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Visões do tabaco: desenhos xamânicos dos índios Wauja

Resumo

Este artigo apresenta uma análise de desenhos xamânicos baseada na pesquisa de duas coleções etnográficas coletadas entre 1978 e 2004 entre os índios Wauja do alto Xingu. Os desenhos apresentam uma interpretação visual dos espíritos-animais (os apapaatai) e de suas transformações, tal como são vistos pelos xamãs Wauja em seus transes e sonhos induzidos pelo consumo de tabaco. O artigo argumenta que a experiência de desenhar em papel permitiu aos xamãs expressarem de modo amplo seus entendimentos sobre as muitas e possíveis formas corporais que os apapaatai podem, voluntária ou involuntariamente, assumir. A inexistência de cânones visuais para a representação dos apapaatai em papel deixou os xamãs livres para produzirem uma extraordinária diversidade de perspectivas singulares. Tais singularidades, quando associadas às narrativas de mitos de sonhos, potencializam os desenhos como um tipo de exegese visual da cosmologia Wauja. O aprofundamento dessa análise à luz de objetos da cultura material demonstra que a apropriação do lápis e do papel pelos xamãs Wauja canalizou sua energia criativa para uma inusitada expansão das fronteiras conceituais da própria tradução xamânica.

Palavras-chave
Alto Xingu; Xamanismo; Desenho; Mito; Cultura material

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