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Uma análise dos gêneros abecedário e limerique na literatura infantil: os livros ilustrados de Edward Gorey

RESUMO

Este trabalho propõe uma análise de dois gêneros comuns na literatura infantil e juvenil, o abecedário e o limerique. Os exemplares selecionados são, respectivamente, The Gashlycrumb Tinies e A Limerick, ambos escritos e ilustrados por Edward Gorey. A análise busca identificar aspectos estilísticos, temáticos e retóricos nos dois gêneros, no texto verbal e nas ilustrações, através de uma pesquisa documental exploratória, sob uma perspectiva multimodal. Em ambos os exemplares, o autor mantém elementos tradicionais dos gêneros, como a organização retórica e estrutural, mas brinca com a temática ao abordar temas trágicos. Todavia, o balanço entre a forma e o conteúdo dos textos distancia o leitor e alivia a tensão em relação ao conteúdo narrado. Por fim, as ilustrações contam uma história por si só, mas enquanto unidade, texto verbal e não verbal se complementam.

PALAVRAS-CHAVE:
Edward Gorey; Literatura infantil e juvenil; Livro ilustrado; Texto verbal e não verbal; Multimodalidade

ABSTRACT

This paper aims to analyze two different genres, an abecedarium and a limerick, which are common in Children’s Literature. The selected exemplars, The Gashlycrumb Tinies and A Limerick, were written by Edward Gorey. This analysis aims to identify stylistic, thematic, and rhetorical aspects in the exemplars, both in the written text and in the illustrations, through exploratory documental research and under the perspective of multimodality. As a result, traditional aspects of the genres are present in both the texts, such as the rhetorical and structural organization; while the theme is distinct because it is more tragical. However, balance between form and content in the books distances the reader and relieves the tension regarding the theme. Finally, the illustrations tell a story even when isolated from the verbal text, but they are complementary when verbal and non-verbal texts are seen as unit.

KEYWORDS:
Edward Gorey; Children’s Literature; Illustrated book; Verbal and Non-verbal text; Multimodality

Introdução

O presente trabalho analisa dois gêneros literários correntes da literatura infantil, o abecedário e o limerique. Os exemplares selecionados são as obras The Gashlycrumb Tinies (Gorey, 1980cGOREY, Edward. The Gashlycrumb Tinies. In: Amphigorey. New York: Perigee, 1980c.) e The Limerick (Gorey, 1980b), ambas escritas e ilustradas por Edward Gorey (1925-2000). A análise busca identificar características dos gêneros nos exemplares e, em seguida, discutir a relação entre texto verbal e não verbal de duas ilustrações do abecedário e uma do limerique. Com isso, pretende-se identificar se os exemplares mantêm elementos tradicionais dos gêneros e como o autor desenvolve seu estilo a partir desses exemplares, além de compreender qual o papel da ilustração nos recortes selecionados. As ilustrações não estão incluídas neste artigo em decorrência dos direitos autorais das imagens, mas as três encontram-se disponibilizadas no site https://www.goreyesque.com/1 1 https://www.goreyesque.com/gorey-images e podem ser reconhecidas a partir das descrições que serão apresentas.

A obra The Gashlycrumb Tinies foi anteriormente discutida sob a ótica dos Estudos da Tradução (Micoanski, 2015MICOANSKI, Angelica. Uma tradução para The Doubtful Guest e The Gashlycrumb Tinies, de Edward Gorey. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/169298. Acesso em 10 jun. 2023.
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). De modo similar, há um estudo prévio e inicial dos gêneros abecedário2 2 Os termos alfabeto, abecedário, livro-alfabeto e ABC são utilizados como sinônimos para referir-se ao gênero literário que utiliza a sequência alfabética como ferramenta para a organização retórica. e limerique de Edward Gorey e da relação entre imagem e texto verbal como tradução intersemiótica com base em Júlio Plaza (Thomazine, 2019THOMAZINE, Angelica Micoanski. Traduzindo Amphigorey: uma antologia goreyesca. 2019. 240f. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214982?show=full. Acesso em 29 jan. 2023.
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), mas os exemplares aqui observados não estão incluídos naquele corpus. Além disso, uma análise comparativa de uma seleção de textos e ilustrações de Edward Lear e Edward Gorey (Granato; Bastazin, 2019GRANATO, Fernanda Marques; BASTAZIN, Vera (2019). O livro infantil ilustrado: a produção nonsense de Edward Lear (1812-1888) e Edward Gorey (1925-2000). Cadernos De Literatura Comparada, nº 40, p. 245-270, junho, 2019. DOI: https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp40v2. Acesso em 10 fev. 2024.
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; Bastazin; Granato, 2020) inclui exemplares de limeriques e de abecedários e fundamenta-se principalmente nos conceitos de Sophie Van der Linden para discorrer sobre a relação de interação e interdependência entre texto e imagem, mas não examina detalhadamente os gêneros e os exemplares aqui apresentados.

Assim, esta pesquisa, de caráter documental qualitativa e exploratória (Paiva, 2019PAIVA, Vera Lúcia M. O. Manual de pesquisa em estudos linguísticos. São Paulo: Parábola, 2019.), identifica características tradicionais dos gêneros nas duas obras selecionadas para, em seguida, compreender como é constituída a relação entre texto verbal e não verbal, se se complementam, se podem ser considerados como narrativas independentes, e quais intenções podem ser observadas através delas, baseando-se nos conceitos de leitura de imagens do livro Reading Images: The Grammar of Visual Design, de Gunther Kress e Theo van Leeuwen (2006KRESS, Gunther; LEEUWEN, Theo. Reading Images: The Grammar of Visual Design. 2. ed. New York: Routledge, 2006.), e a partir da organização proposta por Roséli Nascimento, Fábio Bezerra e Viviane Heberle (2011NASCIMENTO, Roseli Gonçalves; BEZERRA, Fábio Alexandre Silva; HEBERLE, Viviane Maria. Multiletramentos: iniciação à análise de imagens. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n. 2, p. 529-552, jul./dez. 2011. DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v14i2.15403. Acesso em 07 fev. 2024.
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) no artigo “Multiletramentos: iniciação à leitura de imagens”.

Para isso, propõe-se inicialmente apresentar o autor, considerando-o como escritor de literatura infantil, e as obras, nas quais serão identificadas características que as enquadrem como exemplares dos gêneros limerique e abecedário, além de uma análise exploratória das particularidades estilísticas do autor em relação à forma e ao conteúdo. Por fim, pretende-se analisar as três ilustrações selecionadas, duas delas referentes ao abecedário e a outra referente ao limerique, com uma proposta de leitura a partir da multimodalidade, considerando os conceitos de função de representação, função de interação e função de composição (Kress; Leeuwen, 2006KRESS, Gunther; LEEUWEN, Theo. Reading Images: The Grammar of Visual Design. 2. ed. New York: Routledge, 2006.; Nascimento; Bezerra; Heberle, 2011NASCIMENTO, Roseli Gonçalves; BEZERRA, Fábio Alexandre Silva; HEBERLE, Viviane Maria. Multiletramentos: iniciação à análise de imagens. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n. 2, p. 529-552, jul./dez. 2011. DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v14i2.15403. Acesso em 07 fev. 2024.
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).

