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Coleções de aranhas, redes científicas e política: a teia da vida de Cândido de Mello Leitão (1886-1948)

Collections of spiders, scientific networks, and politics: the web of life of Cândido de Mello Leitão (1886-1948)

Resumos

Cândido de Mello Leitão (1886-1948) iniciou sua carreira como médico pediatra. Sua extrema dedicação ao estudo das aranhas o tornou um dos maiores aracnólogos de seu tempo, amplamente reconhecido por seus pares. Este artigo analisa alguns aspectos de sua trajetória profissional norteado pela seguinte pergunta: como um biólogo se formava na primeira metade do século XX no Brasil, época em que inexistiam cursos específicos de ciências biológicas e a profissão não era oficialmente reconhecida? Os resultados da pesquisa - realizada em livros, jornais e documentos pessoais de Mello Leitão - mostram como essa especialização surgiu no entrecruzamento entre as experiências práticas vividas em várias instituições científicas, as relações de colaboração nacionais e internacionais e o devir das condições sociais e históricas. Estudioso de aranhas, Mello Leitão era realmente grande conhecedor de redes, e foi nelas que se formou. No seio dessas relações pessoais e institucionais, construiu e divulgou conhecimentos, projetou papéis para si e seus colegas, para as diversas instituições nas quais atuou e para a biologia que praticou.

História da biologia; Aracnologia; Cândido de Mello Leitão; Cooperação científica; Museu Nacional do Rio de Janeiro; Academia Brasileira de Ciências


Cândido de Mello Leitão (1886-1948) started his career as a pediatrician. Being extremely dedicated to the study of spiders, he became one of the greatest arachnologists of his time, and earned wide recognition from his peers. The present article deals with some aspects of his career, while trying to address the question of how one could become a biologist in Brazil in the first half of the 20th century, when there were no graduation courses in Biology and the profession held no official recognition. Research conducted on books, newspapers and Mello Leitão's personal documents has shown how this specialization came to being in the crossroads of practical experiences in various scientific institutions, national and international collaboration and the changing social-historic conditions. A spider expert, Mello Leitão had great knowledge on webs that allowed him to become a biologist. Amid these personal and institutional relationships, he built and spread knowledge, and carved a role for himself, his colleagues, the institutions he worked in and the biology he practiced.

History of Biology; Aracnology; Cândido de Mello Leitão; Scientific cooperation; National Museum of Rio de Janeiro; Brazilian Academy of Sciences


ARTIGOS

Coleções de aranhas, redes científicas e política: a teia da vida de Cândido de Mello Leitão (1886-1948)

Collections of spiders, scientific networks, and politics: the web of life of Cândido de Mello Leitão (1886-1948)

Regina Horta Duarte

Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil (reginahd@uai.com.br)

RESUMO

Cândido de Mello Leitão (1886-1948) iniciou sua carreira como médico pediatra. Sua extrema dedicação ao estudo das aranhas o tornou um dos maiores aracnólogos de seu tempo, amplamente reconhecido por seus pares. Este artigo analisa alguns aspectos de sua trajetória profissional norteado pela seguinte pergunta: como um biólogo se formava na primeira metade do século XX no Brasil, época em que inexistiam cursos específicos de ciências biológicas e a profissão não era oficialmente reconhecida? Os resultados da pesquisa – realizada em livros, jornais e documentos pessoais de Mello Leitão – mostram como essa especialização surgiu no entrecruzamento entre as experiências práticas vividas em várias instituições científicas, as relações de colaboração nacionais e internacionais e o devir das condições sociais e históricas. Estudioso de aranhas, Mello Leitão era realmente grande conhecedor de redes, e foi nelas que se formou. No seio dessas relações pessoais e institucionais, construiu e divulgou conhecimentos, projetou papéis para si e seus colegas, para as diversas instituições nas quais atuou e para a biologia que praticou.

Palavras-chave: História da biologia. Aracnologia. Cândido de Mello Leitão. Cooperação científica. Museu Nacional do Rio de Janeiro. Academia Brasileira de Ciências.

ABSTRACT

Cândido de Mello Leitão (1886-1948) started his career as a pediatrician. Being extremely dedicated to the study of spiders, he became one of the greatest arachnologists of his time, and earned wide recognition from his peers. The present article deals with some aspects of his career, while trying to address the question of how one could become a biologist in Brazil in the first half of the 20th century, when there were no graduation courses in Biology and the profession held no official recognition. Research conducted on books, newspapers and Mello Leitão's personal documents has shown how this specialization came to being in the crossroads of practical experiences in various scientific institutions, national and international collaboration and the changing social-historic conditions. A spider expert, Mello Leitão had great knowledge on webs that allowed him to become a biologist. Amid these personal and institutional relationships, he built and spread knowledge, and carved a role for himself, his colleagues, the institutions he worked in and the biology he practiced.

Keywords: History of Biology. Aracnology. Cândido de Mello Leitão. Scientific cooperation. National Museum of Rio de Janeiro. Brazilian Academy of Sciences.

INTRODUÇÃO

Em junho de 1949, a Academia Brasileira de Ciências reuniu-se para homenagear Cândido Firmino de Mello Leitão, um de seus membros mais ativos e ilustres, falecido em dezembro do ano anterior. Vários colegas se manifestaram através de saudações escritas, todas destacando o alto valor de Mello Leitão: Edgard Roquette-Pinto, membro fundador da Academia, destacou o brilho do colega no ensino, na pesquisa e nos ensaios de divulgação científica escritos no melhor estilo literário. O entomólogo Angelo Moreira da Costa Lima também enviou longa carta emocionada, relembrando os anos de convivência e amizade. Várias mensagens foram ainda recebidas e lidas na cerimônia, oriundas de várias partes do mundo, assinadas por zoólogos como o francês Lucien Berland, do Museu de Historia Natural de Paris; o britânico William Syer Bristowe; o estadunidense Allan F. Archer, do University of Alabama Museum of Natural History; C. Roewer, de Bremen; Richard Foster, do Canterbury Museum, na Nova Zelândia; Vernan Victor Hickman, biólogo da University of Tasmânia, entre outros. O filho do cientista tomou a palavra e leu as manifestações de Ergasto Cordeiro, do Museu de História Natural de Montevidéu, e Alexander Petrunkevitch, destacado aracnólogo russo radicado nos Estados Unidos da América, membro do Peabody Museum of Natural History, da Yale University. Narrou ainda um evento expressivo do reconhecimento internacional do pai: poucos meses antes de morrer, e já debilitado pelo câncer, Mello Leitão viajara aos Estados Unidos para tentar tratar-se. Petrunkevitch o visitara, recomendando aos médicos que o assistiam: "cuidem dele, pois é o maior aracnólogo de seu tempo"1 1 Ata da Seção Ordinária da Academia Brasileira de Ciências, 12 jul. 1949. Pasta de Cândido de Mello Leitão, folhas não numeradas. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. .

Mello Leitão era membro da Academia desde 1917, um ano após a fundação dessa instituição, inicialmente denominada Sociedade Brasileira de Ciências. Desde então, participou ativamente de suas atividades, ocupando os cargos de vice-presidente em 1937-1939 e presidente em 1943-1945. Nascido em 1886, em Campina Grande, Paraíba, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1908. Inicialmente, trabalhou como pediatra (Franco e Drummond, 2006, p. 1267). Entretanto, sua paixão pelos aracnídeos levou-o a dedicar-se à biologia. Em poucos anos, alcançaria amplo reconhecimento nacional e internacional como aracnólogo. Durante a homenagem póstuma, sua viúva anunciou uma decisão reveladora da importância dada por Mello Leitão às suas atividades científicas: apesar de ter vivido modestamente, o aracnólogo destinara os juros de 500 apólices da Dívida Pública Federal para instituir o Prêmio Mello Leitão, pelo qual a Academia elegeria, periodicamente, o melhor trabalho de zoologia ou zoogeografia, cujo autor receberia uma medalha de ouro2 2 Ata da Seção Ordinária da Academia Brasileira de Ciências, 12 jul. 1949. Pasta de Cândido de Mello Leitão, folhas não numeradas. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. .

