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Livros e revistas

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GERLACH, SEBASTIAN A. 1952, Nematoden aus dem Küstengrundwasser. Akadem. Wiss. & Liter. Mainz, Abhandl. Math.-Naturw. Kl. Jahrg. 1952 Nr. 6, 58 p. 18 t.

Subterrâneamente estende-se a água do mar, dos interstícios entre os grãos de areia, para a região continental, onde é habitada por uma fauna peculiar. Neste lençol freático costeiro da baía de Kiel, no Mar Báltico, SCHULZ (1934) já tinha encontrado 29 espécies de Nematóides. Destas 8 ocorrem somente no referido biótopo. Agora ampliou GERLACH consideravelmente o âmbito da pesquisa, incluindo o Mar do Norte e o Mediterrâneo ocidental. Ao inventário da baía de Kiel acrescentou 8 espécies, das quais 5 são novas e reencontrou 28 das espécies de SCHULZ. NO Mar do Norte verificou 9 espécies, das quais 4 novas, e no Mar Mediterrâneo 25, das quais 11 são novas. A peculiaridade do biótopo examinado evidencia-se pelo fato da descoberta de tantas espécies novas (33%). Os Nematóides marinhos dos mares da Europa já foram estudados desde os tempos de EBERTH (1863), MARION (1870), BÜTSCHLI (1874), DE MAN (1876) e outros até aos últimos anos, em que monografias sobre o Mar Báltico, o Mar do Norte e a baía de Villefranche foram publicadas.

REMANE & SCHULZ (1935) verificaram, nos seus primeiros exames, da fauna do lençol freático costeiro, da baía de Kiel, ca. de 15 espécies dos Protozoa e 80 dos Metazoa. A salinidade deste biótopo atinge apenas de um quarto a um terço da do mar vizinho. Ainda oscila muito, conforme chuvas intensas e enchentes altas. Apesar disso, os animais de procedência ou parentesco marinhos preponderam (80%) sobre os límnicos (20%). Isto contrasta com os biótopos sobrepostos ao lençol freático costeiro, a zona húmida e a superficial com material depositado pelo mar ("Anwurfzone"), cuja faunas provêm principalmente da continental. Possivelmente, a escuridão facilita aos animais marinhos penetrarem na água fracamente salina ou doce do lençol.

O regionalismo dos Nematóides do lençol é grande, pois das 52 espécies estudadas, 45 ocorrem somente em um dos mares examinados, apenas 1 em todos os três, e 2 no Mar Mediterrâneo e na costa atlântica da América do Norte.

As 18 estampas do trabalho são primorosas; impressiona o grande número de vermes com formosa escultura da cutícula e cerdas polimorfas.

E. M.

GOSLINE, W. A., 1952. ICHTHYOLOGY. - Notes on the systematic status of four eel families. Journ. Washington Acad. Sci., vol. 42, n.º 4, p. 130-135.

Como se sabe, a Ordem dos Anguilliformes, cujos representantes possuem origem filogenética ainda controvertida, é constituída por Teleosteos desprovidos de premaxilares em que esses órgãos se encontram unidos um ao outro e ao ethmovomer, para formar a chamada placa premaxilar-etmovomerina. Além dessa característica marcante, há a notar ainda o precário desenvolvimento do arco escapular, a ausência de mesocoracoide, de basisfenoide e simplético, bem como redução do aparelho opercular e do arco palatopterigoideano.

Apesar dos esforços de vários autores, entre os quais se salientam REGAN (1912) e TREWAVAS (1932), a classificação dos espécimes constantes dessa Ordem constitue matéria das mais penosas e sobremodo delicada.

Em conseqüência de estudos osteológicos cuidadosamente empreendidos a partir de 1950, o autor do trabalho aqui considerado chegou à conclusão de que há necessidade de se introduzirem modificações na posição sistemática de várias famílias, se quizermos estabelecer entendimentos claros quanto à taxonomía do grupo. E é êle próprio quem o faz, de maneira brilhante, em relação às famílias Urenchelidae, Anguillidae, Xenocongridae, Myrocongridae, Muraenidae, Chilorhinidae, Heterenchelidae, Moringuidae, Serrivomeridae, Derichthyidae, Muraenosocidae, Neenchelidae, Simenchelidae, Nettastomidae, Nessorhamphidae, Congridae, Ophichthidae, Ilyophidae, Dyssomidae e Synaphobranchidae.

