6) In view of the above, we understand that sexual violence is a broad and complex public health issue that needs to be better understood in order to be addressed appropriately. This study expands knowledge about the phenomenon, providing support for the development of strategies to prevent and cope with violence in the adult population. In this perspective, the objective of this study was to identify the prevalence of reported cases of sexual violence in the adult population of the state of Espírito Santo between 2011 and 2018, and analyze its association with the characteristics of the victim, the aggressor and the aggression. Methods This is an epidemiological, analytical cross-sectional study performed with data from the Information System for Diseases and Notification - SINAN in the state of Espírito Santo, Brazil, between 2011 and 2018. Data were extracted from the system by the State Health Department in September 2019 after approval of the study by the ethics committee. All cases of this condition registered in the system during the established period were included in the analysis. The choice for the data collection period was due to the mandatory notification of cases of violence by all health services as of Ordinance 104 of January 2011.(7) As a condition of compulsory notification, cases of violence are monitored through the interpersonal and self-inflicted violence notification form. The study outcome variable was interpersonal sexual violence (yes/no). Independent variables were composed by the victim’s characteristics: sex (female/male), age (20-29 years old/30-39 years old/40-49 years old/50-59 years old), race/color (white/black or mixed race), education (0-4 years/5-8 years/9 years or more), marital status (with a partner/without a partner), area of residence (urban or peri-urban/rural) and presence of disability or disorder (yes/no); by characteristics of the aggressor: sex (female/male), age group (up to 24 years old/25 years old or more), relationship with the victim (current intimate partner or ex/acquaintance/unknown) and suspected alcohol use (yes/no); and characteristics of the occurrence of the event: number of people involved (one/two or more), place of occurrence (residence/public place/others), history of repetition (yes/no) and referrals to other services (yes/no). Descriptive analysis was performed using relative and absolute frequencies and 95% confidence intervals. The Pearson’s chi-square test was used in bivariate analysis. In multivariate analysis, Poisson regression was used through the hierarchical model with the victim’s characteristics as the first level and the characteristics of the aggressor and the aggression as the second level. The variables that entered the model were those with a p-value lower than 0.2 in bivariate analysis; their maintenance in the model followed the criterion of p less than 0.05. Results were expressed in crude and adjusted Prevalence Ratio (PR) with the respective 95% confidence intervals (95% CI). The author’s sex variable was not included in the model due to the low number of cases in the categories. All analyzes were performed using the Stata 14.1 software. The STROBE initiative recommendations were used for the presentation of the study. This study was approved by the Research Ethics Committee of the Universidade Federal do Espírito Santo under opinion number 2.819.597 and the norms and guidelines of Resolutions 466/2012 and 510/2016 of the National Health Council were observed (CAAE: 88138618.0.0000.5060). Results Between years 2011 and 2018, 1,332 (P:6.2%; 95% CI:5.9-6.5) notifications of sexual violence in the adult population of Espírito Santo were reported; of these, 1,282 notifications were against women and 50 cases against men (data not shown in table). Table 1 presents the characteristics of the population. In most cases, victims of sexual violence were women (P: 96.2%; 95% CI: 95.1-97.1), with 44% (95% CI: 41.4-46.7) aged 20-29 years, self-declared as black or mixed race (P: 67.3%; 95%CI: 64.7-69.9), about six out of ten victims had nine years of schooling or more and did not have a partner. It was also observed that 84.4% (95% CI: 82.3-86.3) did not have disabilities and 94.3% (95% CI: 92.9-95.5) lived in urban or peri-urban areas. As for characteristics of the aggressor, almost all were men (P: 