Vacinação pelo sistema drive thru durante a pandemia COVID-19: revisão integrativa

Vacunación mediante el sistema drive-thru durante la pandemia de COVID-19: revisión integradora

Resumo

Objetivo

Analisar como ocorreu o processo de vacinação pelo sistema drive-thru durante a pandemia COVID-19 no contexto global.

Métodos

Esta foi uma revisão integrativa da literatura, realizada em fevereiro de 2023 na plataforma Scientific Electronic Library Online (SciELO), no Portal Eletrônico Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e nas bases de dados Medline/Pubmed, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), SciVerse Scopus e Web of Science. A estratégia de busca combinou palavras-chave, descritores em ciências da saúde e operadores booleanos. Foi adotada a revisão dupla independente com um terceiro revisor para consenso. As publicações foram organizadas em um quadro sinóptico e classificadas conforme a tríade estrutura-processo-resultado, proposta por Donabedian.

Resultados

Foram encontradas 331 publicações; oito delas atenderam aos critérios pré-definidos. A categoria estrutura descreve a estrutura do modelo drive com diversos arranjos. A categoria processo, apresenta semelhanças e diferenças entre estudos brasileiros e norte-americanos. De forma geral, a categoria resultado aponta que a vacinação pelo sistema drive-thru é efetiva, embora sobrecarga de trabalho e esgotamento profissional sejam também citados.

Conclusão

A vacinação por drive-thru foi uma estratégia bem-sucedida durante a pandemia COVID-19 pois possibilitou manter as medidas sanitárias de segurança além de proporcionar vacinação em massa em curto tempo. Porém, é necessário aperfeiçoar tal sistema para uso nas ações de saúde, para melhor entender quais são os melhores esquemas de execução, capacitação profissional e possibilidades de estruturas adequadas para o sucesso dessas ações.

Vacinas; Vacinação em massa; Programas de imunização; COVID-19; Pandemias; Unidades de diagnóstico rápido

Resumen

Objetivo

Analizar cómo se realizó el proceso de vacunación mediante el sistema drive-thru durante la pandemia de COVID-19 en el contexto global.

Métodos

Se trató de una revisión integradora de la literatura, realizada en febrero de 2023 en la plataforma Scientific Electronic Library Online (SciELO), en el Portal Electrónico Biblioteca Virtual de la Salud (BVS) y en las bases de datos Medline/Pubmed, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), SciVerse Scopus y Web of Science. La estrategia de búsqueda combinó palabras clave, descriptores de ciencias de la salud y operadores booleanos. Se adoptó la revisión doble independiente con un tercer revisor para consenso. Las publicaciones se organizaron en un cuadro sinóptico y se clasificaron de acuerdo con la tríada estructura-proceso-resultado, propuesta por Donabedian.

Resultados

Se encontraron 331 publicaciones y ocho de ellas cumplieron los criterios prestablecidos. La categoría Estructura describe la estructura del modelo drive con diferentes disposiciones. La categoría Proceso presenta similitudes y diferencias entre estudios brasileños y norteamericanos. La categoría Resultado indica, de forma general, que la vacunación mediante el sistema drive-thru es efectiva, aunque también se menciona la sobrecarga de trabajo y el agotamiento profesional.

Conclusión

La vacunación mediante drive-thru fue una estrategia exitosa durante la pandemia de COVID-19, ya que permitió mantener las medidas sanitarias de seguridad además de proporcionar la vacunación en masa en poco tiempo. Sin embargo, es necesario perfeccionar el sistema para ser utilizado en acciones sanitarias y comprender cuáles son los mejores esquemas de ejecución y de capacitación profesional y las posibilidades de estructuras adecuadas para el éxito de estas acciones.

Vacunas; Vacunación massiva; Programas de Inmunización; COVID-19; Pandemias; Unidades de diagnóstico rápido

Abstract

Objective

To analyze how the drive-thru vaccination process occurred during the COVID-19 pandemic in the global context.

Methods

This was an integrative literature review, carried out in February 2023 on the Scientific Electronic Library Online (SciELO) platform, on the Virtual Health Library Electronic Portal (VHL) and on Medline/Pubmed, Cumulative Index to Nursing and Allied databases on Health Literature (CINAHL), SciVerse Scopus and Web of Science. The search strategy combined keywords, health science descriptors and Boolean operators. Independent double review with a third reviewer for consensus was adopted. The publications were organized in a synoptic table and classified according to the structure-process-result triad, proposed by Donabedian.