Das famílias constantes do trabalho do professor da Universidade de Havaí, interessam sobretudo aos pesquisadores brasileiros as que se seguem : Muraenidae, Moringuidae, Muraenesocidae, Congridae e Ophichthidae, com especialidade a última que, na opinião de Myers, deve conter cerca de 300 espécies.

No seu trabalho, o autor propõe o nome Chilorhinidae n. fam., para abrigar os gêneros Chaorhinus Lütken (1851), Garrnanichthys Seale (1917) e Kaupichthys Schultz (1943).

J . P. C.

LOOSANOFF, V. L., & DAVIS, H. C, 1952. Repeated Semiannual Spawning of Northern Oyster. Science, vol. 115, p. 675-676.

Neste trabalho, preocuparam-se os autores com o processo de desenvolvimento dos órgãos sexuais e com a postura da ostra Crassostrea virginica, tendo em vista verificar, entre outras coisas, qual o tipo de fecundação a que a espécie está sujeita. Analisaram também a influência de diversos fatores capazes de interferir no desenvolvimento das gônadas, entre os quais figura o alimentar.

A espécie escolhida para as experiencias, desova, nos Estados Unidos, entre os meses de junho e setembro. Trabalhos anteriores já haviam demonstrado que o amadurecimento dos órgãos sexuais podia ser conseguido, mesmo durante o inverno, colocando-se os reprodutores, durante algumas semanas, em ambiente cuja temperatura da água fosse igual a 20ºC (Loosanoff, V. L., 1945, Science, 102, p. 124). Na primavera de 1947, serviram-se os autores de 250 adultos, mantidos em condições normais, no porto de Milford, Connecticut. Em meiados de junho, época em que o amadurecimento sexual dos moluscos se evidencia, deram início às operações, levando para o laboratório os reprodutores e provocando a sua desova. Obtida esta, os exemplares foram reconduzidos novamente ao ponto de providência. Retiraram-se, mensalmente, amostras de gônadas para a efetivação de estudos histológicos, verificando-se por êsse meio que em meiados de setembro já as ostras se haviam recuperado, achando-se prontas para entrar em ação no próximo período de desova.

No início de novembro, os exemplares começaram a hibernar e, um mês mais tarde, foram transportados novamente para o laboratório, desde que no porto de Milford a camada superficial de água já se cobria de uma crosta de gelo. Inicialmente colocados em temperatura de cerca de 4ºC, esta foi sendo gradativamente aumentada até que no decurso de dois ou três dias atingiu a 20ºC. Dentro de duas ou três semanas, obteve-se o amadurecimento sexual, ocorrendo a desova em janeiro e fevereiro de 1948, ocasião em que os reprodutores liberaram gametos normais.

Prosseguindo na investigação, concluiram finalmente os autores que o processo de desenvolvimento das gônadas e da desova da espécie considerada é do tipo endógeno. Ficou outrossim provado que os espécimes não eram afetados por modificações sazonais, pela luz, pelo ritmo das marés, por fenômenos de precipitação, por pequenas alterações no teor de salinidade e outras características peculiares à época em que as gônadas se desenvolvem rapidamente.

Quanto ao regime alimentar, verificaram que os exemplares não se achavam na dependência de certos tipos de organismos planctónicos só encontrados na água durante os períodos em que transcorreram as experiências, tempo em que também se dá normalmente a gametogénesis e se verifica a desova.

Baseados nisso, acreditam os autores que as conclusões a que chegaram sejam também aplicáveis a certos lamelibranquios e, entre êles, a Venus mercenária.

J. P. C.

BERNARD, F., 1952. Eaux atlantiques et Mediterranéenes au large de l'Algérie. I. Hydrographie, sels nutritifs et phytoplancton en 1950. Comité d'Océanographie et d'Étude des côtes de l'Algérie. Annales de l'Institut Océanogr., N. S. - Tome XXVI I - Fase. 1, p. 1-48. Paris.

Sob a supervisão do "Comité d'Océanographie et d'étude des côtes de l'Algérie" e com a colaboração da Marinha francesa, iniciou-se em 195 0 o estudo físico e biológico das águas situadas ao largo da costa da Algéria. Para tanto, foi traçado um plano que deverá ser executado metodicamente durante vários anos consecutivos. Um dos objetivos da pesquisa consiste em fornecer aos profissionais de pesca informações precisas sobre os deslocamentos dos cardumes de peixes.

