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“O feminismo finalmente venceu”: metapragmáticas misóginas e antifeministas disfarçadas de liberdade de expressão

RESUMO

Almejamos analisar, nesta pesquisa1 1 Esta produção inscreve-se no projeto Interações on-line em tempos de pandemia: violência linguístico-discursiva em gêneros textuais diversos, de autoria do professor Rodrigo Albuquerque. , como a misoginia se estabelece em uma interação no X (antigo Twitter), sob o argumento de defesa de opinião, para legitimar discursos de ódio. No âmbito teórico, concebemos, à luz da Sociolinguística Interacional e da Pragmática, que as estratégias de impolidez colaboram com a construção de cenários de violência linguístico-discursiva em interações mediadas on-line, na medida em que tanto reduzem a distância interlocutiva quanto geram metapragmáticas machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas. No âmbito metodológico, inscrevemo-nos em uma abordagem qualitativa para, a partir do método netnográfico, analisarmos uma interação no X a partir dos critérios de inclusão e de exclusão propostos neste estudo. No âmbito analítico, constatamos que os interlocutores C, E e F se valeram, com frequência, de estratégias de impolidez na construção de discursos pautados na defesa de opinião para atacar o feminismo e legitimar discursos de ódio.

PALAVRAS-CHAVE:
Impolidez; Violência linguístico-discursiva; Sexismo; Misoginia

ABSTRACT

In this research,1 1 This production is part of the project Interações on-line em tempos de pandemia: violência linguístico-discursiva em gêneros textuais diversos [Online Interaction in Times of Pandemics: Linguistic-Discusive Violence in Diverse Textual Genres], authored by Professor Rodrigo Albuquerque. we aim to analyze how misogyny establishes itself in an interaction on X (formerly Twitter) to legitimize hate speech, under the argument of opinion defense. Theoretically, in light of Interactional Sociolinguistics and Pragmatics, we conceive that impoliteness strategies contribute to the construction of linguistic-discursive violence scenarios in online-mediated interactions, as they both reduce interlocutive distance and generate sexist, misogynistic, patriarchal, and antifeminist metapragmatics. Methodologically, we adopted a qualitative approach to analyze an interaction on X based on the inclusion and exclusion criteria proposed in this study, using the netnographic method. Analytically, we observed that interlocutors C, E, and F frequently used impoliteness strategies in constructing opinion-based discourses to attack feminism and legitimize hate speech.

KEYWORDS:
Impoliteness; Linguistic-discursive violence; Sexism; Misogyny

Considerações iniciais

Durante o período de distanciamento social decorrente da pandemia de Covid-19, a taxa de violência doméstica contra mulheres aumentou drasticamente na China, no Reino Unido, nos Estados Unidos, na França e no Brasil (Marques et al., 2020MARQUES, Emanuele Sousa; MORAES, Claudia Leite de; HASSELMANN, Maria Helena; DESLANDES, Suely Ferreira; REICHENHEIM, Michael Eduardo. A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cadernos de Saúde Pública, [S. l.], v. 36, p. 1-6, 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/j/csp/a/SCYZFVKpRGpq6sxJsX6Sftx/. Acesso em: 21 jun. 2023.
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). Para além das estatísticas, esse cenário abarca violências não só físicas, mas também psicológicas, morais, sexuais e, ao encontro do enquadre desta pesquisa, linguístico-discursivas. Estas, por sua vez, podem ocorrer com o uso de expressões desqualificadoras - insultos e xingamentos -, que constroem sentidos nas diversas interações, as quais veiculam discursos que - por meio de práticas socioculturais machistas, misóginas e patriarcais - reforçam a opressão contra a mulher.

Esse tema deveria constituir pauta primordial em nossa sociedade, visto que esta se organiza nas bases de um sistema patriarcal, dominador e estruturalmente machista. Portanto, os inúmeros tipos de violência a que estão sujeitas as mulheres cotidianamente no Brasil e o aumento de discursos de ódio nas redes sociais2 2 As redes sociais - termo originário das ciências humanas - abrangem um vasto espectro de agrupamentos sociais on-line dedicados a todo tipo de atividade, estabelecem laços firmados a partir de interesses comuns e propiciam não só compartilhar conhecimentos, mas também se perspectivar política, social e culturalmente (Martino, 2014). , por si só, já justificariam a nossa intenção de dar visibilidade aos recursos linguístico-discursivos que permeiam interações mediadas on-line (Thompson, 2018THOMPSON, John B. A interação mediada na era digital. Tradução de Richard Romancini. Matrizes, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 17-44, 2018. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/153199. Acesso em: 30 nov. 2023.
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) violentas, concebendo, antes de tudo, que, se a linguagem é (inter)acional, a violência linguístico-discursiva se indexicaliza a partir de estratégias de impolidez (domínio linguístico); mobiliza ideologias hegemônicas em distintas práticas socioculturais (domínio sociodiscursivo) e, em especial, se constrói a partir dos sentidos que emergem das instâncias interlocutivas (domínio sociointeracional).

Tal panorama nos motiva a analisar, nesta pesquisa, como a misoginia se estabelece em uma interação no X (antigo Twitter), sob o argumento de defesa de opinião, para legitimar discursos de ódio. No âmbito teórico, perspectivamos que, sob a interface da Sociolinguística Interacional e da Pragmática, as estratégias de impolidez (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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) não só promovem violenta redução da distância interlocutiva (Albuquerque; Muniz, 2022ALBUQUERQUE, Rodrigo; MUNIZ, Aline. Proxêmica linguístico-discursiva: um mecanismo de modalização intersubjetiva. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 19, n. 4, pp. 8586-8603, 2022. Disponível em: http://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/81072. Acesso em: 6 out. 2023.
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), mas também geram metapragmáticas (Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.; Signorini, 2008SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148.) machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas. No âmbito metodológico, concebemos - sob a ótica do método netnográfico (Kozinets, 2014KOZINETS, Robert V. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Tradução de Daniel Bueno. Porto Alegre: Penso, 2014.), abarcado por uma abordagem qualitativa (Chizzotti, 2003CHIZZOTTI, Antonio. A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Revista Portuguesa de Educação, Braga, v. 16, n. 2, p. 221-236, 2003. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=37416210. Acesso em: 5 set. 2023.
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) - que as interações são constituídas por enunciações co(n)textualmente situadas, o que nos permitiria, no âmbito analítico, examinar metapragmáticas violentas emergentes das interações, com a finalidade de compreendermos as expectativas socioculturais impostas sobre o comportamento das mulheres no que se refere à causa feminista.

1 A luta metadiscursiva a partir de metapragmáticas misóginas e antifeministas

Podemos afirmar que as palavras, por si só, não são inerentemente violentas. Desde que se inaugurou o pensamento de que podemos fazer ‘coisas’ com as palavras (Austin, 1975AUSTIN, John L. How to Do Things with Words. Cambridge: Harvard University Press, 1975.), marcou-se um inegável giro epistêmico no que tange ao uso da língua(gem) e aos aspectos linguístico-discursivos em jogo na construção de sentidos. Ao assumir que, ao falar, estamos agindo, Austin (1975) rompe com a dicotomia por ele mesmo proposta - atos constatativos (descrevem ações) versus atos performativos (desempenham ações) - e conclui que as ações de linguagem sempre performam, considerando-se o dito (ato locucionário), a força do enunciado (ato ilocucionário) e os efeitos deste no/a interlocutor/a (ato perlocucionário). Ao se referir a uma performance sempre provisória, Butler (1997BUTLER, Judith. Excitable Speech: A Politics of the Performative. London: Routledge, 1997., p. 51) destaca que seu (também provisório) sucesso não é garantido pelas intenções que acompanham o ato de fala, mas pelo fato de que este “... ecoa ações anteriores e acumula a força da autoridade por meio da repetição ou da citação de um conjunto de práticas anteriores e autorizadas”, o que significa que “nenhum termo ou nenhuma declaração pode funcionar performativamente sem a historicidade acumulativa e dissimulada da força” (Butler, 1997, p. 51).

Construindo esse caminho argumentativo, ao qual nos afiliamos, Silva e Alencar (2013SILVA, Daniel do Nascimento e; ALENCAR, Claudiana Nogueira de. A propósito da violência na linguagem. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 55, n. 2, p. 129-146, 2013. Disponível em: http://www.researchgate.net/publication/326787303_A_proposito_da_violencia_na_linguagem. Acesso em: 17 nov. 2023.
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) partem da premissa de que a linguagem constitui um modo de ação, e sustentam que a violência linguística se configura como uma prática de posicionar “o outro - especialmente aquele que representa a raça, o gênero, a sexualidade e o território que não se quer habitar - num lugar vulnerável” (Silva; Alencar, 2013, p. 136-137), com vistas a diminuir, depreciar, desdenhar, insultar, injuriar, abominar e/ou violar sua condição. Não é necessário nos inscrevermos em tantas interações mediadas on-line para percebermos que “as redes sociais vão se constituindo como palco de interação que, por vezes, se fazem mais conflituosas do que harmônicas” (Cabral; Lima, 2017CABRAL, Ana Lúcia Tinoco; LIMA, Nelci Vieira de. Argumentação e polêmica nas redes sociais: o papel de violência verbal. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 42, n. 73, p. 86-97, 2017. Disponível em: http://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/8004. Acesso em: 22 out. 2023.
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, p. 87), sobretudo quando tais interações acionam pessoas que, por apenas existirem, são subjugadas, vulnerabilizadas e roubadas de sua própria subjetividade.