Results

331 publications were found; eight of them met the pre-defined criteria. The structure category describes the structure of the drive thru model with different arrangements. The process category presents similarities and differences between Brazilian and North American studies. In general, the result category indicates that drive-thru vaccination system is effective, although work overload and professional exhaustion are also mentioned.

Conclusion

Drive-thru vaccination was a successful strategy during the COVID-19 pandemic as it made it possible to maintain health safety measures in addition to providing mass vaccination in a short time. However, it is necessary to improve this system for use in health actions, to better understand the best execution schemes, professional training and possibilities of appropriate structures for the success of these actions.

Vacines; Mass vacination; Immunization programs; COVID-19; Pandemics; Quick diagnosis units

Introdução

O sistema drive-thru ou (drive-through) surgiu no século XX com o uso intenso de automóveis nos centros urbanos. Desde então, continuou a crescer em diferentes formatos para ações em vários setores. Historicamente, este sistema está associado à entrega rápida de algum produto por meio da praticidade de um automóvel.¹ Na pandemia COVID-19, considerando as restrições impostas pelas autoridades de saúde, o drive-thru passou a ser usado para realizar exames de triagem e diagnóstico, além da vacinação em massa contra Influenza e COVID-19.²,³ Esta prática foi autorizada pela Agência Nacional de Saúde conforme portarias específicas de caráter excepcional e temporário.⁴

No drive-thru para vacinação, o usuário chega dentro de um automóvel ao local, onde encontrará profissionais de saúde habilitados a manter as normas sanitárias evitando a disseminação da doença. Após a aplicação da vacina, a pessoa é liberada, outro carro estaciona, e assim sucessivamente.⁵ Por isso, planejar a vacinação por esse sistema envolve características singulares, tais como intersetoriedade, reorganização de processos internos e espaço que permita aos usuários chegar em seus veículos e ir a um local adequado para realizar procedimentos invasivos com qualidade, segurança e efetividade.

No Brasil, a vacinação por drive-thru foi estruturada pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), sendo considerada pelo Ministério da Saúde (MS) como uma atividade “extramuros”. O PNI define tal atividade como autorizada pelos órgãos sanitários competentes e vinculada a um serviço de vacinação licenciado, que ocorre fora do estabelecimento preconizado, sendo destinada a uma população específica em um ambiente determinado.⁶ Cabe então destacar que essa ação já era prevista como uma possibilidade dos serviços de saúde embora pouco usada.

Assim, é notável que o uso deste sistema foi evidenciado durante a pandemia mas ainda não há consenso sobre como estruturar tal prática no setor saúde. Isso, somado à recente experiência dos trabalhadores de saúde neste cenário, aponta uma lacuna do conhecimento. Ela deve ser explorada para entender como ocorreu tal processo e possibilitar a replicação de experiências exitosas minimizando as fragilidades do sistema. Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar como ocorreu o processo de vacinação no sistema drive-thru durante a pandemia COVID-19 no contexto global.

Métodos

Esta foi uma revisão integrativa, cujo protocolo de pesquisa contemplou as seguintes etapas: formulação da pergunta, amostragem, extração de dados, avaliação crítica, análise, síntese dos resultados e apresentação.⁷ A formulação da pergunta de pesquisa foi baseada no acrônimo PICo (População/problema: vacinação; Interesse: drive-thru; Contexto: pandemia COVID-19).⁸ Para tanto, foi delineada a seguinte pergunta de revisão: Como ocorreu o processo de vacinação pelo sistema drive-thru durante a pandemia COVID-19 no contexto global? Para seleção da amostra, foram acessadas as seguintes plataformas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Medline/Pubmed, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), SciVerse Scopus e Web Of Science. A busca foi realizada em fevereiro de 2023, com palavras-chave e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) combinados aos operadores booleanos. Foi usado um recorte temporal desde 2020, justificado pela abertura das ações de vacinação após o início da pandemia da COVID-19. As estratégias de busca estão apresentadas no quadro 1.

