Resumo
O artigo procura organizar, analisar e elucidar lacunas e controvérsias concernentes às terminologias de parentesco Guarani. Inicia-se com o exame dos primeiros registros de vocabulário do século dezessete, apontando discrepâncias no trabalho realizado por Lafone Quevedo de tradução e análise dessas fontes. Em seguida, apresenta-se uma revisão de pesquisas contemporâneas, em que os Guarani no Brasil, na Argentina e no Paraguai são divididos em subgrupos distintos: Kaiowa, Mbya e Nhandeva. A comparação das respectivas terminologias traça um mapa das posições de parentesco que faltam ser esclarecidas, com semelhanças que conectam as três variantes e importantes divergências nas nomenclaturas de um mesmo subgrupo. Na tentativa de encontrar peças que faltam nesse quebra-cabeça, novos dados da terminologia Mbya, adquiridos por meio de pesquisa etnográfica e métodos computacionais, permitem identificar o conjunto completo de posições de parentesco, inclusive aquelas aplicadas a parentes com conexões genealógicas mais distantes. Essa terminologia inclui torções geracionais que revelam conexões com o vocabulário Guarani do século dezessete, recuperando laços históricos anteriormente ignorados. Essas obliquidades também elucidam divergências na nomenclatura Kaiowa. O artigo conclui que os Mbya e Kaiowa compartilham a mesma estrutura semântica de parentesco, de tipo iroquês, oferecendo, deste ponto de vista, evidência contrária à divisão tripartite dos Guarani.
Keywords
Parentesco; Terminologia; Guarani; Antropologia e métodos computacionais