Os gêneros que compõem o corpus desta análise - abecedário e limerique - apresentam características semelhantes, pois são clássicos na tradição oral de literatura infantil e juvenil, narram histórias concisas em formato de poema, e que podem ser considerados como gêneros novos e velhos, ao mesmo tempo, porque ocorrem em contextos distintos e são renovados sempre que um autor se aventura a escrevê-los, ou seja, conforme consta no título do editorial 18.3 da Revista Bakhtiniana3 3 O título do editorial é: “O gênero sempre é novo e velho ao mesmo tempo” (Brait; Pistori; Lopes-Dugnani; Stella; Gontijo, 2023). ; velhos porque já fazem parte da literatura oral há muito tempo, mas novos porque são reinventados, ainda que sejam preservados os aspectos formais.

1 Edward Gorey e a literatura infantil e juvenil

Ricardo Azevedo (2003AZEVEDO, Ricardo. A didatização e a precária divisão de pessoas em faixas etárias: dois fatores no processo de (não) formação de leitores. In: Ricardo Azevedo: escritor, ilustrador, pesquisador, 2003. Disponível em: http://www.ricardoazevedo.com.br/wp/wp-content/uploads/A-didatizacao-e-a-precaria-divisao-de-pessoas-em-faixas-etarias.pdf. Acesso em: 10 out. 2023.
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) nos diz que a literatura infantil e juvenil é, antes de qualquer tentativa de definição, literatura, pois contém ficção, poesia, subjetividade, fantasia, linguagem metafórica, uso transgressivo e criativo da língua, especulações e não lições. Isso até pode parecer óbvio para quem é educador, mas ainda existem notícias de obras infantis que são tiradas de circulação porque adultos decidiram que determinado assunto, ou como ele é abordado, não serve para crianças4 4 Um exemplo é o livro sobre Luiz Gama publicado pela editora Companhia das Letrinhas, que foi criticado e retirado de circulação. Amarante (2021), estudiosa da área de literatura infantil, comenta o fato em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/09/retirar-de-circulacao-livro-infantil-sobre-luiz-gama-e-fugir-da-discussao.shtml. Outro exemplo mais recente é o livro O avesso da pele, escrito por Jeferson Tenório, que sofreu uma tentativa de censura ainda em 2024, conforme notícia https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/diretora-critica-livro-o-avesso-da-pele-e-alega-vocabularios-de-tao-baixo-nivel/. . Anna Cláudia Ramos (2017RAMOS, Anna Claudia. A hora e a vez da criança. In: DEBUS, Eliane; BAZZO, Jilvania Lima dos Santos; BORTOLOTTO, Nelita (org.). Literatura infantil e juvenil: pelas frestas do contemporâneo. Tubarão: Copiart, 2017., p. 210) argumenta que “a criança deveria ter o direito de brincar do que sentir vontade [...], experimentar ser outros na brincadeira para aprender a conhecer-se e ir construindo sua identidade”. Similarmente, a criança deveria ter o direito de ler o que sentir vontade e de manifestar sua preferência por temas, estilos e gêneros, pois a leitura, assim como a brincadeira, leva a criança a construir sua individualidade (Meireles, 1984MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.).

Edward Gorey foi um escritor e ilustrador norte-americano de mais de 100 obras, tornou-se conhecido principalmente por causa de suas ilustrações, por ter trabalhado em edições de obras de autores diversos, de capas de livros e de cartões, da introdução para um programa infantil chamado Mystery! e de cenários para a uma adaptação de Drácula para a Broadway. Reconhecido como escritor de literatura infantil e juvenil5 5 De acordo com Bastazin e Granato (2020), Gorey não tinha o intuito de se tornar um escritor para crianças, mas isso ocorreu com o tempo. , suas obras trazem elementos comuns nas produções para esse público, como personagens infantis, ilustrações, versos metrificados e lúdicos, narrativas curtas e edições de livros em formato pequeno. No entanto, esse reconhecimento pode ser contrariado quando um adulto atenta a alguns detalhes nas obras do autor, como as ilustrações em preto e branco, cenários, personagens excêntricos, com olhares profundos, tristes ou arregalados, usando vestimentas peculiares, e criaturas monstruosas típicas de histórias de horror, por exemplo. Por conseguinte, alguns adjetivos que descrevem as produções de Gorey são: peculiar, absurdo, místico e inesquecível (Loughman, p. VII). Em consequência disso, histórias que abordam a morte, o abandono ou a violência, podem fazer com que adultos se interponham entre a livre circulação dos livros e as crianças.

Micoanski Thomazine e Da Silva Oliveira (2021) debatem a classificação e a censura das obras do autor, o qual confidencia, através de cartas, que as crianças acabam inevitavelmente encontrando o que é escrito para elas apesar das catalogações. Do ponto de vista de Peter Hunt (2010HUNT, Peter. Crítica, teoria e literatura infantil. Tradução Cid Knipel. São Paulo: Cosac Naify, 2010.), podemos compartilhar conselhos e opiniões sobre aquilo que consideramos bom ou ruim, mas o material de leitura precisa estar disponível independentemente das possíveis consequências dessa leitura. O adulto deveria ser um mediador entre a obra e a criança, oferecendo livros diversos para que ela decida o que está disposta a ler, pois a leitura que uma criança faz de uma obra pode ser distinta do julgamento adulto e não é possível saber ao certo que efeitos um livro causa em seu leitor (Hunt, 2010). Por isso, Marisa Fernández López (2006LÓPEZ, Marisa Fernández. Translation Studies in Contemporary Children’s Literature: A Comparison of Intercultural Ideological Factors. In: LATHEY, Gillian. (Org.). The Translation of Children’s Literature: A Reader. Great Britain: Cromwell Press, 2006.) questiona se, em vez de censurar temas como violência, morte, divórcio e doenças, não seria mais oportuno ajudar as crianças a compreenderem tais assuntos através da literatura.

Sabe-se que literatura infantil e juvenil ainda transita entre propósitos pedagógicos, religiosos e lúdicos e Edward Gorey inspira-se em outros autores para brincar e tornar lúdicos gêneros que são tradicionalmente pedagógicos. O escritor vitoriano nonsense Edward Lear, que também escreveu limeriques, alfabetos e poemas com temáticas fatídicas, é um exemplo de inspiração para Gorey (Granato e Bastazin, 2019GRANATO, Fernanda Marques; BASTAZIN, Vera (2019). O livro infantil ilustrado: a produção nonsense de Edward Lear (1812-1888) e Edward Gorey (1925-2000). Cadernos De Literatura Comparada, nº 40, p. 245-270, junho, 2019. DOI: https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp40v2. Acesso em 10 fev. 2024.
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; Thomazine, 2017).

Gorey era um colecionador eclético, em sua casa havia uma grande variedade de obras de diferentes artistas6 6 A casa e as coleções do autor foram fotografadas por Kevin McDermott (2003) e documentas na obra Elephant House: or, The Home of Edward Gorey. , as quais podem ter influenciado na produção do autor, como os gatos e as crianças que remetem às figuras de Balthus, os cenários e espaços privados como plano de fundo e as janelas que dialogam com obras de Pierre Bonnard, as personagens que se misturam e parecem se dissolver com o cenário, assim como nos quadros de Édouard Vuillard, as impressões, a adição de fenômenos fantásticos para visões reais e os temas relacionados à loucura presentes na arte de Charles Meryon, as bizarrices da realidade e os cenários fotografados por Eugène Atget, os formatos dos animais, com características exageradas, como nos desenhos de Bill Traylor (Monroe, 2018MONROE, Erin. Gorey’s Worlds. In: MONROE Erin (org.). Gorey’s Worlds. Hartford, Connecticut: Wadsworth Atheneum Museum of Art in association with Princeton University Press, 2018. p. 1-49.), ou ao balé de George Balanchine, através de suas ilustrações que indicam movimento (Micoanski, 2015MICOANSKI, Angelica. Uma tradução para The Doubtful Guest e The Gashlycrumb Tinies, de Edward Gorey. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/169298. Acesso em 10 jun. 2023.
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; Greskovic, 2018GRESKOVIC, Robert. The Man Who Wanted to Be Entertained. In: MONROE, Erin. (org.). Gorey’s Worlds. Hartford, Connecticut: Wadsworth Atheneum Museum of Art in association with Princeton university Press, 2018. p. 51-75.).