A trajetória de Mello Leitão é um caso exemplar de como alguém se tornava um biólogo no Brasil nas primeiras décadas do século XX. Ao mesmo tempo, surge, em sua extrema singularidade, como uma exceção, uma raridade. Não havia cursos específicos de formação de biólogos, e essa profissão não era regulamentada (só o seria, no Brasil, em 1979, pela Lei 6.684, de 3 de setembro de 1979). Nos currículos escolares, predominava o uso do termo 'história natural', também frequente nos títulos dos manuais didáticos. Mello Leitão, como tantos outros contemporâneos, formou-se quase como um autodidata nos estudos da biologia. Inicialmente coletava aranhas, mas logo estabeleceu ampla rede de contato com naturalistas e entomólogos diversos. Ao longo dos anos, avançou além da classificação científica e dos conhecimentos morfológicos. Alargou sua perspectiva do estudo das aranhas como seres vivos, e foi pioneiro na abordagem biogeográfica no Brasil. Sua perspectiva extrapolou o campo da história natural e constituiu-se como saber biológico altamente especializado.

Sua formação como aracnólogo realizou-se numa rede de contatos científicos, pertencimentos institucionais e atividades didáticas e científicas. Em 1913, assumiu a cadeira de Zoologia na Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária. Como visto anteriormente, entrou para a Academia Brasileira de Ciências em 1917. Em 1923, tornou-se professor de Historia Natural na Escola Normal do Rio de Janeiro (depois Instituto de Educação). Em 1931, já consagrado como especialista em aranhas, ingressou no Museu Nacional como chefe da seção de Zoologia, dispensado de concurso público – como previsto no regulamento dessa instituição – pelo seu notório saber e pela importância de suas publicações na área. Em 1937, por decisão do governo de Getúlio Vargas contra o acúmulo de cargos públicos, deixou o Museu, optando pela Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária. A partir de 1939, tornou-se professor em diferentes cursos da Universidade do Brasil – Filosofia, Veterinária, Agronomia – sempre ocupando cátedras de Zoologia3 3 Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 42-43. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. .

A trajetória de Mello Leitão deve ser compreendida no âmbito de certas condições históricas. Sua identidade como biólogo se fez na interseção de redes relacionais científicas e de práticas diversas. Será argumentada a pertinência de se falar na existência da biologia como área de conhecimento científico no Brasil na primeira metade do século XX. A biologia instituiu-se nas atividades de pesquisa e divulgação de estudiosos dedicados à natureza que – em diálogo com uma série de transformações históricas e sociais e visando responder aos desafios de seu tempo – privilegiaram o estudo dos seres vivos. Para eles, as exsicatas, insetos arrumados e animais empalhados nos armários e estantes do Museu Nacional pareciam apenas uma primeira etapa do conhecimento, à qual se seguiria uma abordagem mais complexa, configurada como estudo da vida. A história natural lhes parecia insuficiente para responder às questões que se colocavam, insatisfatória para as tarefas que queriam empreender e para o papel que desejavam ocupar na sociedade (Duarte, 2009b, p. 21-36).

Na sequência, serão abordadas as redes internacionais nas quais as atividades de Mello Leitão como aracnólogo se inseriram, em instigantes entrecruzamentos com as políticas de relações exteriores brasileiras. Em seguida, será focado o ápice de seu reconhecimento nacional, ao alcançar a presidência da Academia Brasileira de Ciências, além das práticas de divulgação do conhecimento científico, assim como a escrita de livros didáticos. O pesquisador conciliava sua excelência acadêmica com preocupações didáticas direcionadas à formação de jovens colegiais e normalistas. Em todas essas ações, Mello Leitão exerceu a biologia como militância, apostando não apenas no caráter transformador do conhecimento, mas também no papel estratégico a ser exercido pelos biólogos. Reafirmava, assim, a noção, corrente entre seus contemporâneos, de uma república dos cientistas, guias confiáveis dos governos e das populações, num tempo em que homens como ele idealizaram uma 'era da biologia' (Pauly, 2002, p. 3-7, 166-169, 171-189; Mitman, 1992, p. 45-71).

REDES CIENTÍFICAS

Em 1949, a coleção "Biblioteca de autores brasileños traducidos al castellano" editou seu décimo segundo volume: "La vida en la selva", de Mello Leitão, dava sequência a uma seleção que incluía autores como Euclides da Cunha e Gilberto Freyre. A apresentação ficou a cargo de Federico Daus (1901-1988), grande geógrafo argentino, professor e autor de algumas obras clássicas sobre seu país. A edição era póstuma, pois Mello Leitão falecera em dezembro de 1948, após grave doença. Daus lamentava que um dos "nomes mais prestigiados da intelectualidade", dono de "afamado renome universal", reconhecido pelos maiores entomólogos argentinos, autor de obra "copiosa e polimorfa", tivesse desaparecido quando essa edição se achava praticamente pronta. Após apresentar alguns dados biográficos do aracnólogo, Daus elogiava o valor científico das páginas de "La vida en la selva", aliado à sua alta qualidade literária, ao clima emocional, a descrições sensíveis e sagazes (Daus, 1949, p. 7-12). Mello Leitão era, até então, autor provavelmente desconhecido do grande público leitor argentino, mas certamente não o era nos meios acadêmicos, pois tivera longo e profícuo contato com várias instituições e pesquisadores desse país, assim como de outros países da América Latina, da Europa e dos Estados Unidos.

No "Livro de minha vida", autobiografia escrita à mão para ser lida por seus netos, Mello Leitão realizou um balanço de sua vida profissional. Atingiu o pleno reconhecimento de seus pares, recebendo diversas homenagens mediante a nomeação de nove gêneros, assim como de 23 novas espécies descritas por cientistas da Argentina, Inglaterra, Alemanha, Brasil, Suíça, Uruguai, Itália e Letônia4 4 Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 46-47. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. . Publicou copiosamente: quinze artigos na área de medicina, 117 artigos de divulgação em revistas e jornais, 212 textos especializados em zoologia em periódicos científicos, dez livros didáticos de biologia, três teses, quatro traduções de livros, um glossário de biologia, cinco livros na série "Brasiliana" e dois na série "Iniciação Científica", ambas da Biblioteca Pedagógica. Estreou na aracnologia em artigo de 1915, na revista "Brotéria", série Zoologia, de Braga, Portugal, onde também anunciava propostas de envio de aracnídeos pelo correio (Mello Leitão, 1915a, 1915b). Ao longo dos anos, seguiu realizando contatos com pesquisadores, trocando exemplares, atuando como correspondente de inúmeras instituições científicas. Mello Leitão construiu invejável rede de relações, através das quais seria conhecido em vários países do mundo. Na realidade, sua carreira é exemplo importante não só de trajetória individual de especialização científica, mas também da constituição de um campo de conhecimento específico da biologia no Brasil: iniciou suas atividades na medicina, encaminhou-se para a fronteira entre história natural, educação e biologia e consolidou-se como biólogo especializado em aracnídeos e professor universitário de zoologia.

As viagens para congressos e intercâmbios tiveram papel importante nesse processo. Mello Leitão foi à Europa em 1926 e realizou estágios em clínicas médicas pediátricas e também no Museu de História Natural de Paris, onde conheceu zoólogos de excelência, com vários dos quais manteve correspondência5 5 "A viagem de estudos de um pediatra brasileiro: parte amanhã para a Europa o Dr. Mello Leitão". A Vanguarda, Rio de Janeiro, 12 abr. 1926. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN, DR.3. . Não obstante a importância dessa estadia, sua entrada no Museu Nacional seria decisiva para os contatos internacionais. Logo após sua admissão por essa instituição, Mello Leitão foi designado para representar o Brasil na primeira turma de Intercâmbio Cultural entre Brasil e Uruguai.

O intercâmbio resultou de tratado assinado em 1918 para o resgate de uma dívida do Uruguai com o Brasil. Além da construção de uma ponte entre os dois países, iniciada em 1927 e inaugurada em 1930, destinou-se uma verba ao pagamento de viagens de aproximação cultural (Matos, 2008, p. 9, 21-27, 33-83). A primeira comissão brasileira, nomeada pelo Ministério de Educação e Saúde Pública, era composta por Humberto de Campos (membro da Academia Brasileira de Letras), a escritora Rosalina Coelho Lisboa, Armanda Álvaro Alberto (membro da Associação Brasileira de Educação), Renato Pacheco (médico e presidente da Confederação Brasileira de Desportos), Ernani Lopes (presidente da Liga de Higiene Mental) e Mello Leitão, do Museu Nacional e da Escola Normal do Rio de Janeiro (Intercambio..., 1931, p. 12)6 6 Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 26. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. .