Quadro 1
Estratégias de busca para seleção da amostra

Bibliotecas e/ou base de dados	Estratégia de Busca	Resultados	Excluídos	Incluídos
Scientific Electronic Library Online (SciELO)	vacina AND drive-thru	0	0	0
Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)	vacina AND drive-thru	14	12	2
	vacina AND “drive thru*”	14	14	0
	vacinação AND ‘’drive-through’’	84	80	4
Medline/Pubmed	vaccine AND “drive thru”	6	5	1
Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL)	vacinação OR vacinas OR vacina AND drive-thru OR “drive thru” OR drive-through OR “drive through” OR “mass vaccination”	176	176	0
SciVerse Scopus	vacinação OR vacinas OR vacina AND drive-thru OR “drive thru” OR drive-through OR “drive through”	1	1	0
Web of Science	vacinação OR vacinas OR vacina AND drive-thru OR “drive thru” OR drive-through OR “drive through”	36	35	1
Resultado final		331	323	8

A revisão integrativa identificou 331 publicações, mas o corpus do estudo foi constituído por oito produções. O processo de seleção ocorreu em duas etapas:

• Etapa 1: inclusão das publicações integralmente disponíveis online em português, inglês ou espanhol. Os estudos duplicados foram computados só uma vez. Dois revisores leram independente títulos e resumos e eliminaram 289 artigos que não respondiam à pergunta da revisão. Em casos de divergência, um terceiro revisor foi incluído para consenso.

• Etapa 2: 37 artigos foram lidos integralmente; 29 deles foram excluídos por não responderem à pergunta norteadora conforme apresentada no Fluxograma construído a partir do guia PRISMA (Figura 1).⁹

  

  Figura 1
  Fluxograma de seleção das publicações
  

Na etapa de extração dos dados, foi usado um quadro sinóptico respeitando os direitos autorais e a integridade das ideias contidas nos artigos. Após análise, os achados dos estudos foram organizados em três grupos conforme a tríade estrutura-processo-resultado proposta por Donabedian.¹⁰ A categoria estrutura se refere aos atributos ambientais em que ocorrem os atendimentos (recursos materiais e humanos e estrutura organizacional). A categoria processo abrange as ações desempenhadas por profissionais e usuários ao receber cuidados. A categoria resultado está relacionada aos efeitos da assistência prestada à saúde dos usuários.

Resultados

As publicações foram selecionadas por meio da leitura e análise dos estudos, conforme mostrado no quadro 2.

Quadro 2
Quadro sinóptico dos artigos incluídos conforme a classificação proposta por Donabedian

