Este artigo analisa as condições da gênese da dança do chicote dos Wayana no século XIX, objetivando o que Terence Turner definiu como "etno-etnohistória", por meio do método que Neil Whitehead postulou como "etnografia da consciência histórica". Este estudo esboça uma consciência histórica indígena da sociedade contemporânea na Guiana, relacionada a eventos ocorridos no passado, associando coisas, lugares e pessoas envolvidas no ritual da dança do chicote. O artigo discute a dança do chicote do leste das Guianas como um campo social de interação em três regiões e em três períodos distintos: (1) a bacia do alto Maroni (Guiana Francesa e Suriname), no começo do século XXI; (2) a área do Contestado Franco-Brasileiro (atual estado brasileiro do Amapá), no século XIX; e (3) a postulada origem dessa 'mito-estória' no baixo Amazonas, durante o século XVI. Ao invés de realizar uma pesquisa sobre uma 'tradição desaparecida', esses três estudos de caso contribuem para o conhecimento do processo pelo qual o povo indígena Wayana estabeleceu a historicidade de seu primeiro contato na Guiana, através da performance ritual e da materialização do espírito maligno Tamok.
Etnohistória; Histórias da Amazônia; Leste das Guianas; Wayana; Prática ritual; Materialidade