Mello Leitão chegou a Montevidéu no dia 23 de outubro. Sua principal missão era observar o ensino secundário do Uruguai. Para tanto, visitou vários institutos de ensino preparatório, secundário e normal e associações de professores, deu aulas na Universidade de Montevidéu, realizou conferência sobre "A vida maravilhosa das aranhas" e foi comparado a Jean Henri Fabre e a Maurice Maeterlinck pela imprensa uruguaia7 7 "Conferencias". El Imparcial, Montevideo, 30 out. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2; Nota (1931). . Em todas as suas visitas, Mello Leitão insistiu na necessidade de aproximação intelectual entre Brasil e Uruguai, com intercâmbio de valores intelectuais, científicos, literários, políticos e pedagógicos. Mencionava a política exterior do Barão de Rio Branco em direção a uma solidariedade continental. Declarou-se encantado com tudo o que viu: chegara brasileiro ao Uruguai e retornava inteiramente uruguaio ao Brasil. O desejo de aproximação deveria estender-se a outros países da América do Sul, que muitas vezes se desconheciam, mais atentos e ligados à Europa do que a seus vizinhos. Seria preciso trabalhar pelo "resultado inestimável de formar grandes famílias intelectuais" em direção a "um futuro excepcional da nova América", em que "irmãos" igualariam a obra realizada por outros continentes8 8 "Un rato de amena conversación con el destacado intelectual brasileño". El Imparcial, Montevideo, 4 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2; "Con el Profesor Mello Leitão, embajador de la intelectualidad brasileña". El Debate, Montevideo, 28 out. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2. .

A menção a Rio Branco mostra a sintonia de Mello Leitão às tendências então predominantes na política externa do Governo Provisório, instalado em 1930 sob a liderança de Getúlio Vargas. Inicialmente, houve grande continuidade com as políticas pan-americanistas estabelecidas por aquele diplomata com o objetivo de superar o isolamento do Brasil na América Latina, com destaque para a região do rio da Prata (Cervo e Bueno, 1986, p. 71). Os mesmos jornais que acompanharam a presença da comitiva de intelectuais brasileiros em Montevidéu, Buenos Aires e La Plata noticiaram, poucas semanas depois, a conferência de Argentina, Brasil e Uruguai, realizada em dezembro de 1931, visando à defesa das condições de comercialização dos produtos pecuários procedentes desses países nos mercados internacionais (La Conferencia..., 1931, p. 1).

A viagem atendia expectativas já antigas de Mello Leitão. Desde 1920, além de vários estudos sobre aracnídeos brasileiros, publicara oito artigos sobre espécimes de ocorrência sul-americana. Estabeleceu contatos com o Museu de História Natural Bernardino Rivadávia, em Buenos Aires, de onde recebia vários exemplares argentinos para determinação. Em 1929, conhecera, em evento na Academia Nacional de Medicina, no Brasil, o entomólogo Ergasto Cordero, de Montevidéu, e o fisiologista Bernardo Houssay, de Buenos Aires. Graças à viagem de intercâmbio, em 1931, teve a chance de aprofundar essas relações e, com esse intuito, seguiu para Buenos Aires por conta própria, assim que suas atividades no Uruguai terminaram. Uma vez na capital argentina, visitou o Museu de História Natural, onde foi recebido em seção extraordinária e realizou a conferência "Zoogeografia de los opiliones sudamericanos". Conheceu pessoalmente vários entomólogos, com destaque para José Canals, e iniciou profícua colaboração com esse e outros pesquisadores, aprofundada nos anos seguintes9 9 Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 27-28. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro; "Hoy se realizara um acto em honor del aracnologo brasileño Dr. Mello Leitão". La Prensa, Buenos Aires, 4 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2; "Museu Nacional de Historia Natural ofrecerá hoy una recepción al doctor Mello Leitão". La Nación, Buenos Aires, 4 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2. .

Em 1935, Mello Leitão viajou para a Europa, nomeado pelo Ministério da Agricultura para representar o Brasil em eventos em Madri e Lisboa, onde participou do VI Congresso Internacional de Entomologia e do XII Congresso Internacional de Zoologia, respectivamente. O patrocínio do Ministério da Agricultura explicava-se certamente pela valorização política das aplicações práticas da entomologia nos problemas agrícolas. No evento em Lisboa, Mello Leitão conseguiu fazer aprovar a proposta de um XIII Congresso Internacional de Zoologia no Rio de Janeiro, mas não logrou efetivá-la ao retornar ao Brasil, que, segundo ele, perdeu "essa magnífica oportunidade" pelo desinteresse de todos quando de seu retorno10 10 Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 31. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. . Logo após essa viagem, Mello Leitão foi agraciado com vários títulos que demonstram sua crescente projeção: tornou-se membro correspondente da Academia Chilena de Ciências Naturais (1936), do Museu de La Plata (1936), da Societé Scientifique du Chili (1937), além de ter recebido coleções de aranhas do Museu de Basileia, e de opiliões do Museu de Barcelona para classificar11 11 Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 31, 44. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. . A viagem trouxe outro saldo importante para o aracnólogo: participou de uma série de debates sobre zoogeografia, aumentando ainda mais seu interesse pelo tema. Em 1937, publicou "Zoogeografia do Brasil", pela Coleção Brasiliana, que teria ainda uma reedição ampliada e modificada em 1943, fruto do aprofundamento dos estudos do autor nessa área (Mello Leitão, 1937a, 1943a).

Em abril de 1937, Mello Leitão foi designado novamente pelo Ministério da Agricultura, assim como pelo Museu Nacional, para a II Reunión de Ciencias Naturales, em Mendoza, Argentina, evento que o projetaria definitivamente na rede internacional de aracnologia e fortaleceria seus laços com a comunidade científica latino-americana.

O evento dividiu-se em várias seções. Na seção de Zoologia de Invertebrados, com o maior número de trabalhos apresentados no evento, Mello Leitão não era o único brasileiro, mas assumiu o papel de organizador das colaborações de seu país. Houve cinco reuniões de apresentação de trabalho, nas quais Mello Leitão teve papel verdadeiramente destacado. Foi o primeiro a falar, versando sobre a zoogeografia de aranhas argentinas. Nas mesas seguintes, apresentou quatro trabalhos e, segundo as atas das seções, foi o único congressista da Zoologia de Invertebrados "largamente aplaudido" em suas exposições (Nota..., 1938, p. 376; Acta, 1939, p. xi-xx).

Ao final dos trabalhos, Mello Leitão foi designado para representar o Museu de La Plata no VII Congresso Internacional de Entomologia, que seria realizado em Berlim, em 1938. A despeito da tensa situação na Alemanha – e 1938 seria um ano especialmente terrível pela radicalização na perseguição aos judeus e na política expansionista –, a indicação foi uma homenagem: Mello Leitão passou a ser reconhecido entre os maiores especialistas em espécies de aranhas sul-americanas. Suas colaborações científicas foram responsáveis pela descrição de 450 novas espécies existentes na Argentina, o que representava, quando de sua morte, em dezembro de 1948, a metade das aranhas conhecidas naquele país (Parodiz, 1949, p. 205-206).

A escolha de Mello Leitão como representante do Museu de La Plata no evento em Berlim ocorreu no momento em que a política externa do Brasil guiava-se por uma aproximação com a Alemanha. Não há maiores esclarecimentos nas atas sobre a postura do pesquisador ou dos demais participantes do evento em torno da sua escolha, mas ela deve ter sido, imediatamente após seu retorno da Argentina, muito bem recebida pelo governo brasileiro. Desde 1934, cresciam as relações comerciais entre Brasil e Alemanha. Em 1935, estabeleceu-se colaboração germano-brasileira de combate ao comunismo. O Governo Vargas oscilava entre o alinhamento aos Estados Unidos da América – que acenava com práticas fundadas no livre comércio e no culto da democracia liberal – e à Alemanha. Esta última, "carente de divisas, buscava no comércio compensado (troca de mercadorias sem intermediação de moeda forte), e no culto ao autoritarismo nacionalista conquistar espaços na região latino-americana" (Pinheiro, 2004, p. 22-23).