No histórico que figura como nota introdutória da interessante publicação ora comentada, FRANCIS BERNARD, seu autor, esclarece, logo de início, tratar-se de "trabalho de grande fôlego, dependente ainda de um conhecimento mais aprofundado das correntes e camadas mediterrâneas". No entretanto, os primeiros resultados já podem ser apreciados, permitindo ajuizar da enorme importância do cometimento. Assim é que foram colhidas 50 0 amostras de água para exame e instaladas ao largo 63 estações oceanográficas. Embora se tenham feito numerosas observações, o autor as considera como "provisórias" declarando, com muita razão, que só poderá se manifestar categórica e definitivamente depois de várias séries de trabalhos semelhantes aos que foram efetuados em 1950.

As pesquisas, conduzidas de acordo com os métodos mais modernos, já forneceram indicações preciosas e até inesperadas sobre temperatura, teor de salinidade, conteúdo em sais nutritivos e densidade do fitoplâncton. O primeiro passo, pois, foi dado visando o perfeito conhecimento das condições físicas e biológicas reinantes na região pesquisada.

O capítulo primeiro compreende a descrição das estações oceanográficas e a exposição das técnicas empregadas. Nele figuram informações a respeito da coleta e conservação da água do mar, dosagem de sais nutritivos (fosfatos e nitratos), avaliação quantitativa do nanoplancton (volume por litro) e teor de salinidade. Do segundo capítulo constam as diversas propriedades das principais camadas marinhas, assim distribuídas: águas atlânticas, águas mediterrâneas e águas misturadas; conclue o autor que as três camadas diferem nitidamente entre si, tanto pela salinidade, pelo teor médio em sais nutritivos como também pelos componentes (Dinoflagelados e Cianofíceas). O terceiro capítulo refere-se aos sais nutritivos e ao plancton. O último capítulo versa sobre a preponderância e velocidade da corrente do Atlântico, sobre a influência das estações instaladas na costa e a profundidade, tudo em função da fertilidade das camadas marinhas.

O trabalho a que nos referimos acha-se ilustrado por inúmeros gráficos e tabelas. Toda essa documentação atesta não somente a excelência do programa traçado pelo Comité de Oceanografia e de Estudos da Costa da Algéria, mas demonstra também a tenacidade enorme com que os pesquisadores do Instituto Oceanográfico, da França, se entregam à admirável tarefa a que se impuzeram.

J. P. C.

HOLTHUIS, L. B., 1952. A General revision of the Palaemonidae (Crustácea Decapoda Natantia) of the Américas. II. The subfamily Palaemoninae. Allan Hancock Foundation Publications. Occasional Paper n.º 12, p. 13-396, pl. 1-55. Los Angeles.

Em 1951, o autor enriqueceu a literatura carcinológica americana com um volume de 332 páginas, ilustrado com 63 pranchas, em o qual efetuou bem cuidada revisão das subfamilias Enryrhynchinae e Pontoniinae. Não é preciso encarecer o valor que para nós representa esse trabalho relativo à família Palaemonidae que, como se sabe, possue regular número de representantes nas águas brasileiras. Além disso, deve-se levar em conta a necessidade que há de se atualizar a nomenclatura usada pelos que se ocupam do estudo das espécies nacionais, grande número dos quais ainda segue a terminologia de Ortmann e Moreira.

Recentemente, o mesmo autor publicou novo trabalho sobre a subfamilia Palaemoninae, com as mesmas características do primeiro, isto é, provido de chaves e diagnoses muito bem feitas e 55 pranchas contendo desenhos. Acresce ainda considerar que a resenha bibliográfica sobre os Decapoda Natandia é uma das mais completas que temos visto.

A utilidade dessa publicação, para os pesquisadores nacionais, é muito grande porque, por exemplo, só em relação ao gênero Macrobrachium Bate 1868, constam do trabalho 9 espécies ocorrentes no Brasil, representando cerca de 32% do total das espécies do mesmo gênero aí citadas.