Pereira e Gamas (2021PEREIRA, Marcio Jose; GAMAS, Luciane Cristina. Redes sociais, masculinidade hegemônica e violência: o machismo como elemento (des)civilizacional no Brasil. Perspectivas em diálogo, Naviraí, v. 8, n. 17, p. 215-234, 2021. Disponível em: http://periodicos.ufms.br/index.php/persdia/article/view/12781. Acesso em: 12 jun. 2023.
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, p. 228) destacam que as práticas machistas e as manifestações de dominação masculina “... perpetuam um sistema que subjuga os próprios homens, elencando características físicas, de caráter, de capacidade organizacional e de ímpeto pela violência”. Em nossa análise, esse sistema se relaciona com a construção da cultura do mimimi, que, conforme define Pinto (2019PINTO, Joana Plaza. É só mimimi? Disputas metapragmáticas em espaços públicos online. Interdisciplinar, São Cristóvão, v. 31, n. 1, p. 221-236, 2019. Disponível em: http://periodicos.ufs.br/interdisciplinar/article/view/11847. Acesso em: 10 jul. 2023.
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, p. 223), congrega práticas socioculturais heterogêneas que deslegitimam “um ato de fala prévio ou potencial - buscando controlar o futuro enquadre de avaliação metapragmática3 3 Trataremos de metapragmáticas mais adiante. ou projetá-lo desde antes de sua realização como ilegítimo”. Não é incomum que o discurso de mimimi seja reproduzido por homens e, inclusive, por mulheres afetados/as por práticas machistas e reféns das manifestações de dominação masculina. Propomos que essa construção sociocultural (o mimimi) decorra, por vezes, do machismo (e - acrescentamos - da misoginia) como subproduto(s) da masculinidade tóxica (Nigro; Baracat, 2018NIGRO, Isabella Silva; BARACAT, Juliana. Masculinidade: preciosa como diamante, frágil como cristal. Revista Científica Eletrônica de Psicologia, Garça, v. 30, n. 1, p. 4-19, 2018. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/nNirdcsu8KL0cs0_2019-3-8-17-21-47.pdf. Acesso em: 8 nov. 2023.
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).

A respeito das interações mediadas on-line, Pereira e Gamas (2021PEREIRA, Marcio Jose; GAMAS, Luciane Cristina. Redes sociais, masculinidade hegemônica e violência: o machismo como elemento (des)civilizacional no Brasil. Perspectivas em diálogo, Naviraí, v. 8, n. 17, p. 215-234, 2021. Disponível em: http://periodicos.ufms.br/index.php/persdia/article/view/12781. Acesso em: 12 jun. 2023.
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) advertem que o desenvolvimento da tecnologia e o decorrente estabelecimento de normas em redes sociais não garantem um comportamento civilizado, não sendo incomum que o machismo - definido como “um conjunto de sentimentos reativos que são produzidos com o intuito de inferiorizar o gênero feminino e os gêneros considerados marginais promovendo várias formas de violência, seja física ou simbólica” (Pereira; Gamas, 2021, p. 217) - e seus efeitos implacavelmente violentos ganhem cada vez mais espaço. A gênese para essa violência decorre da ideia de que as tarefas produtivas e as tarefas reprodutivas deveriam ser designadas, respectivamente, aos homens e às mulheres, sob a justificativa de que a maternidade, ao ser associada a uma existência sedentária, situa a mulher no lar, diferentemente do homem, que caça, pesca e guerreia (Beauvoir, 1970BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. 4. ed. Tradução de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970.). Sob esse viés, manifestar opinião nas redes sociais sairia do escopo dessa ideia de sedentarismo e romperia com a injunção de um silenciamento sócio-historicamente construído.

O sexismo - “... uma atitude em relação a uma pessoa ou pessoas em virtude de seu sexo biológico” (Ferrer Pérez; Bosch Fiol, 2000, p. 13) - pode se manifestar, segundo propõem Glick e Fiske (1996GLICK, Peter; FISKE, Susan T. The Ambivalent Sexism Inventory: Differentiating Hostile and Benevolent Sexism. Journal of Personality and Social Psychology, [S. l.], v. 70, n. 3, pp. 491-512, 1996. Disponível em: http://psycnet.apa.org/record/1996-03014-006. Acesso em: 28 jul. 2023.
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), de modo hostil (ações hostis endereçadas às mulheres) e de modo benevolente (atitudes ‘brandas’ endereçadas às mulheres, associando-as a formas estereotipadas ou a papéis restritos). Por sua vez, a misoginia envolve o ódio, a rejeição, a aversão e o desprezo dos homens em relação às mulheres e ao feminino (Ferrer Pérez; Bosch Fiol, 2000; Varela, 2012VARELA, Nuria. La nueva misoginia. Revista Europea de Derechos Fundamentales, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 25-48, 2012. Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4055493.pdf. Acesso em: 12 out. 2023.
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; Tiburi, 2018TIBURI, Marcia. A máquina misógina e o fator Dilma Rousseff na política brasileira. In: RUBIM, Linda; ARGOLO, Fernanda (Orgs.). O golpe na perspectiva de gênero. Salvador: EDUFBA, 2018, p. 105-116.), configurando-se como o extremo do sexismo hostil (Ferrer Pérez; Bosch Fiol, 2000), embora ela possa se manifestar de modo sutil (Varela, 2012). Nesse sentido, assumimos que as violências linguístico-discursivas direcionadas às mulheres podem se manifestar no contínuo sexismo benevolente, sexismo hostil e misoginia, congregando violências de distintas ordens: das simbólicas às físicas.

A misoginia não se reduz à ideia de que o homem assume uma posição dominante em relação à mulher, mas consiste no “... rebaixamento das mulheres ao reino do trabalho não produtivo, duplamente humilhante porque o trabalho real exigido delas foi intensificado...” (Wallerstein, 2003WALLERSTEIN, Immanuel. Historical Capitalism with Capitalist Civilization. London/New York: Verso, 2003., p. 75). Como “um prejuízo que sobrevive ao tempo muito antes de ter nome” (Moterani; Carvalho, 2016MOTERANI, Geisa Maria Batista; CARVALHO, Felipe Mio. Misoginia: a violência contra a mulher numa visão histórica e psicanalítica. Avesso do avesso, [S. l.], v. 14, n. 14, p. 167-178, 2016. Disponível em: http://feata.edu.br/downloads/revistas/avessodoavesso/v14_artigo11_misoginia.pdf. Acesso em: 8 nov. 2023.
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, p. 168), a misoginia decorre de hegemonias masculinistas4 4 A hegemonia masculinista engloba “um conjunto de leis e normas elaboradas por homens para homens, seja na religião, na educação, na política, na economia, nos saberes psicológicos e psiquiátricos, entre outros, que visam resguardar e assegurar privilégios sociais e manter os poderes andro/falocêntricos” (Rosostolato, 2018, p. 58). (Rosostolato, 2018ROSOSTOLATO, Breno. O homem cansado: uma breve leitura das masculinidades hegemônicas e a decadência patriarcal. RBSH, [S. l.], v. 29, n. 1, p. 57-70. 2018. Disponível em: http://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/view/42. Acesso em: 23 out. 2023.
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), que apregoam uma construção sociocultural “... diretamente relacionada ao ódio, à violência, à opressão e à dominação contra tudo e todos que questionam a cultura do poder masculinizado” (Moterani; Carvalho, 2016, p. 168). Alambert (1986ALAMBERT, Zuleika. Feminismo: o ponto de vista marxista. São Paulo: Nobel, 1986., p. 1) argumenta que as práticas discriminatórias e violentas se tornaram, historicamente, “refinadas, sofisticadas, mas nem por isso menos inadmissíveis do que na época da pedra lascada”.

