Hábitats artificiais têm se tornado comum em áreas costeiras no mundo todo, podendo influenciar a estrutura e funcionamento de ecossistemas bênticos. Nós analisamos a influência de trapiches nos grupos morfofuncionais bênticos de algas associadas a substrato consolidado e de macrofauna em substrato inconsolidado, no canal da Lagoa da Conceição (sul do Brasil). O principal impacto da presença de trapiches é a redução da irradiação disponível para atividade fotossintética, o que está diretamente relacionado com o decréscimo na biomassa microfitobentônica no sedimento e de macroalga de formas de vida mais complexas. Contrário ao esperado os morfotipos com alto potencial de produtividade de biomassa, como macroalgas calcárias articuladas, corticadas e coriáceas, em geral foram menos abundantes, sendo que macroalgas foliáceas e filamentosas de menor biomassa foram encontradas exclusivamente em áreas controle. Os efeitos do trapiche nos grupos funcionais de epifauna e infauna foram específicos ao ponto de coleta e provavelmente relacionados com redução generalizada de produtores primários e com o novo hábitat criado. A infauna discretamente móvel foi o único grupo funcional capaz de prosperar embaixo dos trapiches, devido à sua mobilidade reduzida e frágil estrutura morfológica, beneficiando-se do abrigo oferecido pelos hábitats artificiais. Nossos resultados mostraram que os trapiches podem ter um efeito negativo sobre os organismos da base da cadeia trófica, responsáveis pelo controle bottom-up.
Substrato consolidado; Substrato inconsolidado; Macroalga; Macrofauna; Grupos funcionais; Controle bottom-up