Há também semelhanças com as produções de Charles Dickens, conforme observado por Eden Lee Lackner (2015LACKNER, Eden Lee. Genre Games: Edward Gorey’s Play with Generic Form. 2015. 216f. Tese (Doutorado em Filosofia) - Victoria University of Wellington). Disponível em: http://researcharchive.vuw.ac.nz/xmlui/handle/10063/4671. Acesso em 06 fev. 2024.
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), que identifica elementos vitorianos nas produções do escritor norte-americano na tentativa de descrever uma estética goreyesca, que posteriormente influenciou outros autores como Tim Burton ou Daniel Handler. Através do estudo de Lackner (2015), nota-se um diálogo entre os textos de Gorey e o gênero melodrama, o nonsense pedagógico, o horror gótico e as histórias de detetive. O que o autor conclui é que em cada gênero ou aspecto destacado, há ausência de elementos do gênero literário que distanciam o leitor da obra, e que tornam o estilo de Gorey distinto do padrão tradicional daqueles gêneros.

Além das obras selecionadas para esta análise, encontram-se nas produções de Edward Gorey outros abecedários e limeriques, que serão brevemente evidenciados para uma compreensão geral. O abecedário The Fatal Lozenge contém quadras com rimas alternadas para cada letra e narra breves tragédias em que a letra da quadra apresenta uma personagem estereotipada; The Chinese Obelisks narra o passeio de um autor em que cada verso inicia-se com uma letra e está associada a alguém ou algum objeto que aparece no percurso e de certa forma interrompe o passeio da protagonista; The Utter Zoo apresenta em cada linha uma criatura inventada pelo autor, como se fosse o catálogo de um zoológico, com a ilustração da criatura seguida de um neologismo que nomeia o animal; The Glorious Nosebleed é um alfabeto de advérbios, cada linha narra brevemente alguma cena em que a ação é descrita por um advérbio seguindo a sequência alfabética; The Deadly Blotter narra uma brevíssima história de detetive, em que cada linha inicia-se com uma letra do alfabeto e conta com apenas uma ou duas palavras; The Just Dessert, similarmente breve, também apresenta cada linha iniciando-se com uma letra do alfabeto para narrar uma peculiar história nonsense que se encerra com uma sobremesa gigante; e Figbash Acrobate é um abecedário sem texto verbal, em que uma criatura inventada por Gorey faz acrobacias e cada acrobacia representa uma letra do alfabeto. Em relação aos limericks, The Listing Attic contém sessenta limeriques ilustrados, cada um deles narrando uma história distinta, e Random Walk é uma obra similar à A Limerick, em se tratando de concisão, pois o livro é composto de apenas quatro ilustrações, cada qual com um verso que, juntos, formam um limerique; no entanto, distingue-se em relação ao tema, por ser menos trágico, narrando uma personagem adulta que compra uma roupa nova, mas que erra por não chamar um táxi e acabar se molhando na chuva.

Cada uma das obras listadas tem características peculiares e requereriam uma análise mais profunda. The Gashlycrumb Tinies e A Limerick têm em comum os temas considerados delicados, como morte e violência, e a brevidade narrativa, que não propicia qualquer sentimento de empatia pelas personagens (Novaković, 2022NOVAKOVIĆ, Nikola. A Melancholy Meditation on the False Millennium: Time, Nonsense, and Humour in the Works of Edward Gorey. Tabula, nº 19, 2022, p. 89-110, dez. 2022. DOI: https://doi.org/10.32728/tab.19.2022.6. Acesso em: 10 fev. 2024.
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). Segundo Kristin L. Mcglothlin (2015), Gorey ironiza e critica as ilustrações tradicionais do século XIX oferecendo ao leitor uma perspectiva sobre situações potencialmente inquietantes e perturbantes do cotidiano envolvendo crianças. The Gashlycumb Tinies é um exemplo disso, pois narra em cada um de seus versos a maneira como uma criança destina-se à morte, em alguns casos através de acidentes do cotidiano, em outros como consequência de abandono ou da violência. Em A Limerick, o poema narra uma cena de bullying, em que a morte pode ser inferida. Vale ressaltar que apesar de abordarem a morte, o exício não fica explícito nos exemplos em análise.

2 Observações sobre os gêneros literários abecedário e limerique de Edward Gorey

Entende-se por gêneros literários os textos relativamente estáveis de enunciados que ocorrem na esfera literária (Bakhtin, 2016BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Editoria 34, 2016. p. 11-10.). Portanto, há aspectos que são inerentes a cada gênero, dentro de sua esfera, como o conteúdo, o estilo e a estrutura composicional. Por outro lado, por serem relativamente estáveis, sabe-se que cada exemplar tem suas particularidades e exprime o estilo individual do participante, ou seja, do autor. Com isso, propomos uma breve revisão sobre os gêneros alfabeto e limerique para em seguida investigar singularidades dos exemplares selecionados.

2.1 O abecedário

O abecedário contém tradição pedagógica, pois sua organização retórica, em que cada linha se inicia com uma letra seguindo uma sequência alfabética, facilita a memorização. É um gênero que pode ser encontrado em contextos religiosos, utilizados para ensinar conceitos e ensinamentos morais, como no Salmo 119, na versão em hebraico da Bíblia7 7 O texto completo do Salmo 119 em hebraico pode ser consultado em: https://www.bibliaonline.com.br/acf+bhs/sl/119, no qual cada estrofe se inicia com uma letra do alfabeto hebraico (da direita para a esquerda). , ou no poema Psalmus contra Partem Donati, escrito por Santo Agostinho em 393 (Thomazine, 2019THOMAZINE, Angelica Micoanski. Traduzindo Amphigorey: uma antologia goreyesca. 2019. 240f. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214982?show=full. Acesso em 29 jan. 2023.
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).

Sara Silva e Diana Maria Martins (2016SILVA, Sara Raquel Duarte Reis da; MARTINS, Diana Maria. Com letras se hacen palabras: contribuciones para uma caracterización del libro-abecedario para la infancia. Elos. Revista de Literatura Infantil e Xuvenil. Universidade de Santiago de Compostela, n. 3, 2016. DOI: https://doi.org/10.15304/elos.3.3413.
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) apresentam um recorte diacrônico do gênero e concordam que desde a era medieval até o século XVII os abecedários estavam associados ao ensino religioso e com propósitos pedagógicos. Segundo as autoras, em 1963 John Locke propôs que os livros-alfabeto fossem utilizados para entreter as crianças e ensiná-las a ler; posteriormente, em 1703 publicou-se uma edição das fábulas de Esopo em inglês e em latim em formato de abecedário, com letras associadas a animais. Conforme Câmara Cascudo (1984CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984.), esse gênero tornou-se popular com Juan del Encina, que escreveu um ABC poético na Espanha durante a Renascença, e Luís de Camões, que criou um ABC em tercetos em Portugal. Assim, os abecedários gradualmente deixam de ser ferramentas pedagógicas para cumprirem uma função mais lúdica, envolvendo conceitos e tradições diversas (Silva, 2019), que visam divertir o leitor e contam com ilustrações, jogos tipográficos e formatos inusitados que diminuem ainda mais sua função didática, segundo Marta Sanjuán (2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
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).