Embora o Twitter fosse5 5 Trouxemos essa questão à tona, visto que esta pesquisa foi realizada quando a plataforma se denominava Twitter. , à época, a plataforma que mais removia tweets com conteúdo de ódio e previsse, na Política contra propagação de ódio, a proibição quanto a ações violentas, ataques, ameaças ou veiculação de ódio, ele não conseguia acompanhar o alto fluxo de comentários, o que explica encontrarmos, com frequência, discursos violentos que não foram removidos ou notados pela plataforma (Leite et al., 2020LEITE, Raquel Pereira Rodrigues; BOTELHO-FRANCISCO, Rodrigo Eduardo; LIMA, Myrian Regina Del Vecchio de. O discurso de ódio contra a mulher no Twitter: uma análise de 20 tweets contra o aborto no caso #GravidezAos10Mata. In: XIII Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, Rio de Janeiro, 2020. p. 1-21. Disponível em: http://abciber.org.br/simposios/index.php/abciber/abciber13/paper/viewPaper/1408. Acesso em: 12 ago. 2023.
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). Hoje, o X sequer mantém tal política. No que diz respeito à misoginia, argumentamos que as redes sociais precisam se constituir como espaços para afetar a discussão sobre problemas relativos à ação do Estado e alterar o ciclo de políticas públicas (Ruediger et al., 2017RUEDIGER, Marco Aurélio; CALIL, Lucas; RUEDIGER, Tatiana Terra; GRASSI, Amaro; SILVA, Danilo Carvalho da; FERREIRA, Humberto; LENHARD, Pedro; FARIA, Ricardo; DIAS, Thamyres. Nem tão #simples assim: o desafio de monitorar políticas públicas nas redes sociais. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV/DAPP, 2017. Disponível em: http://repositorio.fgv.br/items/7f19c26e-911e-4c65-9d76-fb8d5e5cabd7. Acesso em: 30 nov. 2023.
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); possibilitar transformações sócio-históricas (Martino, 2014MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria das Mídias Digitais: linguagens, ambientes, redes. Petrópolis: Vozes, 2014.); mobilizar a esperança da possibilidade de mudança (Castells, 2017CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. 2. ed. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.); e, ainda, promover uma educação para a igualdade de gênero, haja vista que homens e mulheres têm as mesmas potencialidades intelectuais (Passos, 2019PASSOS, Nair Luisa Rabelo dos. #Elasótem16anos: análise discursiva crítica de postagens em rede social sobre caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro. 2019. 158f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional. Universidade de Brasília, Brasília, 2019. Disponível em: http://www.realp.unb.br/jspui/handle/10482/35406. Acesso em: 30 nov. 2023.
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). Em suma, é preciso alterar “a balança de poder, que ainda pende para o masculino” (Passos, 2019, p. 153).

Os encontros sociais mobilizam os sujeitos para o desempenho de uma série de ações complexas e heterogêneas, das quais fazem parte, em alguma medida, as atividades linguísticas. Em interações mediadas on-line, a riqueza de relações e rituais estabelecidos pode trazer insumos para desvelar o modo como se estabelecem os conflitos em ambientes digitais, incluindo aqueles em que se reforça a opressão contra grupos sociais atacados. Essas práticas violentas cotidianas procuram manter e reforçar as desigualdades sociais, bem como encontram respaldo nas ideologias dominantes presentes de forma estrutural na sociedade. Além disso, não é nada incomum que metapragmáticas de violência linguístico-discursiva sejam ardilosamente legitimadas por enunciações que transpõem o peso desses atos violentos para o território inofensivo de ‘brincadeira’ e de ‘opinião’.

No que se refere aos distintos modos de interagir, Thompson (2018THOMPSON, John B. A interação mediada na era digital. Tradução de Richard Romancini. Matrizes, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 17-44, 2018. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/153199. Acesso em: 30 nov. 2023.
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) assegura que a interação mediada on-line (estatuto interacional assumido nesta pesquisa) abrange: (a) tempo e espaço estendidos, visto que os/as interagentes podem se conectar em lugares e em momentos distintos; (b) leque de pistas simbólkcas disponível bastante reduzido, uma vez que não se tem acesso a gestos, expressões faciais, tom de voz, entre outras semioses; (c) caráter dialógico, dado que possibilita o intercâmbio linguístico dos/as interagentes; e, por fim, (d) inscrição de múltiplos/as interagentes, uma vez que as ações de linguagem são de muitos/as para muitos/as. Avaliamos que tais características intensificam: a ameaça à face (Goffman, 1967GOFFMAN, Erving. Interaction Ritual: Essays on Face-to-face Behavior. UK: Penguin University Books, 1967.); o efeito das estratégias de impolidez (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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); a redução interlocutiva (Albuquerque; Muniz, 2022ALBUQUERQUE, Rodrigo; MUNIZ, Aline. Proxêmica linguístico-discursiva: um mecanismo de modalização intersubjetiva. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 19, n. 4, pp. 8586-8603, 2022. Disponível em: http://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/81072. Acesso em: 6 out. 2023.
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) para violentar; a regimentação de metapragmáticas (Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.; Signorini, 2008SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148.; Pinto, 2019PINTO, Joana Plaza. É só mimimi? Disputas metapragmáticas em espaços públicos online. Interdisciplinar, São Cristóvão, v. 31, n. 1, p. 221-236, 2019. Disponível em: http://periodicos.ufs.br/interdisciplinar/article/view/11847. Acesso em: 10 jul. 2023.
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) misóginas; e a construção de cenários de violência linguístico-discursiva. Por essa razão, daremos tratamento teórico a tais temas, organizados em dois blocos. O primeiro deles abordará as três ondas dos estudos de (im)polidez; ao passo que o segundo contemplará as noções de metapragmáticas e de proxêmica linguístico-discursiva, que mantêm interface, em especial, com os estudos de (im)polidez de segunda onda e de terceira onda.

Os estudos de polidez se situam, epistêmica e metaforicamente, na emergência de três ondas, quais sejam: primeira onda (micro/linguística), segunda onda (macro/sociodiscursiva) e terceira onda (meso/sociointeracional). Frisamos que esse percurso sócio-histórico é trilhado tanto por Culpeper (2011bCULPEPER, Jonathan. Politeness and Impoliteness. In: ANDERSEN, Gisle; AJIMER, Karin. (Eds.). Pragmatics of Society. Berlin: Mouton de Gruyter, 2011b. pp. 393-438.), ao reconhecer as duas primeiras ondas e, a partir de sua revisão de literatura, perspectivar a (im)polidez na esfera interpessoal - isto é, como material linguístico que desencadeia, em contextos sociais particulares, atitudes de (im)polidez, consoante já previa Haugh (2007aHAUGH, Michael. The Co-Constitution of Politeness Implicature in Conversation. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 39, n. 1, pp. 84-110, 2007a. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0378216606001536. Acesso em: 28 ago. 2023.
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); quanto por Grainger (2011GRAINGER, Karen. ‘First Order’ and ‘Second Order’ Politeness: Institutional and Intercultural Contexts. In: Linguistic Politeness Research Group (Org.). Discursive Approaches to Politeness. Walter de Gruyter: Berlin/Boston, 2011. pp. 167-188.), ao avaliar que as três ondas fornecem valorosos insights para análises interacionais mais amplas. Para que possamos compreender tais caminhos epistêmicos, iremos sintetizar as contribuições das três ondas.

A primeira onda, representada especialmente por Lakoff (1973LAKOFF, Robin. The Logic of Politeness; or, Minding your P’s and Q’s. In: CORUM, Claudia et al. (Eds.). Papers from the Ninth Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society, p. 292-305, 1973.), Leech (1983LEECH, Geoffrey N. Principles of Pragmatics. London: Longman, 1983.), Brown e Levinson (1987BROWN, Penelope; LEVINSON, Stephen C. Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.) e Culpeper (1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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), inaugura - amparada pela prevalência de estudos situados em domínios frásticos (entre os anos de 1970 e 1980) - um arsenal teórico de cunho pancultural, concebendo a (im)polidez em dimensões objetivas, na medida em que propõe, teoricamente, a existência de estratégias/regras/máximas linguísticas universais. Nesse sentido, propõe-se um modelo retórico interpessoal - a partir das recomendações de não ser impositivo/a, de oferecer opções e de fazer com que o/a outro/a se sinta bem (Lakoff, 1973); e de minimizar custos, desaprovação, desacordo e antipatia ao/à outro/a (e maximizar benefícios, aprovação, acordo e simpatia a ele/a) (Leech, 1983). Anos depois, Brown e Levinson (1987) elaboram, a partir da noção de face (Goffman, 1967GOFFMAN, Erving. Interaction Ritual: Essays on Face-to-face Behavior. UK: Penguin University Books, 1967.), um quadro com cinco macroestratégias de polidez, as quais motivaram Culpeper (1996) a elaborar um quadro com cinco macroestratégias de impolidez.