Autor, ano de publicação	Objetivo e delineamento	Classificação dos resultados
Almeida LY, Domingues J, Rewa T, Baptista Novaes D, Nascimento AA, Bonfim D(11) 2022	Objetivo: descrever a experiência da implementação de uma unidade de vacinação via satélite em um sistema de drive-through durante uma campanha contra a COVID-19. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: planejamento estrutural in loco por líderes; atendimento simultâneo de até nove carros distribuídos em três zonas conforme a demanda; setor de aplicação em tendas de 10 m2; rampas de acesso ao estádio com fluxo único e em setores; a Unidade Básica de Saúde foi estabelecida para suporte; o setor administrativo contou com computadores conectados à internet. Processo: critérios de elegibilidade para vacinação através de um checklist; cartão de vacinação entregue ao usuário após elegibilidade; setores de urgência e emergência para o atendimento de intercorrências. Resultado: aplicação de 9.698 doses de imunizante; relato de sobrecarga de trabalho, déficit no dimensionamento de profissionais de enfermagem, contato e exposição constante dos profissionais aos veículos de comunicação, abordagens de familiares que várias vezes geraram constrangimento e dificuldades (tais como registro e informe sistemático das doses aplicadas, controle de estoque devido ao volume da demanda, instabilidade na plataforma de cadastro, longos períodos em pé, exposição ao monóxido de carbono e uso prolongado de equipamentos de proteção individual (EPIs) devido ao risco de exposição ao SARS-CoV-2).
Mochizuki LB, Silvestre LJ, Santos CC, Santana AS, Silva MC, Silva FP(12) 2020	Objetivo: apresentar a experiência realizada durante a campanha de vacinação da influenza em Goiás, no cenário de pandemia do coronavírus. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: vacinação realizada em tendas, formando estações em fluxo linear; planejamento e gestão logística da rede de frio; preparo da equipe por meio de capacitação; formação de equipes multidisciplinares. Processo: registro no cartão de vacinas e planilha de dados; monitoramento sistemático da temperatura; orientações ao usuário sobre os eventos adversos pós-vacinação. Resultado: aplicação de 6.219 vacinas; cobertura vacinal de 66% do total obtida pelo sistema drive-thru; dificuldade de acesso a pedestres, sendo exclusivamente para veículos.
Rodriguez AM, Cardoso TZ, Abrahão-Curvo P, Gerin L, Palha PF, Segura-Muñoz SI(13) 2021	Objetivo: descrever a experiência de integração ensino-serviço durante a primeira etapa da 22ª Campanha Nacional de Vacinação contra Influenza na emergência da COVID-19. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: posto volante de vacinação em sistema drive-thru na área externa de um estádio de futebol; equipe experiente constituída por representantes da universidade e técnicos de enfermagem da rede municipal de saúde, que passaram por treinamento online oferecido pelos profissionais da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde e da Universidade de São Paulo. Processo: fluxograma de atendimento para triagem de usuários aptos à imunização; revezamento de profissionais. Resultado: a aplicação de 91.697 doses do imunobiológico em idosos, correspondeu a 83,3%.
Kershner RY, Beckham SR, Stewart SM, Hooks JD Jr, Nicosia S, Allen KA(14) 2022	Objetivo: implementar um ponto de distribuição drive-through aberto para administrar a vacina COVID-19 à população elegível da Geórgia. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: campus de uma escola na Geórgia; equipe multidisciplinar de aproximadamente 53 funcionários diários, 20 voluntários e 6 guardas municipais; preparo da equipe por meio de capacitação; treinamento para líderes; equipes de 5 especialistas para emergências. Processo: duração de 10-12 h de trabalho; planejamento e gestão logística da rede de frio. Resultado: aplicação de 42.342 doses de imunobiológico; aponta o esgotamento e fadiga da equipe multidisciplinar como efeito adverso; os enfermeiros receberam inúmeras funções tais como supervisor clínico na triagem, distribuição de vacinas, monitoramento, gestão de pessoas, entrada de dados.
McGrath EJ, Dalal D, Smitherman L, Marshall S, Youngman C, Barone CJ, et al.(15) 2022	Objetivo: descrever uma feira de imunização drive-through para crianças atualizarem imunizações durante pandemia COVID-19 nos EUA. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: estacionamento do prédio da clínica de imunização; fluxo de tráfico de mão única; para vacinação de bebês, foi usada uma unidade móvel; equipe multidisciplinar com 44 funcionários. Processo: feira de imunizações drive-through para atualização do calendário vacinal, mediante agendamento prévio; duração de 12 h de evento, um único dia (2020); 4-5 h de trabalho por profissional; publicidade em massa do evento; uso de EPIs; treinamento para administração de imunizantes e retirada de EPIs; verificação de temperatura corporal. Resultado: aplicação de 40 doses de medicamentos imunobiológicos.
Reidenberg BE, Hirsch K, Costello CM, Russo M, Reilly M, Murphy P (16) 2022	Objetivo: descrever vacinação em clinica drive-thru de adultos neurotípicos (deficientes) e crianças nos EUA. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: estacionamento de um Posto de Vacinação Clínica; havia espaço para observação pós-vacina. Processo: agendamento prévio; lista de população a ser vacinada para a influenza (adultos neurotípicos e crianças); protocolos de segurança; seringas pré-cheias para vacinar. Resultado: tempo aproximado 4-6 min por morador; 13 adultos vacinados por hora para cada profissional; sem registro de reação adversa; tempo de observação: 15 min.
Bailey L, Papamanoli A, Thorne M, Ford F, Dy JI, Chevireddy C, et al.(17) 2023	Objetivo: implementar um ponto fixo drive-through aberto para administrar a vacina da Gripe a profissionais da saúde. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: entrada principal dos funcionários do hospital; havia 10 mesas distribuídas em duas faixas conforme o fluxo dos veículos, com suporte de emergência; equipe multidisciplinar. Processo: vacinação da influenza para funcionários; uso de EPIs; preenchimento da documentação necessária realizado na triagem; farmacêuticos distribuíam as vacinas; havia monitoramento de temperatura corporal e estoques. Resultado: experiências de implementação da modalidade um ano antes da pandemia: 385 funcionários vacinados em 2020 e 351 funcionários vacinados em 2021; os vacinados descreveram sua experiência como “muito divertida”; os vacinadores não tiveram dificuldade para se adaptar ao conceito drive; não houve registros de reação adversa.
Duarte DC, Oliveira VC, Guimarães EA, Viegas SM(18) 2021	Objetivo: auxiliar no planejamento, projeto e implementação de clínicas de vacinação em massa drive-through. Delineamento: relato de experiência.	Estrutura: modelo híbrido de simulação; arranjo modelo Cabana e Pit-Crew; havia espaço de observação. Processo: exposição da equipe de vacinação ao frio devido barracas; foi planejado o modelo pit-crew em etapa única (cadastrar e vacinar). Resultado: 10.000 indivíduo foram vacinados em dois dias (6 h/dia); intervalo de tempo: Cabana: 15-26 min; Pit-Crew: 21-72 min; tempo de observação: 15 min.

