Morte social da população idosa salientada em tempos de pandemia

Basheer, Najuah Sael; Solanho, Gabriela Sulzbach; Baracat, Ana Carolina Coelho; Mecabo, Alice; Galvani, Giovana Nishiyama; Crisgiovanni, Fábio Luigi; Roderjan, Amanda Kuster; Guirro, Úrsula Bueno do Prado

doi:10.1590/1983-803420233407PT

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Sumário

Pesquisa • Rev. Bioét. 31 • 2023 • https://doi.org/10.1590/1983-803420233407PT copiar

Morte social da população idosa salientada em tempos de pandemia

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Num contexto em que a população idosa é cada vez mais negligenciada, a pandemia de covid-19 tornou evidente a falta de inclusão e cuidado que essas pessoas enfrentam, configurando um fenômeno de não pertencimento e exclusão que pode ser descrito pelo termo “morte social”. Esta pesquisa objetiva analisar a morte social da população idosa por meio de revisão integrativa da literatura que inclui estudos relacionados a morte social, idosos e pandemia. Dos 1.291 estudos encontrados nas bases de dados, foram selecionados 15 trabalhos, nos quais se observou que o envelhecimento não é entendido como processo fisiológico, mas como doença, de maneira que idosos são retirados da sociedade e tratados exaustivamente até morrerem isolados. Pode-se concluir que um olhar específico para essa população se faz necessário para garantir sua (re)integração e participação ativa na sociedade.

Envelhecimento; Covid-19; Assistência integral à saúde; Saúde mental

Autores; ano	Artigo	País	Tipo de estudo	Resultados
Mazzela e colaboadores; 2010 ⁷	“Social support and long-term mortality in the elderly: role of comorbidity”	Itália	Observacional transversal	Classe socioeconômica baixa, solidão e comorbidades associadas estão entre os maiores determinantes de reinternações e mortalidade entre idosos. Baixa interação social é um importante valor preditivo de mortalidade.
Gronewold e colaboradores; 2020 ⁸	“Association of social relationships with incident cardiovascular events and all-cause mortality”	Alemanha	Observacional transversal	Sentir-se sozinho ou viver isolado da sociedade está associado a alto risco cardiovascular e a morbimortalidade independente de outros fatores de risco em idosos.
Hernandez e colaboradores; 2021 ⁹	“Suicide among older adults: interactions among key risk factors”	Estados Unidos	Retrospectivo	Falta de esperança, seguida de depressão e visão negativa sobre a própria saúde foram os principais fatores de risco para suicídio na população idosa. Doenças físicas tiveram pouco impacto no índice de suicídio.
Andrade e colaboradores; 2017 ¹⁰	“Vulnerabilidade de idosos a infecções sexualmente transmissíveis”	Brasil	Observacional transversal	Profissionais de saúde tendem a achar que os idosos são “assexuados” ou, ainda, que possuem um único parceiro sexual. Isso leva à falta de comunicação sobre o assunto com essas pessoas, estando entre as causas dos altos índices de infecção sexualmente transmissível nessa população.
Ribeiro e colaboradores; 2017 ¹¹	“Coping strategies used by the elderly regarding aging and death: an integrative review”	Brasil	Revisão de literatura	As diferentes estratégias para enfrentar o envelhecimento e a morte dependem muito da maneira como a sociedade enxerga essa etapa da vida: negando o inevitável ou adequando as dificuldades desse momento a cada indivíduo sem julgamentos. No estudo, salienta-se que o Ocidente confere caráter negativo ao envelhecimento, o que torna esse processo uma experiência negativa e solitária para quem a vivencia.
Souza, Giacomin; 2020 ¹²	“Care for frail older adults in the community: an integrative review”	Brasil	Revisão de literatura	É necessário reconhecer, estudar e cuidar de idosos frágeis, entretanto é de suma importância para o prognóstico desses pacientes que sua autonomia seja incentivada.
Fagundes e colaboradores; 2017 ¹³	“Instituições de longa permanência como alternativa no acolhimento das pessoas idosas”	Brasil	Descritivo	A negligência no tratamento dispensado à população idosa está institucionalizada. As instituições de longa permanência são muitas vezes vistas como uma experiência negativa para o idoso. Nessas instituições não estão presentes fiscalizações sanitárias, tampouco um acolhimento efetivo aos idosos.
Kotwal e colaboradores; 2021 ¹⁴	“The epidemiology of social isolation and loneliness among older adults during the last years of life”	Estados Unidos	Observacional transversal	Um dos principais responsáveis pelas altas taxas de idosos em isolamento social é a falha no diálogo acerca do envelhecimento e da terminalidade de vida, bem como o déficit de métodos e iniciativas capazes de reconhecer os sinais de distanciamento e solidão em idosos.
Kim, Jung; 2021 ¹⁵	“Social isolation and psychological distress during the covid-19 pandemic: a cross-national analysis”	Coreia do Sul	Observacional transversal	O isolamento social causado pela covid-19 esteve diretamente associado ao sofrimento psicológico em idosos.
Goveas, Shear; 2021 ¹⁶	“Grief and the covid-19 pandemic in older adults”	Estados Unidos	Observacional transversal	O aumento nos casos de transtorno do luto prolongado (TLP) é uma sequela do atual momento pandêmico. E esse estado é responsável por maior morbimortalidade em idosos.
Fraser e colaboradores; 2020 ⁶	“Ageism and covid-19: what does our society’s response say about us?”	Canadá	Reflexivo	A maneira como a morte dos idosos durante a pandemia foi enfrentada pela sociedade salienta o quão essa população é menosprezada. Não houve análises críticas do alto número de idosos vítimas da covid-19.
Gonzaga e colaboradores; 2018 ¹⁷	“Profissionais de saúde: um ponto de vista sobre a morte e a distanásia”	Brasil	Observacional transversal	O conhecimento e a compreensão sobre a morte e o morrer estão entre os assuntos menos abordados durante a formação acadêmica dos profissionais da saúde. Com isso, difunde-se no meio médico o entendimento de que a morte é sinônimo de erro médico, o que resulta na realização e aceitação de práticas de distanásia.
Pereira, Rangel, Giffoni; 2019 ¹⁸	“Identificação do nível de conhecimento em cuidados paliativos na formação médica em uma escola de medicina de Goiás”	Brasil	Observacional transversal	Escolas médicas apresentam deficiência ao abordarem a inevitabilidade da morte e questões bioéticas na grade curricular, fazendo com que os acadêmicos não sejam treinados para conversar sobre o assunto com pacientes idosos em terminalidade de vida.
Carter e colaboradores; 2021 ¹⁹	“A rapid scoping review of end-of-life conversations with frail older adults in Canada”	Canadá	Revisão de literatura	Um diálogo claro e conciso sobre o diagnóstico do paciente idoso é crucial para alcançar melhores desfechos clínicos. O incentivo à autonomia atrelado ao contínuo diálogo determina maior sobrevida a esses pacientes.

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[1] Correspondência: Najuah Sael Basheer Atari – Av. Vicente Machado, 1017, ap. 802 CEP 80420-010. Curitiba/PR, Brasil.