Goffman (1967GOFFMAN, Erving. Interaction Ritual: Essays on Face-to-face Behavior. UK: Penguin University Books, 1967., p. 5) concebe a noção de face como “... o valor social positivo que uma pessoa efetivamente reivindica para si mesma através da linha que os/as outros/as pressupõem que ela assumiu durante um contato específico”. A partir dessa noção, Brown e Levinson (1987BROWN, Penelope; LEVINSON, Stephen C. Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.) destacam que, para sermos polidos/as, podemos (a) ameaçar, em alguns contextos específicos, diretamente a face sem reparo; ameaçar diretamente a face com reparo (b) tanto por meio de superestratégias de polidez positiva (c) quanto por meio de superestratégias de polidez negativa; (d) ameaçar indiretamente a face e (e) não ameaçar a face. Sob a concepção de que a impolidez é o oposto da polidez, Culpeper (1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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) previu ser comum, no âmbito da impolidez, (a) ameaçar diretamente a face sem ação reparadora - considerada aqui ação impolida, diferentemente da primeira macroestratégia de Brown e Levinson (1987); ameaçar diretamente a face sem ação reparadora (b) tanto por meio de superestratégias de impolidez positiva (c) quanto por meio de superestratégias de impolidez negativa; (d) ameaçar indiretamente a face (com insinceridade, brincadeira, sarcasmo, ironia) e (e) não ameaçar a face. Constatamos que os estudos de primeira onda possibilitariam, no âmbito analítico, mapear as estratégias de (im)polidez utilizadas em interações mediadas on-line.

A segunda onda - na qual se inscrevem, especialmente, os trabalhos de Eelen (2001EELEN, Gino. A Critique of Politeness Theories. Manchester: St. Jerome, 2001.), Mills (2003MILLS, Sara. Gender and Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.) e Watts (2009WATTS, Richard J. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.) - nasce em razão de os estudos de primeira onda instanciarem as análises em domínio frástico (sentenças descontextualizadas) e em perspectiva ética (avaliação da (im)polidez sob a ótica do/a pesquisador/a), conforme destacam Eelen (2001), Watts (2009) e Grainger (2011GRAINGER, Karen. ‘First Order’ and ‘Second Order’ Politeness: Institutional and Intercultural Contexts. In: Linguistic Politeness Research Group (Org.). Discursive Approaches to Politeness. Walter de Gruyter: Berlin/Boston, 2011. pp. 167-188.). Assim, os estudos de segunda onda passam a focalizar dimensões subjetivas - o contexto da enunciação e a perspectiva êmica (avaliação da (im)polidez sob a ótica do/a leigo/a). Adicionalmente, Culpeper (2011bCULPEPER, Jonathan. Politeness and Impoliteness. In: ANDERSEN, Gisle; AJIMER, Karin. (Eds.). Pragmatics of Society. Berlin: Mouton de Gruyter, 2011b. pp. 393-438.) afirma que os estudos de primeira onda reduzem a noção de contexto, visto que um conjunto de variáveis sociais não refletiria a complexidade das interações. Na segunda onda, há interesse em uma concepção de (im)polidez ancorada nas lutas sociodiscursivas (Watts, 2009; Culpeper, 2011b), as quais se tornariam mais fulcrais do que a própria (in)adequação social (Haugh; Culpeper, 2018HAUGH, Michael; CULPEPER, Jonathan. Integrative Pragmatics and (Im)Politeness Theory. In: ILIE, Cornelia; NORRICK, Neal R. (Eds.). Pragmatics and its Interfaces. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2018. pp. 213-239.). Com base nesses atributos, assumimos que os estudos de segunda onda possibilitariam, no âmbito analítico, focalizar tanto o contexto enunciativo quanto os aspectos sociodiscursivos (ideologia, poder, hegemonia) emergentes da interação mediada on-line.

A terceira onda, por sua vez, teria surgido nos trabalhos de Culpeper (2011bCULPEPER, Jonathan. Politeness and Impoliteness. In: ANDERSEN, Gisle; AJIMER, Karin. (Eds.). Pragmatics of Society. Berlin: Mouton de Gruyter, 2011b. pp. 393-438.) e Grainger (2011GRAINGER, Karen. ‘First Order’ and ‘Second Order’ Politeness: Institutional and Intercultural Contexts. In: Linguistic Politeness Research Group (Org.). Discursive Approaches to Politeness. Walter de Gruyter: Berlin/Boston, 2011. pp. 167-188.), endossados por Kádár e Haugh (2013KÁDÁR, Dániel Z.; HAUGH, Michael. Understanding Politeness. UK: Cambridge University Press, 2013.). Contudo, sustentamos que as contribuições de Terkourafi (2005TERKOURAFI, Marina. Beyond the Micro-Level in Politeness Research. Journal of Politeness Research, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 237-262, 2005. Disponível em: https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/jplr.2005.1.2.237/html. Acesso em: 28 ago. 2023.
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), Arundale (2006ARUNDALE, Robert B. Face as Relational and Interactional: A Communication Framework for Research on Face, Facework and Politeness. Journal of Politeness Research, [S. l.], v. 2, n. 2, pp. 193-216, 2006. Disponível em: http://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/PR.2006.011/html. Acesso em: 10 nov. 2023.
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), Haugh (2007b), Bousfield (2008BOUSFIELD, Derek. Impoliteness in Interaction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2008.) e Bargiela-Chiappini (2009) se situam entre a segunda onda e a terceira onda. Os estudos de terceira onda emergem, como (talvez) fosse esperado, das críticas dirigidas aos estudos de segunda onda, sobretudo no que tange (a) à negligência dada à dimensão pragmalinguística, muito presente nos estudos de primeira onda, em detrimento da dimensão sociopragmática (Terkourafi, 2005; Haugh, 2007b; Grainger, 2011; Leech, 2014LEECH, Geoffrey N. The Pragmatics of Politeness. Oxford: Oxford University Press, 2014.; Blitvich; Sifianou, 2019BLITVICH, Pilar Garcés-Conejos; SIFIANOU, Maria. Im/politeness and Discursive Pragmatics. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 145, pp. 91-101, 2019. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0378216618306301. Acesso em: 17 nov. 2023.
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); (b) à afiliação a modelos comunicativos do tipo codificação-decodificação (Arundale, 2006; Haugh, 2007b); e (c) à valorização extrema da voz dos/as participantes de determinado estudo (Haugh; Culpeper, 2018).

Investigações afiliadas aos estudos de terceira onda perspectivam a face, em resgate à teoria goffmaniana, como fenômeno relacional e interacional (Arundale, 2006ARUNDALE, Robert B. Face as Relational and Interactional: A Communication Framework for Research on Face, Facework and Politeness. Journal of Politeness Research, [S. l.], v. 2, n. 2, pp. 193-216, 2006. Disponível em: http://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/PR.2006.011/html. Acesso em: 10 nov. 2023.
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), que pode ser ameaçada intencionalmente (insultos abertos e maliciosos), incidentalmente (efeitos colaterais não planejados) e acidentalmente (gafes) (Goffman, 1967GOFFMAN, Erving. Interaction Ritual: Essays on Face-to-face Behavior. UK: Penguin University Books, 1967.; Bousfield, 2008BOUSFIELD, Derek. Impoliteness in Interaction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2008.). No caso da ameaça intencional, ela é resultante de questões afetivas (expressões de raiva, de ódio ou de cólera) para coerção (realinhamento de valores) e para entretenimento (uso de críticas, chacotas e deboches) (Culpeper, 2011aCULPEPER, Jonathan. Impoliteness: Using Language to Cause Offence. Cambridge: Cambridge University Press, 2011a.). Esses estudos situam a (im)polidez como implicatura negociada no curso da interação (Haugh, 2007bHAUGH, Michael. The Discursive Challenge to Politeness Research: An Interactional Alternative. Journal of Politeness Research, [S. l.], v. 3, n. 2, pp. 295-317, 2007b. Disponível em: http://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/PR.2007.013/html. Acesso em: 28 ago. 2023.
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), empiricamente observada a partir de dados emergentes da própria conversa (Terkourafi, 2005TERKOURAFI, Marina. Beyond the Micro-Level in Politeness Research. Journal of Politeness Research, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 237-262, 2005. Disponível em: https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/jplr.2005.1.2.237/html. Acesso em: 28 ago. 2023.
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; Bargiela-Chiappini, 2009) e instanciada em dadas práticas sociais (Kádár; Haugh, 2013KÁDÁR, Dániel Z.; HAUGH, Michael. Understanding Politeness. UK: Cambridge University Press, 2013.). Nos estudos de terceira onda, assume-se que as ações linguísticas são convencionalmente associadas a contextos em que a (im)polidez é ativada (Culpeper, 2011b).