A maioria dos estudos apresentou abordagem qualitativa, predominantemente de relato de experiência. Três artigos foram publicados em periódicos nacionais na área de enfermagem e cinco em revistas internacionais na área de ciências da saúde. Quanto aos objetivos dos estudos, sete discutiram as experiências da equipe de saúde na modalidade drive-thru com enfoque na prática vivenciada. Só um artigo enfatizou o planejamento de clínicas de vacinação em massa na modalidade drive-thru. Devido à ausência de parâmetros sobre a modalidade drive-thru, foram encontradas várias organizações com estruturas físicas distintas, tais como padrão drive tradicional de fluxo linear, subdividido em modelo Cabana e modelo Pit-Crew; modelo híbrido (pedestre e automóveis) e modelo de vagas fixas (drive-in).

Discussão

A organização da vacinação usando o sistema drive-thru foi para além do espaço físico das tradicionais salas de vacina, ampliou o acesso de idosos, acompanhantes e cuidadores ao imunobiológico. Logo, diminuíram as barreiras geográficas que o público encontra ao se dirigir aos serviços de saúde.¹⁸ O uso de ambientes abertos e arejados, tais como estacionamentos, escolas e shoppings, foram descritos nesse cenário, possibilitando o atendimento de grandes públicos e reduzindo a exposição de usuários e equipe de saúde.

Foram encontradas organizações com estruturas físicas distintas. O drive tradicional com fluxo linear, foi disposto por filas de automóveis organizados com entrada e saída, os veículos em deslocamento para tendas com as fases da triagem, registro, vacinação e recuperação, de forma a realizar vacinação pelas janelas dos veículos, sem necessidade de o usuário sair do carro,¹¹-¹⁴,¹⁷ exceto os bebês que necessitavam ser levados até uma unidade móvel para aplicar a vacina.¹⁵Acima, foi mencionado o modelo de Cabana (os carros chegam ao local, registram e são direcionados a outras tendas para aplicação de vacinas) e o modelo Pit-Crew (os carros realizam simultaneamente o cadastro e vacinação na mesma tenda).¹¹ Um dos estudos descreve que vans foram estacionadas em vagas fixas em uma clínica e os usuários foram vacinados também pelas janelas desses veículos; neste caso, o profissional da saúde se deslocava até o local onde estavam estacionadas as vans mediante agendamento prévio.¹⁶

Na categoria processo, foi verificada a presença de um sistema de urgência e emergência para possíveis intercorrências, treinamentos específicos aos trabalhadores atuantes, diretrizes sobre a cadeia de frio, registros, medidas de prevenção e controle de infecção por SARCOV e uso de EPIs. Alguns estudos também referiram protocolos pré-estabelecidos durante a vacinação. Na categoria resultados, a importância desse modelo foi destacada para o aumento expressivo na frequência de atendimentos e adesão à vacinação, apontando que esse sistema é considerado efetivo pois os resultados foram bem-sucedidos de acordo com experiências relatadas.

O drive-thru apresentou características peculiares, p.ex., sobrecarga dos trabalhadores, constrangimento devido à exposição digital nas mídias, longos períodos em pé sem revezamento, esgotamento e fadiga da equipe de saúde por conta da superlotação, adoecimento de profissionais pelo vírus e escassez de alguns insumos.¹¹ Quanto às medidas de segurança, nenhum estudo relatou a realização de registros e notificações de eventos adversos.