Há também referências a espécimes dos gêneros Leander e Palaemon, dentre os quais destacamos as relativas a Leander tenuicornis, Palaemon (Palaemon) pandaUformis e P. (Paleander) northropi. Dessa maneira, afigura-se-nos que a consulta do trabalho de HOLTHUIS se torna obrigatória para os que tiverem de se referir aos Palaemonidae brasileiros.

J. P. C.

MÜLLER MELCHERS, F. C, 1952. Biddulphia chinensis Grev., as indicator of ocean currents. Comm. Bot. Mus. Hist. Nat. Montevideo, vol. II, n.º 26, p. 1-14, pl. I-V. Montevideo.

Tendo trabalhado, durante vários anos, com o planeion das costas uruguaias e argentinas, o autor observou que, em determinadas épocas, dava-se o aparecimento da diatomácea Biddulphia chinensis em enormes quantidades, enquanto que, em outras, a sua ausência era quase absoluta. Tal fato, induziu-o a investigar pormenorizadamente o ciclo vital dessa alga microscópica, o que acaba de ser conseguido com inteiro sucesso.

Pela publicação do trabalho vindo recentemente a lume, verifica-se que essa Bacillariophyceae tão bem trabalhada, entre outros autores, por Schmidt (1927-1929), tem distribuição muito ampla em quase todos os mares. Em águas do continente sulamericano, foi ela encontrada nas costas das Guianas, por Cleve (1900), no Rio de Janeiro, por Gomes de Faria e Marques da Cunha (1917), no R. G. do Sul, por Gliesh e Hentschel (1925), como também nas costas uruguaias, por Hentschel (1925) e Melchers (1944-1951) e em águas argentinas, por Marques da Cunha e Oliveira Fonseca (1917), Hentschel (1925), Frenguelli (1928-1939) e Melchers (1946-1949).

Referindo-se ao inesperado aparecimento dessa espécie no Mar do Norte, já dizia Frenguelli (1926-1928) que, segundo Ostenfeld, a sua ocorrência era desconhecida em águas européias, quando "repentinamente apareceu, com decisiva predominância, em um pequeno distrito do Maído Norte". Procurou o autor argentino explicar tão súbita aparição, dizendo que em se tratando de espécie "considerada estenotérmica (26º - 27º de temperatura) e estenohalina (36 ‰ de sais), a suposição de Ostenfeld é a de que B. chinensis tenha sido arrastada desde o Mar Vermelho e o Oceano Índico, ou de qualquer modo, a partir dessa direção, trazida com o auxílio do homem, isto é, vinda de oceanos distantes, aderida a cascos de navios ou à película superficial da água. Dessa maneira, teria atingido o estuário do Elba de onde, por meio da corrente marinha costeira, ter-se-ia dispersado nas direções norte e noroeste". Aliás, já naquela época, Frenguelli (p. 517) fazia sentir a necessidade de "se conhecer melhor a distribuição dessa espécie nos nossos mares" o que acaba de ser conseguido por Müller Melchers. De fato, depois de realizar interessantíssimas observações no decurso das quais o autor uruguaio efetuou não somente desenhos de exemplares normais, em diversas fases do seu desenvolvimento, mas também fixou aspectos de várias formas anormais que vieram confirmar investigações anteriores (Frenguelli, 1948), estudou ainda e detalhadamente o comportamento de Biddulphia chinensis, em águas uruguaia e argentinas. Graças a isso, concluiu o autor que a espécie pode ser utilizada eomo indicadora de correntes oceânicas, conclusão essa cuja importância é fácil de se avaliar.

Assim, a literatura científica sulamericana acaba de ser enriquecida com uma contribuição das mais valiosas e que permitirá, sem dúvida, esclarecer alguns pontos ainda obscuros, dentro da complexa ciência oceanógrafica.

MONOD, T., & NICKLÈS, M., 1952. "Notes sur quelques Xylophages et Petricoles marins de la côte ouest-africaine. Institut Français d'Afrique Noire. Catalogues, VIII, Dakar.