O grande giro epistêmico da segunda para a terceira onda está na concepção de que a (im)polidez - de uma abordagem psicologizante a uma abordagem etnometodológica - é “uma conquista social e interacional, em vez de um produto da intenção do falante ou da interpretação do ouvinte” (Grainger, 2011GRAINGER, Karen. ‘First Order’ and ‘Second Order’ Politeness: Institutional and Intercultural Contexts. In: Linguistic Politeness Research Group (Org.). Discursive Approaches to Politeness. Walter de Gruyter: Berlin/Boston, 2011. pp. 167-188., p. 184). Concebemos, a partir desses sucessivos giros epistêmicos, que os estudos de terceira onda possibilitariam analisar as estratégias de (im)polidez (primeira onda) e as disputas discursivas regidas por enquadres (contra)hegemônicos (segunda onda) em interações co(n)textualmente situadas, o que significa romper com a ideia de que as sentenças são inerentemente (im)polidas (Fraser; Nolen, 1981FRASER, Bruce; NOLEN, William. The Association of Deference with Linguistic Form. International Journal of the Sociology of Language, [S. l.], n. 27, pp. 93-109, 1981. Disponível em: http://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/ijsl.1981.27.93/html. Acesso em: 30 set. 2023.
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), assim como com a pressuposição de que as disputas discursivas se dão a priori das interações. Nesse último caso, Blommaert (2008BLOMMAERT, Jan. Contexto é/como crítica. Tradução de Daniel do Nascimento e Silva e Clara Dorneles. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 91-115., p. 94-95) evidencia ser necessário combater “... formulações a priori sobre relações de poder [uma vez que elas] são utilizadas como perspectivas sobre o discurso (por ex. ‘o poder é ruim’, ‘os políticos são manipuladores’, ‘a mídia é uma máquina reprodutora de ideologias’) ...”. Ademais, concebemos que, nas interações mediadas on-line, os/as interagentes estão - a todo momento - negociando distâncias interlocutivas no âmbito (não)verbal (realizando regulações proxêmicas) e regimentando metapragmáticas mais/menos violentas.

A proxêmica linguístico-discursiva é um construto que advém de dois conceitos prévios. O primeiro deles é a proxêmica, proposta por Hall (1963HALL, Edward T. A System for the Notation of Proxemic Behavior. American Anthropologist, [S. l.], v. 65, n. 5, pp. 1003-26, 1963. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/668580. Acesso em: 30 set. 2023.
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), que compreende o significado social do espaço. O segundo é a proxêmica verbal, conceito cunhado por Carreira (1997CARREIRA, Maria Helena Araújo. Modalisation linguistique en situation d’interlocution: proxémique verbale et modalités en portugais. Louvain-Paris: Peters, 1997.), que transpõe a proposta de Hall para a dimensão verbal, correlacionando aproximações e distanciamentos (a) às relações simétricas e assimétricas (Kerbrat-Orecchioni, 1992); (b) à elocução dos atos de fala elocutivos, alocutivos ou delocutivos (Charaudeau, 1992CHARAUDEAU, Patrick. Grammaire du sens et de l’expression. Paris: Hachette, 1992.); e, por último, (c) ao sistema de polidez (Brown; Levinson, 1987BROWN, Penelope; LEVINSON, Stephen C. Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.). Em convergência com esses dois conceitos, a proxêmica linguístico-discursiva poderia ser definida “... como mecanismo que regula as distâncias estabelecidas/construídas pelos/as interagentes tanto nas dimensões materiais (cotexto) quanto nas dimensões subjetivas (contexto), o que engloba, por conseguinte, instâncias verbais e não verbais” (Albuquerque; Muniz, 2022ALBUQUERQUE, Rodrigo; MUNIZ, Aline. Proxêmica linguístico-discursiva: um mecanismo de modalização intersubjetiva. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 19, n. 4, pp. 8586-8603, 2022. Disponível em: http://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/81072. Acesso em: 6 out. 2023.
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, p. 8591). Esses espaços são, portanto, negociados na própria interação, a qual regimenta metapragmáticas de maior/menor violência, a depender do caráter da aproximação e do distanciamento interlocutivos.

A redução da distância interlocutiva pode trazer ameaça à territorialidade dos sujeitos, bem como pode construir cenários de violência capazes de desvalorizar e silenciar tais sujeitos. Essa regulação proxêmica é capaz de promover metapragmáticas - “... estruturas e processos socioculturais de natureza linguístico-discursiva e político-ideológica... [com] função tanto de descrever e avaliar quanto de condicionar e orientar os usos da língua na interação oral, escrita [e digital]” (Signorini, 2008SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148., p. 117 - acréscimos nossos) - desvalorizadoras e silenciadoras. Por meio de tais metapragmáticas, há tentativas de desqualificar discursos contra hegemônicos e calar a voz das mulheres com o uso de estratégias de impolidez positiva (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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), de indiferença e de banalização; bem como transgredir os diversos espaços da mulher e colocá-los no domínio masculino com o uso de estratégias de impolidez negativa (Culpeper, 1996). Em ambas as situações, as motivações podem decorrer de questões afetivas que coíbem ou entretêm (Culpeper, 2011a), gerando ameaça intencional à face (Goffman, 1967GOFFMAN, Erving. Interaction Ritual: Essays on Face-to-face Behavior. UK: Penguin University Books, 1967.; Bousfield, 2008BOUSFIELD, Derek. Impoliteness in Interaction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2008.); e as metapragmáticas, por conseguinte, se ancoram a um sistema patriarcal opressivo, que respalda e possibilita a violência contra a mulher.

Emergentes de distintos contextos interlocutivos, as metapragmáticas podem promover disputas metadiscursivas (Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.) com orientação metapragmática capaz de descrever e regulamentar os “... usos linguísticos por grupos e indivíduos diferentemente posicionados em estruturas e redes sociais de poder e autoridade” (Signorini, 2008SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148., p. 119). Ao argumentarem, por exemplo, que estão exercendo o direito de manifestar opinião ou de fazer apenas uma brincadeira, os/as interlocutores/as conferem legitimidade às próprias ações. Sob o disfarce de liberdade de expressão e de brincadeira, tentam se esquivar da responsabilidade pela violência linguístico-discursiva causada e pelas práticas - muitas vezes - criminosas, tais como injúria e discriminação. Para tanto, respaldam-se em ordens político-ideológicas socialmente consolidadas e reforçadas, contextualmente rememoradas e sustentadas, resultando, raramente, em responsabilização. Logo, os rótulos de liberdade de expressão e de brincadeira funcionam como mecanismos de manutenção da opressão contra as mulheres; bem como manifestam graus de misoginia que, direta ou indiretamente, emergem por metapragmáticas violentas.

2 Netnografia no X: intersubjetividades em perspectiva

Porquanto as interações on-line têm adquirido papel central no cotidiano das pessoas e consistem em práticas sociais complexas, inscrevemo-nos em uma abordagem qualitativa, por nos permitir investigar as violências linguístico-discursivas emergentes das interações, a partir das intersubjetividades em jogo e das especificidades socioculturalmente situadas, o que nos possibilitaria realizar análises diversas que capturam várias dimensões dos mesmos fenômenos (Chizzotti, 2003CHIZZOTTI, Antonio. A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Revista Portuguesa de Educação, Braga, v. 16, n. 2, p. 221-236, 2003. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=37416210. Acesso em: 5 set. 2023.
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). A singularidade das interações nos oportunizaria conceber que os sentidos se atualizam na própria interação, de modo que ela não seja perspectivada como dado pronto para ser colhido, mas seja gerada e analisada intersubjetivamente.

Sob o guarda-chuva da abordagem qualitativa, adotamos a netnografia, que, em 1997, foi cunhada por Kozinets, como um ramo do modelo etnográfico. Esse método surge como uma adaptação a procedimentos etnográficos de observação participante, cujo peso encontra-se no componente on-line e, tal como a etnografia, se configura como abordagem essencialmente observacional (Kozinets, 2014). Tendo como foco o uso da linguagem na Internet, a netnografia fornece, para esta pesquisa, instrumentos e diretrizes qualitativas necessárias para podermos sondar comportamentos sociais e humanos no ambiente virtual. Assim, ela se encaixa no tipo de pesquisa on-line em comunidades (Kozinets, 2014), por meio da qual consideramos as várias manifestações da impolidez, as quais reduzem as distâncias interlocutivas para ofender, bem como regimentam metapragmáticas machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas.

À luz da netnografia, de abordagem qualitativa, adotamos os seguintes procedimentos: (a) utilizamos as ferramentas de busca avançada no X (à época, Twitter), com vistas a selecionar interações que, ao encontro do objetivo desta pesquisa, trouxessem indícios de misoginia sob a justificativa de argumento de opinião; (b) selecionamos interações no X a partir das expressões muié, cuié, minha opinião, mimimi, mimizento, mimizenta, feminismo, mulher boa é..., mulher pra mim deve..., descansa militante, mulher é igual..., mulher é que nem..., opinião de mulher, femimiminista, só podia ser mulher/muié/cuié, mulher que... não merece respeito e mulher tem que ser... No entanto, tivemos acesso a um conjunto de dados imensamente extenso e, por essa razão, (c) estabelecemos um primeiro critério de exclusão: desconsiderar os textos que não tivessem comentários de outros/as internautas. Com essa ação, chegamos a 14 postagens.

Na sequência, (d) propusemos dois critérios de inclusão para refinar a busca e atender ao objetivo da pesquisa com maior precisão: tweets ou memes que tematizassem o discurso de ódio dirigido à mulher e que legitimassem esse discurso justificando/atenuando a ação como brincadeira, piada ou liberdade de expressão. A partir desses critérios, chegamos a 5 postagens. Para este artigo, (e) selecionamos a interação que, a um só tempo, tivesse: maior densidade de violência linguístico-discursiva; maior desalinhamento dos/as interagentes quanto à avaliação do texto (violência ou brincadeira); e maior número de retweets e curtidas. Com essa ação, (f) capturamos a interação selecionada; (g) geramos um Portable Document Format (PDF) com a interação a ser analisada na próxima seção e, por fim, (h) examinamos os recursos linguístico-discursivos emergentes da interação.