98.6%; 95% CI: 97.8-99.1); aged 25 years or older (P: 80.0%; 95% CI: 77.0-82.8); and 45.2% (95% CI: 42.5-48.0) were unknown to the victim. Suspected alcohol use occurred in 55.6% (95% CI: 52.3-58.9) of notifications, in 84.1% of cases there was only one aggressor (95% CI: 82.0-86.0) and the residence was the main place of occurrence (P: 54.1%; 95% CI: 51.3-56.9). There was no recurrence of the condition in 62.6% of cases and nine out of ten were referred to follow-up at other services (Table 1). Table 1 Characterization of reported cases of sexual violence in the adult population according to victim, aggressor and occurrence data Variables n(%) 95% CI Sex Male 50(3.8) 2.9-4.9 Female 1282(96.2) 95.1-97.1 Age group 20-29 years 586(44.0) 41.4-46.7 30-39 years 412(30.9) 28.5-33.5 40-49 years 215(16.1) 14.3-18.2 50-59 years 119(8.9) 7.5-10.6 Race/Color White 397(32.7) 30.1-35.3 Black/mixed race 819(67.3) 64.7-69.9 Education 0-4 years 116(11.4) 9.6-13.5 5-8 years 285(28.1) 25.4-30.9 9 years or more 615(60.5) 57.5-63.5 Marital status No partner 813(66.1) 63.5-68.7 With partner 416(33.9) 31.3-36.6 Disabilities/disorders No 1023(84.4) 82.3-86.3 Yes 189(15.6) 13.7-17.8 Zone of residence Urban/peri-urban 1212(94.3) 92.9-95.5 Rural 73(5.7) 4.5-7.1 Sex of the aggressor Male 1289(98.6) 97.8-99.1 Female 10(0.8) 0.4-1.4 Both 8(0.6) 0.3-1.2 Age group of aggressor 0 – 24 years 145(20.0) 17.2-23.1 25 years or older 581(80.0) 77.0-82.8 Relationship with the victim Intimate partner (current or former) 358(28.0) 25.6-30.5 Known 343(26.8) 24.4-29.3 Unknown 579(45.2) 42.5-48.0 Suspected alcohol use No 391(44.4) 41.1-47.7 Yes 490(55.6) 52.3-58.9 Number of people involved One 1063(84.1) 82.0-86.0 Two or more 201(15.9) 14.0-18.0 Place of occurrence Residence 668(54.1) 51.3-56.9 Public place 358(29.0) 26.5-31.6 Others 208(16.9) 14.9-19.1 Repeated violence No 758(62.6) 59.9-65.3 Yes 452(37.4) 34.7-40.1 Referral No 130(9.9) 8.4-11.6 Yes 1187(90.1) 88.4-91.6 95% CI - 95% confidence interval In bivariate analysis, there is a relationship between sexual violence and the variables sex, age group, education, marital status and area of residence of the victim, as well as age group and sex of the aggressor, relationship with the victim, suspected alcohol use by the aggressor, number of people involved, place of occurrence, history of repetition and referral to other services (p<0.05). Only the variables race/color and presence of disabilities/disorders were not related to this type of violence (Table 2). Table 2 Bivariate analysis of reported sexual violence in the adult population according to characteristics of the victim, the aggressor and the occurrence Variables n(%) 95% CI p-value Sex Male 50(1.2) 0.9-1.6 <0.001 Female 1282(7.3) 7.0-7.7 Age group 20-29 years 586(7.6) 7.0-8.2 <0.001 30-39 years 412(5.6) 5.1-6.1 40-49 years 215(4.8) 4.2-5.5 50-59 years 119(5.7) 4.8-6.8 Race/Color White 397(6.6) 6.0-7.2 0.706 Black/mixed race 819(6.4) 6.0-6.9 Education 0-4 years 116(5.4) 4.5-6.4 <0.001 5-8 years 285(6.8) 6.1-7.6 9 years or more 615(7.9) 7.4-8.6 Marital status Without partner 813(8.6) 8.1-9.2 <0.001 With partner 416(4.8) 4.4-5.3 Disabilities/disorders No 1023(6.9) 6.5-7.3 0.152 Yes 189(6.2) 5.4-7.1 Zone of residence Urban/peri-urban 1212(6.4) 6.1-6.8 <0.001 Rural 73(3.4) 2.7-4.2 Sex of the aggressor Male 1289(9.6) 9.1-10.1 <0.001 Female 10(0.2) 0.1-0.3 Both 8(2.7) 1.3-5.2 Age group of aggressor 0-24 years 145(4.1) 3.5-4.9 0.006 25 years and older 581(5.3) 4.9-5.7 Relationship with the victim Intimate partner (current or former) 358(4.4) 4.0-4.9 <0.001 Known 343(8.7) 7.9-9.6 Unknown 579(30.8) 28.8-32.9 Suspected alcohol use No 391(4.9) 4.5-5.4 <0.001 Yes 490(7.4) 6.8-8.1 Number of involved One 1063(6.1) 5.7-6.4 <0.001 Two or more 201(8.4) 7.3-9.5 Place of occurrence Residence 668(4.8) 4.5-5.2 <0.001 Public place 358(11.0) 9.9-12.1 Others 208(11.0) 9.7-12.5 Repeated violence No 758(10.2) 9.6-10.9 <0.001 Yes 452(4.8) 4.4-5.3 Referral No 130(3.4) 2.9-4.0 <0.001 Yes 1187(7.0) 6.6-7.4 95% CI - 95% confidence interval Table 3 shows that after adjusted analysis, sexual violence was 6.26 times (95% CI: 4.63-8.48) more frequent in women. In addition, victimization in the group of 20-29 years was 1.51 times (95% CI: 1.28-1.77) higher than in the group of 40-49-years. Another associated finding was not having a partner (PR: 