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Situação atual e recomendações sobre infecção por Staphylococcus aureus resistente à  meticilina na América Latina

INTRODUÇÃO

Grupo de Trabalho Latino-Americano de Resistência de Gram-Positivos. Instituto de Medicina Tropical Alexander von Humboldt, Universidad Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru

Correspondência para

Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) é causa importante e crescente de infecção em cenários hospitalares e, mais recentemente, na comunidade - tanto globalmente como na América Latina.1-3 Infecções por MRSA e outros microrganismos Gram-positivos resistentes a antibióticos constituem reais desafios ao tratamento, representando grande ônus para os recursos da saúde. O Grupo de Trabalho Latino-Americano de Resistência de Gram-Positivos foi estabelecido em 2007 com o objetivo de reduzir esse ônus e melhorar na região o tratamento geral das infecções causadas por bactérias Gram-positivas resistentes. O grupo consiste de 11 médicos latino-americanos com interesse e experiência nesses assuntos.

O grupo reconheceu a importância da educação da comunidade multidisciplinar médica com relação a esses assuntos, e também da revisão das orientações para controle e tratamento de bactérias Gram-positivas resistentes, com enfoque em sua adaptação para atendimento à situação local. Foram estabelecidos subgrupos para a revisão de tópicos específicos como vigilância e epidemiologia, evolução clonal, aspectos laboratoriais e controle e tratamento de MRSA, com a intenção de abordar esses objetivos. Os artigos publicados nesse suplemento resumem os resultados dessas iniciativas.

O primeiro artigo, de Mejía et al., concentra-se na epidemiologia do MRSA; os autores enfatizam a importância de informações acuradas sobre vigilância, inclusive dados de sensibilidade, como instrumento auxiliar no controle e tratamento de infecções resistentes. Fica claro que MRSA é patógeno hospitalar importante em toda região, e que, também, são numerosas as comunicações de infecções por MRSA associadas à comunidade. Vem crescendo o conjunto de dados de vigilância provenientes da América Latina, mas é provável que os especialistas em doenças infecciosas ainda não façam uso ideal desses dados. Admitimos a possibilidade de amplas variações na incidência, e os dados locais talvez não representem a situação específica. Ressalte-se, ainda, a necessidade de um controle de qualidade consistente, para que esses dados possam ser considerados confiáveis.

O padrão clonal do MRSA, um tópico intimamente correlacionado, é o assunto do segundo artigo, de Rodríguez-Noriega & Seas. As linhagens dos principais complexos clonais estão amplamente distribuídas pela América Latina, embora seus perfis de distribuição e resistência estejam variando constantemente. Fica evidente, também, que clones de maior virulência estão sendo isolados mais frequentemente, tanto de infecções ligadas aos serviços de saúde como na comunidade.

Diagnóstico preciso e testes de sensibilidade acurados são pré-requisitos para o tratamento apropriado de infecções por MRSA, e esses temas são esmiuçados por Zurita et al. Esses pesquisadores enfatizam a importância de orientações objetivando testes de MRSA adaptados de modo a atender às necessidades e limitações dos recursos locais, além de medidas coordenadas de controle de qualidade e de instituições de referência centralizadas. Essas etapas devem ser reforçadas por atividades educacionais e por outras iniciativas pertinentes, para que sejam implementadas as melhores práticas.

O controle da disseminação de MRSA nos hospitais e em populações específicas na comunidade é elemento essencial de uma estratégia para redução do ônus gerado por essa infecção. Alvarez et al. revisam as atuais medidas de prevenção e de controle da infecção por MRSA na América Latina, analisam os fatores de risco para disseminação da infecção e resumem as principais recomendações.

No último artigo desse suplemento, Luna et al. revisam o tratamento do MRSA tanto em nível hospitalar como na comunidade. Os autores discutem os antibióticos disponíveis e examinam as diversas orientações com que contamos para o tratamento clínico. As orientações internacionais podem ser utilizadas como ponto de partida, mas devem ser adaptadas em conformidade com a epidemiologia, práticas clínicas e limitações de recursos regionais e locais. Tão logo as orientações tenham sido adaptadas, torna-se essencial um esforço educacional que garanta sua aplicação consistente no cenário clínico.

O objetivo dessas publicações é estimular as comissões de doenças infecciosas, os clínicos e microbiologistas de toda a América Latina a aumentar seus esforços no combate da rápida disseminação do MRSA. Devem ser formulados planos abrangentes, coordenados e detalhados, para que seja possível reduzir o ônus dessa infecção difícil e cada vez mais prevalente; é preciso incentivar os profissionais da saúde, para que fomentem e apliquem a melhor prática na triagem, na prevenção e no tratamento das infecções por MRSA.

AGRADECIMENTOS

Apoio financeiro

Pfizer Inc., Nova Iorque, EUA, financiou os congressos do Grupo de Trabalho Latino-Americano para Resistência de Gram-Positivos. Pfizer Inc. não teve envolvimento na coleta, análise e interpretação dos dados, na redação dos manuscritos, ou na decisão em apresentar os artigos para publicação.

Preparação do manuscrito

O apoio oferecido por Choice Pharma (Hitchin, Inglaterra), com financiamento de Pfizer Inc., consistiu na formatação do manuscrito e na ajuda para a redação do documento.

CONFLITOS DE INTERESSE

E. Gotuzzo: membro do Conselho Consultivo e consultor para Pfizer; recebeu bolsas de pesquisa de Merck Sharp & Dohme; consultor Tibotec para Sanofi Pasteur.

Uma tradução espanhola da versão original em inglês do presente texto, "Current status and recommendations on methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA) infection in Latin America", pelo Dr. Eduardo Gotuzzo e por membros do Grupo de Trabalho Latino-Americano de Resistência de Gram-Positivos, foi publicada na Revista Chilena de Infectologia, Vol. 27 (2), 2010. A versão original em inglês deve ser citada como referência bibliográfica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1. Woodford N, Livermore DM. Infections caused by Gram-positive bacteria: a review of the global challenge. J Infect. 2009; 59 Suppl 1:S4-16.
  • 2. Guzmán-Blanco M, Mejía C, Isturiz R et al. Epidemiology of methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in Latin America. Int J Antimicrob Agents. 2009; 34(4):304-8.
  • 3. Rodríguez-Noriega E, Seas C, Guzmán-Blanco M et al. Evolution of methicillin-resistant Staphylococcus aureus clones in Latin America. Int J Infect Dis. 2010; 14:e560-6.
  • Situação atual e recomendações sobre infecção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina na América Latina

    Eduardo Gotuzzo
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2010
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