3 Regulações metapragmáticas: o antifeminismo e a defesa da opinião

Nesta seção, analisaremos, sob a perspectiva teórico-metodológica por nós adotada, uma interação ocorrida no X (à época, Twitter) em janeiro de 2021, momento em que o mundo vivia o contexto de emergência da pandemia de Covid-19. Conforme podemos constatar a seguir, o interlocutor F postou o comentário mulher anulando opinião de homem x homem anulando opinião de mulher usando emojis relacionados, respectivamente, à aprovação e à reprovação. A postagem foi publicada como reação a uma postagem anterior, cujo print screen6 6 Transcrevemos o print screen do post para preservar ainda mais a identidade dos/as internautas. serviu para fundamentar o argumento do interlocutor F. Iniciaremos, no quadro 1, a análise pela postagem motivadora (comentários dos/as interlocutores/as A, B, C, D e E); e, por fim, chegaremos à análise da postagem realizada pelo interlocutor F.

Quadro 1:
Post publicado pelo interlocutor F. Fonte: X (2021)

A análise da interação que antecedeu a postagem do interlocutor F teve início com o enunciado da interlocutora A dirigido a um grupo específico de homens: homens platinados tds gostosos parabéns. Tal enunciado poderia ser considerado elogio, funcionando como estratégia de polidez positiva (Brown; Levinson, 1987BROWN, Penelope; LEVINSON, Stephen C. Politeness: Some Universals in Language Usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.); ou uma espécie de objetificação (desvalorização) dos homens, funcionando como estratégia de impolidez positiva (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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), a depender da avaliação feita pelos/as internautas. A interlocutora B, ao contrário, alegou que esses homens só seriam gostosos se já fossem assim antes de platinarem o cabelo - isto é, não só afirmou que a avaliação de A (homens platinados serem gostosos) era incoerente, como também criticou a escolha de platinar o cabelo, maximizando a desaprovação (Leech, 1983LEECH, Geoffrey N. Principles of Pragmatics. London: Longman, 1983.). A interlocutora B, sob essa ótica, ofendeu o grupo por meio de estratégia de impolidez positiva (Culpeper, 1996) para entretenimento (uso de crítica, chacota e deboche) (Culpeper, 2011a); e atacou, de modo intencional, a face desse grupo (Goffman, 1967GOFFMAN, Erving. Interaction Ritual: Essays on Face-to-face Behavior. UK: Penguin University Books, 1967.; Bousfield, 2008BOUSFIELD, Derek. Impoliteness in Interaction. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2008.), sobretudo ao ter utilizado filhote de cruz credo. A expressão, para além da ofensa produzida, fez alusão a um enunciado de origem cristã que representa aversão, nojo ou desconforto relacionado, neste caso, à imagem de tais homens.

A crítica da interlocutora B seria amenizada pela máxima da modéstia (Leech, 1983LEECH, Geoffrey N. Principles of Pragmatics. London: Longman, 1983.), na medida em que enunciou na minha singela opinião e, de algum modo, depreciou a própria avaliação. Se seguíssemos literalmente os estudos de primeira onda, poderíamos inferir que a expressão teria mitigado a imposição gerada pelo comentário, uma vez que a interlocutora B optaria por não estabelecer verdades absolutas e abrir a possibilidade para que outras opiniões fossem socializadas. Contudo, singela pareceu funcionar como uma espécie de falsa modéstia, de modo que o uso em questão estivesse mais próximo da construção de um enunciado irônico do que de uma mitigação. Colaboram com essa análise - mais holística do comentário - três fatores: o enunciado como um todo teria apenas essa expressão para mitigar a impolidez; uma única expressão isolada não conseguiria mitigar todo esse enunciado; e a interlocutora B não parecia se preocupar tanto com a preservação da própria face a ponto de incluir uma expressão mitigadora (diferentemente do que seria esperado em interações face a face). Mesmo não tendo sido diretamente dirigido a determinado interlocutor, frisamos que o comentário daria início a uma sucessão de ações de linguagem violentas, as quais guardarão intrínseca relação com a hegemonia masculinista (Rosostolato, 2018ROSOSTOLATO, Breno. O homem cansado: uma breve leitura das masculinidades hegemônicas e a decadência patriarcal. RBSH, [S. l.], v. 29, n. 1, p. 57-70. 2018. Disponível em: http://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/view/42. Acesso em: 23 out. 2023.
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).

Na sequência, a impolidez, sem dúvida, projetou-se de forma mais densa no comentário do interlocutor C: mulher falando da aparência de homem (com emojis de aprovação) x homem falando da aparência de mulher (com emojis de reprovação). Em reação à crítica dirigida ao público masculino, esse comentário sinalizava a hipocrisia que residiria na liberdade conferida às mulheres para falarem sobre a aparência masculina e no julgamento direcionado aos homens por falarem sobre a aparência feminina. O discurso emergente - oriundo de um senso comum que se ancora em práticas socioculturais machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas - é o de que homens e mulheres gozam historicamente dos mesmos direitos; e, portanto, deveriam ter a mesma liberdade e a mesma censura. Por ser homem e por, inegavelmente, ter demonstrado total desconhecimento quanto às violências linguístico-discursivas que atravessam o cotidiano de mulheres, cabe frisar que a avaliação do interlocutor C intensificou as lutas (meta)discursivas (Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.; Watts, 2009WATTS, Richard J. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.; Culpeper, 2011bCULPEPER, Jonathan. Politeness and Impoliteness. In: ANDERSEN, Gisle; AJIMER, Karin. (Eds.). Pragmatics of Society. Berlin: Mouton de Gruyter, 2011b. pp. 393-438.), regimentando-se metapragmáticas machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas que desvelavam uma notória cegueira sócio-histórica. É comum que comentários dessa ordem estejam disfarçados de opinião, alegando-se, inclusive, a isenção de ideologias, como se isso fosse possível.

Em resposta ao comentário do interlocutor C, a interlocutora D afirmou que o feminismo finalmente venceu. Tal afirmativa sinalizava, por meio da ironia presente no enunciado, que o comentário anterior não possuía valor de verdade, por não fazer parte da pauta feminista que as mulheres criticassem os homens como bem quisessem e em qualquer temática, sem que eles pudessem ‘revidar’. Os indícios que nos levam a tal compreensão residem no fato de a construção Y finalmente venceu ser recorrentemente associada à ironia em práticas socioculturais brasileiras no ciberespaço. Quando alguém reclama que dada situação é culpa, por exemplo, do feminismo, do comunismo ou da esquerda, essa expressão costuma ser empregada. A interlocutora D se valeu de uma estratégia de impolidez coercitiva (Culpeper, 2011aCULPEPER, Jonathan. Impoliteness: Using Language to Cause Offence. Cambridge: Cambridge University Press, 2011a.) de ameaça indireta à face (Culpeper, 1996) e maximizou custos ao interlocutor (Leech, 1983LEECH, Geoffrey N. Principles of Pragmatics. London: Longman, 1983.) no que diz respeito a uma sobrecarga inferencial gerada pela indiretividade. É possível considerarmos que a interlocutora D pretendia, em tese, promover um realinhamento de valores, fazendo com que o interlocutor C captasse a pista enunciada e reconsiderasse aquilo que, para ela, seria absurdo.

Entretanto, ao responder que isso não eh feminismo, o interlocutor E deu indícios de que não havia processado a ironia contida no enunciado da interlocutora D, e, ainda, buscou utilizar o emoji de aperto de mãos, como se quisesse selar um acordo e realinhar, de modo injuntivo, os valores da interlocutora aos seus, como uma estratégia de impolidez para coerção (Culpeper, 2011aCULPEPER, Jonathan. Impoliteness: Using Language to Cause Offence. Cambridge: Cambridge University Press, 2011a.). Por conseguinte, esse ato - inegavelmente violento, misógino e ilegítimo - intensificou a luta (meta)discursiva (Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.; Watts, 2009WATTS, Richard J. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.; Culpeper, 2011b) que culminou com a resposta irônica: ninguém te perguntou nada, homem. Esse comentário em particular, tendo como base a suposta vitória do movimento feminista, gerou um conjunto de críticas e ofensas posteriores, as quais não traremos aqui por não ter sido o mote da postagem do interlocutor F.