De forma sucinta, “Os livros-alfabeto são livros ilustrados cuja função essencial é ensinar as crianças sobre as letras e suas associações com sons relevantes” (Sanjuán, 2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
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, p. 44). A autora propõe uma poética dos livros-alfabeto percorrendo diversos autores, com ênfase na literatura espanhola, e defende que quase todos os alfabetos seguem o mesmo padrão: uma letra que se destaca e que está associada a uma imagem - geralmente um objeto ou um animal - cujo nome se inicia com a letra em destaque, e a uma palavra, frase ou verso no qual a letra aparece repetidamente. Similarmente, Silva e Martins (2016SILVA, Sara Raquel Duarte Reis da; MARTINS, Diana Maria. Com letras se hacen palabras: contribuciones para uma caracterización del libro-abecedario para la infancia. Elos. Revista de Literatura Infantil e Xuvenil. Universidade de Santiago de Compostela, n. 3, 2016. DOI: https://doi.org/10.15304/elos.3.3413.
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) nos lembram que os livros alfabeto podem inclusive ser impressos como artefatos de arte, com peças para encaixar, por exemplo.

As autoras listaram diferentes elementos que podem ser encontrados em livros-alfabeto: ludicidade, estratégia de associação, humor, hipérbole, contraste, ironia, paródia, paradoxo, nonsense, ambiguidade, excentricidade de características físicas ou psicológicas das personagens, discurso poético ritmado, exposição de conteúdos mais sensíveis e sérios através do divertimento do universo alfabético, relação com imagens - o que atrai a atenção e contribui para decifrar o sentido, media a mensagem verbal, auxilia na caracterização das personagens e complementa o texto verbal - economia verbal, profusão ilustrativa, brevidade, concisão linguística, ausência de conectivos sequenciais e causais inerentes ao discurso narrativo, aliterações e assonâncias, associação com antropônimo e onomástica e intencionalidade pedagógico-didática ou formativa.

Além dessas características, os livros-alfabeto modernos são como paródias das funções e dos formatos dos livros-alfabeto mais tradicionais, “[...] suas funções didáticas diminuem na mesma medida em que seus aspectos estéticos aumentam” (Sanjuán, 2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
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, p. 508 8 Todas as citações de obras em línguas diferentes do português que não contarem com traduções publicadas ou disponíveis, serão traduzidas pela autora. )9 9 No original: “[...] their didactic function decreases as their diverting and aesthetic aspects increase” (Sanjuán, 2015, p. 50). , o que pode ser observado nas produções de autores como Edward Lear, na Inglaterra Vitoriana, de Gertrude Stein, no Modernismo e de Edward Gorey. Contudo, divertir não significa ser algo alegre, pois há exemplares com temas ligados ao horror, como é o caso dos exemplares de Gorey ou do livro O fantástico alfabeto (The Abhorrent Abecedarium), escrito por H. P. Lovecraft.

O exemplar The Gashlycrumb Tinies é um poema narrativo com ritmo regular, decassílabos com quatro sílabas tônicas e rimas emparelhadas, que garantem a musicalidade da tradição oral. Todos os versos se iniciam da mesma maneira, com a letra do alfabeto seguida de is for e de um nome próprio que começa com a mesma letra, a anáfora evocando a tradição pedagógica do gênero, pois auxilia na memorização10 10 A anáfora é uma repetição no começo de uma sentença, efunciona como quando estamos soletrando um nome ou palavra diferente para alguém, por telefone, por exemplo, ou quando as crianças estão sendo alfabetizadas, e repetem as letras associando-as a objetos do cotidiano, como A de anel...; B de bola.... . Cada linha do poema narra o fim trágico ou peculiar de uma criança de uma forma sucinta, sem detalhes e com uma musicalidade que distancia o leitor, evitando que se sensibilize com a personagem.

A obra contraria a fronteira entre literatura infantil e literatura adulta e exprime uma ambiguidade das intenções do autor, que apresenta uma rebelião sarcástica contra uma visão idílica da criança (Sanjuán, 2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
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). Portanto, trazemos aqui um exemplar de livro-alfabeto pós-moderno que,

embora pareça ser um simples livro infantil, a compreensão de jogos metaficcionais e irônicos, assim como as ambiguidades semânticas, exigem leitores com competências sólidas para perceber as perspectivas contraditórias ali presentes (Sanjuán, 2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
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, p. 60)11 11 No original: “[...] although they seem to be simple children’s books, the comprehension of metafictional and ironical games, as well as their semantic ambiguity require recipients with high reading competencies who can perceive the contradictory perspectives presented in them” (Sanjuán, 2015, p. 60). .

Cada um dos versos contém uma ilustração em preto e branco, muito detalhada, que pode ser observada online12 12 Conforme mencionado na Introdução, as ilustrações de ambos os versos estão disponibilizadas no site https://www.goreyesque.com/gorey-images e podem ser identificadas a partir da descrição presente no texto. . Os dois primeiros versos são: (1) A is for Amy who fell down the stairs; (2) B is for Basil assaulted by bears. A ilustração que acompanha o primeiro verso apresenta uma menina como se estivesse descendo as escadas de peito, com os braços abertos, dando a impressão de que estava tentando se segurar. No plano de fundo, há uma escada com características vitorianas, parece ser de madeira, revestida de carpete, os desenhos detalhados de Gorey contam com traços finos (hachura) que representam a textura dos materiais. A menina branca, contornada com traços finos e usando um vestido branco, destaca-se da escada e da sua própria sombra, manchada no plano de fundo. A ideia apresentada no verso, de que a menina caiu, também aparece na ilustração através da posição em que se encontra, entre outros detalhes, como os braços abertos, as pernas elevadas, desalinhadas, e o vestido com barra e manga esvoaçantes. Tais detalhes são recorrentes nas ilustrações de Gorey e demonstram movimento (Wilkin, 2009WILKIN, Karen. Elegant Enigmas: The Art of Edward Gorey. Portland: Pomegranate Communications, 2009.), como nas fotografias, que retratam um momento instantâneo (Benjamin, 2010BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. 7a ed. São Paulo: Brasiliense, 2010.). De acordo com Fernanda Marques Granato e Vera Bastazin (2019GRANATO, Fernanda Marques; BASTAZIN, Vera (2019). O livro infantil ilustrado: a produção nonsense de Edward Lear (1812-1888) e Edward Gorey (1925-2000). Cadernos De Literatura Comparada, nº 40, p. 245-270, junho, 2019. DOI: https://doi.org/10.21747/21832242/litcomp40v2. Acesso em 10 fev. 2024.
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), baseando-se em Linden, a cena descrita representa o instante preciso da ação.

A ilustração que acompanha o segundo verso traz um menino como protagonista, que se encontra em uma área descampada. O menino está centralizado na imagem, entre dois grandes ursos. Um dos ursos está com uma pata levantada, indo na direção do menino, assim como seu focinho aponta para a personagem. A criança, com uma roupa escura com detalhes que nos lembram um pequeno marinheiro, parece estar se movimentando lentamente, com um pé levantado e o corpo arqueado para frente. Seu rosto se destaca, também com traços finos, e indica movimento, como se estivesse olhando para trás.

