AD-1
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Análise automática do discurso (1969) |
• A enunciação é elidida da teorização e reduzida a um instrumental de análise linguística da superfície discursiva. |
Da AD-1 à AD-2
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Língua, "linguagens", discurso (1971) |
• A enunciação, concebida como conjunto de mecanismos internos à base linguística que tornam possível a realização sobre esta dos processos discursivos, é anunciada como o ponto decisivo para o futuro das relações entre a teoria da língua já consolidada e a teoria do discurso em estado nascente. • A enunciação é condição de possibilidade da articulação dos processos discursivos (variáveis semântica, retórica e pragmaticamente) sobre a base linguística (fundo sintático invariante). •A enunciação é condição de possibilidade da tomada de posição do "sujeito falante" quanto às representações sociais das quais ele é suporte, o que remete à relação entre o processo discursivo e as suas condições de produção. •A enunciação, enquanto condição geral de possibilidade dos processos discursivos, situa-se numa zona fronteiriça, comum à língua e à sintaxe, de um lado, e ao discurso e à semântica, de outro, de modo que o estudo dos mecanismos enunciativos - que possibilitam a passagem do linguístico ao discursivo - permitirá provavelmente colocar de forma adequada e talvez resolver o problema das relações entre o sintático e o semântico. |
A semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem e discurso (1971) |
•A enunciação é um conjunto de mecanismos internos à base linguística que articulam sobre ela os processos discursivos, relacionando-se, de um lado, ao enunciado (materialidade linguisticamente analisável) e, de outro, às representações sociais (projeções imaginárias materialmente realizadas pelo enunciado). • A enunciação é uma série de mecanismos que administram a organização dos termos numa sequência discursiva (enunciado), em função das condições nas quais é produzida essa sequência, a qual, por sua vez, é vista como a materialidade necessária à manifestação da tomada de posição do "sujeito falante" em relação a representações sociais. |
AD-2
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A propósito da análise automática do discurso: atualização e perspectivas (1975) |
• A enunciação é uma série de determinações sucessivas que constituem pouco a pouco o enunciado e delimitam as fronteiras entre o dito (o selecionado) e o não dito (o rejeitado). • A enunciação é uma instância mediadora da relação entre a sintaxe e o discurso, pois opera a passagem da organização linguística (ao permitir a sintagmatização das unidades lexicais) à ordem discursiva (ao possibilitar a tomada de posição do sujeito quanto às representações postas em jogo nas relações sociais), fazendo da língua, assim, o lugar material de realização dos efeitos de sentido. A enunciação, atrelada ao esquecimento nº 2, é uma zona em que o sujeito pode penetrar conscientemente, caracterizando-se por um funcionamento pré-consciente/consciente ao tornar possível o retorno do sujeito sobre o seu discurso, uma antecipação do efeito deste, uma tentativa de explicitação ou reformulação do seu dizer. A enunciação é um espaço subjetivo imaginário que assegura ao sujeito seus deslocamentos no interior do reformulável, de forma que ele faça incessantes retornos sobre o que formula. |
Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio (1975) |
•A enunciação é um conjunto de mecanismos que são, simultaneamente, fenômenos linguísticos e lugares de reflexão filosófica e que possibilitam a realização, sobre uma mesma base linguística, de processos discursivos distintos e ideologicamente determinados. •A enunciação é uma instância constitutiva do sujeito e do sentido, pois o pré-construído e a articulação de enunciados, enquanto elementos do interdiscurso e traços das referências enunciativas, são reinscritos no discurso do sujeito, configurando no fio discursivo os traços daquilo que o determina e, não obstante, é por ele desconhecido. •A enunciação é uma tomada de posição do sujeito no discurso a partir do atravessamento deste pelo interdiscurso, cuja determinação é mascarada pela forma-sujeito, que, ao incorporar e dissimular os elementos interdiscursivos no discurso do sujeito, produz neste a ilusão de estar na origem de si e na fonte do sentido, fundando, desse modo, sua unidade imaginária. •A enunciação é um imaginário linguístico, corpo verbal constituído no espaço de reformulação-paráfrase característico de uma FD e cujo funcionamento acoberta para o sujeito identificado a tal FD a exterioridade constitutiva desta (seu interdiscurso), fazendo-o esquecer-se daquilo que o determina, como se fosse um interior sem exterior (esquecimento nº 1), e fazendo-o esquecer-se também de que há outros sentidos possíveis, como se o sentido fosse uma significação naturalizada e transparente (esquecimento nº 2). |