Para nós, fica evidente o desalinhamento ideológico estabelecido pela interlocutora D e pelo interlocutor E, pertencentes a grupos em situação de tensão política e social, o que, sem dúvida, interfere plenamente na interpretação que fazem em relação ao que é dito pelo/a outro/a. No âmbito dos estudos da impolidez, salientamos que as estratégias de impolidez (dimensão linguística) colaboram para a instauração de uma luta metadiscursiva entre gêneros (dimensão sociodiscursiva) que - por meio da redução da distância interlocutiva para ofender e da construção de metapragmáticas que regimentam um embate (contra)-hegemônico - faz emergir uma interação mediada on-line altamente violenta (dimensão sociointeracional). Ao ter postado ninguém te perguntou nada, homem, a interlocutora D insinuou que, devido ao gênero social, o interlocutor E não seria legítimo para manifestar ‘opinião’, uma vez que ele, por não integrar o movimento feminista, não seria legítimo para determinar o que (não) seria esse movimento. Deduzimos, portanto, que esse cenário parece ter sido a mola propulsora para a postagem do interlocutor F.

Partimos, então, para a postagem de reação que fundamenta esta análise. Antes de tudo, cabe ressaltar que, para o interlocutor F, a interação parecia revelar que mulheres e homens, apesar de realizarem a ‘mesma’ ação, recebiam julgamentos opostos, o que seria, por essa razão, uma hipocrisia. Assim como o interlocutor C, notamos que o interlocutor F utilizou emojis que avaliavam negativamente o comportamento masculino e avaliavam positivamente o feminino, de forma a prevalecer, na visão dele, que mulheres poderiam anular a opinião do outro grupo conforme desejassem (sendo bem-vistas e acolhidas); enquanto os homens, caso fizessem o mesmo, receberiam uma avaliação extremamente negativa. Foi por meio dessa perspectiva que ele pareceu pressupor que as mulheres não eram a parcela oprimida da sociedade. Ao contrário, elas assumiriam posição superior em relação aos homens na hierarquia social, o que soaria, na concepção dele, como injustiça à figura masculina.

Por ser um grupo marginalizado e oprimido, ações que procuram desconstruir quaisquer assimetrias de gêneros e emancipar as mulheres tendem a ser recebidas como resistência por pessoas que acreditam terem sido lesadas em seus direitos fundamentais. Conquistas feministas, que têm como um dos propósitos alcançar a equidade de gênero, são rechaçadas por colocarem o foco na mulher e apagarem o homem, reiterando-se, assim, a construção de metapragmáticas machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas. Não se trata de anular a opinião de homens sobre qualquer assunto, mas deslegitimar quem, de fato, não é legítimo para opinar sobre o que (não) seria o feminismo, a fim de que possamos caminhar ao encontro da justiça social. Homens têm - simbólica e fisicamente - anulado opiniões de mulheres em múltiplas instâncias sociais, o que faz com que enunciados do tipo mulher anulando opinião de homem funcionem, de certo modo, como mínima tentativa de reparação histórica, ao encontro de uma postura emancipatória e contra-hegemônica que, ao menos, mitigue a força de metapragmáticas machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas.

Na interação em curso, observamos que circula a ideia de que os homens são cerceados do direito à liberdade de expressão (por serem opressores e terem de ser cuidadosos com o que falam). Mesmo sem referência explícita a essa ideia (liberdade de expressão/direito à opinião), cabe ressaltar que as raízes dessa ideia se escondem na estrutura social que a sustenta e, possivelmente, seja o fundamento da crítica realizada. Para que os homens possam combater essa ‘perda de direitos’ e reconstituir sua posição na hierarquia social, eles resolvem atacar as causas que veem como possibilitadoras de uma suposta supremacia feminina. Portanto, o ataque ao feminismo parece assumir tal inclinação, em atendimento a um projeto cuja hegemonia é, indiscutivelmente, masculinista (Rosostolato, 2018ROSOSTOLATO, Breno. O homem cansado: uma breve leitura das masculinidades hegemônicas e a decadência patriarcal. RBSH, [S. l.], v. 29, n. 1, p. 57-70. 2018. Disponível em: http://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/view/42. Acesso em: 23 out. 2023.
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).

Constatamos, nesse enunciado, uma função metapragmática de regulação do discurso do/a outro/a, uma vez que o interlocutor F procurou, entre a implicitude e a explicitude, regular como outros discursos deveriam ser enquadrados. Embora o comentário não fizesse referência explícita ao feminismo, percebemos que o foco da crítica incidia nas conquistas atribuídas ao movimento feminista, na medida em que as respostas que se seguiram na interação trouxessem questões do tipo Seria a internet um local adequado para militância feminista? e Até que ponto esse feminismo é legítimo?. Para além de questionamentos como esses, a interação suscitou reações de ataques às mulheres, ao movimento feminista e à sociedade que acolhe essa causa, mediante, sobretudo, o uso de estratégias de impolidez positiva (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
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) que, a um só tempo, coíbem, entretêm (Culpeper, 2011a), reduzem a distância interlocutiva para violentar, e regimentam metapragmáticas misóginas, cujos impactos se tornam ainda mais evidentes por se tratar de uma interação mediada on-line (Thompson, 2018THOMPSON, John B. A interação mediada na era digital. Tradução de Richard Romancini. Matrizes, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 17-44, 2018. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/153199. Acesso em: 30 nov. 2023.
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).

Em síntese, a interação desvelou uma lógica fundada na misoginia que deslegitima a causa feminista, silencia vozes e intenta defender a suposta liberdade de expressão do opressor (isto é, do detentor de privilégios em relação ao grupo que é alvo de ataques). O silenciamento e a defesa da opinião são indexicalizados por formas linguístico-discursivas de cunho ofensivo e misógino, assentadas no uso de semioses (não)verbais que exprimem ironia na crítica aos ‘privilégios concedidos às mulheres’. Assim, podemos notar uma compreensão de mundo engenhosamente pautada em normas socioculturais misóginas, que intentam resgatar tradições patriarcais e, assim, incitar a violência contra as mulheres em distintas interações, o que inclui, evidentemente, as interações mediadas on-line.

Considerações finais

Aliada à regulação proxêmica e à regimentação de metapragmáticas em que os discursos se constroem, a avaliação de interações (im)polidas converge para uma perspectiva de um fazer científico orientado tanto pelo princípio da interpretabilidade quanto pela percepção de dados culturalmente situados. Destarte, a combinação de tal percurso teórico com as bases da pesquisa qualitativa propicia compreender determinada questão sob múltiplas perspectivas possíveis, ao considerarmos a subjetividade de todos/as os/as agentes sociais envolvidos/as no processo de pesquisa. Um dado, portanto, não deve ser visto como concretizado e pronto, mas em constante construção colaborativa, de modo que a apreensão de seus sentidos dependa essencialmente do arcabouço teórico utilizado e das intersubjetividades dos/as atores/atrizes sociais inscritos/as.

É desse modo, portanto, que foi possível notarmos como as interações mediadas on-line possibilitam encapsular concepções e atitudes, cuja força reside em seu potencial disseminador, devido ao estatuto interacional assumido no X. Com base em nossos dados, constatamos que os interlocutores C, E e F se valeram, muitas vezes, do discurso de defesa de opinião para atacar o feminismo (por ter sido um movimento que teria proporcionado ‘privilégios’ às mulheres) e, por conseguinte, legitimar discursos de ódio. Assim sendo, esse tipo de recurso veiculou ações que incitaram a violência contra a mulher, resultando em comentários abertamente agressivos, como esperado pela linha de raciocínio que se construía na interação, o que, por conseguinte, desvelava metapragmáticas hegemônicas, machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas.

Nesse sentido, muitas possibilidades se descortinam para entendermos que a escolha de dadas semioses (não)verbais pode acionar certos discursos e, portanto, indexicalizar valores socioculturais particulares. Entender que o uso de estratégias de impolidez - entre a implicitude e a explicitude - pode desencadear violência se torna o caminho para compreendermos como a opressão contra pessoas subjugadas, vulnerabilizadas e roubadas de sua própria subjetividade permeia as diversas práticas socioculturais. Estudos voltados para a investigação de construções do tipo é só minha opinião e descansa, militante para legitimar atos de fala preconceituosos e violentos devem, cada vez mais, integrar a agenda de pesquisa de uma linguística socialmente engajada e comprometida com a justiça social.

