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Uma rede de interação alimentar entre psitacídeos e plantas em uma área urbana na cidade de São Carlos – SP, sudeste do Brasil

Resumo

A família Psittacidae apresenta grande diversidade de espécies na região Neotropical, as quais desempenham funções ecológicas fundamentais para os ecossistemas. Essas aves frugívoras podem ocupar diferentes posições no gradiente antagonista-mutualista de interações alimentares, atuando como predadoras e/ou como dispersoras de sementes. Pouco se sabe sobre redes de interações ecológicas ave-planta com foco nos psitacídeos em ambientes urbanos, o que pode comprometer a gestão de áreas naturais em paisagens antrópicas e dificultar o planejamento de estratégias de conservação. Nesse contexto, o presente estudo objetivou analisar a rede de interações alimentares entre psitacídeos e plantas que ocorrem em áreas verdes da zona urbana e periurbana do município de São Carlos, estado de São Paulo, sudeste do Brasil. A partir de busca ativa somada à aplicação do método animal-focal em 36 pontos de amostragem sistematizada de 2019 a 2021, foram observadas as espécies de plantas consumidas por psitacídeos na área de estudo. Foram registradas 4 espécies de Psittacidae consumindo recursos alimentares de 46 espécies de plantas. A ordem de relevância das aves na estruturação da rede ecológica foi: Brotogeris chiriri (Vieillot, 1851), Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1872), Forpus xanthopterygius (Spix, 1843) e Eupsittula aurea (Gmelin, 1788). As plantas mais consumidas foram Syagrus romanzoffiana, Salix babylonica, Caesalpinea pluviosa, Mangifera indica e Handroanthus heptaphyllus. O padrão de consumo pelas aves foi significativamente distinto entre as espécies, sendo que no geral apresentaram uma dieta ampla e sobreposição de nicho mediana. O aninhamento da rede foi baixo, assim como conectância, ou seja, o número de interações ou conexões observadas entre pares de espécies foi consideravelmente menor do que o número total possível. A assimetria da rede foi consideravelmente alta, com o grupo dos psitacídeos realizando interações com um grande número de espécies de plantas, ao passo que cada planta recebeu em média poucas espécies de psitacídeos. Os resultados apontam para uma alta plasticidade no uso de recursos alimentares em paisagens antrópicas, indicando que a ocupação do ambiente urbano por psitacídeos vem ocorrendo com sucesso e pode beneficiar as populações das espécies aqui registradas.

Palavras-chave:
arborização urbana; nicho; rede ecológica; Cerrado; Mata Atlântica

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