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(Re)pensar a formação de leitores jovens: suportes, convergências e transposições associadas à literatura

RESUMO

Este estudo parte de dados estatísticos sobre a leitura na vida de jovens entre 11 e 17 anos. Reflete-se sobre como (re)pensar a formação de leitores a partir de uma compreensão sobre o que é ler literatura no século XXI. Discute-se a mudança de suporte da leitura do livro à tela, não sob a perspectiva excludente ou com a intenção de defender um modo de acesso como melhor do que outro, pauta-se a importância de mediar a leitura de modo aberto aos diferentes suportes e formas que as tecnologias digitais de informação e comunicação têm oferecido. Apresentam-se reflexões para conceituar literatura no século XXI para em seguida apresentar alguns exemplos de como a literatura converge do texto escrito para outras mídias e vice-versa, o que faz pensar que os jovens estão lendo de diferentes formas e isso pode ser melhor aproveitado no processo de formação de leitores literários.

PALAVRAS-CHAVE:
Leitura; Literatura juvenil; Convergência; Formação de leitores

ABSTRACT

This study is based on statistical data about reading in the lives of young people aged 11 to 17 years old. It addresses how one can (re)approach the education of readers from an understanding of what reading literature is all about in the 21st century. It discusses the change of format of reading from the book to the screen, but not from the perspective of exclusion or with the intention of arguing that one mode of access is better than another. It stresses the importance of mediating reading with an openness to the different media and forms that have been offered by digital information and communication technologies. Reflections are made to conceptualize literature in the 21st century and then some examples are provided of how literature converges from the written text to other media and vice versa, which suggests that young people are reading in different ways and this fact can be used to enhance the process of educating literary readers.

KEYWORDS:
Reading; Young adult literature; Convergence; Education of readers

Introdução

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (Instituto Pró-Livro, 2020) em sua 5a edição com dados de 2019, divulgada em 2020, teve como um dos focos a investigação dos hábitos de leitura do brasileiro em relação à literatura. Assim, além de conhecer o comportamento leitor em relação à intensidade, à forma, às limitações, às motivações e às representações, também apresenta dados relativos a uma leitura em específico. Tais dados foram acessados para iniciar este estudo em busca de informações sobre o comportamento de leitores na faixa etária entre 11 e 17 anos, grupo que no contexto escolar está relacionado às etapas dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Selecionou-se esse grupo em específico porque se a afirmação “O brasileiro não lê” é bastante recorrente quando se aborda leitura, também a afirmação “O jovem brasileiro não lê” está sempre à disposição como justificativa em diferentes situações sejam elas de ordem social, política, econômica ou educacional.

Os dados dessa pesquisa nacional revelam primeiro que, no grupo investigado há 16,3% dos 8076 entrevistados compreendidos entre 11 e 17 anos; dos 11 aos 13 anos, 81% são caracterizados como leitores e, no grupo dos 14 aos 17 anos, 67% são leitores. Importante explicitar que para a Retratos da Leitura no Brasil (Instituto Pró-Livro, 2020), leitor é aquele que leu inteiro, ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses. Não se pode dizer que esses dados são negativos, porém, em comparação com a mesma pesquisa em 4a edição, em 2015, observa-se que houve um decréscimo da porcentagem nos dois grupos de leitores, entre 11 e 13 anos, 84% eram leitores, e entre 14 e 17 anos, 75% eram leitores em 2015, uma queda que merece atenção.

Embora os dados estatísticos não demonstrem que a leitura está ausente na vida dos jovens entre 11 e 17 anos, a diminuição da porcentagem de leitores, principalmente no segundo grupo, entre 14 e 17 anos, grupo característico do Ensino Médio, assumindo a organização da Educação Básica como modo de localizar esses sujeitos, merece atenção. Merece também que se fique alerta ao fato de que essa porcentagem diz respeito a um perfil de leitor que lê pouco (um livro nos últimos três meses). A linguagem poética e a linguagem narrativa estão ausentes da vida dos adolescentes na faixa etária entre 11 e 17 anos, i.e., estudantes de anos finais do Ensino Fundamental e de Ensino Médio?

Esse questionamento, para ser respondido, necessitaria chegar ao que leem esses adolescentes. Diante da impossibilidade de alcançar tais dados, o que este estudo se propõe é refletir sobre como (re)pensar a formação de leitores a partir de uma compreensão sobre o que é ler literatura no século XXI, considerando que 21% dos leitores de livros de literatura identificados pela pesquisa está na faixa etária entre 11 e 17 anos e que 13% dessa faixa etária é leitor de literatura apenas em outros formatos. Que formatos seriam esses é um aspecto que se agrega e amplia ao questionamento destacado: onde e como os jovens entre 11 e 17 anos estão acessando literatura, isto é, linguagem poética e linguagem narrativa? A resposta para esse questionamento entendemos que pode ser caminho para um currículo literário adequado aos leitores e ao tempo em que vivem, ampliar as experiências de leitura ou contabilizar leituras que estão sendo feitas, porém não contabilizadas por um equívoco conceitual do que é ler literatura. Além disso, refletir sobre como a escola pode se valer dessas outras presenças para tornar a literatura observável-lida por esses jovens pode ser meio para fugir da afirmação clichê de que os jovens não leem e passar a entender como eles estão lendo em acordo com as práticas de leitura de seu tempo. Não refutamos os dados da pesquisa, tampouco acreditamos no clichê que coloca o jovem sempre no lugar de não-leitor, entendemos que os dados servem para que o clichê não seja a resposta dominante para caracterizar os leitores adolescentes e que os dados sobre ser leitor da Pesquisa Retratos de Leitura do Brasil servem para alertar que é preciso dar voz e espaço para o que esses jovens dizem ler. A escola não parece estar oportunizando que se saiba sobre essas práticas de leitura nem está se valendo delas para fomentar a leitura.