No momento em que a indicação de Mello Leitão foi feita – abril de 1937 –, as relações internacionais entre Brasil e Alemanha encontravam-se fortalecidas. Poucos meses depois, o golpe de novembro de 1937 foi comemorado entusiasticamente pela imprensa alemã, ao mesmo tempo em que estremeciam as relações do Brasil com os Estados Unidos. Não obstante, o flerte com a Alemanha sofreria abalos nos meses seguintes. Osvaldo Aranha, indicado ministro das Relações Exteriores em março de 1938, estava decidido a uma aproximação efetiva com os Estados Unidos e exigiu de Vargas essa posição para o Brasil. Seus argumentos encontraram no ditador um ouvinte atento e incomodado com as notícias de manifestações nazistas nos estados do sul do Brasil, assim como de planos da Alemanha para essa região, onde viviam muitos imigrantes vindos desse país. Em 1938, os sinais crescentes da política do governo alemão de proteção aos seus elementos – onde quer que eles estivessem – desagradou o governo brasileiro. Os nazistas haviam organizado um ramo brasileiro, sediado em São Paulo e com representantes em outros estados com colônias germânicas. A partir de abril de 1938, Vargas tomou várias medidas, proibindo aos estrangeiros as atividades políticas, nacionalizando o ensino, exigindo o uso do português nas escolas e proibindo o recebimento, por estabelecimentos de ensino, de auxílios financeiros externos (Rodrigues e Seitenfus, 1995, p. 347-389). Esse foi o contexto específico no qual a viagem de Mello Leitão a Berlim não se concretizou. Mesmo assim, publicou seu trabalho nos Anais do evento, e sua designação consta nos dados biográficos em sua pasta da Academia Brasileira de Ciências (Mello Leitão, 1939b, p. 292-302).

Durante o evento em Mendoza, a postura de Mello Leitão foi marcada pela ambiguidade, tal como a política externa brasileira daqueles anos. Aceitou a indicação para ir a Berlim, ao mesmo tempo em que insistiu, nas entrevistas e nos eventos sociais, na perspectiva da criação de laços americanos. Declarava-se encantado com tudo: elogiava a natureza do país, a beleza da cidade de Mendoza, a organização do evento, o mérito dos investigadores, a fertilidade da terra e a profusão das viticulturas, como também a importância da indústria vinícola. Concluiu sua fala com o "voto augural de confraternidade americana"12 12 Ver, ainda, "Cinco minutos de conversación con la más alta autoridad em arañas". La Libertad, Mendoza, 11 abr. 1937. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.3. (Notas..., 1939, p. 63).

A viagem rendeu frutos profissionais. Nos anos seguintes, Mello Leitão seria aceito como membro correspondente da Sociedade Científica de Valparaíso (1938), da Academia Colombiana de Ciências (1939) e da Academia Nacional de Ciências em Córdoba, na Argentina (1940). A sua produção científica nesse período é também expressiva da intensidade e do reconhecimento de sua atuação. A década de 1940 foi o período de maior destaque nas suas publicações científicas na área de zoologia. O alto número de artigos em periódicos brasileiros apresentou grande regularidade ao longo de toda a década. No caso das contribuições em periódicos estrangeiros, o aumento mais significativo de artigos sobre zoologia ocorreu pouco depois dos congressos internacionais em 1935 e 1937, evidenciando como esses eventos foram importantes em sua projeção13 13 Ver, ainda, Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 52-69. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. (Kury e Baptista, 2004, p. 1-17). A publicação de artigos de divulgação atinge um pico na época da "Revista Nacional de Educação" (Duarte, 2004, p. 33-56), sem alcançar os níveis de 1922-1923, quando Mello Leitão assinava uma coluna de divulgação científica no jornal "O Imparcial", do Rio de Janeiro. A saída do Museu Nacional e a escolha da Escola Superior de Agricultura realizaram-se no mesmo ano em que o aracnólogo voltou de Mendoza. O Museu perdeu um de seus pesquisadores mais destacados nacional e internacionalmente, além de ter sido, até então, colaborador incansável nas atividades de divulgação científica daquela instituição.

Mello Leitão continuaria a relacionar-se com o Museu por toda a vida. Além de ter sido indicado como membro honorário pela sua congregação, utilizava-se frequentemente da biblioteca, publicava em seu periódico, manteve intensa colaboração científica com seu ex-discípulo, José de Araújo Feio (também entomólogo, que se tornaria diretor do Museu anos mais tarde, em 1967), e mandava sempre várias cópias de separatas de suas publicações. Em 1938, o Museu intermediou os contatos entre Mello Leitão e o Museu Britânico, que remeteu uma coleção de insetos (proscopídeos) para determinação por esse especialista14 14 Torres, Heloísa Alberto. Ofício n. 310 ao Exmo. Snr. Embaixador da Inglaterra, de 24 jun. 1938. SEMEAR/UFRJ, BR MN MN DR. . Em 1944, enviou, a título de presente de Natal para a instituição, algumas espécies de aracnídeos até então inexistentes nas suas coleções. No cartão de tom afetuoso, dirigido à diretora Heloísa Alberto Torres, Mello Leitão assinava como "velho amigo"15 15 Mello Leitão, Cândido de. Cartão para Heloísa Alberto Torres, 15 dez. 1944. SEMEAR/UFJR, JF.O.MN, 20. .

O pesquisador deixou no Museu também alguns pertences pessoais. No arquivo de Feio encontram-se dois álbuns encadernados. Num deles, encontram-se recortes de inúmeros artigos de jornais de autoria de Mello Leitão entre 1922 e 1926, cuidadosamente colados e datados, a maior parte sem identificação do periódico de origem. No outro, em ordem cronológica, o organizador recortou, datou, colou e identificou a origem de inúmeras reportagens em que o aracnólogo é entrevistado ou noticiado, no Brasil e em outros países por onde viajou. As reportagens abrangem o período entre 1925 e 1945, o que mostra que o livro foi deixado ali muito depois de sua saída – por ele próprio ou por algum membro de sua família –, na intenção consciente de documentar sua trajetória e, sobretudo, argumentar a importância de sua obra e sua carreira.

Nesse segundo livro, encontram-se várias reportagens e fotos de sua última viagem internacional, realizada em 1945. O mundo respirava novos ares: Berlim já havia sido conquistada aos nazistas e o Japão mal anunciara sua rendição quando a comitiva brasileira, integrada por Mello Leitão, chegou a Montevidéu, no dia 3 de setembro. A razão da viagem era a mesma daquela realizada em 1931, pois atendia ao intercâmbio cultural Brasil-Uruguai previsto no tratado de 1918 entre os dois países. Mello Leitão integrara a primeira comitiva, logo no início do Governo Provisório, e agora compunha esta, que seria a última da 'Era Vargas', deposto poucas semanas depois, em 29 de outubro. O momento era de crescente desprestígio da ditadura do Estado Novo e Osvaldo Aranha se demitira do Ministério no ano anterior, em protesto contra a política repressiva do governo brasileiro.

Desta vez, os visitantes eram três, pois além do aracnólogo viajavam Maria Eugênia Celso, poetisa e neta de Afonso Celso, e Elmano Cardim, diretor do "Jornal do Commércio". Os jornais de Montevidéu anunciaram esta como a mais brilhante missão já realizada. O Senado uruguaio recebeu, pela primeira vez na história da República, intelectuais alheios ao corpo de parlamentares, e o discurso de Mello Leitão foi incluído nos seus "Anais". Os três brasileiros foram também recebidos em sessão especial no Atheneo, instituição cultural privada, independente do Estado e da Igreja e pioneira em várias inovações educativas de caráter laico na sociedade uruguaia16 16 "El profesor brasileño Dr. Candido Mello Leitão, su próxima visita". La Mañana, Montevideo, 23 ago. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Llego ayer la misión cultural brasileña". La Mañana, 4 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Visita de una misión cultural brasileña". El Mundo Uruguayo, Montevideo, s.d. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Inicia hoy su actuación la Embajada Cultural Brasileña". La Razón, Montevideo, 5 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Reunión en el Museo de H. Natural em Homenaje al Prof. de Mello Leitão". El Diário, Montevideo, 12 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3. (Estable, 1945, p. 947-950).