No sumário do trabalho de que ora nos ocupamos, dizem os autores que "a questão dos animais marinhos perfuradores apresenta, além do interesse propriamente zoológico, importância econômica evidente". Sem dúvida, não é éste o local oportuno para se demonstrar a preocupação constante que agita quase todos os países, na busca incessante de um remédio eficaz que, embora não ponha termo definitivo ao flagelo, ao menos atemie os seus malefícios. Qualquer pesquisa relativa aos exemplares a que se costuma dar o nome vulgar de Gusano ou, se quizerem, Turú, segundo a terminologia de Alexandre Rodrigues Ferreira, deve interessar muitíssimo aos estudiosos da Zoologia. De fato, sobretudo em um país como o nosso onde, diga-se de passagem, já se reproduziram pesquisas idênticas às de Harold Francis Blum, a respeito dos efeitos da baixa salinidade em relação aos espécimes da família Teredinidae, mas onde também se desconhece quais as espécies causadoras de tão extensos estragos em embarcações, pontões e desembarcadouros, o assunto é de palpitante interesse. Três são as espécies dadas como ocorrentes em nossas águas: Teredo molli Roch, T. dagmarae Roch e Bankia (Nausitora) brasiliensis Bartsch, às quais se responsabiliza pelos prejuízos causados aos nossos armadores. No entretanto, desconhecemos a existência de qualquer pesquisa aprofundada a respeito do grupo o que, na realidade, constitue uma lacuna.

Os autores do trabalho que ora apreciamos, não se limitaram ao estudo exclusivo dos indivíduos que perfuram madeiras ou rochas, mas preocuparam-se também com a fauna a eles associada, isto é, da que se instala nos orifícios das madeiras atacadas pelo gusano ou nas cavidades abertas em rochas, por lamelibranquios perfuradores.

O trabalho pode ser assim apreciado: Na primeira parte, fazem considerações gerais sobre o polimorfismo dos representantes da família Teredinidae, recordando que as valvas nem sempre auxiliam o trabalho de determinação. Referem-se às paletas, lembrando que embora os seus caracteres sejam nitidamente mais diferenciados, esses órgãos podem sofrer sensíveis variações com o desenvolvimento e idade dos indivíduos. Acham os autores, com justa razão, que "somente a coleta sistemática de abundante material pode promover o progresso dos nossos conhecimentos nesse grupo difícil". Na segunda parte, extendem-se em considerações á respeito da classificação e distribuição dos Teredinidae.

O texto do trabalho acha-se profusamente ilustrado por numerosas gravuras e desenhos, figurando, no fim do volume, 12 estampas elucidativas, contendo excelentes fotografias e desenhos. Sua leitura torna-se, por assim dizer, obrigatória para os que se dedicam à pesquisa dos representantes da subordem Âdesmoidea, servindo de exemplo magnífico aos que pretenderem efetuar investigação semelhante com organismos idênticos, provenientes das nossas águas.

J. P. C.

DELLA CROCE, N., 1952. Variazioni dello zooplancton di superfície pescate a Punta dei Mesco (La Spezia) tra il 15-10-49 ed il 30-3-51. Estratto dei Bull. Mus. Inst. Biol. Univ. Génova, vol. XXIX , n.º 157, p. 87-116, 1 tav. Genova.

Entre os anos de 1907 e 1914, Rose, baseado em copioso material recolhido pelo "Eider", publicou diversos trabalhos sobre copépodos pelágicos do mar de Mónaco, investigação paralela à empreendida por Issel, em 1915, a respeito do zooplancton do Mar da Liguria e da realizada por Brian, em 1914 e 1937, atinente aos do golfo de Genova.

Atendendo ao elevado objetivo dessa série tão útil quanto interessante de investigações que podem ser consideradas como básicas para o conhecimento das áreas investigadas, o Dr. Della Croce, do Instituto Zoológico, da Universidade de Génova, inaugura nova fase, das mais promissoras, de pesquisas semelhantes, cujo prosseguimento merece os louvores de quantos se dedicam a tais estudos. Valendo-se de material capturado em águas de Monterosso (Riviera di Levante), entre os meses de outubro de 1949 e março de 1951, o autor estudou cuidadosamente as variações quantitativas do zooplancton de superfície, considerando, com especialidade, os copépodos pelágicos.

Como acontece com todos os trabalhos de tal feitio, a descontinuidade nas ocorrências dos diversos componentes, dificulta a elaboração sumária de um resumo claro em que se possa evidenciar, de pronto, quais as famílias escassas ou melhor representadas nas amostras, de modo a se poder tirar conclusões a respeito das mais interessantes para a economia do mar. Somente a leitura atenta do trabalho e o exame minucioso de gráficos e tabelas permitem uma visão real do conjunto. Isso, aliás, é facilmente obtido através dos dados fornecidos pelo Dr. Della Croce.