No centro dessa discussão que se baseia no contraponto como base para elaborar o argumento está a compreensão de que toda a atividade humana é evento de linguagem e que os enunciados que se produzem e com os quais se convive no cotidiano são específicos a um campo, a um estilo e a uma construção (Bakhtin, 2016BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016., p. 11-12). No campo artístico, há um amplo repertório de gêneros do discurso que promovem um modo de interagir específico, abertos e livres às produções de sentido dessa interação: livros literários (narrativos, poéticos, imagéticos), música e letra, teatro, filmes em diferentes formatos que o audiovisual hoje permite, longas e curtas metragens, videoclipes, reels, shorts. E nessas interações a cultura se constrói, se altera, se renova, se mantém, pois como afirma Mikhail Bakhtin (2017, p. 16): “a cultura de uma época, por maior que seja o seu distanciamento temporal em relação a nós, também não pode ser fechada em si mesma como algo pronto, plenamente acabado, que se foi para sempre, como algo morto”. Essas reflexões iniciais são base para que a literatura seja encarada neste tempo, no aqui e agora, ampliando a perspectiva e, possivelmente, a compreensão de onde e como a leitura acontece.

Para isso, o texto inicia questionando o que é literatura e buscando responder a partir do diálogo com diferentes autores (Bakhtin, 2017BAKHTIN, Mikhail. A ciência da literatura hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir). In: BAKHTIN, Mikhail. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017.; Cosson, 2014COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014., Dayrell, 2003DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-52, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782003000300004. Acesso em: 09 out. 2023.
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; Gregorin Filho, 2011GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura juvenil: adolescência, cultura e formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, 2011.; Hayles, 2009HAYLES, Nancy Katherine. Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário. Tradução de Luciana Lhullier e Ricardo M. Buchweitz. São Paulo: Global, 2009.; Lajolo, 2018LAJOLO, Marisa. Literatura: ontem, hoje, amanhã. São Paulo: Editora Unesp, 2018.). Em seguida apresentam-se e analisam-se alguns exemplos da presença da literatura e da leitura em diferentes formas (suportes) que estão próximas aos jovens e seus interesses e que a escola pode melhor aproveitar no processo de mediação da leitura literária.

1 O que é ler literatura no século XXI? - um conceito alinhado ao século

Na apresentação do livro Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário (Hayles, 2009HAYLES, Nancy Katherine. Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário. Tradução de Luciana Lhullier e Ricardo M. Buchweitz. São Paulo: Global, 2009.), Tânia Rösing e Miguel Rettenmaier nos convidam a refletir que o livro impresso que se lê “não foi redigido nas faces do papel. Foi escrito, lido, relido e possivelmente revisado em um arquivo digital” (Rösing; Rettenmaier, 2009, p. 9). Trata-se de um livro que paradoxalmente não possui versão eletrônica. Os autores da apresentação ainda relatam que a tradução do livro que se lê teve seu arquivo guardado para ser compartilhado com a editora em “um pen drive minúsculo, que armazenava o resultado - ou uma cópia dele - de meses de trabalho” (Rösing; Rettenmaier, 2009, p. 10), evidenciando, além do fato da digitalização do escrito cada vez mais presente, também o avanço da tecnologia, já que os arquivos nesse momento já não são mais resguardados em dispositivos externos, mas em nuvens virtuais.

Toda essa perspectiva do avanço tecnológico não apenas descortina a modernidade, mas também precisa ser considerada para se pensar sobre a relação que estabelecemos com a leitura, com os textos, com a literatura e, consequentemente, com as possibilidades de produção de sentido (um alerta também feito na mesma apresentação do livro de Nancy Katherine Hayles (2009HAYLES, Nancy Katherine. Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário. Tradução de Luciana Lhullier e Ricardo M. Buchweitz. São Paulo: Global, 2009.), pois a autora pauta a estética que rompe com a interação com o livro e se aproxima do hipertexto e com outras mídias). Tudo isso sem ignorar que o livro de Hayles em sua versão original é de 2008 e sua publicação em língua portuguesa é de 2009, portanto, uma outra visão da tecnologia que se tem hoje em 2023.