Além de a implementação da vacinação pelo sistema drive-thru exigir planejamento da estrutura e desenvolvimento de processos, foi também notável a intensa articulação de equipes, com ênfase no papel fundamental e estratégico dos enfermeiros que frequentemente adquiriu inúmeras funções em diferentes pontos da ação.¹¹,¹⁴ Historicamente, a atuação de enfermeiros no processo de imunização inclui aspectos operacionais, coordenação da equipe de enfermagem, administração dos medicamentos imunobiológicos em conformidade com os padrões recomendados de conservação, armazenagem, indicação clínica e orientações sobre os cuidados pré- e pós-aplicação.¹⁹

Em geral, o número de trabalhadores envolvidos nestas ações foi expressivo, e eles foram convocados dos mais variados lugares. Assim, a proposta de treinamento prévio à ação é válida e necessária para atingir o sucesso da atividade e a segurança dos usuários. Portanto, os investimentos na rede básica de saúde são importantes principalmente no treinamento de equipes para atualizar o conhecimento e aprimorar as estratégias de condução e comunicação relacionadas à vacinação.²⁰ As ações de orientação da população merecem um destaque especial, pois a veiculação de notícias falsas e a onda de hesitação vacinal podem fragilizar a confiança da população na vacinação.¹⁴,²¹,²²

Considerando as adversidades do ambiente externo, ocorreu grande demanda por materiais e insumos. Isto inclui a necessidade de uma adequada manutenção da rede de frio (RF) seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. O conhecimento técnico e operacional é essencial para o funcionamento da RF, que inclui armazenamento, transporte, manipulação das vacinas e registro de doses aplicadas e perdidas.⁶

Quanto ao ato de imunizar propriamente dito (consolidado no escopo de práticas da enfermagem), estudos apontam que o quadro de enfermeiros qualificados para conduzir a campanha foi um dos facilitadores para resultados positivos.²³ Segundo alguns autores, o trabalho de enfermagem na modalidade do sistema drive-thru era repetitivo. Os profissionais realizavam atividades multivariadas e fragmentadas (com sobrecarga e ritmo de trabalho acelerado, posturas inadequadas, com longos períodos de trabalho e longos períodos em pé associados a estresse mental), exigindo grande responsabilidade.⁸,¹¹-¹⁴

É necessária atenção à ergonomia profissional durante a realização deste tipo de atividade, pois o posicionamento dos usuários, circulação de pessoas na área de aplicação, exposição a fatores climáticos (incluindo o monóxido de carbono expelido pelo escapamento dos veículos) e sobrecarga de trabalho, mostraram ser desafios à equipe de enfermagem. Cabe destacar que a segurança dos pacientes envolve aspectos multifatoriais de trabalhadores, usuários e sobretudo do ambiente.²⁴ Assim, é crucial pensar em estratégias adicionais para qualificar a vacinação, principalmente quanto à saúde dos trabalhadores, incluindo melhor assistência e segurança das ações nesse contexto.

Curiosamente, esse modelo de vacinação evidenciou características peculiares da atual era digital, tais como abordagem de familiares para fotos ou gravações durante o procedimento, gerando impactos na dinâmica e tempo de trabalho.¹¹ O Código de Ética da Enfermagem assegura os direitos dos profissionais (cap. I; art. 21), estabelecendo que eles têm o direito de recusar serem filmados ou fotografados durante o desempenho de suas atividades laborais e expostos em mídias sociais.²⁵ Porém, esse direito foi violado muitas vezes durante esse período, o que pode ter gerado situações constrangedoras e estresse ocupacional.

Entre os desafios presentes na implementação do drive, foram observadas diferenças entre algumas práticas relatadas em estudos brasileiros e norte-americanos (devido a diferenças entre diretrizes e contextos), por exemplo, seringas pré-carregadas para aumentar a eficiência.¹⁶ No Brasil, as orientações do PNI quanto às normas de segurança destacam que o profissional que prepara e administra a vacina, deve também registrá-la.⁶

Outra diferença está nas práticas de monitoramento pós-vacinação que variam de acordo com a jurisdição e o tipo de vacina, conforme as diretrizes dos EUA, sugerem observar o paciente por 15 minutos após a vacinação.¹⁶,¹⁷ Segundo o PNI, os relatos de eventos adversos após a imunização são incomuns em áreas de observação, e a maioria das reações são leves. A prática mais comum é encaminhar os pacientes para notificação em unidades básicas de saúde ou serviços de emergências, se necessário.⁶

Quanto à vacinação de crianças e pessoas com deficiências no drive-thru, as diretrizes norte-americanas sugerem que ambas sejam direcionadas a uma linha de vacinação designada, pois demandam cuidados específicos e demorados.¹⁶,¹⁷ Devido à estrutura no Brasil, o uso de drive não foi recomendado às crianças, sendo exclusivo para adultos a partir dos 18 anos.