Cerca de vinte famílias foram estudadas no trabalho que ora examinamos, muitas das quais representadas também nas nossas águas como, entre outras, as que se seguem: Calanidae, Eucalanidae, Paracalanidae, Pseudocalanidae, Temoridae, Centropagidae, Acartiidae, Oithonidae, Oncaeidae e Corycaeidae. O interessante é que várias famílias consideradas como raras ou de ocorrência esporádica na zona de Monterosso, tais como: Ectinosomidae, Macrosetellidae, Clytemnestridae, Sapphirinidae, Metridiidae e Aetidiidae, também o são nas águas dos setores mais pesquisados do nosso meio.

O autor tirou conclusões interessantes a respeito da influência exercida pela temperatura sobre os representantes planctônicos. Diz, por exemplo, que "a fase térmica ascensional coincide com a presença de notáveis porcentagens de Centropagidae, Oithonidae e Acartiidae" ao passo que, no caso inverso, favorece especialmente os representantes da família Pseudocalanidae.

É de se esperar, portanto, que o autor prossiga na pesquisa tão auspiciosamente iniciada, enriquecendo assim com novos dados o nosso conhecimento a respeito das variações sazonais do zooplancton.

J. P. C.

MERRIMAN, D., & SCLAR, R,, 1952. "The pelagic fish eggs and larvae of Block Island Sound". Hydrographic and Biological studies of Block Island Sound. Bull. Bingham. Oeeanogr. Coll., vol. XIII, art. 3, p. 165-219. New Haven.

Em agôsto de 1943, os pesquisadores do Bingham Oceanographic Laboratory, da Yale University, iniciaram um estudo intensivo sobre as populações de peixes da área de Block Island Sound, importante iniciativa, de evidente interesse econômico.

Dois objetivos principais foram visados. O primeiro, constituiu em determinar as espécies de peixes pelágicos e ovos em estado planctônico e bentônico ocorrentes na região investigada, não só em cada mês mas em um ciclo anual. 0 segundo teve por origem a hipótese formulada por Bigelow (1928), segundo a qual dar-se-ião "migrações involuntárias" de peixes, em seus estágios iniciais de desenvolvimento. Um terceiro objetivo surgiu no decorrer da pesquisa, isto é, a verificação de se, em alguma espécie, haveria ou não, de ano para ano, variações na produção de óvulos. Caso isso acontecesse, concluiram os pesquisadores ser possível identificar as classes anuais dominantes logo no seu início e daí, com o conhecimento da média do crescimento anual, ser também provável a previsão da intensidade relativa dos grupos de idade sucessivos, na ocasião em que estes entrassem, pela primeira vez, na coleta comercial.

Várias conclusões interessantes já resultaram desses estudos, entre as quais figura a de que, em relação a determinadas espécies, as classes anuais dominantes acham-se estreitamente relacionadas com o teor elevado da salinidade de superfície.

O trabalho de que ora nos ocupamos, refere-se aos ovos e larvas de peixes pelágicos encontrados tanto à superfície como nos fundos, no período de 1943 a 1946. As coletas superficiais foram feitas mensalmente, com exceção de três meses em 1945 e dois, em 1946; as de fundo foram obtidas em intervalos irregulares.

Os autores discutem cada unidade específica separadamente, comentam os métodos empregados na pesquisa, referindo-se à abundância do material, às épocas da desova, aos aspectos gerais da biologia das espécies estudadas, à distribuição, etc, incluindo uma interessante chave de classificação em que figuram os caracteres de ovos e larvas observados mês por mês.

Acham os autores que, com um maior conhecimento do período exato em que se dá a desova de cada espécie estudada, iornar-se-á possível fazer previsões pelo simples exame da salinidade superficial, das precipitações atmosféricas, dos dados relativos à força e direção dos ventos sem haver necessidade de se sair ao mar.

J. P. C.

FRANCA, P. da, 1952. Merluccius merluccius (L.,) e Merluccius senegalensis Cadenat: seus caracteres distintivos. Notas e Estudos, do Inst. de Biol. Marítima, n.º 3, p. 1-30, 4 quadros. Lisboa.