No entanto, se a tecnologia avança, a leitura em sua essência, como um fazer que envolve decodificar e compreender, segue a mesma independentemente do tipo de motivação e convocação que o texto faça a quem lê. Conforme explica Rildo Cosson (2014COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014., p. 4):

Na perspectiva social, ler é uma atividade social em grande parte determinada pelos limites e restrições impostos por uma comunidade discursiva. A leitura [e o que se lê] é uma interação controlada pelas regras dessa comunidade e o leitor/escritor precisa conhecer ou dominar essas regras para participar plenamente dela, para construir sentidos que sejam considerados legítimos.

Atentas a esse controle podemos então observar que regras têm sido impostas e acabam por perpetuar modos de ler, leituras e por fim engessar qualquer possibilidade de mudança ignorando que a alternância cultural também precisa chegar às práticas de leitura e aos textos cuja leitura é mediada pela escola. Os leitores adolescentes talvez estejam fazendo isso de modo independente sem que a escola se engaje nesse movimento.

A literatura não está mais só em livros físicos, isso já é ponto pacífico. No entanto, a mudança de suporte não altera necessariamente o seu sentido como objeto cultural. Bakhtin (2017BAKHTIN, Mikhail. A ciência da literatura hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir). In: BAKHTIN, Mikhail. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017., p. 14) alerta para o fato de que a literatura por si não pode ser isolada da cultura de uma época, isso não significa isolar a literatura nessa época, pois:

O fechamento [da obra] em uma época não permite compreender a futura vida da obra nos séculos subsequentes (...). As obras dissolvem as fronteiras da sua época, vivem nos séculos, isto é, no grande tempo, e além disso levam frequentemente (as grandes obras, sempre) uma vida mais intensa e plena do que em sua atualidade.

Contemporaneamente, os textos literários (sobre)vivem ou ganham novas vidas em novos suportes sejam eles o códex clássico - em diferentes edições com recursos gráficos variados - ou os equipamentos para leitura digital. De acordo com Marisa Lajolo (2018LAJOLO, Marisa. Literatura: ontem, hoje, amanhã. São Paulo: Editora Unesp, 2018.), a literatura está presente nos mais variados suportes, sejam eles impressos ou digitais, e um não liquida o outro, eles convivem e coexistem. Essa coexistência já aconteceu em outros tempos, como no nascimento da impressão com o manuscrito e o impresso. Da mesma forma, uma conceituação atual de literatura compreende o uso de diferentes linguagens. Então, a literatura não pode ser restringida aos livros impressos e à palavra escrita (ao texto verbal).

Para os jovens, a literatura pode assumir posição de “(...) destaque nas poucas possibilidades que o jovem encontra para se conhecer e iniciar novas etapas de convívio no universo que o rodeia” (Gregorin Filho, 2011GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura juvenil: adolescência, cultura e formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, 2011., p. 26). A literatura pode ser o lugar de encontro com vivências semelhantes e distantes em diálogo com diferentes formas de exercer as juventudes. Falamos de juventudes, no plural, para dar conta da “(...) diversidade de modos de ser jovem existentes.” (Dayrell, 2003DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-52, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782003000300004. Acesso em: 09 out. 2023.
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, p. 42). Esse jovem deve ser entendido como sujeito social, em uma conceituação de juventude que supera as generalizações corriqueiras do tempo do “vir a ser”, da liberdade ou da crise, compreendendo-a dentro das especificidades de cada sujeito (Dayrell, 2003).

Se ler é verbo transitivo, como afirma Soares (2008SOARES, Magda. Ler, verbo transitivo. In: PAIVA, Aparecida et al. (org.). Leituras literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2008. p. 29-36. [Coleção Literatura e Educação].), ele pede um complemento. Então cabe o questionamento: o que estão lendo esses jovens? Embora o discurso midiático use recorrentemente os enunciados “o brasileiro não lê” e “o jovem não lê”, como afirmamos anteriormente, Roger Chartier (2013CHARTIER, Roger. Roger Chartier fala sobre analfabetismo digital. Nova Escola, [s. l.], 1 maio 2013. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1898/roger-chartier-fala-sobre-analfabetismo-digital. Acesso em: 28 out. 2023.
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), historiador que é referência mundial sobre práticas de leitura, afirmou em uma entrevista, realizada há dez anos, que nunca lemos tanto quanto agora, pois estamos a todo momento diante de uma diversidade de textos. Esses textos, muitas vezes, nos encontram a partir dos dispositivos eletrônicos. Então estamos falando de uma leitura de textos de gêneros diversos que acontecem em suportes diversificados, que contemplam o impresso e o digital (a partir de celulares, e-readers, tablets). Hayles (2009HAYLES, Nancy Katherine. Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário. Tradução de Luciana Lhullier e Ricardo M. Buchweitz. São Paulo: Global, 2009., p. 20) quando conceitua literatura eletrônica, ainda em um contexto bastante inicial (considerando o ano de publicação do livro e se comparado ao de agora), observa que “tentar ver a literatura eletrônica [ou outros suportes para a literatura] através da lente da obra impressa é, de forma significativa, não vê-la”, pois não se trata de uma mera transposição nem mesmo de uma sobreposição, mas de duas existências ou diversas existências que oferecem a possibilidade de interagir com a linguagem literária.

