RESUMO
Entre a vasta produção de Eduardo Coutinho, destaca-se o documentário Jogo de cena (2007), celebrado como “objeto solar” da filmografia do cineasta, no qual a entrevista ocupa um lugar central. O objetivo deste artigo é refletir discursivamente sobre ela a partir de cenas de fala postas a circular em relação às escolhas estéticas e à materialidade do documentário; natureza da relação entrevistador-entrevistadas, marcada pela recusa a uma “suposta neutralidade” e produção de agenciamentos, cenografias e mundo ético. Para isso, são acionados conceitos basilares da Análise do Discurso, como interdiscurso, cenografia, agenciamento e ethos discursivo, conforme formulados por Dominique Maingueneau. Os resultados mostram que é possível estabelecer diálogos profícuos com os dispositivos metodológicos de Coutinho e conceitos da Análise do Discurso. A partir de uma aura mística do seu silêncio acolhedor, pode-se depreender um ethos respeitoso e atencioso do entrevistador em relação às falas das personagens.
PALAVRAS-CHAVE:
Análise do discurso; Documentário; Agenciamento; Cenas de enunciação; Ethos discursivo