Podemos considerar que cada verso, com sua respectiva ilustração, narra uma história diferente, por contar com personagem, cenário e ações únicas. O que liga uma narrativa à outra é a sequência alfabética, então, ao mesmo tempo em que poderiam ser lidas isoladamente, dependem uma da outra para que o gênero abecedário se estabeleça.

2.2 O limerique

Também de tradição oral, o limerique é um gênero popular na literatura de língua inglesa que tem aos poucos ganhado espaço no Brasil, a partir de traduções ou de produções de autores como Sousândrade, Lispector e Mattoso, ou de César Obeid e Tatiane Belinky, na literatura infantil. Já estudado por diversos teóricos (Tigges, 1987TIGGES, Wim. The Limerick: The Sonnet of Nonsense? In: TIGGES, Wim (org.). Explorations in the Field of Nonsense. Amsterdam: Rodopi, 1987.; Ávila, 1995ÁVILA, Myriam. Rima e solução: a poesia nonsense de Lewis Carroll e Edward Lear. São Paulo: Annablume, 1995.; Amarante, 2006AMARANTE, Dirce Waltrick do. Sr. Lear, conhecê-lo é um prazer!: o nonsense de Edward Lear. 2006. Tese (Doutorado em Literatura) - Universidade Federal de Santa Catariana, Florianópolis, 2006.; Bastazin; Granato, 2020BASTAZIN, Vera; GRANATO, Fernanda Marques. Edward Lear e Edward Gorey: o livro infantil ilustrado nonsense. Curitiba: Editora Appris, 2020. Edição do Kindle.), trata-se de um poema narrativo curto com forma fixa: cinco versos e rimas em AABBA; os versos com rima em A contêm três tônicas, já os versos com rima em B contam com apenas duas e podem estar dispostos na mesma linha ou em linhas separadas.

Há duas principais temáticas recorrentes nesse gênero, os limeriques fesceninos e os de caráter cômico. Evidentemente a literatura infantil e juvenil conta com os limeriques cômicos, sendo Edward Lear um dos principais representantes com a obra A Book of Nonsense. Os limeriques de Edward Gorey também podem ser considerados de caráter cômico, ainda que muitos deles sejam mais sombrios ou trágicos.

Para detalhar a forma composicional e a temática do gênero, Wim Tigges (1987TIGGES, Wim. The Limerick: The Sonnet of Nonsense? In: TIGGES, Wim (org.). Explorations in the Field of Nonsense. Amsterdam: Rodopi, 1987.) faz uma comparação com o soneto, alegando que a forma fixa do soneto, com ritmos, rimas e métricas fixas e os temas abordados, como o amor ou a beleza, e a utilização de metáforas, engrandecem a amada, enquanto o limerique tem, em sua forma fixa, o ápice da arte verbal, mas com temas que evocam a imperfeição física, comportamental ou emocional das personagens a partir do sentido literal das palavras.

Em 1973, o autor publicou uma obra sob o título A Limerick, que, de fato, apresenta um único limerique. Cada página desta obra contém um verso do poema e uma ilustração, totalizando quatro páginas, posicionando os versos com rima em B em apenas uma linha, o que justifica ter apenas quatro páginas em vez de cinco13 13 Conforme mencionado anteriormente, a obra Random Walk segue a mesma estrutura de A Limerick. . Sobre as particularidades dos pequenos poemas de Gorey, as narrativas deixam um tom enigmático, com o clímax da história no último verso14 14 Diferentemente dos limeriques de Lear, por exemplo, que trazem no último verso uma repetição da ideia contida no primeiro verso, o que traz circularidade ao poema. , mas como não há espaço para muitos detalhes ou explicações e as motivações para as ações das personagens não são evidentes, o leitor fica limitado ao que é dito na econômica narrativa e nas ilustrações.

A Limerick narra a história do menino Zooks, que sofre bullying. Através do primeiro verso, Little Zooks, of whom no one was fond, sabe-se que ninguém gostava da protagonista, o que também é reforçado pela ilustração que carrega informações complementares sobre a desventura que se segue. Em resumo, o segundo verso narra que as crianças o arremessaram para além de um telhado; o terceiro e o quarto versos descrevem o trajeto ao contar que ele passou sobre um presbitério, e o último verso narra sua queda em um lago cheio de vitórias-régias. O tema da história é delicado; contudo, torna-se cômico pela forma como é colocado nos versos e nas ilustrações. Um dos elementos que colaboram para a comicidade é o exagero, que extrapola os limites da realidade (Propp, 1992PROPP, Vladimir. Comicidade e riso. Tradução Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade. São Paulo: Editora Ática, 1992.). O exagero pode ser observado tanto no texto verbal como nas ilustrações e em diversos momentos, como na força das crianças que arremessam a protagonista, na distância e altura do arremesso, e até mesmo na quantidade de vitórias-régias que havia no lago.

Na primeira ilustração15 15 A ilustração do primeiro verso desta obra também pode ser observada no site https://www.goreyesque.com/gorey-images. notamos três crianças bem maiores que o menino, puxando-o de um estilingue humano para atirá-lo. O fato de ter três crianças reforça e até tenta justificar a potência do arremesso da protagonista; no entanto, mesmo com a força das três crianças, o resultado dessa ação é absurdo. A ilustração do segundo verso apresenta a protagonista no céu, como se estivesse voando, prestes a passar sobre o teto de um chalé de madeira onde uma mulher cuida de um bebê, o que pode ser notado pela janela do chalé. Sobre o chalé há um item de decoração, como se fosse uma escultura pontuda, imitando um galho de árvore. Esse objeto gera uma tensão no leitor, pois dá a impressão de que o menino ficaria preso ali. No entanto, a ilustração seguinte mostra que o menino segue seu trajeto e passa sobre uma capela. Ironicamente, sobre o teto da capela há uma cruz de ferro com pontas imitando flechas, então o receio de o menino ficar preso é reavivado. Através da janela da capela, há um padre lendo algumas folhas e tomando chá. Na segunda e na terceira ilustrações, observamos como a rotina dos adultos não é alterada pela ação principal da narrativa, pois parecem nem perceber o ocorrido. Por fim, após descobrirmos que o menino também não fica preso na cruz de ferro, temos acesso ao último inconveniente, a queda no lago de vitórias-régias.

O adjetivo little, primeiro verso, cumpre um papel importante para a narrativa, pois indica a fragilidade do menino ao mesmo tempo em que serve como uma explicação para que tenha sido arremessado tão distante: se não fosse pequeno, talvez seu trajeto não teria sido possível.

A descrição da narrativa, combinada com as ilustrações, colabora para a compreensão estilística do limerique de Edward Gorey. Nota-se, a partir deste exemplo, que há tensão na história, por se tratar de um tema altamente sensível, que envolve crianças e um fim trágico. O último verso traz o clímax da narrativa, mas não temos um desfecho. Essa ausência de desfecho, junto da ausência de detalhes, o exagero e a forma do limerique, são elementos que distanciam o leitor das cenas narradas. Consequentemente, a tensão é aliviada e possibilita o humor, características do limerique lúdico, que aqui dialoga com o gênero nonsense (Tigges, 1987TIGGES, Wim. The Limerick: The Sonnet of Nonsense? In: TIGGES, Wim (org.). Explorations in the Field of Nonsense. Amsterdam: Rodopi, 1987.; Thomazine, 2019THOMAZINE, Angelica Micoanski. Traduzindo Amphigorey: uma antologia goreyesca. 2019. 240f. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214982?show=full. Acesso em 29 jan. 2023.
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; Novaković, 2022NOVAKOVIĆ, Nikola. A Melancholy Meditation on the False Millennium: Time, Nonsense, and Humour in the Works of Edward Gorey. Tabula, nº 19, 2022, p. 89-110, dez. 2022. DOI: https://doi.org/10.32728/tab.19.2022.6. Acesso em: 10 fev. 2024.
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).