A literatura não se altera, o que se modifica é o modo de acessá-la e, portanto, de com ela interagir, o que também afeta a produção de sentido. Colocar em lados opostos o acesso ao livro impresso e o texto literário lido em tela de modo excludente, i.e., como se um não pudesse existir já que o outro surgiu, é criar um campo de batalha e necessariamente buscar que haja um vencedor. Aliar as experiências, mediar a compreensão sobre as diferenças não excludentes dos diversos modos de ler literatura que se oferecem é uma atitude que amplia perspectivas, um comportamento desejável e respeitoso à formação cultural de todas e todos.

A formação de leitores jovens perpassa o respeito ao quinto direito imprescritível do leitor: “ler qualquer coisa” (Pennac, 1993PENNAC, Daniel. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.). Isso significa que, enquanto mediadores de leitura e formadores de leitores, devemos respeitar as escolhas dos jovens, sem emitirmos preconceitos sobre, por exemplo, a escolha de best-sellers. Problematização feita por João Luís Ceccantini em entrevista a Letra A (Literatura sem preconceito, 2010LITERATURA sem preconceito [Entrevista com João Luis Ceccantini]. Letra A: o jornal do alfabetizador, Belo Horizonte, ano 6, n. 23, p. 12-14, ago./set. 2010. Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/files/uploads/JLA/2010_JLA23.pdf. Acesso em: 09 out. 2023.
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) ao diferenciar o valor literário de uma obra e o seu papel na formação de leitores. Sem dúvida, alguns best-sellers, como as sagas Harry Potter (de J. K. Rowling) e Crepúsculo (de Stephenie Meyer), têm seu mérito na formação de leitores, tanto pela leitura dos volumes da saga quanto pela oferta de novas leituras relacionadas a elas ou indicadas por elas - por exemplo O morro dos ventos uivantes, leitura da personagem principal (Isabella Swan) em Crepúsculo. Então, devemos propor um movimento de valorização das escolhas democráticas, ou seja, buscar o “equilíbrio entre as formas de intervenção de um mediador e a construção da autonomia do leitor.” (Bajour, 2012BAJOUR, Cecilia. Ouvir nas entrelinhas: o valor da escuta nas práticas de leitura. Tradução de Alexandre Morales. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2012., p. 91). Esse leitor precisará experimentar suas próprias escolhas para que descubra aquilo que gosta ou não de ler, assim como experimentar escolhas feitas por outros, de forma a ampliar seu repertório para além do terreno já conhecido.

Na próxima seção alguns exemplos de como a literatura converge e se transpõe para além do livro em seu formato códex ou o livro digital também em outras mídias e pode ser caminho para a formação de leitores jovens imersos em uma cultura de convergência, como denomina Henry Jenkins (2009JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução de Susana L. de Alexandria. São Paulo: Aleph, 2009.). Essa cultura da convergência envolve produção de conteúdo, cooperação e migração dos usuários em diferentes mídias. Esse contexto também está relacionado com a cultura participativa (borrando fronteiras entre produtores e consumidores dentro dos meios de comunicação) e a inteligência coletiva (união de saberes múltiplos em prol da coletividade, a partir dos estudos de Pierre Levy).

2 Literatura e juventude: novos suportes, novas formas de interação

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil aponta que, entre os leitores de livros impressos, 46% são homens e 54% são mulheres. Já entre os leitores de livros digitais, 49% são homens e 51% são mulheres. Valores equilibrados entre os gêneros, mas quando visualizamos as faixas etárias é possível observar que os extremos (de 5 a 13 anos e de 50 anos ou mais) preferem o livro em papel, enquanto na faixa etária entre 14 a 39 anos a leitura de livros digitais é maior. Esses sujeitos usam o celular (73%), o computador (31%), o tablet (9%) ou o e-reader (5%) para ler, em sua maioria, livros baixados gratuitamente da internet (Instituto Pró-Livro, 2020).

É interessante destacar que o celular vem crescendo como suporte de leitura com o passar dos anos, Jenkins (2009JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução de Susana L. de Alexandria. São Paulo: Aleph, 2009.) inclusive observa que os celulares são peça importante no processo de convergência das mídias, unificando em um único aparelho o modo de acessar informação sobre diferentes assuntos e realizar diferentes ações (ler, fotografar, interagir à distância, por exemplo). Na edição de 2015 da Retratos de Leitura do Brasil, o número de leitores que utilizavam o celular para ler livros digitais era de 56%, um aumento de 17% e consequente diminuição do uso dos outros dispositivos. Inclusive, a pesquisa TIC Domicílios refere que 88% da população brasileira possui celular, este que também é o dispositivo mais utilizado para acesso à internet (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, 2023).