Em relação ao registro na caderneta de vacinação, o PNI recomenda que ele deve conter o produto (vacina), número do lote, dose, via de administração, local, data e assinatura do profissional, além da atualização no sistema de informação disponível.²⁶ Contudo, alguns estudos relataram problemas de instabilidades e erros no registro de doses aplicadas embora o sistema eletrônico tenha apontado uma boa relação custo-benefício.¹¹,²⁵

Apesar das adversidades, vários fatores estiveram associados ao sucesso da estratégia drive no Brasil, incluindo menor exposição ao vírus e baixo risco de transmissão de doenças. Por outro lado, ela restringiu pessoas que não possuem um carro. Portanto oferecer opções para vacinação de pedestres em locais próximos é uma possibilidade para ampliar a oportunidade de vacinação.

Durante a vacinação por drive-thru, é necessário proporcionar um ambiente seguro a trabalhadores e usuários, contemplando prerrogativas de segurança, tais como identificação dos usuários e dos locais de entrada e saída de veículos e padronização de possíveis fluxos de emergência. É importante entender e explorar este cenário. Um processo mal desenhado pode induzir erros nos indivíduos, principalmente em campanhas de vacinação em massa que requerem agilidade.

Para planejar e implementar métodos dentro de uma cultura de segurança, ações de sensibilização devem envolver os trabalhadores, engajando-os em ações para monitorar e analisar eventos adversos. Para isso, algumas premissas são necessárias nesse contexto, tais como papéis de liderança, equipes de trabalho eficientes e organizadas, monitoramento de processos, adequado sistema de informações e gerenciamento de eventos adversos. Assim, acreditamos que a organização de ações pautadas em um protocolo de execução seja crucial para obter sucesso.

Considerando a magnitude da ação a nível global e o método escolhido para este estudo, o baixo número de publicações encontradas para compor o corpus da revisão foi limitação. Além disso, foram encontrados só relatos de experiência com um baixo nível de evidência, embora compartilhando vivências importantes para responder à pergunta de revisão deste estudo.

Quanto às contribuições dessa revisão, esperamos que ela instigue novas pesquisas contribuindo para padronizar o processo de vacinação por drive-thru, fortalecendo a segurança dos usuários nesse contexto e contribuindo para obter resultados mais homogêneos. Além disso, estudos originais nesse âmbito podem apontar o êxito das ações, justificando o investimento do poder público em sua qualificação.

Em geral, os estudos sugeriram futuras investigações, incluindo: explorar parâmetros relacionados ao tempo despendido para ajudar no dimensionamento de pessoal; usar simulação para ajudar no planejamento da prática ajustada à demanda;¹¹ focar em planos de gestão para maior segurança do processo, bem como registro local das doses administradas no Sistema de Informação;¹² explorar a percepções de usuários do sistema de saúde e de estudantes sobre o impacto de uma possível parceria entre instituições de ensino superior e estabelecimentos de saúde na prestação de cuidados e formação profissional;¹³ usar instrumentos de avaliação para mensurar a fadiga e o esgotamento profissional dos trabalhadores;¹⁴ focar no atendimento de públicos distintos e agendamento prévio para evitar a sobrecarga da livre demanda aos profissionais envolvidos.¹⁵,¹⁶

Entende-se que é necessário aperfeiçoar tal sistema para as ações de saúde, quanto à infraestrutura adequada, com foco na segurança da assistência prestada aos usuários e dos profissionais atuantes nesse espaço. Tendo em vista a usabilidade desse sistema para ações futuras no setor saúde, é necessário conhecer os melhores desenhos para organização e execução desse modelo. É também importante capacitar os profissionais para atuar em estruturas não convencionais, ofertando orientações que possam tornar a execução de tais ações mais uniformes e coesas.

Conclusão

O processo de vacinação pelo sistema drive-thru durante a pandemia COVID-19 ocorreu de forma heterogênea nos diferentes cenários estudados, embora sua organização tenha sido eficiente, obtendo resultados exitosos e atingindo as coberturas vacinais no âmbito global.

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Editado por

Editor Associado

Paula Hino (https://orcid.org/0000-0002-1408-196X) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  04 Out 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  8 Ago 2023
• Aceito
  9 Maio 2024