1.86; 95% CI: 1.66-2.09). Also, the frequency of the occurrence (95% CI: 1.25-2.05) was 1.60 times greater in residents of the urban/peri-urban area. As for characteristics of aggressors, a higher prevalence of perpetrators aged 25 years or older was found (PR: 1.50; 95% CI: 1.26-1.78). Sexual aggression against adults is about eight times more committed by strangers (PR: 9.37; 95% CI: 7.80-11.24), and 1.62 times more frequent involving one aggressor in the occurrence (CI 95 %: 1.32-1.98). As for the place where the sexual assault took place, public places were 1.38 (95% CI: 1.06-1.16) times more frequent than other places (Table 3). Table 3 Crude and adjusted analysis of characteristics of the victim, the aggressor and the occurrence related to reported sexual violence in the adult population Variables Crude analysis Adjusted analysis PR 95% CI p-value PR 95% IC p-value Sex Male 1.0 <0.001 1.0 <0.001 Female 6.03 4.55-7.98 6.26 4.63-8.48 Age group 20-29 years 1.57 1.35-1.83 <0.001 1.51 1.28-1.77 <0.001 30-39 years 1.16 0.98-1.36 1.13 0.95-1.34 40-49 years 1.0 1.0 50-59 years 1.19 0.95-1.48 1.27 1.01-1.60 Education 0-4 years 1.0 <0.001 1.0 0.477 5-8 years 1.27 1.03-1.56 1.06 0.85-1.32 9 years or more 1.47 1.21-1.78 1.12 0.91-1.38 Marital status Without partner 1.80 1.60-2.02 <0.001 1.86 1.66-2.09 <0.001 With partner 1.0 1.0 Disabilities/disorders No 1.12 0.96-1.30 0.153 0.99 0.83-1.19 0.964 Yes 1.0 1.0 Zone of residence Urbana/peri-urban 1.90 1.51-2.40 <0.001 1.60 1.25-2.05 <0.001 Rural 1.0 1.0 Age group of aggressor 0-24 years 1.0 0.006 1.0 <0.001 25 years and older 1.28 1.07-1.53 1.50 1.26-1.78 Relationship with the victim Intimate partner (current or former) 1.0 <0.001 1.0 <0.001 Known 1.97 1.70-2.27 2.40 1.98-2.91 Unknown 6.96 6.16-7.86 9.37 7.80-11.24 Suspected alcohol use No 1.0 <0.001 1.0 0.240 Yes 1.50 1.32-1.71 1.10 0.94-1.30 Number of involved One 0.73 0.63-0.84 <0.001 1.62 1.32-1.98 <0.001 Two or more 1.0 1.0 Place of occurrence Residence 0.81 0.79-0.84 <0.001 1.02 0.98-1.07 <0.001 Public place 1.09 1.06-1.13 1.38 1.06-1.16 Others 1.0 1.0 Repeated violence No 2.12 1.89-2.37 <0.001 1.09 0.91-1.30 0.362 Yes 1.0 1.0 PR - prevalence ratio; 95%CI - 95% confidence interval Discussion The results show that 6.2% of reports of interpersonal violence between adults were classified as sexual. In addition, victimization was about six times more prevalent among females, more frequent among younger adults aged 20-29 years and almost twice more prevalent among those who reported not having a partner. This type of violence was also associated with the fact of the victim living in an urban or peri-urban area, aggressors over 25 years of age, occurring in public places and inflicted by a single aggressor. Aggression by strangers was about nine times more prevalent than any group of aggressors who had any relationship with the victim. Regarding its magnitude, sexual violence was responsible for 6.2% of reports of violence recorded in the adult population of Espírito Santo. The VIVA Inquérito, a national study conducted in different Brazilian capitals, estimates that 1.5% of consultations for violence in urgent and emergency hospitals are motivated by sexual assaults.(8) This result follows the general scenario of violence in the country and its trends, reinforcing the position of Espírito Santo as a state where high levels of violence still persist.(9) It was also observed that sexual violence was 6.26 times (95% CI: 4.63-8.48) more frequent in women. This finding is similar to national studies in which 86% of notifications were from females.(10) This scenario expresses the unequal power relations surrounding men and women, the result of cultural and religious values that place women in a situation of vulnerability and men in a position of domination and strength. Added to this, we highlight the difficulties of access and of understanding this type of violence on the part of assistance services, which make this equation even more unequal.(2) The analyzes also indicate that sexual violence affects a higher prevalence of young adults, with a prevalence 1.51 times higher (95% CI: 1.28-1.77) in the age group 20-29 years compared to victims aged 40-49 years; similar to a study conducted in Piauí, where women aged 20-29 years were 1.33 times more victims of this occurrence.