3 Ilustrações: tradução intersemiótica e multimodalidade

Conforme observado nas seções anteriores, as ilustrações nas obras estudadas complementam o sentido do texto verbal, ainda que a imagem isoladamente tenha função de expressão e função representacional independentemente da palavra escrita, conforme nos lembra Maria Angélica Melendi (1997MELENDI, Maria Angélica. Imagens e palavras. In: ALMEIDA, Maria Inês de (Org.). Para que serve a escrita? São Paulo: EDUC, 1997.). Quando se observa a relação entre ilustração e texto verbal sob uma perspectiva de tradução, considera-se como uma sendo a reescritura de outra, de acordo com Nilce Maria Pereira (2008PEREIRA, Nilce Maria. Traduzindo com imagens: a imagem como reescritura, a ilustração como tradução. 2008. Tese (Doutorado em Letras). Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.), colocando-se lado a lado dois tipos de linguagem distintas, não equivalentes.

Por outro lado, ao considerar o livro ilustrado de Gorey como unidade, em que texto verbal e não verbal operam em conjunto, ao mesmo tempo em que existe a independência entre os códigos, Kress e Leeuwen (2006KRESS, Gunther; LEEUWEN, Theo. Reading Images: The Grammar of Visual Design. 2. ed. New York: Routledge, 2006.) afirmam que qualquer texto em que o sentido seja estabelecido a partir de mais de um código semiótico, trata-se de um texto multimodal16 16 Para analisar as obras citadas anteriormente sob a perspectiva da multimodalidade, serão consideradas as imagens descritas e acessíveis através do link disponibilizado na nota de rodapé número 12. As ilustrações não foram adicionadas ao material em respeito às normas de publicação no que tange os direitos autorais, mas algumas imagens, incluindo duas do abecedário e uma do limerique discutidos aqui, estão disponibilizadas online. : “de maneira geral, elementos pictóricos podem receber maior ou menor ‘ênfase’ que outros ao seu redor e tornarem-se ‘itens de informação’ mais ou menos importantes no todo” (Kress; Leeuwen, 2006, p. 176)17 17 Nooriginal: “To generalize, pictorial elements can receive stronger or weaker ‘stress’ than other elements in their immediate vicinity, and so become more or less important ‘items of information’ in the whole” (Kress; Leeuwen, 2006, p. 176). .

Nascimento, Bezerra e Heberle (2011NASCIMENTO, Roseli Gonçalves; BEZERRA, Fábio Alexandre Silva; HEBERLE, Viviane Maria. Multiletramentos: iniciação à análise de imagens. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n. 2, p. 529-552, jul./dez. 2011. DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v14i2.15403. Acesso em 07 fev. 2024.
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) recomendam que o desenvolvimento de habilidades para a leitura de textos multimodais seja um movimento consciente. Para isso, resumem os principais conceitos e categorias elaborados por Kress e Leeuwen (2006KRESS, Gunther; LEEUWEN, Theo. Reading Images: The Grammar of Visual Design. 2. ed. New York: Routledge, 2006.) para a análise do sentido em imagens e textos multimodais. Dentre os conceitos destacados estão três funções, a de representação, a de interação e a de composição, as quais serão utilizadas como orientadoras na análise das três ilustrações selecionadas.

Em se tratando de função de representação, consideram-se as ilustrações de Gorey como narrativas, porque “[...] constroem a experiência como um evento que se desencadeia no espaço e no tempo, isto é, retratam participantes realizando ações sobre outros participantes ou envolvidos em acontecimentos” (Nascimento; Bezerra; Heberle, 2011NASCIMENTO, Roseli Gonçalves; BEZERRA, Fábio Alexandre Silva; HEBERLE, Viviane Maria. Multiletramentos: iniciação à análise de imagens. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n. 2, p. 529-552, jul./dez. 2011. DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v14i2.15403. Acesso em 07 fev. 2024.
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, p. 534).

Na primeira ilustração do alfabeto (doravante figura 1), a personagem Amy cai das escadas, uma ação representada pela disposição na imagem, de braços abertos e esticados, indicando movimento. Como pano de fundo, temos a escada, detalhada através dos traços em preto e branco. Na ilustração do segundo verso (doravante figura 2), os participantes são o menino Basil e os dois ursos, que estão prestes a atacá-lo; a ação é representada pela pata levantada de um dos ursos, pelo focinho direcionado à criança, pelo pé esquerdo do menino, que está levemente erguido, como se estivesse tentando escapar sutilmente da situação de perigo, e pelo olhar do menino, expressando melancolia. A ação ocorre em um local descampado, possivelmente ao anoitecer. Cenários detalhados em preto e branco que orientam o leitor sobre o tempo e o espaço são recorrentes nas ilustrações de Gorey. Na ilustração referente ao primeiro verso do limerique (figura 3 no site), o padrão se repete: há uma personagem principal, posicionada no lançador humano, além de outras três crianças posicionadas uma atrás da outra, unindo forças, prestes a lançar o menino Basil. Ao fundo, um cenário branco nos indica que é dia e que estão em um gramado, possivelmente em uma praça.

A função de representação pode incluir processos de ação, de reação, mentais e verbais. Notamos processos de ação transacionais nas ilustrações 1 e 3, através da aproximação dos ursos e da fila de crianças segurando o pequeno Zooks. A ilustração 2 passa por um processo não-transacional, pois a personagem encontra-se sozinha na ação em que sofre. Todavia, os processos de reação nas figuras 1 e 3 são não-transacionais, pois as personagens olham para algo que não podemos identificar, enquanto na figura 2 observa-se um processo de reação transacional com os ursos encarando a personagem, a qual olha de volta, ainda que de costas. Não há, nas ilustrações, processos mentais ou verbais.

Como nos lembram os autores, as imagens também podem promover relações de interação entre os participantes da ilustração e o leitor, como a personagem Basil, da figura 2, que parece tentar estabelecer contato com o leitor. Posicionado entre os ursos, o menino parece movimentar-se, mas olha para trás, como se estivesse pedindo ajuda. Por outro lado, não há nenhum contato com o leitor nas figuras 1 e 3; ao invés disso, as crianças parecem desviar o olhar do leitor, como se estivessem compreendendo o fim que as espera. Outra forma de promover relações de interação é através da distância social. As ilustrações apresentam-se em plano médio, o que traz uma neutralidade no que tange à aproximação do leitor e colabora para o distanciamento e alívio da tensão da narrativa.

A atitude das personagens também representa relações de interação, como a posição oblíqua das personagens das ilustrações 1 e 3, que reforça o distanciamento em relação ao leitor. Contudo, na figura 2, em que o menino é posicionado de costas, mas olhando para trás, há uma aproximação ao leitor. Por fim, ao observarmos relações de poder através dos ângulos das imagens, notamos que há um ângulo baixo na figura 1, o que colocaria a personagem em uma posição de poder, isso porque a menina ainda está no início da escada, o ângulo seria alterado conforme a queda acontecesse, o que também alteraria a relação de poder. Na ilustração 2 encontramos o oposto, observamos um ângulo alto, que realça como o menino é menor que os ursos, acentuando a fragilidade da criança diante da situação. Contudo, na ilustração 3 há uma neutralidade com o ângulo médio.

