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Ecologia alimentar da arara vermelha (Ara chloropterus; Gray 1859) em um mosaico de habitas no Cerrado

Resumo

No Cerrado brasileiro, as populações de arara-vermelha (Ara chloropterus) estão sob forte pressão de perda de habitat, ao mesmo tempo em que suas áreas de alimentação e importantes itens alimentares permanecem praticamente desconhecidos. Neste estudo, avaliei a relação entre a dieta e oferta de recursos alimentares para a arara-vermelha, em um mosaico de habitats, no fragmentado Cerrado do estado de Mato Grosso do Sul. Registrei o consumo de 20 espécies nativas e 5 exóticas, sendo que os hábitats secos (Cerrado, mata estacional e área urbana em meio a Serra de Maracaju) serviram como principais áreas de alimentação no decorrer da estação seca. Por outro lado, a vegetação ripária (Rio Aquidauana e riachos) foi explorada em proporções semelhantes em ambas estações. O uso sazonal de espécies com grandes sementes, ao longo do mosaico de habitats, exibiu um gradiente da área urbana aos habitats secos ao longo do qual as araras consumiram desde espécies exóticas até as do Cerrado. As sementes de Terminalia catappa e polpa de Mangifera indica foram responsáveis por grande parte da alimentação delas na área urbana durante a estação chuvosa, enquanto as sementes de Cariocar brasiliense correspondeu ao mesmo no Cerrado. As sementes de Dipteryx alata e Buchenavia tomentosa, também no Cerrado, ficaram no extremo oposto do gradiente, sendo consumidos durante a estação seca. Em meio ao gradiente, ficaram os frutos de palmeiras, explorados na vegetação dos cursos d`água, tanto nas chuvas quanto na seca. O número de araras-vermelhas se alimentando foi paralelo a abundância de alimentos, bem como ao número e diversidade de espécies de alimentares. Já a amplitude de nicho alimentar exibiu valores elevados durante o ano todo, refletindo o consumo de uma variedade de frutos abundantes. Portanto, não apenas a abundância, mas também a variedade de recursos alimentares influenciou fortemente o número de araras-vermelhas alimentando-se ao longo do mosaico de habitats durante todo o ano. Como as araras-vermelhas dependem extensamente de espécies com sementes grandes, entender como a oferta diversificada desses recursos pode afetar suas variações temporais e espaciais de abundância são fundamentais para o desenvolvimento de planos de conservação. Dessa forma, face ao acelerado desmatamento do Cerrado no Mato Grosso do Sul, a Serra de Maracaju, em meio aos remanescentes do Cerrado, emerge como crucial para as populações persistentes de araras-vermelhas.

Palavras-chave:
Psittacidae; fenologia; predação de sementes; frugivoria; interação animal-planta

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