(11) Sexual victimization, especially among women, is more frequent among younger women and becomes less prevalent with aging, as victims become more economically productive and independent.(11) Regarding marital status, prevalence was 1.86 times higher (95% CI: 1.66-2.09) among those who reported not having a partner. In a study conducted in Belgium, having a partner was associated with a decrease in the risk of sexual victimization in the prior year compared to respondents who did not have a partner.(12) This association is still little explored, but it has been justified in the possibility of the lack of affective bond being an encouraging factor for the complaint.(11) The prevalence of sexual violence was 1.60 times higher (95% CI: 1.25-2.05) among residents of urban or peri-urban areas, corroborating the results of other studies conducted in the states of Minas Gerais,(13) Pernambuco(14) and Bahia,(15) where the urban area appeared with the highest frequency of victims. These results indicate that people in rural areas may suffer or report less situations of violence(15) or that places more economically and socially developed have a greater number of reporting units.(3) In addition, a higher prevalence of aggressors aged 25 years or older (PR: 1.50; 95% CI: 1.26-1.78) and of occurrences with only one perpetrator (PR: 1.62; CI95 %: 1.32-1.98) was evidenced. In São Paulo, the most prevalent age group of aggressors was young adults.(16) In Paraná, only one aggressor was observed in about 79% of cases,(17) and in the state of Piauí, it was close to 90% in a study conducted with women aged 10-49 years.(11) Regarding the relationship with the aggressor, sexual violence was 9.37 times more perpetrated by strangers. This information is similar to that of a study of victims of sexual violence in Piauí, justifying the probable underreporting of these cases, since the guilt and shame felt by the victim when the aggressor is part of their family circle are obstacles to the recognition and registration of these cases in care services.(11) Another result of this study was that the most frequent places of occurrence of sexual violence were public places. In general, this is the scenario for this type of violence in the adult population and the occurrence of aggression in public places is associated with sexual violence.(11) Such an association should serve as a warning to public safety, since the approach to victims by their aggressors in a public space during their daily trips shows the need for greater visibility of this type of aggression and protective actions to face this problem.(18) The limitations of this study are associated with its cross-sectional design that does not allow a causal relationship between variables and limits the results to the population studied. In addition, the study addresses the analysis of a secondary database of a health information system within a limited period of time, thereby making impossible to do broader and more current analyzes as this theme requires. However, it provides important information to elucidate this scenario. Conclusion This is the first known study on the frequency of sexual violence in the adult population of Espírito Santo that highlights the problem and its magnitude in the state. The results point to a significant prevalence of this type of violence in the adult population, associated with female victims, young adults who do not have a partner and live in urban or peri-urban areas. As for aggressors and aggression, violence was associated with perpetrators over 25 years of age, unknown to their victims, involvement of a single aggressor and occurring in a public place. Knowledge of the prevalence of sexual violence and its associated factors contributes substantially to the planning of strategic public health actions and to combat the problem, as well as to the qualification of professionals and services involved in the embracement and management of people in situations of violence. Therefore, it is necessary to strengthen health information systems as powerful resources to provide these data and recognize the leading role of the health sector and its professionals in the specialized follow-up of cases.
location_on
Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: actapaulista@unifesp.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro