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Apresentação

Apresentação

Neste primeiro número do Boletim do Instituto Paulista de Oceanografia deve ficar esclarecido como, quando e por que foi criada a repartição, de que modo foram iniciadas as suas atividades e, mais ainda, porque os trabalhos que se seguem são os primeiros publicados.

Compreenderam há tempos os administradores de S. Paulo que a organização econômica do Estado se ressentia de um centro de estudos especializados sobre a nossa riqueza marítima e que pudesse ditar normas seguras para a sua exploração.

Essa a razão porque foi expedido o decreto-lei n. 16.685, de 31 de dezembro de 1946 que criou o Instituto Paulista de Oceanografia.

Logo após à promulgação desse diploma legal, fui procurado em Paris, onde me encontrava, à disposição do Ministério das Colônias, para reorganizar e dirigir um Instituto congênere na Indochina. Nessa oportunidade o emissário do Governo do Estado de São Paulo me fez o convite oficial para dirigir o Instituto Paulista de Oceanografia e fazê-lo funcionar de maneira que atingisse às altas finalidades para que foi criado.

Chegando a está Capital, em fevereiro de 1947, verifiquei que o referido Instituto já estava estruturado pelo citado decreto-lei, restando-me, por isso, iniciar os trabalhos que me cabiam para bem cumprir as condições estabelecidas no contrato que então assinei na Secretaria da Agricultura. Deparei de início com várias dificuldades, tanto no que respeita à instalação como no que se refere a pessoal e material. Bem consideradas essas dificuldades pode-se dizer que os trabalhos já realizados e de que este Boletim representa uma pequena mostra, correspondem perfeitamente à colaboração e ao amparo que recebeu de outras entidades públicas, científicas e administrativas, estaduais e federais.

Esse auxílio foi recebido, principalmente, do Instituto Adolfo Lutz, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo, Instituto Geográfico é Geológico e da Diretoria de Hidrografia e Navegação, do Ministério da Marinha.

Embora criado em fins de 1946, como foi dito, o Instituto Paulista de Oceanografia só no último trimestre de 1948 iniciou as suas atividades, as quais, entretanto, tiveram prosseguimento normal a partir de janeiro de 1949. Foram muitas e quasi insuperáveis as dificuldades a que já me referi e que precisaram de ser enfrentadas nos primeiros tempos de sua vida administrativa. E tais dificuldades ou, dizendo melhor, a maneira e os meios de enfrentá-las é que foram determinando os rumos que deviam ser tomados pela Direção do Instituto na orientação dos seus trabalhos.

É de se registrar, por exemplo, que foi logo verificada a impossibilidade da permanência da Secção da Fauna Marítima na cidade de Santos. Primeiro, porque localizada naquela cidade marítima, e sem elementos próprios, seria difícil manter-se distante dos meios em que 'se encontram os fatores de estudo, pesquisa e experimentação de que dispõem as entidades citadas. Depois, porque a orla marítima que circunda a cidade de Santos acha-se sob a influência de águas doces, fortemente contaminadas pelos depejos de uma grande cidade, além de estar compreendida nela a baía em que está localizado um porto considerado dos mais movimentados do continente.

O Instituto Paulista de Oceanografia não pode, em terra, desenvolver, convenientemente, suas atividades longe dos meios científicos, sendo impraticável, também, a realização de trabalhos marítimos no chamado Mar Novo, sem que disponha de navios hidrográficos aparelhados para pesquisas físico-químicas, biológicas e oceanográficas. Essa dificuldade foi em parte removida com a localização de duas bases de pesquisa,, ainda em condições precárias, nos extremos norte e sul do litoral paulista, uma em Cananéia e outra em S. Sebastião, tal como acontece nas instituições congêneres da América do Norte e da Europa que, tendo geralmente suas sedes nos grandes centros científicos do interior, mantêm laboratórios marítimos em diversos pontos da costa. Para a instalação das referidas bases foi valioso o auxílio de particulares esclarecidos que não se negaram a prestar colaboração a este Instituto.

No litoral norte, devido à falta de recursos, não foi possível, ainda, dar execução ao programa delineado para essa região marinha. A zona de Cananéia, todavia, mais visitada e mais explorada, deu oportunidade para que fossem feitas observações interessantes que servirão para orientar realizações futuras. Os elementos colhidos nessas viagens de estudo contribuíram para ampliar os conhecimentos do meio como se verá através de "Considerações gerais em torno da região lagunar de Cananéia-Iguape", de "O plancton do Rio Maria Rodrigues" e de "Pesquisas Físicas e Químicas do Sistema Hidrográfico da Região Lagunar de Cananéia", que correspondem todos aos primeiros capítulos de uma série de estudos em franco desenvolvimento, os quais, à luz das observações que deixaram entrever, estão certamente fadados à solução definitiva de vários e complexos problemas de biologia marinha. Aquele que é mais um ensaio de geografia física, representa introdução útil para a compreensão dos trabalhos que serão feitos posteriormente; o segundo versa sobre taxonomía do plancton, e, o terceiro, aborda interessantes aspectos de Oceanografia Física. Todos têm como principal objetivo o estudo da nutritividade das águas oceânicas, a fim de indicar as possibilidades econômicas do litoral sul de São Paulo.

Este primeiro número do Boletim do Instituto Paulista de Oceanografia apresenta assim, além de outros, três trabalhos originais referenes ao encadeamento lógico das suas atividades normais. Outras publicações virão depois, em prosseguimento, para demonstrar como têm sido estudados os problemas que lhe são pertinentes, assim como planejados e executados os seus programas de trabalho.

Não posso, aqui, deixar fugir a oportunidade que se me apresenta para uma referência à iniciativa do Exmo. Sr. Ministro João Alberto Lins de Barros que, em colaboração com a Marinha Nacional, organizou com grandes sacrifícios e dispendios uma expedição à Ilha da Trindade, com o fim de conhecer das possibilidades econômicas e estratégicas daquela parte do território brasileiro. Por nimia gentileza desse distinto oficial do Exército, teve o Instituto Paulista de Oceanografia o ensejo de efetuar estudos sobre Peixes e Hidrozoários da região visitada. Dos primeiros, figura no presente "Boletim" um trabalho em que se relacionam e discutem 58 espécies e, dos segundos, um outro que abarca 19 espécies. Acham-se, outrossim, em bom andamento outros estudos sobre Bryozoa, Pantopoda, Stomaítopoda, Polychaeta e Mollusca, além de um trabalho botânico, sobre as algas da mesma região e que compreende material de Cabo Frio, S. João da Barra, bancos S. Tomé e Jaseur e da I. da Trindade. Ao Exmo. Sr. Ministro João Alberto Lins de Barros deve, pois, a Direção deste Instituto a rara e feliz oportunidade de pôr-se em contacto com uma vasta e interessante zona marítima das águas do Brasil. A iniciativa desse cidadão, pelo que encerra de patriótico, é dessas que precisam ser imitadas, pois que somente através de uma compreensão local dos problemas do País, poderão ser eles equacionados e resolvidos como se deseja.

Na oportunidade da publicação deste "Boletim" é de toda justiça deixar consignado o agradecimento especial desta Direção às entidades antes referidas, pela valiosa colaboração que deram, e que certamente continuarão a dar, ao Instituto Paulista de Oceanografia, para que este, em futuro não remoto, possa apresem ar maior acervo de trabalhos técnicocientíficos, e, assim, influir de modo decisivo para o rendimento econômico das atividades pesqueiras.

Não se pode deixar de registrar, também, a colaboração e o apoio do Governo da República através do Ministério da Agricultura, que tem feito consignar no seu orçamento valioso auxílio pecuniário para o aparelhamento do Instituto Paulista de Oceanografia, e do Ministério da Marinha, que, pela sua Diretoria de Hidrografia e Navegação, vem facilitando tudo quanto lhe tem sido possível para a realização dos nossos trabalhos marítimos e, ainda, do Ministério da Aeronáutica, pelo fornecimento de material feito por intermédio do seu Parque de Aeronáutica localizado nesta Capital.

A continuidade e ampliação desse apoio, dado assim de modo prático e objetivo, constituirá penhor seguro de que o Instituto Paulista de Oceanografia há de cumprir os seus desígnios.

Fica, nestes têrmos, registrado o reconhecimento deste Instituto pelas demonstrações de apoio que lhe tem sido dadas pelos altos poderes da República.

A esperança que se tem neste desenvolvimento firma-se na compreensão das autoridades estaduais interessadas em dar ao Instituto Paulista de Oceanografia os elementos que ainda lhe faltam, tais como: instalação adequada, laboratórios próprios, pessoal habilitado e outros recursos, para que possa funcionar como deve um instituto científico.

São Paulo, Junho de 1950.

W. Besnard

DIRETOR

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 1950
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