Assim como ler é ação transitiva entre diferentes campos, sendo importante para diversos fazeres, o celular também abre portas para uma multiplicidade de ações, incluindo a leitura envolvendo diferentes linguagens. Mesmo que se perceba essa amplitude de oportunidades de leitura possibilitada pelo celular, há que se ponderar criticamente que o uso de dispositivos eletrônicos no geral também pode levar os jovens a leituras demasiadamente hipertextuais e não-lineares, ou seja, estes sujeitos estão circulando em uma rede de textos interligados que produzem formas de ler descontínuas. Essa descontinuidade também pode ser positiva ou negativa. Ao mesmo tempo que abre portas para encontros com textos diversos, afasta de uma leitura atenta, caracterizando o modo de leitura extensiva e apressurada definida por Chartier (2001CHARTIER, Roger. Cultura escrita, Literatura e História: conversas de Roger Chartier com Carlos Aguirre Anaya, Jesús Anaya Rosique, Daniel Goldin e Antonio Saborit. Tradução Ernani Rosa.Porto Alegre: Artmed, 2001.; 2022). Ou seja, esses leitores têm uma variedade de textos ao seu dispor sem lê-los com a imersão de um leitor intensivo; ainda, leem com a pressa de chegar às últimas linhas e, assim, começar nova aventura textual.

A leitura no impresso e na tela também é problematizada pelo público jovem e jovem adulto. Em pesquisa recente, Melo (2022MELO, Camila Alves de. Bookstagram & BookTube: efeitos de condução da conduta leitora a partir dos compartilhamentos entre influenciadores literários e seus seguidores. 2022. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2022.) identificou, a partir da análise do conteúdo produzido por quatro influenciadores literários brasileiros, a produção vasta de publicações destinadas à reflexão sobre o suporte escolhido para a leitura. Foi constatado que tanto os influenciadores quanto seus seguidores (a partir do que comentam nas publicações) compreendem as vantagens e desvantagens de cada um, mencionando aspectos como: o suporte digital permite carregar vários livros em um único dispositivo, também é um recurso interessante para livros muito extensos (e pesados!), possibilita a consulta imediata de significados de palavras e traduções de termos em outras línguas a partir de um único toque, facilita a reunião de citações grifadas em um arquivo, entre outros; já o livro impresso permite fazer anotações de próprio punho e colocar marcadores adesivos coloridos, envolve uma experiência sensorial com o objeto (tocar e cheirar, por exemplo), além de ser um item que será colocado na estante e admirado. São leitores que não rivalizam os suportes, pois utilizam tanto o impresso quanto o digital, compreendem suas vantagens e desvantagens e fazem uso de um ou de outro de acordo com suas necessidades.

A convergência entre diferentes linguagens também parece ser uma constante na vida dos jovens leitores. Em análise de resenhas de um livro que pode ser classificado como “romance para adolescentes” - intitulado Por lugares incríveis, de Jennifer Niven (2015NIVEN, Jennifer. Por lugares incríveis. Tradução de Alexandra Esteche. 1. ed. São Paulo: Seguinte, 2015.) - no Skoob, rede social específica para trocas sobre leituras, é possível ver que os sujeitos não se restringem ao livro, mencionando igualmente o filme que dele derivou. Inclusive, muitos relatam que primeiro assistiram à produção cinematográfica (disponível na plataforma de streaming Netflix) para depois ler o livro, fazendo comparações entre as duas linguagens e suas formas características de narrar. Como expressam os trechos1 1 As resenhas estão disponíveis publicamente no Skoob. Os nomes das autoras das resenhas foram suprimidos visto que a sua identificação fere o sigilo ético. As escritas foram transcritas tal e qual produzidas pelos sujeitos. :

“Que experiência incrível de ler cada palavra. Chorei igual uma condenada com o final e apesar de eu já ter visto o filme fiquei desesperada esperando ler que o Flinch estava bem e que ele ia voltar pra Violet”. (Leitora 1)

“Esse livro mexeu comigo de uma forma que nem eu mesma sei explicar. Eu já conhecia a história, assisti ao filme primeiro, o que confesso que foi um pouco frustrante, eu já sabia o que iria acontecer, porém o livro é imensurável, não se pode comparar”. (Leitora 2)

"Gostei do livro, mas não dei 5 estrelas pq vi o filme primeiro, depois de um tempo descobri que tinha o livro e comprei achando que seria igual ao filme, me decepcionei um pouco com o filme, pq tem assuntos do livro que não foram ditas no filme, então quem quer saber mais da história leia o livro primeiro”. (Leitora 3)

Um outro tipo de convergência pode vir da literatura no texto impresso para outro texto literário. A saga Crepúsculo (de Stephenie Meyer), já citada anteriormente, apresenta a personagem principal em interação com dois clássicos, O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë (romance de 1847), e Romeu e Julieta, de William Shakespeare (tragédia de 1597). O romance Por lugares incríveis (Niven, 2015NIVEN, Jennifer. Por lugares incríveis. Tradução de Alexandra Esteche. 1. ed. São Paulo: Seguinte, 2015.) também faz relações intertextuais, nele aparecem: As ondas, de Virginia Woolf (romance de 1931), e Ah, os lugares aonde você irá!, de Dr. Seuss (clássico da literatura infantil mundial de 1991). Para além de uma intertextualidade, essas citações são convites implícitos à leitura dessas obras clássicas. Se para o público jovem “a justificativa de que [os clássicos] são obras de grande valor cultural não é um argumento suficiente para levá-los à leitura efetiva desses textos” (Cosson, 2014COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014., p. 13), talvez essas intertextualidades presentes nos best-sellers sejam um caminho possível.

As manifestações híbridas da literatura - que associam diferentes artes como cinema, música, por exemplo - captam a atenção da comunidade jovem que tende a ver o literário de modo amplo, compreendendo diferentes linguagens e para além dos limites do clássico. São vários os avatares que a literatura pode assumir nessa concepção ampla: filmes, histórias em quadrinhos, literatura eletrônica, séries televisivas, telenovelas, jogos eletrônicos, propagandas, entre outros (Cosson, 2014COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014.). Em uma reação em cadeia, diversos artefatos culturais vão sendo produzidos e consumidos:

Um cenário de jogo de computador pode dar origem a um filme que levará a um romance cujos personagens serão aproveitados em uma série televisiva e o tema servirá de inspiração para uma canção popular. Uma história em quadrinhos pode levar a uma série televisiva que dará origem a um musical e as canções poderão ser ouvidas fora do seu contexto original como peças independentes. Um romance pode ser transposto para o cinema, o cenário aproveitado para um jogo de Role Playing Game (RPG) e as falas de alguns personagens transformadas em aforismos impressos em camisetas ou retomadas nos cadernos escolares das adolescentes juntamente com os fotogramas do filme, podendo ainda as personagens receber uma existência alternativa nos fanzines da internet (Cosson, 2014COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014., p. 19).

A própria experiência de sair do livro (impresso ou digital) e ir para as mídias sociais, sejam elas dedicadas exclusivamente à leitura (como o Skoob ou o Goodreads) ou gerais (como YouTube, Instagram, TikTok, entre outros), para produzir fanfictions (narrativas criadas por fãs a partir de um determinado universo ficcional) ou comentar sobre o texto lido já caracteriza uma outra convergência. Dentro da cultura participativa que caracteriza a cultura da convergência, esses sujeitos são prossumers (prossumidores), a partir de Alvin Toffler (2001TOFFLER, Alvin. A terceira onda. Tradução de João Távoa. Rio de Janeiro: Record, 2001.), ou produsers (produsuários), a partir de Axel Bruns (2006BRUNS, Axel. Towards Produsage: Futures for User-led Content Production. In: International Conference on Cultural Attitudes Towards Technology and Communication, 5., 2006, Tartu. Proceeding of the 5th International Conference on Cultural Attitudes Towards Technology and Communication. Tartu: School of Information Technology, 2006. pp. 275-284.), isto é, ao mesmo tempo em que estão consumindo conteúdo na rede, também estão produzindo. São ao mesmo tempo hiperleitores, escrileitores e “novos críticos”.

Ana Cláudia Munari Domingos (2015DOMINGOS, Ana Cláudia Munari. Hiperleitura e escrileitura: convergência digital, Harry Potter, cultura de fã. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015.) caracteriza os hiperleitores como indivíduos cujas práticas de leitura são realizadas para além do livro em seu formato tradicional impresso, contemplando diferentes mídias: cinema, jogos, músicas, redes sociais e outros objetos culturais. Já os escrileitores, neologismo criado a partir da junção das palavras escritores e leitores, são aqueles que dão continuidade ao trabalho de autores que admiram, criando universos ficcionais tendo por base aquilo que leem (Domingos, 2015). São práticas que caracterizam o jovem leitor contemporâneo, cuja imersão nas histórias que lê provoca a vontade de escrever um novo fim para determinado personagem, um aprofundamento na história de um personagem secundário, entre outras possibilidades imaginativas.

A leitura em tela, quando realizada em suportes ou aplicativos com recursos específicos, é um instrumento potente para esses escrileitores, já que a partir dela é possível

(...) submeter os textos a múltiplas operações (ele pode indexá-lo, anotá-lo, copiá-lo, desmembrá-lo, recompô-lo, deslocá-lo, etc.), mais do que isso, ele pode se tornar seu coautor. A distinção claramente visível no livro impresso, entre a escrita e a leitura, entre autor do texto e o leitor do livro, apaga-se em benefício de uma outra realidade: aquela em que o leitor torna-se um dos autores de uma escrita de várias vozes (...) (Chartier, 1998aCHARTIER, Roger. Post scriptum: Do codex à tela: as trajetórias do escrito. In: CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Tradução de Mary Del Priore. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998a. p. 95-111., p. 103).

