RELATO DE CASO
Sialodenite crônica causada por sarcoidose: relato de caso
Jose Castro Lima Geraldes FilhoI; Helenimarie Schaer BarbosaII; Delano O. SouzaIII; Alisio A. PratesIV
IEspecialista em otorrinolaringologia pelo Hosp. Santa Casa/SSA-BA. Especialista e mestre em cirurgia de cabeça e pescoço pelo Hospital Heliópolis-SP, médico assistente do serviço de cabeça e pescoço do Hospital Aristides Maltez-SSA/BA. Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Aristides Maltez
IIProfessora adjunto da Faculdade de medicina-UFBA, médica assistente do serviço de patologia do Hospital Aristides Maltez SSA/BA. Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Aristides Maltez
IIIResidente em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial do Hospital Santo Antonio-SSA/BA. Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Aristides Maltez
IVGraduando em odontologia pela UFBA. Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Aristides Maltez
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: José Castro Lima Geraldes Filho R. Agnelo de Brito 90 4ºandar ED. Garibalde Memorial Garibaldi
Palavras-chave: glândula submandibular, granulomatose, sarcoidose.
INTRODUÇÃO
A sarcoidose é uma desordem Granulomatosa Sistêmica, não infecciosa, multifocal de etiologia desconhecida, caracterizada pela presença tecidual de Granuloma Epitelioide não-Caseoso1,2. Em 20 a 40% dos pacientes são livres de sintomas e sua doença é descoberta por achados radiográficos de rotina1. Os agentes causais hipotéticos incluem os ambientais e autoantígenos1,3. O objetivo é relatar um caso raro4 de sialodenite crônica tendo como causa a sarcoidose.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 41 anos, apresentou-se com queixa de "inchaço no rosto", diminuição da salivação," vermelhidão nos olhos" e disfagia há meses. Apresentava-se com aumento uniforme e bilateral em glândula parótida e submandibular (Figura B), indolor, firme, lisa, móvel e hiperemia da conjuntiva ocular (Figura A). Aos exames de rotina, o rx de tórax evidenciou uma imagem que sugeria a presença de um infiltrado peribronquiovascular, porém sem expressão clínica. Foi encaminhado para biópsia incisional da glândula submandibular direita e em glândula salivar menor do lábio inferior. O resultado histopatológico concluiu que se tratava de "Sialodenite Crônica Granulomatosa compatível com Sarcoidose". O paciente retornou ao ambulatório com história de ter feito uso de anti-inflamatório não-hormonal (sem orientação médica), com remissão total dos sinais e sintomas.
DISCUSSÃO
A Sarcoidose apresenta-se mais comumente na forma aguda, com sintomas clínicos mais comuns de dispnéia, tosse seca, dor torácica, febre, mal estar, fadiga, artralgia e perda de peso 1 e, cerca de 20% dos pacientes são assintomáticos1. Os pulmões, linfonodos, pele, olhos e glândulas salivares são os órgãos mais afetados1,2. Lesões cutâneas como placas e nódulos, granulomas na mucosa nasal e hepática podem também estar presentes2.
O tecido linfóide é envolvido em quase todos os casos e a tumefação das glândulas salivares, a xerostomia e o envolvimento ocular podem-se combinar e mimetizar uma Síndrome de Sjögren6, o que nos levou de início a realizar biópsia da glândula salivar do lábio inferior.
O sistema respiratório é geralmente o mais afetado e 90% dos pacientes têm uma radiografia de tórax anormal1,5,3. Os sintomas mais comuns são dispnéia, febre, fadiga e tosse seca1,2, o que não ocorreu com nosso paciente.
As lesões oculares são vistas em aproximadamente 25%1. A inflamação do intervalo uveal anterior é a lesão ocular mais comum. Os pacientes queixam-se de alteração visual e de fotofobia. As lesões são crônicas e podem progredir à cegueira1,2.
Envolve raramente a cavidade oral, apresentando-se mais freqüentemente como massa submucosa isolada ou área de granularidade1,6. O facial é o nervo craniano mais envolvido e pode envolver o nervo alveolar inferior1. Nosso paciente queixava-se de disfagia, mas acreditamos ter sido um sintoma relacionado à diminuição da salivação.
O exame histopatológico auxilia no diagnóstico, o que foi fundamental no nosso caso. Não havia aspectos morfológicos sugestivos de doença de Miculicz/Síndrome de Sjögren e, a pesquisa de fungos (Grocott) e de micobacterias (Ziehl-Neelsen) foram negativas. Nota-se na Figura C granulomas constituídos por células epitelioides e células gigantes multinucleadas.
O diagnóstico apoia-se na história clínica, características radiográficas, evidência histológica e exclusão de outras doenças capazes de produzir um quadro clínico ou histológico similar1. Algumas anormalidades laboratoriais como a hpercalcemia e hipercalciuria podem estar presentes. A enzima conversora da angiotensina sérica encontra-se elevada em 60% e, são úteis na monitorização da evolução e para indicar as remissões da doença. Um teste cutâneo para sarcoidose, o teste de Kveim, pode ser executado1,2, mas raramente é usado.
Um período da observação de 3 a 12 meses é recomendado geralmente para determinar o curso da doença1,6. O tratamento é indicado geralmente para o envolvimento ocular severo, participação pulmonar sintomática, manifestações neurológicas, renais, cardíacas, cutânea que afetam a face e esplenomegalia1,6. As terapias de escolha para a sarcoidose são os corticosteroides.
Acreditamos que o uso de anti-inflamatório não-hormonal pelo nosso paciente por menos de dez dias não tenha sido a causa da remissão da doença e, sim, uma resolução espontânea.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exame histopatológico, o quadro radiológico e a clínica são fundamentais para o diagnóstico. O tratamento é dirigido para o uso de corticosteroides, ou permanecer expectante.
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 19 de julho de 2007. cod. 4674
Artigo aceito em 20 de março de 2008
Referências bibliográficas
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Mar 2010 -
Data do Fascículo
Fev 2010