RESUMO
O objetivo do artigo é analisar como se constituem axiologicamente os discursos de réus do crime de feminicídio no Tribunal do Júri. Sob perspectiva da Análise Dialógica do Discurso (ADD), analisamos dois depoimentos de assassinos, colhidos no triênio 2018-2020. A partir das camadas componentes da dimensão extralinguística dos enunciados eleitos para análise, os resultados apontam: a) no cronotopo do Júri, os discursos dos réus se manifestam defensivo-vitimistas-acusativos; b) na esfera ideológica jurídica, constituem-se híbridos, íntimo-cotidianos, morais e legais; c) na situação específica de interação discursiva, concretizam-se profórmico-hierárquico-bivocais, perpassados de relações dialógicas com leis. Já na dimensão linguística, estilístico e composionalmente, os assassinos discursivizam, em tensão, imagens negativas das mulheres vítimas, descritas como traidoras, enganadoras, ciumentas, histéricas, provocativas, desajustadas, agressivas, entre outras. Sobre si, constroem imagens de homens vitimados, perturbados e interpelados a agir.
PALAVRAS-CHAVE: Análise Dialógica de Discurso (ADD); Feminicídio; Assassinos no Tribunal do Júri