"Notas e Estudos", cujo 3.º número apareceu em agosto de 1952, representa a continuação dos "Travaux de la Station de Biologie Maritime de Lisbonne", publicação, aliás, mundialmente conhecida.

Depois de ter iniciado a nova série com dois bons trabalhos, o primeiro de A. Candeias e o segundo de J. Tiago de Oliveira, insere "Notas e Estudos", no número imediato, a interessante investigação de Pedro da Franca, sobre a qual passamos a nos referir.

Em 1950, Cadenat forneceu, com muita precisão, os caracteres distintivos de duas espécies de Merliiccius, descrevendo, nessa ocasião, M. senegalensis, das costas da Mauritania e do Senegal.

O autor do trabalho de que ora nos ocupamos, investigou as pescadinhas desembarcadas no porto de Lisboa, conhecidas pelos nomes vulgares de "pescada branca", da costa portuguesa e "pescada negra", do litoral africano, com o escopo de verificar si se tratava ou não de espécies distintas. Tendo sido o material adquirido no mercado da capital lusitana, é evidente que o autor não se preocupou com o estudo das populações, limitando-se a fixar-lhes os caracteres, para o que baseou-se em dados fornecidos por 180 exemplares. Concluiu, assim, que as "pescadas brancas" correspondem a Merluccius merliiccius (L.,) e as "pescadas negras" a M. senegalensis Cadenat.

Em apêndice, considera ainda o autor duas espécies capturadas pela Missão de Estudos de Pesca, de Angola: Merliiccius polli Cadenat e M. capensis (Castelnau).

O trabalho do pesquisador do Instituto de Biologia Marítima de Lisboa, sobretudo na parte constante do "apêndice", é muito interessante sugerindo, no nosso meio, investigação paralela, relativamente a Merluccius gayi (Guichenot) e M. capensis (Castelnau), com o objetivo de comparação com M. hubbsi Marini, esta ocorrente no Rio de Janeiro, onde é conhecida pelo nome vulgar de Pescadinha do Reino.

J. P. C.

SILVA, E. de S., & PINTO, J. dos S., 1952. Estudo do ciclo sazonal do plancton marinho da Guiné Portuguesa. Separata do Bol. Cult. da Guiné Portuguesa, n.º 25, p. 131-155, quadro 1 e 2. Bissau.

A captura de material planctónico da Guiné Portuguesa, promovida pela Missão Zoológica da Guiné, chefiada pelo Prof. Fernando Frade, possibilitou a efetivação dos primeiros estudos nesse sentido, em águas lusitanas da África, no decurso de 1945-1946.

No intuito de completar essas observações, dizem os autores que o exame desse material levou-os "a desejar obter uma nova série de amostras escalonadas através do ano e acompanhadas de determinações da temperatura e da salinidade da água, que permitissem ajuizar das variações sazonais do plancton, da possível existência de ciclos alternantes e da sua relação com as condições físico-químicas do 'meio'.

Assim sendo, aproveitando-s e da oportunidade que se lhes oferecia de cooperação por parte da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné, deram início à investigação do material contido em 53 amostras que foi, considerado sob dois aspectos:

1.º) Da composição das amostras em elementos planctónicos, sua variação sazonal e caracterização das espécies dominantes;

2.º) Da descriminação sistemática das espécies novas para a Guiné Portuguesa, trabalho que surgirá posteriormente, compreendendo: Distomáceas, Dinoflagelados, Tintinideos e demais representantes do zooplancton, exceção feita dos Copepoda.

Na pesquisa considerada, observaram os autores, notável homonegeidade no plancton, tendo havido, de um modo geral, grande predominancia do fito sobre o. zooplancton. As amostras mais ricas foram colhidas no fim do verão, no outono e inverno, esclarecendo os pesquisadores que "do seu estudo não resultou qualquer indicação permitindo supor a existência de ciclos alternantes entre elementos fito e zooplanctónicos". Verificaram, outrossim, haver decidida predominância de Diatomáceas, das quais encontraram 101 espécies, com predominância, porém, de 14 somente que foram consideradas como perenes ou sub-perênes. Por outro lado, identificaram 17 espécies extremamente raras. Quanto aos Dinoflagelata, foi constatada a presença de 30 espécies, tendo contudo surpreendido os pesquisadores, aescassez desse representante, do qual somente Peridinium leonis compareceu regularmente, podendo ser considerado como perene.

O trabalho parece ter sido bem conduzido, esperando-se que aos autores não falte o necessário apoio, a fim de que possam prosseguir, com sucesso, na investigação a que com tanta dedicação se impuzeram.

J. P. C.

TRAVASSOS, H., 1952. "Contribuição ao estudo da Subordem Characoidei Berg, 1940 - VIII. Estudo de alguns ossos da região oromandibular de três espécies de Parodontinae Eigenmann, 1910 (Actinopterygii - Cypriniformes). Bol. Mus. Nacional (N. 8.) Zoologia n.º 108, p. 1-17, est. I-IV. R. de Janeiro.

Prosseguindo na série utilíssimas de pesquisas que vem empreendendo em relação á Subordem Characoidei, apresenta o autor, nessa publicação, o estudo de alguns casos da região oromandibular de Apareiodon affinis (Steindachner, 1879), Apareiodon davise Fowler, 1941 e Parodon tortuosus Eigenmann & Norrís, 1900.

Ilustrando o seu trabalho com 4 estampas contendo 40 desenhos, chega o autor às seguintes conclusões que, data vénia, transcrevemos:

I - Osso intermaxilar - Apresenta caracteres de valor específico: a) forma geral do osso; b) apófise IV; c) apófise V. Não achamos caracteres de valor genérico, a não ser a forma do bordo medial, que talvez tenha valor.

II - Osso maxilar - Provavelmente a morfologia da regiãoarmada dará caracteres de valor específico.

III - Mandíbula. Osso dentário e articular. A presença de dentes e o grande desenvolvimento da região armada, (Figs. 20 a 24 XI ) são caracteres de valor genérico. Achamos que somente um estudo muito detalhado desses ossos dará caracteres de valor específico. Osso angular - Não possue caracteres de valor genérico, mas possue detalhes anatômicos de valor específico.

IV - Dentes - Acreditamos que a forma dos dentes superiores tenha valor genérico, bem como a presença ou ausência de dentes mandibulares.

V - Como o presente estudo se refere somente a três espécies e a dois gêneros de Parodontinae, não podemos afirmar que os caracteres a que atribuímos valores genéricos e específicos se estendam a toda a família.

A realização de investigações dessa natureza e, sobretudo, a adoção de tal tipo de pesquisa em relação aos Pisces, viria, evidentemente, pôr um pouco de ordem no caos tremendo em que se debatem aqueles que, trabalhando no grupo, se vêm obrigados a tratar de questões de nomenclatura zoológica. Parece, mesmo, que já há um movimento salutar e vitorioso nesse sentido. Muitas vezes, o especialista, mesmo baseado em abundante material, experimenta dificuldades enormes ao pretender reconhecer, com suficiente nitidez, as unidades específicas constantes de determinado gênero. Não raro, a complexidade de caracteres constantes de chaves e diagnoses é tal que, somada às freqüentes e inadequadas descrições, quase sempre baseadas em caracteres externos, torna o grupo absolutamente impenetrável. Por isso mesmo, em trabalho recente relativo a exemplares da Subfamilia Atherininae, Schultz (1948) declara que afigurou-se-lhe desde logo necessário levar a cabo trabalho gigantesco "sobretudo de caráter osteológico", no sentido de elucidar a posição e as relações existentes entre vários gêneros da família Atherinidae.

Na parte reservada aos dentes de substituição, aborda o autor assunto palpitante que se relaciona com a controvertida teoria de Gordon Cawston a respeito da função dos dentes de reserva. Não estamos familiarizados com o que se passa em relação à Subordem Characoidei, mas, no que respeita à fauna marinha, com especialidade na Subordem Mugiloidei, família Atherinidae, podemos fazer nossas as palavras do autor, quando diz: "Já observamos dentes de substituição em posição intermediária, isto é, entre a série de dentes funcionais e a série de substituição, indicando claramente que o dente de substituição vai tomar a posição do dente funcional que caiu".

Não deixa de ser altamente confortadora a esperança de que o método racional de classificação, baseado em caracteres osteológicos, seja adotado em larga escala. E se, como acreditamos, tal suceder, cabe ao Dr. Haroldo Travassos, no nosso País, posição destacada de pioneiro.

J. P. C.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 1952
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