Mello Leitão realizou conferências no Instituto Histórico e Geográfico – abordando a exploração científica no nordeste brasileiro –, no Museu de História Natural – sobre os novos rumos da biogeografia – e na Faculdade de Medicina – onde realizou palestra sobre araneísmos. Foi recepcionado por várias autoridades, entre as quais o maior biólogo uruguaio da época, Clemente Estable. Foi homenageado especialmente no Museu de História Natural e no Instituto de Investigações Geográficas. A incumbência do Ministério do Exterior a Mello Leitão era a de avaliar as tarefas da propaganda intelectual do Brasil no Uruguai, porém, mais uma vez o pesquisador estendeu sua viagem a Buenos Aires, onde foi recebido com homenagens e com a inauguração de seu retrato na sala do Museu de História Natural. Conferenciou também no Museu de História Natural de La Plata, na Faculdade de Ciências e na Sociedade Entomológica Argentina, e encontrou-se com outros professores de zoologia desse país17 17 "Agasajo anoche el circulo de la prensa a intelectuales brasileños". La Nación, Buenos Aires, 26 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFJR BR MN JF.O.DR 3; "Hubo un acto en el Museo Argentino de Ciencias Naturales". La Nación, Buenos Aires, 27 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFJR BR MN JF.O.DR 3; Correspondência de Aloysio Mello Leitão a Feio. Out. 1945, SEMEAR/UFRJ, JF.O.MN, 2. 18/3. .

Aquele era um momento em que as relações do Brasil com outros países da América encontravam-se fortalecidas com o estabelecimento de uma política firmemente pan-americana pelo governo Vargas, após a superação da indefinição e da estratégia de "equidistância pragmática" que caracterizara os primeiros anos do Estado Novo (Cervo e Bueno, 1986, p. 72; Lemos, 2004, p. 75-82). Em janeiro de 1942, o país abandonara a neutralidade, rompendo oficialmente com o Eixo e posicionando-se com os Aliados. Em agosto de 1942, declarou guerra ao Eixo, e em 1944 enviou tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a luta na Itália.

No plano cultural, o movimento decisivo de aproximação com outros países americanos delineara-se antes, como expressa a fundação de "Pensamento da América", suplemento do jornal oficial do Estado Novo, "A Manhã", ambos editados "num projeto comum entre o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e intelectuais modernistas que ocupavam cargos chave na política varguista" (Beraba, 2008, p. 24). O suplemento atendia ao objetivo de servir à aproximação cultural entre os vários países do continente. Veiculava matérias sobre temas muito variados, como literatura, música, história, política e folclore, no intuito de refazer a imagem da América e aproximá-la dos brasileiros. Para tanto, existiu um movimento mais amplo de cooperação e intercâmbio internacionais, com o estímulo a "viagens, traduções de livros, bolsas de estudo, cursos de idioma, exposições de arte, concertos". Havia ainda a criação de cátedras universitárias e seções especiais nas bibliotecas, intercâmbio de livros e traduções de obras relevantes (Beraba, 2008, p. 146, 153).

Não se pode dizer, entretanto, que a aproximação empreendida desde o "Pensamento da América" tenha inaugurado um caminho completamente inédito na política externa latino-americana. Em 1936, a Conferência Interamericana pela Consolidação da Paz, em Buenos Aires, previra o intercâmbio de filmes educativos, publicações e obras de arte. Basta lembrar que a "Biblioteca de autores brasileños traducidos al castellano" (cujo décimo segundo volume é de Mello Leitão, como já citado) foi inaugurada em 1937. Note-se ainda que, desde que aceitou a pasta do Ministério das Relações Exteriores, em 1938, Osvaldo Aranha trabalhou com afinco pelo estabelecimento das relações pan-americanas, firmando uma série de acordos e convênios com Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Panamá, República Dominicana, Venezuela, Bolívia, Cuba e Peru. Em 1939, o Brasil participou da I Conferência Interamericana de Comissões Nacionais de Cooperação Intelectual, no Chile, onde foi representado pelos diplomatas Abelardo do Prado e Luz Pinto e por Roquette-Pinto, na época diretor do Instituto Nacional de Cinema Educativo (Beraba, 2008, p. 152).

No caso específico do Uruguai, o intercâmbio iniciou-se precocemente, e a viagem de 1931, integrada por Mello Leitão, inaugurou uma série de iniciativas. Em agosto de 1940, fundou-se o Instituto Uruguaio Brasileiro, em Montevidéu, com a organização de uma biblioteca e o estabelecimento de cursos de língua portuguesa. Os contatos foram tão bem sucedidos que os liceus uruguaios passaram a contar com o ensino (facultativo) de língua portuguesa, em julho de 1945 (Beraba, 2008, p. 165-166) – poucos meses, portanto, antes da chegada da missão do pesquisador.

Mello Leitão conhecia bem as aranhas existentes nos territórios uruguaio e argentino. Sua chegada a esses países, por ocasião das viagens em que representava o governo brasileiro, o levava imediatamente a ser recebido nas instituições de pesquisa entomológica, fosse ele visitante oficial – como no caso de Montevidéu – ou não – como em Buenos Aires e La Plata. Ali ele visitou pessoalmente os museus, conheceu as coleções, publicou em periódicos, participou de encontros com os cientistas locais e recebeu homenagens. Com suas correspondências e publicações, Mello Leitão inseriu-se em uma larga rede pan-americana em torno do conhecimento sobre aracnídeos e fortaleceu-a com sua ação. Enquanto Osvaldo Aranha assinava convênios culturais – até que se demitisse, em 1944 –, o cientista trocava aranhas, escorpiões e separatas de artigos com colegas dos mais variados países.

A leitura de pequenos textos introdutórios de seus artigos dimensiona a intensidade desse trânsito. Em 1931, Mello Leitão publicou artigo sobre aracnídeos argentinos, em que agradecia a Emílio Gemignani, do Museu Bernardino Rivadávia, de Buenos Aires, e a Carlos Bruch e José Canals, do Museu de la Plata, o envio de exemplares. Outro artigo, de 1939, agradecia a Mr. Richards, do Imperial College of Science and Technology, de Londres, o envio de pequena coleção de aranhas coletadas na Guiana Inglesa. O contato se renovaria em 1941. Pouco antes de sua morte, Mello Leitão publicaria artigo sobre trezentas aranhas da Guiana, enviadas diretamente pelo Museu Britânico, graças à gentileza do pesquisador E. Browing. Os exemplos são inúmeros e referem-se a localidades de outros países e de várias regiões do Brasil. A rede se ampliou consideravelmente a partir de 1940, à medida que Mello Leitão se afirmou como aracnológo internacionalmente respeitado. Em trabalhos de 1940, ele agradece a vários pesquisadores de Buenos Aires: a Ergasto Cordero pelos opiliões colhidos nos arredores de Caracas; ao professor Lizer y Trelles, por espécimes colhidos no Aconcágua, e a Ruiz Leal por opiliões vindos de várias localidades da Colômbia. Por gentileza da aracnóloga norte-americana Harriet Frizzell Don, ele recebeu aranhas de diferentes localidades do Peru, México e Equador, entre as quais descreveu várias novas espécies. De um padre naturalista da Colômbia, Nicéforo Maria, Mello Leitão recebeu uma coleção de aracnídeos colombianos cuja magnitude lhe permitiu montar um primeiro catálogo das aranhas da Colômbia, fauna ainda mal conhecida. Francisco Campos e Carlos Porter, professores do Equador e do Chile, enviaram-lhe aranhas em 1945. Após sua morte, uma das últimas publicações trouxe agradecimento a W. Weyrauch, do Instituto Agronômico de Tingo-Maria, do Peru, por uma pequena coleção de aracnídeos coletados em várias localidades daquele país (Mello Leitão, 1931, p. 83; 1939a, p. 105; 1940a, p. 93; 1940b, p. 301; 1941a, p. 165; 1941b, p. 233; 1941c, p. 319; 1941d, p. 175; 1942b, p. 305; 1943b, p. 1; 1944, p. 1; 1945a, p. 149; 1948, p. 151; Mello Leitão e Feio, 1949, p. 131).