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  • TERKOURAFI, Marina. Beyond the Micro-Level in Politeness Research. Journal of Politeness Research, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 237-262, 2005. Disponível em: https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/jplr.2005.1.2.237/html Acesso em: 28 ago. 2023.
    » https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/jplr.2005.1.2.237/html
  • THOMPSON, John B. A interação mediada na era digital. Tradução de Richard Romancini. Matrizes, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 17-44, 2018. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/153199 Acesso em: 30 nov. 2023.
    » http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/153199
  • TIBURI, Marcia. A máquina misógina e o fator Dilma Rousseff na política brasileira. In: RUBIM, Linda; ARGOLO, Fernanda (Orgs.). O golpe na perspectiva de gênero. Salvador: EDUFBA, 2018, p. 105-116.
  • VARELA, Nuria. La nueva misoginia. Revista Europea de Derechos Fundamentales, [S. l.], v. 19, n. 1, p. 25-48, 2012. Disponível em: http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4055493.pdf Acesso em: 12 out. 2023.
    » http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4055493.pdf
  • WALLERSTEIN, Immanuel. Historical Capitalism with Capitalist Civilization. London/New York: Verso, 2003.
  • WATTS, Richard J. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
  • Pareceres

    Tendo em vista o compromisso assumido pela Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas.
  • 2
    As redes sociais - termo originário das ciências humanas - abrangem um vasto espectro de agrupamentos sociais on-line dedicados a todo tipo de atividade, estabelecem laços firmados a partir de interesses comuns e propiciam não só compartilhar conhecimentos, mas também se perspectivar política, social e culturalmente (Martino, 2014MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria das Mídias Digitais: linguagens, ambientes, redes. Petrópolis: Vozes, 2014.).
  • 3
    Trataremos de metapragmáticas mais adiante.
  • 4
    A hegemonia masculinista engloba “um conjunto de leis e normas elaboradas por homens para homens, seja na religião, na educação, na política, na economia, nos saberes psicológicos e psiquiátricos, entre outros, que visam resguardar e assegurar privilégios sociais e manter os poderes andro/falocêntricos” (Rosostolato, 2018ROSOSTOLATO, Breno. O homem cansado: uma breve leitura das masculinidades hegemônicas e a decadência patriarcal. RBSH, [S. l.], v. 29, n. 1, p. 57-70. 2018. Disponível em: http://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/view/42. Acesso em: 23 out. 2023.
    http://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/ar...
    , p. 58).
  • 5
    Trouxemos essa questão à tona, visto que esta pesquisa foi realizada quando a plataforma se denominava Twitter.
  • 6
    Transcrevemos o print screen do post para preservar ainda mais a identidade dos/as internautas.
  • Declaração de disponibilidade de conteúdo

    Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no próprio manuscrito.
  • 1
    Esta produção inscreve-se no projeto Interações on-line em tempos de pandemia: violência linguístico-discursiva em gêneros textuais diversos, de autoria do professor Rodrigo Albuquerque.

Parecer II

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer II

O artigo intitulado “‘O feminismo finalmente venceu’: metapragmáticas misóginas e antifeministas disfarçadas de liberdade de expressão”, proposto para publicação na Revista Bakhtiniana, tem por objetivo da pesquisa analisar “como a misoginia se estabelece em uma interação no X (antigo Twitter), sob o argumento de defesa de opinião, para legitimar discursos de ódio”, como está exposto no resumo e na introdução do trabalho. O objetivo proposto está expresso de forma clara e o desenvolvimento do trabalho dedica-se, de forma coerente, ao seu cumprimento. A base teórica funda-se na Sociolinguística Interacional e na Pragmática. Os/as autores/as defendem que “as estratégias de impolidez (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
http://www.sciencedirect.com/science/art...
) não só promovem violenta redução da distância interlocutiva (Albuquerque; Muniz, 2022ALBUQUERQUE, Rodrigo; MUNIZ, Aline. Proxêmica linguístico-discursiva: um mecanismo de modalização intersubjetiva. Fórum Linguístico, Florianópolis, v. 19, n. 4, pp. 8586-8603, 2022. Disponível em: http://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/81072. Acesso em: 6 out. 2023.
http://periodicos.ufsc.br/index.php/foru...
), mas também geram metapragmáticas (Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.; Signorini, 2008SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148.) machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas”, sem esquecer de expor um breve histórico das três ondas que constituíram os estudos de polidez e impolidez. Pode-se afirmar que a base teórica é atualizada e que os/as autores/as demonstram conhecimento atualizado da bibliografia relevante no tema, além de trazerem uma reflexão original que contribui para os avanços teóricos no campo especificado. Recorrendo ao método netnográfico, a metodologia, alinhada a uma abordagem qualitativa, é adequada aos pressupostos teóricos que fundamentam as análises e coerente com o objetivo do trabalho. As análises focalizam uma interação na rede X, selecionada com base em critérios de inclusão e de exclusão claramente propostos no trabalho, e estão elaboradas de forma clara, evidenciando metagragmáticas que sustentam atitudes misóginas disfarçadas de opinião. Pode-se afirmar que as análises confirmam o objetivo proposto. Vale observar o destaque dado à proximidade interacional possibilitada por atos verbais e pelo emprego de determinados emojis, com referências, na análise, a estudos relativos à proxêmica. Sugere-se aprofundar essa questão, que se mostra fundamental para o trabalho, merecendo maior destaque. Com respeito à escrita, pode-se afirmar que ela está adequada ao contexto acadêmico, a redação é clara e condizente com o esperado em um artigo acadêmico científico. Sugere-se retomar as linhas iniciais do primeiro parágrafo da página 6 (No que se refere aos distintos modos de interagir, Thompson (2018THOMPSON, John B. A interação mediada na era digital. Tradução de Richard Romancini. Matrizes, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 17-44, 2018. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/153199. Acesso em: 30 nov. 2023.
http://www.revistas.usp.br/matrizes/arti...
) contempla quatro tipos e, entre eles, assegura que a interação mediada on-line, estatuto interacional assumindo nesta pesquisa, abrange:...). Sugere-se rever a adequação do emprego do gerúndio do verbo “assumir”; sugere-se igualmente rever a redação do enunciado todo, pois pode-se dar a entender que Thompson é um dos pesquisadores envolvidos no trabalho proposto. A bibliografia é abrangente e atualizada, destacando a coerência do estudo com o tema e suas contribuições para o estudo do discurso digital, em especial na análise de interações em mídias sociais e no enfrentamento de discursos misóginos e violentos. Com base nas observações realizadas, considera-se que o artigo deve ser publicado. APROVADO COM SUGESTÕES [Revisado]

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    08 Jan 2024

Parecer III

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer III

O artigo intitulado “O feminismo finalmente venceu”: metapragmáticas misóginas e antifeministas disfarçadas de liberdade de expressão, proposto para publicação na Revista Bakhtiniana, tem por objetivo da pesquisa analisar “como a misoginia se estabelece em uma interação no X (antigo Twitter), sob o argumento de defesa de opinião, para legitimar discursos de ódio”. O objetivo proposto está expresso de forma clara e o desenvolvimento do trabalho dedica-se, de forma coerente, ao seu cumprimento. A base teórica funda-se na Sociolinguística Interacional e na Pragmática, recorrendo a autores renomados cujas pesquisas dialogam com os objetivos do trabalho (Culpeper, 1996CULPEPER, Jonathan. Towards an Anatomy of Impoliteness. Journal of Pragmatics, [S. l.], v. 25, n. 3, pp. 349-67, 1996. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0378216695000143. Acesso em: 8 set. 2023.
http://www.sciencedirect.com/science/art...
; Silverstein; Urban, 1996SILVERSTEIN, Michael; URBAN, Greg. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.; Signorini, 2008SIGNORINI, Inês. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, Inês (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p. 117-148.). Conforme destacado em parecer anterior, a base teórica é atualizada. Além disso, demonstram conhecimento atualizado da bibliografia relevante no tema, além de trazerem uma reflexão original que contribui para os avanços teóricos no campo especificado. Recorrendo ao método netnográfico, a metodologia, alinhada a uma abordagem qualitativa, é adequada aos pressupostos teóricos que fundamentam as análises e coerente com o objetivo do trabalho. As análises focalizam uma interação na rede X, selecionada com base em critérios de inclusão e de exclusão claramente propostos no trabalho, e estão elaboradas de forma clara, evidenciando metagragmáticas que sustentam atitudes misóginas disfarçadas de opinião. Pode-se afirmar que as análises confirmam o objetivo proposto. Vale observar o destaque dado à proximidade interacional possibilitada por atos verbais e pelo emprego de determinados emojis, com referências, na análise, a estudos relativos à proxêmica. Em avaliação anterior, sugeriu-se que os/as autores/as aprofundassem as questões teóricas relativas à proxêmica, que são pouco exploradas no Brasil. Os/as autores/as justificaram adequadamente o não atendimento ao sugerido. Destaque-se que foi apenas uma sugestão, haja vista que o trabalho como um todo já se mostrava digno de publicação conforme explicitado no fim deste parecer como no fim do anteriormente emitido. A escrita é adequada ao contexto acadêmico, a redação é clara e condizente com o esperado em um artigo acadêmico científico. A bibliografia é, igualmente, atualizada e pertinente. Cumpre reafirmar, ainda, que o desenvolvimento do trabalho é coerente com o tema proposto, apresentando-se contribuições para os estudos do discurso digital, em especial para o estudo das interações que ocorrem nas redes sociais, assim como para os estudos do discurso misógino e do discurso de violência. A partir das observações apresentadas, considera-se que o artigo deve ser publicado. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    19 Fev 2024

Disponibilidade de dados

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no próprio manuscrito.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2024

Histórico

  • Recebido
    12 Dez 2023
  • Aceito
    22 Mar 2024
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