Em relação à função de composição, compreende-se como a descrição da “[...] organização dos elementos representados na imagem conforme o espaço que ocupam no todo da imagem ou da página multimodal” (Nascimento; Bezerra; Heberle, 2011NASCIMENTO, Roseli Gonçalves; BEZERRA, Fábio Alexandre Silva; HEBERLE, Viviane Maria. Multiletramentos: iniciação à análise de imagens. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n. 2, p. 529-552, jul./dez. 2011. DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v14i2.15403. Acesso em 07 fev. 2024.
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, p. 54). Através dessa função destacam-se: valor da informação, enquadramento e saliência.

O valor da informação observa a diagramação da página. Para isso, é importante salientar que na primeira publicação das obras estudadas, cada ilustração e verso eram apresentados em uma página diferente, mas posteriormente as obras de Gorey (1980aGOREY, Edward. Amphigorey. New York: Perigee, 1980a.; 1980b; 1980c) foram organizadas em coletâneas, as quais reorganizam as ilustrações e versos, dispondo vários em uma mesma página com o intuito de tornar as edições mais econômicas. Na coletânea Amphigorey, o abecedário The Gashlycrumb Tinies conta com duas imagens e seus respectivos versos em cada página, na direção vertical, enquanto A Limerick, na coletânea Amphigorey Too, conta com as quatro imagens e seus respectivos versos em uma única página. Com isso, haveria uma distinção das características relacionadas ao valor da informação dependendo do objeto de estudo. Nesta pesquisa, como não estamos analisando os livros na íntegra, mas apenas um pequeno recorte de cada um deles, vamos considerar cada ilustração e texto verbal como páginas individuais. Neste caso, há um padrão na organização dos elementos, pois a ilustração encontra-se sempre posicionada sobre o verso.

Segundo Michel Foucault (2008FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. Tradução Jorge Coli. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.), há sempre uma relação de subordinação entre os elementos dispostos na página, com uma ordem que os hierarquiza. Seguindo essa lógica, os versos estão subordinados às ilustrações nas duas obras em estudo. Nascimento, Bezerra e Heberle (2011NASCIMENTO, Roseli Gonçalves; BEZERRA, Fábio Alexandre Silva; HEBERLE, Viviane Maria. Multiletramentos: iniciação à análise de imagens. Revista Linguagem & Ensino, Pelotas, v.14, n. 2, p. 529-552, jul./dez. 2011. DOI: https://doi.org/10.15210/rle.v14i2.15403. Acesso em 07 fev. 2024.
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), baseando-se em Kress e Leeuwen (2006KRESS, Gunther; LEEUWEN, Theo. Reading Images: The Grammar of Visual Design. 2. ed. New York: Routledge, 2006.), afirmam que o elemento localizado na parte inferior especifica o elemento superior, apresentando detalhes ou descrevendo-o. Em relação aos textos de Gorey, o leitor provavelmente passaria algum tempo observando a ilustração, por estar posicionada no topo da tela, antes de direcionar-se ao verso.

No enquadramento, nota-se uma separação entre a ilustração e o verso com um espaço em branco, que funciona como fronteira (Foucault, 2008FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. Tradução Jorge Coli. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.) e reforça a independência das duas linguagens (verbal e não-verbal). Alguns elementos são destacados nas ilustrações, principalmente através do contraste entre o preto e o branco e da proporção entre eles. Na figura 1, a personagem Amy é toda branca, incluindo seu corpo e sua roupa, com traços finos e delicados. Com isso, ela se destaca do plano de fundo escuro. Já na figura 2, há um destaque no contraste proporcional entre o tamanho dos ursos e da personagem, o que intensifica a tensão da cena. Similarmente à ilustração 1, o rosto branco do menino, com traços delicados, transmite inocência e fragilidade, características importantes para enfatizar o efeito trágico da narrativa. Na figura 3 também notamos contraste, tanto em se tratando de proporção, se compararmos a protagonista às outras crianças, como nas cores, ao observarmos novamente os rostos brancos e com traços suaves.

Conclusão

Enquanto escritor e ilustrador, Edward Gorey brinca com diversos gêneros e temas. Em relação aos gêneros, nota-se um cuidado do autor com a forma, mas uma ousadia maior em relação às temáticas. Assim, as obras The Gashlycrumb Tinies e A Limerick ilustram como gêneros antigos são reinventados conforme o estilo do autor.

A temática relacionada à morte trágica, ou a assuntos que normalmente seriam evitados na literatura infantil e juvenil, assim como o humor através do exagero e o uso das palavras em seu sentido literal são aspectos representativos do estilo de Gorey. Tais aspectos podem gerar algum desconforto no leitor, e provavelmente incomodam adultos que acham que livros infantis devem conter apenas aspectos pedagógicos ou ter sempre uma história bonita. A forma nos gêneros aqui discutidos, contudo, ajuda a distanciar o leitor e torna o texto mais lúdico.

Além disso, as obras são ilustradas pelo próprio autor, que primeiramente escreve para apenas depois ilustrar, ou seja, poderíamos considerar que a história é contada duas vezes, uma vez pelo texto verbal e outra pelos desenhos. No entanto, a relação entre texto e ilustração é complexa e pode ser compreendida de diferentes formas, como uma relação de tradução intersemiótica, ou como uma relação de unidade, em que o texto verbal e o não verbal, ainda que tragam informações semânticas distintas, funcionam juntos. A partir dessa ideia, compreendemos que elementos na página se relacionam e que a composição da ilustração, ou seja, a forma como essa ilustração é realizada, influencia o sentido que expressa. Assim, ao lermos um texto ilustrado, lemos também a ilustração, suas nuances, contrastes, movimentos sugeridos e feições, e em todos os níveis, encontramos sentido.

Por fim, este estudo pode instigar pesquisas sobre a relação entre texto verbal e não verbal a partir de outras vertentes teóricas, ou em outras obras do autor, assim como sobre o estilo artístico do autor, se é expresso de maneira similar em outros exemplares dos gêneros abecedário e limerique.

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    » https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04
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    » https://doi.org/10.35520/metamorfoses.2018.v15n2a19221
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    » https://doi.org/10.15304/elos.3.3413
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    » https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/214982?show=full
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  • Declaração de disponibilidade de conteúdo

    Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.
  • Pareceres

    Tendo em vista o compromisso assumido por Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas.
  • 1
  • 2
    Os termos alfabeto, abecedário, livro-alfabeto e ABC são utilizados como sinônimos para referir-se ao gênero literário que utiliza a sequência alfabética como ferramenta para a organização retórica.
  • 3
    O título do editorial é: “O gênero sempre é novo e velho ao mesmo tempo” (Brait; Pistori; Lopes-Dugnani; Stella; Gontijo, 2023BRAIT, Beth, PISTORI, Maria Helena Cruz, LOPES-DUGNANI, Bruna, STELLA, Paulo Rogério, & GONTIJO ROSA Carlos, C. O gênero sempre é novo e velho ao mesmo tempo. Novidades. Bakhtiniana, Revista de Estudos do Discurso, v. 18, n. 3, 2023. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/63192. Acesso em: 02 nov. 2023.
    https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
    ).
  • 4
    Um exemplo é o livro sobre Luiz Gama publicado pela editora Companhia das Letrinhas, que foi criticado e retirado de circulação. Amarante (2021AMARANTE, Dirce Waltrick do. Retirar de circulação livro infantil sobre Luiz Gama é fugir da discussão. Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 set. 2021. Artigo de opinião. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/09/retirar-de-circulacao-livro-infantil-sobre-luiz-gama-e-fugir-da-discussao.shtml. Acesso em 15 jan. 2023.
    https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissi...
    ), estudiosa da área de literatura infantil, comenta o fato em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/09/retirar-de-circulacao-livro-infantil-sobre-luiz-gama-e-fugir-da-discussao.shtml. Outro exemplo mais recente é o livro O avesso da pele, escrito por Jeferson Tenório, que sofreu uma tentativa de censura ainda em 2024, conforme notícia https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/diretora-critica-livro-o-avesso-da-pele-e-alega-vocabularios-de-tao-baixo-nivel/.
  • 5
    De acordo com Bastazin e Granato (2020BASTAZIN, Vera; GRANATO, Fernanda Marques. Edward Lear e Edward Gorey: o livro infantil ilustrado nonsense. Curitiba: Editora Appris, 2020. Edição do Kindle.), Gorey não tinha o intuito de se tornar um escritor para crianças, mas isso ocorreu com o tempo.
  • 6
    A casa e as coleções do autor foram fotografadas por Kevin McDermott (2003) e documentas na obra Elephant House: or, The Home of Edward Gorey.
  • 7
    O texto completo do Salmo 119 em hebraico pode ser consultado em: https://www.bibliaonline.com.br/acf+bhs/sl/119, no qual cada estrofe se inicia com uma letra do alfabeto hebraico (da direita para a esquerda).
  • 8
    Todas as citações de obras em línguas diferentes do português que não contarem com traduções publicadas ou disponíveis, serão traduzidas pela autora.
  • 9
    No original: “[...] their didactic function decreases as their diverting and aesthetic aspects increase” (Sanjuán, 2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
    https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.0...
    , p. 50).
  • 10
    A anáfora é uma repetição no começo de uma sentença, efunciona como quando estamos soletrando um nome ou palavra diferente para alguém, por telefone, por exemplo, ou quando as crianças estão sendo alfabetizadas, e repetem as letras associando-as a objetos do cotidiano, como A de anel...; B de bola....
  • 11
    No original: “[...] although they seem to be simple children’s books, the comprehension of metafictional and ironical games, as well as their semantic ambiguity require recipients with high reading competencies who can perceive the contradictory perspectives presented in them” (Sanjuán, 2015SANJUÁN, Marta. Illustrated Alphabet Books as Aesthetic and Literary “Devices”: An Approach to Their Poetics. Ocnos. Revista de Estudios sobre Lectura, La Mancha, v.14, p. 42-64, 2015. DOI: https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.04.
    https://doi.org/10.18239/ocnos_2015.14.0...
    , p. 60).
  • 12
    Conforme mencionado na Introdução, as ilustrações de ambos os versos estão disponibilizadas no site https://www.goreyesque.com/gorey-images e podem ser identificadas a partir da descrição presente no texto.
  • 13
    Conforme mencionado anteriormente, a obra Random Walk segue a mesma estrutura de A Limerick.
  • 14
    Diferentemente dos limeriques de Lear, por exemplo, que trazem no último verso uma repetição da ideia contida no primeiro verso, o que traz circularidade ao poema.
  • 15
    A ilustração do primeiro verso desta obra também pode ser observada no site https://www.goreyesque.com/gorey-images.
  • 16
    Para analisar as obras citadas anteriormente sob a perspectiva da multimodalidade, serão consideradas as imagens descritas e acessíveis através do link disponibilizado na nota de rodapé número 12. As ilustrações não foram adicionadas ao material em respeito às normas de publicação no que tange os direitos autorais, mas algumas imagens, incluindo duas do abecedário e uma do limerique discutidos aqui, estão disponibilizadas online.
  • 17
    Nooriginal: “To generalize, pictorial elements can receive stronger or weaker ‘stress’ than other elements in their immediate vicinity, and so become more or less important ‘items of information’ in the whole” (Kress; Leeuwen, 2006KRESS, Gunther; LEEUWEN, Theo. Reading Images: The Grammar of Visual Design. 2. ed. New York: Routledge, 2006., p. 176).

Parecer I

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer I

Avaliei com muito interesse, atenção e curiosidade o artigo “Uma análise sobre os gêneros abecedário e limerique na literatura infantil: os livros ilustrados de Edward Gorey/ Analysis on the children’s literature genres abecedarium and limerick: the illustrated books by Edward Gorey”.

Globalmente, considero-o um trabalho sério e meritório, revestindo-se de originalidade e constituindo um contributo válido para a área de estudos/campo de conhecimento no qual se inscreve.

O tópico proposto é desenvolvido de forma coerente e sustentada. A sua problematização revela conhecimento de importante bibliografia. Observa-se, no entanto, algumas faltas de monta neste domínio. De referir, apenas a título exemplificativo, os seguintes títulos que, na nossa perspectiva, muito poderão contribuir para uma abordagem mais sustentada da temática:

  • a) sobre os abecedários ou os livros-alfabeto:
    • - Marta Sanjuán Álvarez, “Illustrated alphabet-books as aesthetic and literary "artifacts": An approach to its poetics” January 2015 DOI: 10.18239/ocnos-2015.14.04

    • - https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/62174

    • - https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/65992

  • b) sobre Edward Gorey, por exemplo:
    • - Kevin Shortsleeve, “Edward Gorey, Children's Literature, and Nonsense Verse”, in Children's Literature Association Quarterly, Volume 27, Number 1, Spring 2002, p. 27-39

    • - “A Melancholy Meditation on the False Millennium: Time, nonsense, and humour in the works of Edward Gorey” - disponível em https://www.researchgate.net/profile/Nikola-Novakovic-4/publication/366267320_A_Melancholy_Meditation_on_the_False_Millennium_Time_nonsense_and_humour_in_the_works_of_Edward_Gorey/links/639b53e6e42faa7e75c58d36/A-Melancholy-Meditation-on-the-False-Millennium-Time-nonsense-and-humour-in-the-works-of-Edward-Gorey.pdf

O estudo ganharia, ainda, em consistência se apresentasse uma abordagem sucinta dos aspectos que aproximam e distanciam a produção literária/artística do autor eleito dos demais autores (em concreto, da literatura de potencial recepção infantil) seus contemporâneos. Outro aspecto a contemplar seria a referência mais objectiva e sistemática aos aspectos que singularizam o abecedário e o limerique de Gorey relativamente a outros objectos de autoria diversa situados nas tipologias em causa.

Um aspecto a merecer aprimoramento reside na pontuação do texto e, até, na adequação de alguns vocábulos. É necessária uma revisão linguística atenta, de pormenor.

Revistos os aspectos supramencionados, o artigo terá condições para ser publicado. APROVADO COM RESTRIÇÕES [Revisado]

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    01 Fev 2024

Parecer III

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Parecer III

A versão revista do artigo em avaliação apresenta-se consentânea com as sugestões anteriormente enunciadas, evidenciando uma expansão e aprimoramento (bibliográfico, por exemplo) de aspectos relevantes. Responde, portanto, às indicações afectuadas. APROVADO

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    22 Fev 2024

Disponibilidade de dados

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2024

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2023
  • Aceito
    19 Mar 2024
LAEL/PUC-SP (Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Rua Monte Alegre, 984 , 05014-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 3258-4383 - São Paulo - SP - Brazil
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