O veículo para a divulgação dos seus artigos, assim como a escolha da língua em que foram publicados, são mais uma evidência do sucesso de Mello Leitão na rede internacional de pesquisadores. Dos seus 212 artigos de zoologia – dos quais 198 são específicos sobre aracnídeos –, 69 surgiram em periódicos estrangeiros e 61 em outras línguas – francês, espanhol ou inglês –, o que certamente facilitava tanto o acesso material aos artigos quanto a possibilidade de sua leitura por especialistas que não dominassem o português (Kury e Baptista, 2004, p. 1-17)18 18 Ver, ainda, Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 52-69. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro. . Cada publicação também era acompanhada do envio de separatas para uma lista de colegas de outros países, fato comprovado tanto em sua correspondência com o Museu Nacional após sua saída quanto nos acervos das bibliotecas dos Museus de História Natural de Montevidéu, La Plata e Buenos Aires. Na biblioteca do Museu de História Natural de Montevidéu, encontram-se 41 separatas de artigos de Mello Leitão, muitas delas carimbadas com os dizeres "homenagem do autor". Outras trazem dedicatórias à mão, como "com um saudoso abraço", "com a maior amizade de Mello Leitão" ou "lembrança muito afetuosa de Mello Leitão". Nas bibliotecas do Museu de La Plata e do Museu de História Natural em Buenos Aires encontram-se também algumas separatas, mas sobretudo os livros do autor brasileiro, como "A Biologia no Brasil", "Zoogeografia do Brasil" e "História das expedições científicas no Brasil" (Mello Leitão, 1937a, 1937b, 1941e). Como Mello Leitão enviava exemplares de seus escritos para os pesquisadores, pode-se supor a presença de muitos outros artigos e livros em arquivos privados ou nas pastas individuais desses cientistas nos arquivos das instituições a que pertenciam, sem terem sido destinados para a biblioteca.

A trajetória de Mello Leitão cumpriu, assim, muito mais do que uma simples inserção numa rede de estudiosos de aracnídeos. Como já exposto, o pesquisador transformou-se em nome de referência no estudo de aranhas sul-americanas, publicando trabalhos em revistas especializadas sobre espécimes existentes nos limites territoriais da Argentina, da Colômbia, do Paraguai e do Peru, entre outros países. Somado a isso, não se limitou às fronteiras geográficas de caráter nacional, ousando abordagens de parâmetros continentais, construídas sobre os pressupostos de uma zoogeografia sul-americana: mais do que 'aranhas brasileiras', 'aranhas argentinas' ou 'aranhas colombianas', passou a privilegiar a consideração da ocorrência de espécies sul-americanas. Em razão da contiguidade de fronteiras e das condições físicas e climáticas, os limites entre os países se tornavam abstrações muitas vezes inúteis na compreensão da "vida maravilhosa" das aranhas – para usar seus próprios termos.

A biogeografia – ramo da biologia dedicado ao estudo da distribuição dos seres vivos no espaço, ao longo do tempo – distinguiu suas práticas de estudo e pesquisa do estudo morfológico. É um saber delineado na interface de diversas áreas de conhecimento, como a geografia, a climatologia, a geologia, a ecologia, a evolução e a paleontologia. Emergiu no seio da história natural no século XVIII, mesclada aos escritos de Buffon – muitas vezes apontado pela história da ciência como o 'pai' da biogeografia –, e no século XIX, de Alexander von Humboldt, Edward Forbes, Alphonse de Candolle e P. L. Sclater. Em 1859, Charles Darwin renovaria radicalmente a biogeografia – afastando-a das explicações criacionistas e transferindo-a da história natural em direção ao estudo de populações de seres vivos – ao dedicar-lhe os capítulos 11 e 12 de "A origem das espécies". Alfred Russel Wallace (1823-1913), quase simultaneamente, também lançaria a base de novas interrogações no manuscrito que entregou a Darwin em 1858, após suas observações científicas no arquipélago malaio (Mayr, 2000, p. 439-454; Gould, 2002, p. 113-115; Darwin, 2002, p. 274-314; Wallace, 1939).

Não obstante a renovação introduzida por Darwin na biogeografia, as bases teóricas dessa disciplina nas primeiras décadas do século XX acompanharam a tendência então predominante, entre os biólogos, de recusa da teoria darwinista da evolução baseada na seleção natural. No início da década de 1930, Mello Leitão já dedicava vários estudos à zoogeografia em uma perspectiva evolutiva calcada na ideia de relações harmônicas e cooperativas entre os seres vivos, apelando para a teoria do apoio mútuo (Duarte, 2009a, p. 339).

As viagens do pesquisador ao Uruguai como representante cultural brasileiro, em 1931 e 1945, apresentam-se como balizas de várias transformações importantes. Alguns aspectos se mantiveram e aprofundaram: já em 1931, ele se apresenta como zoólogo e estudioso de seres vivos e sua biogeografia, ministrando palestra sobre "A vida maravilhosa das aranhas", outra sobre a "Zoogeografia dos opiliões sul-americanos". Muitas coisas, porém, mudaram ao longo desse período.

Em 1931, eram fortes as expectativas no Governo Provisório recém-instalado no Brasil. Predominava a perspectiva de construção de uma sociedade sem conflitos, harmônica, corporativa, regida por um Estado forte e centralizado, sob a condução firme do líder Getúlio Vargas. Tudo isso se contrapunha à descentralização abusiva da República oligárquica e 'velha', na qual predominaram os egoísmos, os interesses individuais, a competição e vitória dos 'fortes' sobre os 'fracos' e desprotegidos, vitimados pelas doenças e pelo analfabetismo. Esse movimento não se fazia isoladamente, pois, no âmbito mundial, assistia-se ao colapso generalizado dos valores liberais (Hobsbawm, 1995, p. 113). A profunda rejeição a Darwin, então predominante entre os estudiosos de biologia, assumia conteúdos políticos no contexto mais amplo de predomínio do pensamento e das práticas autoritárias e corporativistas, e deve ser entendida no seio dessas condições históricas (Duarte, 2009a, p. 329; 2006, p. 147-158).

Na viagem realizada em 1945, as condições eram muito diversas. Os últimos anos do Estado Novo assistiram à emergência de contestações importantes da sociedade civil brasileira: imprensa e opinião pública insistiam na contradição do apoio externo do Brasil a países de regimes democráticos em face da continuidade interna da ditadura. Em outubro de 1943, o "Manifesto dos Mineiros" exigiu o retorno à democracia. No mesmo ano, a União Nacional dos Estudantes orquestrou uma importante mobilização antiautoritarismo, culminando numa passeata, em dezembro. Osvaldo Aranha demitiu-se do Ministério das Relações Exteriores, em 1944, em protesto contra atos repressivos do governo (Capelato, 2003, p. 136-139; Almeida Junior, 1983, p. 227-229). No plano internacional, os Estados Unidos da América emergiam como grandes defensores da liberdade humana, e os liberalismos político e econômico foram crescentemente reconsiderados como opção positiva pelas sociedades ocidentais. No pós-guerra, o Brasil participou desse movimento mundial no qual se enfraqueceram concepções políticas organicistas, ao mesmo tempo em que ganhou força uma visão positiva do liberalismo competitivo.

Nesses mesmos anos, Mello Leitão introduziu elementos novos em sua perspectiva biológica. Mesmo que não se possa afirmar uma mudança radical de paradigma, é curioso notar o arrefecimento de sua rejeição extrema ao darwinismo. No texto apresentado em Montevidéu, intitulado "Novos rumos da biogeografia", publicado em 1945, ele introduz considerações sobre a variação e a seleção natural, citando Darwin e um dos grandes biólogos responsáveis pela reabilitação do darwinismo, o ornitólogo Ernest Mayr. Em seu texto, Mello Leitão referencia-se diretamente em "definição recentíssima de espécie" dada por Mayr. Em item específico sobre a seleção, Mello Leitão explica que, sob a pressão da variabilidade dos seres vivos, "surgem novas formas e a competição dentro da mesma espécie, provocada por esse próprio excesso de densidade, com deficiência alimentar". Poucas linhas adiante, cita a forte impressão causada pela distribuição dos animais sul-americanos em Darwin e a importância dada ao isolamento geográfico na teoria da origem das espécies (Mello Leitão, 1945b, p. 464-466).