É um pouco dessa ideia de coautoria, que borra as fronteiras entre autor e leitor, que pode ser observada na escrita de fanfics, já existentes em formato impresso e amplamente facilitadas pela atual presença massiva de leituras em formato digital. Importante observarmos que esse movimento de ser leitor e escritor independe do suporte da leitura, uma vez que o livro impresso também pode mover o fazer escrileitor. A leitura em suportes de leitura eletrônicos talvez ofereça maior dinamicidade ao trânsito entre ler e escrever, mas mesmo no livro impresso há edições com margens que podem convidar à escrita motivada pela leitura.

A noção de “novos críticos” é citada por Chartier (1998bCHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: conversações com Jean Lebrun. Tradução de Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; São Paulo: Editora UNESP, 1998b.) ao refletir sobre novos sujeitos que assumem o papel de críticos contemporaneamente, realizando o sonho iluminista de que todo leitor (mesmo aqueles às margens dos espaços legítimos da crítica literária) é considerado capaz de criticar obras. É a partir dessa noção que temos “leitores comuns”, ou seja, que não detêm o saber da crítica literária, produzindo resenhas e atribuindo notas às obras, tendo como base mais a sua experiência pessoal do que os aspectos técnicos relacionados à qualidade estética dos textos. Também podemos ver uma inteligência coletiva atuando, em que os sujeitos unem saberes em prol da constituição de verdadeiras comunidades de leitores que se estabelecem nessas mídias sociais. Muitas vezes comandadas por influenciadores literários, em sua maioria jovens leitores comuns, esses espaços se tornam redutos para os “leigos” expressarem e compartilharem sentimentos e impressões sobre o que leem.

No âmbito da formação de leitores, especialmente em espaços educacionais formais, essas produções dos jovens precisam ser valorizadas, uma vez que expressam suas motivações em torno da leitura, sua criatividade e sua conexão com outras linguagens. As fanfics, por exemplo, ainda não alcançaram um bom status no âmbito escolar; é o que Cosson (2014COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014.) afirma ao apontar que elas não são atividades escolares reconhecidas, mas que têm potencial enquanto prática de leitura em prol do letramento literário, que é “o processo de apropriação da literatura enquanto construção literária de sentidos” (Paulino; Cosson, 2009PAULINO, Graça; COSSON, Rildo. Letramento literário: para viver a literatura dentro e fora da escola. In: ZILBERMAN, Regina; ROSING, Tânia (org.). Escola e literatura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009. p. 61-79., p. 67). Os formadores de leitores, dentro e fora da escola, podem estimular a produção de fanfics, de resenhas no Skoob ou de vídeos em formato semelhante ao praticado por booktubers (produtores de conteúdo sobre leitura no YouTube) como forma de escapar dos clichês: fichas de leitura, resumo da história, entre outros. A adoção de práticas diferenciadas, em conexão com o mundo dos jovens, pode promover maior mobilização em torno das propostas, além de desenvolver habilidades para além da escrita para um único destinatário (normalmente o professor).

Considerações finais

Em 1912, Émile Faguet, em seu livro A arte de ler, traduzido e publicado no Brasil em 2021FAGUET, Émile. A arte de ler. Tradução de Roseli de Fátima Dias Almeida Barbosa. Campinas, SP: Kírion, 2021., afirmava que “Há uma arte de ler para cada um [dos gêneros escritos]” (Faguet, 2021, p. 15). Essa afirmação dialoga com as reflexões que aqui propusemos no sentido de que reitera o fato de que precisamos sempre considerar a ação de ler como transitiva, como alertava Soares (2008SOARES, Magda. Ler, verbo transitivo. In: PAIVA, Aparecida et al. (org.). Leituras literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2008. p. 29-36. [Coleção Literatura e Educação].), e isso diz respeito não apenas ao texto em si, mas à experiência da leitura incluindo como o texto é acessado, o suporte do texto, sua forma e sua função social nas engrenagens da cultura assim como definido por Bakhtin (2016BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016.; 2017). Considerar essa trama de ideias auxilia a compreender que a formação de leitores jovens se dá associada ao modo como se entende a leitura. Em um cenário de avanços tecnológicos e convergências midiáticas, a arte de ler ou ser leitor não se reduz ao texto impresso, ao livro impresso, não se reduz à literatura clássica nem à literatura que tem somente o livro impresso como suporte.

A literatura é parte da cultura, como afirma Bakhtin (2017BAKHTIN, Mikhail. A ciência da literatura hoje (Resposta a uma pergunta da revista Novi Mir). In: BAKHTIN, Mikhail. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017.). Ler literatura também faz parte da cultura e assume as formas criadas pela própria cultura. Mediar a leitura literária, aproximando jovens da literatura, significa compreender como a literatura se insere na cultura que circunda e na qual este jovem está imerso, significa descortinar as oportunidades de acesso à leitura literária que se oferecem contemporaneamente e auxiliar a compreender como as novas formas de acesso dialogam com as formas já afastadas do tempo presente consideradas até então como únicas, mas não esquecidas totalmente - por exemplo, ler livros impressos no formato códex.

REFERÊNCIAS

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  • Declaração de disponibilidade de conteúdo

    Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.
  • 1
    As resenhas estão disponíveis publicamente no Skoob. Os nomes das autoras das resenhas foram suprimidos visto que a sua identificação fere o sigilo ético. As escritas foram transcritas tal e qual produzidas pelos sujeitos.
  • Pareceres

    Tendo em vista o compromisso assumido por Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas.

Parecer II

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer II

1. Adequação do trabalho ao tema proposto. A adequação do trabalho ao tema proposto é bastante relevante: a formação de leitores no século XXI, especificamente no contexto dos adolescentes entre 11 e 17 anos. O texto aborda de forma aprofundada a relação entre os jovens e a literatura, discutindo não apenas a leitura de livros impressos, mas também outros formatos e mídias que os jovens utilizam para se relacionar com a literatura. Além disso, o texto propõe uma reflexão sobre como repensar a formação de leitores no século XXI, levando em consideração as práticas de leitura dos jovens e buscando ampliar as suas experiências de leitura. Portanto, o tema proposto é explorado de forma consistente ao longo do texto, abordando questões relevantes e fornecendo reflexões sobre a formação de leitores adolescentes no contexto atual.

2. Explicitação do objetivo do trabalho e coerência do seu desenvolvimento no texto. O objetivo do texto é discutir a relação entre os jovens e a literatura, destacando que a literatura não se restringe apenas aos livros impressos e à palavra escrita. Ele aborda a importância de compreender a leitura como uma atividade social e cultural, que vai além do texto em si, considerando também o suporte, a forma e a função social da leitura. O texto também menciona a influência dos avanços tecnológicos e das convergências midiáticas na forma como os jovens se relacionam com a leitura. O objetivo do texto é articulado ao longo do desenvolvimento ao abordar a necessidade de repensar a forma como a literatura é ensinada e promovida aos jovens. O texto destaca a importância de adotar práticas diferenciadas, como a produção de fanfics, resenhas e vídeos sobre leitura, que estejam em sintonia com as práticas de leitura dos jovens e que promovam uma maior mobilização e engajamento com a literatura. Além disso, o texto ressalta a importância de compreender a leitura como uma atividade transitiva, que vai além do texto em si, considerando o suporte, a forma e a função social da leitura. Essa reflexão é fundamentada em teorias de autores como Émile Faguet e Bakhtin, que destacam a importância de considerar a leitura como parte da cultura e de compreender como a literatura se insere no contexto cultural dos jovens.

3. Conformidade com a teoria proposta, demonstrando conhecimento atualizado da bibliografia relevante. A informação apresentada no texto se relaciona com a teoria proposta de refletir sobre a formação de leitores, especialmente no contexto dos adolescentes entre 11 e 17 anos. O texto aborda a importância de compreender como os jovens dessa faixa etária estão acessando a literatura, seja por meio de livros físicos, livros digitais ou outros formatos. Além disso, ressalta a influência crescente dos celulares como suporte de leitura e menciona dados estatísticos sobre a percentagem de adolescentes que são identificados como leitores. O texto demonstra um conhecimento atualizado da bibliografia relevante, com citações e referências de pesquisas recentes.

4. Originalidade da reflexão e contribuição para o campo de conhecimento. A reflexão do texto aborda a forma como a literatura está presente em diferentes suportes e como isso afeta a interação e produção de sentido. Os autores argumentam que não há uma exclusividade entre o livro impresso e o texto literário em tela, mas sim uma coexistência e convivência entre diferentes modos de acessá-la e interagir com ela. Além disso, destacam a importância de uma abordagem ampla da literatura, que vai além do texto verbal e inclui diferentes linguagens. Essa reflexão sobre a coexistência e transformação da literatura é original e contribui para a compreensão do seu papel na era digital. A contribuição do texto para o campo de conhecimento está relacionada à reflexão sobre as práticas de leitura na contemporaneidade, especialmente entre os jovens. Ele aborda a convergência da literatura em diferentes suportes e mídias, como livros impressos, digitais, entre outros. Além disso, o texto destaca a importância de mediar a leitura de forma aberta às diferentes formas de acesso à informação e às tecnologias de comunicação digital. Essa reflexão sobre a convergência da literatura e as novas formas de interação proporcionadas pelos meios digitais contribui para repensar as práticas de leitura e formação de leitores jovens. Ao reconhecer que os jovens estão lendo de maneiras diferentes, é possível explorar essas diferentes formas de leitura e utilizá-las de maneira mais eficaz no processo de educação literária. Dessa forma, o texto contribui para ampliar o entendimento sobre as práticas de leitura na contemporaneidade e oferece insights para a formação de leitores jovens num contexto de cultura de convergência e participação.

5. Clareza, correção e adequação da linguagem a um trabalho científico. A linguagem utilizada no texto apresenta clareza e adequação em termos gramaticais. As frases são bem estruturadas e compreensíveis, permitindo uma leitura fluída. A escrita é adequada ao contexto de um trabalho científico, utilizando terminologia específica e demonstrando um bom domínio da linguagem. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    14 Fev 2024

Disponibilidade de dados

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2024

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2023
  • Aceito
    17 Abr 2024
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