Entre 1931 e 1945, Mello Leitão teceu vínculos com a América, ao mesmo tempo em que estudava as incidências de aracnídeos em sua zoogeografia sul-americana. Em 1931, nos preâmbulos de suas palestras, declarou-se desolado por não saber falar espanhol e afirmou sua expectativa de ser compreendido se falasse devagar. Tentando superar as dificuldades de ser compreendido, utilizou-se de recursos comuns no cotidiano do Museu Nacional, ilustrando sua apresentação com a projeção de diapositivos. Seu lamento foi sincero: em 1945, jornais uruguaios anunciavam suas palestras e, em destaque, esclareciam ao público interessado que o aracnólogo faria todas as suas exposições em castelhano19 19 "Del profesor Mello Leitão". La Mañana, Montevideo, 30 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ MN BR MR JF.O.DR.3; "Universitarias". La Plata, 17 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ MN BR MR JF.O.DR.3. .

A ideia de uma comunidade pan-americana de entomólogos, na qual Mello Leitão se inseria, é também muito bem expressa na primeira página de seu "Glossário biológico", obra de consulta geral de termos técnicos, publicada em 1946. Nela, há uma dedicatória aos professores Angelo Moreira da Costa Lima, da Escola Nacional de Agronomia do Rio de Janeiro, Ergasto Cordeiro, do Museu de História Natural de Montevidéu, e Max Biraben, da Universidad de la Plata, exemplos de "sábios que honram a ciência sul-americana" (Mello Leitão, 1946, p. 1).

PAPEL DA ZOOLOGIA

No dia 11 de maio de 1943, Mello Leitão participou de reunião especial da Academia Brasileira de Ciências. Tratava-se de solenidade para a sua posse como presidente da instituição. Sucedia Arthur Moses, seu amigo desde os tempos de Faculdade de Medicina, biólogo do Instituto Oswaldo Cruz e orador responsável por sua saudação.

Os tempos eram graves. No ano anterior, após o torpedeamento sucessivo de navios brasileiros pela Alemanha, o episódio da destruição de cinco navios com a morte de inúmeros brasileiros, em julho, levou o governo brasileiro à declaração de guerra em 22 de agosto. Em reunião realizada imediatamente após esse evento, a Academia decidiu aprovar moção de apoio à decisão do governo brasileiro. Na ocasião, Mello Leitão tomou a palavra para justificar a moção, constatando o luto de todos os brasileiros e o sentimento geral de indignação. Poucos meses depois, ao tomar posse na presidência da Academia, destacaria, em seu discurso, a decisão do Brasil em mandar tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália, insistindo no empenho dos cientistas nos esforços de guerra, esperançoso na "vitória da Civilização"20 20 "Na Academia Brasileira de Ciências". Recorte de jornal sem identificação de veículo nem de data. SEMEAR/UFRJ, MN BR MR JF.O.DR.3. .

Ao apresentar Mello Leitão como o próximo presidente, Arthur Moses elencava os pontos de sua excelência científica. Além da copiosa produção especializada, destacava seus livros didáticos destinados aos alunos de curso secundário e superior, distintos pela atualização científica e pela utilização majoritária de exemplos da fauna e da flora brasileiras. Moses considerava a expressiva repercussão de sua obra científica na comunidade internacional e citava menções elogiosas de grandes entomólogos em relação à contribuição do aracnólogo brasileiro: Clarence Hoffmann, do Departamento de Agricultura dos EUA, o apontara como o maior conhecedor de aranhas sul-americanas e Alexander Petrunkevitch destacara seus tratados sobre o assunto como a grande referência da área. Mello Leitão seria ainda membro ativo, assíduo às reuniões: debatia, apresentava comunicações, atendia aos apelos das mais variadas tarefas da instituição.

Desde sua fundação, em 1916, a Academia agiu em prol da especialização do saber e do surgimento de várias áreas do conhecimento científico (Sá, 2006, p. 73-87). Ao assumir, Mello Leitão apontou firmemente o delineamento da zoologia no Brasil. Segundo ele, no século XX, os zoólogos assumiam papel crescentemente ativo na sociedade. Os zoólogos é que haviam ensinado a distinção entre o Aedes aegypti e outros mosquitos inócuos, estudando e demonstrando seu ciclo biológico, seus hábitos e sua ecologia, e com isso criaram condições de combate à febre amarela nos centros urbanos brasileiros. Estudando a fauna de cada região, podiam os zoólogos avaliar o real perigo de ocorrência de determinadas enfermidades humanas, relacionando não só a presença de Aedes à febre amarela urbana, mas também de anofelineos ao impaludismo, de flebótomos às leishmanioses, de triatomíneos à doença de Chagas, de Australorbis à esquistossomose americana. No plano econômico, a ação dos zoólogos era também essencial na identificação das causas das pragas de insetos destruidores de plantações ou causadores de epizootias, e na distinção entre os animais realmente peçonhentos e os inócuos e necessários ao equilíbrio ecológico das várias regiões biogeográficas. Eram ainda capazes de orientar as atividades de pesca, desvendando os ciclos de espécies valiosas e assinalando práticas adequadas para a preservação da fauna marinha e lacustre. Os zoólogos demonstravam como muitos animais silvestres eram utilíssimos, e agiam junto aos governos alertando contra a sua extinção, articulando-se em prol da criação de áreas de reserva e parques nacionais. Enfim, Mello Leitão argumentava que a zoologia situava-se no centro da vida humana, da saúde das populações, das atividades agropecuárias e pesqueiras e da preservação de grandes áreas naturais, apontando-a como ciência da vida e para a vida. O biólogo reivindicava seu papel econômico, social e, sobretudo, político.

Logo após enfatizar o caráter exato da biologia como ciência, capaz de realizar previsões com "o rigor de fórmulas matemáticas", o pesquisador involuntariamente se traía e evidenciava a constituição histórica das práticas científicas ao declarar que, no século XX, a biologia deixara de ser contemplativa e passara a ser "militante"21 21 "Discurso de posse de Mello Leitão na Academia Brasileira de Ciências", 11 maio 1943. Recorte de jornal sem identificação do veículo. SEMEAR/UFRJ, MN BR MR JF.O.DR.3. . Certamente, Mello Leitão teve papel importante na afirmação da zoologia como área específica do conhecimento no Brasil. Em 1937, publicara "A Biologia no Brasil", livro escrito como esforço de eleição de pioneiros e busca de origens, apresentando aos seus contemporâneos uma visão linear, progressista e acumulativa da história dessa ciência. Foi como zoólogo que Mello Leitão entrou para a Universidade do Brasil, em 1939. Em fins de 1937, saíra do Museu Nacional em razão da medida do Estado Novo que vetava o acúmulo de cargos públicos, e optara pela Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária. Para tomar posse na Universidade, exonerou-se daquela instituição, enviando ofício ao diretor no qual afirmava seu afeto pela escola onde tinha servido por 26 anos, e alegava apenas cumprir seu dever, "obedecendo a ordens recebidas do Presidente da República de reger a cadeira de Zoologia da recém nascida Faculdade Nacional de Filosofia"22 22 Mello Leitão, Cândido de. Carta a Heitor Grillo, 18 ago. 1939. SEMEAR/UFRJ, CO 1302. . Apresentava-se, assim, como que conclamado a participar em tarefa de importância nacional.

Não menos importante foi a defesa do delineamento da especificidade científica do conhecimento biológico em seus livros didáticos, que integraram a formação de gerações de colegiais e normalistas. Entre 1917 e 1946, publicou dez livros didáticos, alguns em vários volumes e com mais de uma edição, além de um glossário de termos científicos que deveria ser livro de consulta e referência para todos os que desejassem estudar e aprender biologia (Mello Leitão, 1917, 1923, 1924a, 1924b, 1930, 1933-1935, 1940c, 1942a, 1946; Amaral e Mello Leitão, 1942, 1945). Se em muitas escolas, a exemplo do Colégio Pedro II, o título da disciplina permaneceu como História Natural até a década de 1970, nas Escolas Normais do Rio de Janeiro e de São Paulo não foi pouco importante a instituição curricular das disciplinas Biologia Educacional e Biologia Geral já a partir de 1930 (Viviani, 2007, p. 24, 116-117, 236, 257-258; Vidal, 2001).

É importante pontuar aqui o caráter histórico dos currículos escolares e o fato de que a grade de disciplinas não é dado natural, mas resulta de complexos processos de transformações dessas mesmas disciplinas no seio das disputas sociais no âmbito maior da sociedade em que a escola se insere, e também nas dinâmicas e disputas internas do universo escolar (Cassab e Selles, 2008, p. 238-258; Hilsdorf, 2007, p. 7-9). Com base nesse pressuposto, pode-se constatar como a predominância dos termos 'zoologia', 'botânica' e 'biologia' nos títulos dos livros didáticos do Mello Leitão, em detrimento da chamada 'história natural', decorria de forte posicionamento desse professor em prol da distinção da biologia – ciência dos seres vivos – como tema do currículo escolar. Entre os onze títulos publicados, apenas um trazia 'história natural'. No prefácio à "Biologia geral", obra de 1940, o autor explicitava a intenção de construir obras didáticas em consonância com a especialização da biologia: rompendo com uma tradição de privilégio do estudo descritivo da história natural, seu livro desejava disponibilizar ao estudante uma "visão sintética dos seres vivos em suas relações uns com os outros e com o meio em que vivem", destacando a importância das noções de biofísica e bioquímia, fisiologia celular, reprodução, genética e ecologia e do estudo crítico das doutrinas da evolução, conteúdos que ditavam a organização dos capítulos (Mello Leitão, 1940c, p. 5). Assim, mesmo com a manutenção oficial e formal da disciplina 'História Natural', havia clara intervenção nos conteúdos a serem estudados e na perspectiva epistemológica que guiaria a abordagem desses conteúdos em direção ao ensino da biologia.

A ênfase nas imagens e nos exemplos que recorriam à flora e à fauna existentes no território do Brasil articulava-se ainda com projetos nacionalistas e com suas concepções de divulgação científica e de expansão do conhecimento desde um ensino prático e articulado com a vida cotidiana (Duarte, 2004, 2009a). O livro didático emergia, portanto, como um dos pontos estratégicos do conhecimento biológico no Brasil, e Mello Leitão foi um dos mais importantes autores de sua época.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sua trajetória científica ao longo das décadas, desde os primeiros artigos publicados em 1915 até sua morte em 1948, Mello Leitão extrapolou as suas atividades de 'naturalista' amador ou mesmo de médico pediatra de gosto extravagante, dedicado ao colecionismo e à determinação de aranhas. Gradativamente, transformou-se em biólogo, mais especificamente, em aracnólogo. Tratava-se de pesquisar as aranhas como seres vivos e sua distribuição histórica no espaço, sob a perspectiva não só da anatomia, da histologia e da fisiologia, mas também da ecologia e da etologia. Além de identificar, catalogar e nomear espécies de aracnídeos, Mello Leitão privilegiou o enfoque dos seus diferentes venenos, seus hábitos – modos de construir teias, cuidados com a prole, dispersão das famílias de aranhiços –, ou ainda as diferentes estruturas e disposições dos olhos desses invertebrados, bem como sua relação com os modos de vida, acuidade visual, formas de caçar etc. Entre as práticas iniciais de colecionismo e determinação e a construção de uma perspectiva de pesquisa mais ampla dos aracnídeos como seres vivos e da sua dinâmica, assim como de sua zoogeografia, a trajetória científica de Mello Leitão, ao longo da primeira metade do século XX, é exemplo concreto de como se fazia um biólogo.

Paralelamente à consideração de que qualquer trajetória individual se esboça na complexidade das relações sociais e no denso jogo da história, trata-se também de ressaltar o vir a ser do sujeito histórico, em que novas práticas são criadas e instituídas em seu tempo e junto a seus contemporâneos. Estudioso de aranhas, Mello Leitão era realmente grande conhecedor de redes, e foi nelas que se formou. Nessas redes de relações pessoais e institucionais, o aracnólogo construiu e divulgou conhecimentos, projetou papéis para si e seus colegas, para as diversas instituições onde atuou e para a biologia que praticou.

AGRADECIMENTOS

A autora agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), ao Grupo de Pesquisa 'Coleção Brasiliana: escritos e leituras da nação', aos funcionários da Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional (SEMEAR/UFRJ), à Hermínia Ferreira, secretária da Academia Brasileira de Ciências, e a Manuel Bueno, pela tradução do resumo.

Recebido: 31/01/2010

Aprovado: 15/05/2010

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  • 1
    Ata da Seção Ordinária da Academia Brasileira de Ciências, 12 jul. 1949. Pasta de Cândido de Mello Leitão, folhas não numeradas. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 2
    Ata da Seção Ordinária da Academia Brasileira de Ciências, 12 jul. 1949. Pasta de Cândido de Mello Leitão, folhas não numeradas. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 3
    Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 42-43. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 4
    Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 46-47. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 5
    "A viagem de estudos de um pediatra brasileiro: parte amanhã para a Europa o Dr. Mello Leitão". A Vanguarda, Rio de Janeiro, 12 abr. 1926. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN, DR.3.
  • 6
    Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 26. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 7
    "Conferencias". El Imparcial, Montevideo, 30 out. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2; Nota (1931).
  • 8
    "Un rato de amena conversación con el destacado intelectual brasileño". El Imparcial, Montevideo, 4 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2; "Con el Profesor Mello Leitão, embajador de la intelectualidad brasileña". El Debate, Montevideo, 28 out. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2.
  • 9
    Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 27-28. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro; "Hoy se realizara um acto em honor del aracnologo brasileño Dr. Mello Leitão". La Prensa, Buenos Aires, 4 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2; "Museu Nacional de Historia Natural ofrecerá hoy una recepción al doctor Mello Leitão". La Nación, Buenos Aires, 4 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.2.
  • 10
    Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 31. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 11
    Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 31, 44. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 12
    Ver, ainda, "Cinco minutos de conversación con la más alta autoridad em arañas". La Libertad, Mendoza, 11 abr. 1937. Recorte. SEMEAR/UFRJ, BR MN JF.O.MN DR.3.
  • 13
    Ver, ainda, Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 52-69. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 14
    Torres, Heloísa Alberto. Ofício n. 310 ao Exmo. Snr. Embaixador da Inglaterra, de 24 jun. 1938. SEMEAR/UFRJ, BR MN MN DR.
  • 15
    Mello Leitão, Cândido de. Cartão para Heloísa Alberto Torres, 15 dez. 1944. SEMEAR/UFJR, JF.O.MN, 20.
  • 16
    "El profesor brasileño Dr. Candido Mello Leitão, su próxima visita". La Mañana, Montevideo, 23 ago. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Llego ayer la misión cultural brasileña". La Mañana, 4 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Visita de una misión cultural brasileña". El Mundo Uruguayo, Montevideo, s.d. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Inicia hoy su actuación la Embajada Cultural Brasileña". La Razón, Montevideo, 5 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3; "Reunión en el Museo de H. Natural em Homenaje al Prof. de Mello Leitão". El Diário, Montevideo, 12 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ BR MN JF.O.DR 3.
  • 17
    "Agasajo anoche el circulo de la prensa a intelectuales brasileños". La Nación, Buenos Aires, 26 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFJR BR MN JF.O.DR 3; "Hubo un acto en el Museo Argentino de Ciencias Naturales". La Nación, Buenos Aires, 27 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFJR BR MN JF.O.DR 3; Correspondência de Aloysio Mello Leitão a Feio. Out. 1945, SEMEAR/UFRJ, JF.O.MN, 2. 18/3.
  • 18
    Ver, ainda, Mello Leitão, Cândido de. "O livro de minha vida: para ser lido pelos meus netos". Documento manuscrito, 1947, p. 52-69. 61 folhas. Pasta de Cândido de Mello Leitão. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro.
  • 19
    "Del profesor Mello Leitão". La Mañana, Montevideo, 30 nov. 1931. Recorte. SEMEAR/UFRJ MN BR MR JF.O.DR.3; "Universitarias". La Plata, 17 set. 1945. Recorte. SEMEAR/UFRJ MN BR MR JF.O.DR.3.
  • 20
    "Na Academia Brasileira de Ciências". Recorte de jornal sem identificação de veículo nem de data. SEMEAR/UFRJ, MN BR MR JF.O.DR.3.
  • 21
    "Discurso de posse de Mello Leitão na Academia Brasileira de Ciências", 11 maio 1943. Recorte de jornal sem identificação do veículo. SEMEAR/UFRJ, MN BR MR JF.O.DR.3.
  • 22
    Mello Leitão, Cândido de. Carta a Heitor Grillo, 18 ago. 1939. SEMEAR/UFRJ, CO 1302.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Set 2010
    • Data do Fascículo
      Ago 2010

    Histórico

    • Recebido
      31 Jan 2010
    • Aceito
      15 Maio 2010
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