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Obituário: Horácio Carlos Panepucci

Obituário: Horácio Carlos Panepucci

O Professor Horácio Carlos Panepucci deixou nosso convívio em 21 de Outubro de 2004, após um curto período de doença.

Nascido na Argentina em Janeiro de 1937, obteve sua graduação em Física pela Facultad de Ciencias Exactas y Naturales da Universidad de Buenos Aires, onde lecionou até 1966. Nessa época, o governo militar de então ordenou a invasão das dependências da universidade, o que motivou seu pedido de demissão e sua saída do país. Nessa época ele era membro do Consejo Directivo da Escola, representando os alunos de pós-graduação.

Estabeleceu-se no Brasil, onde obteve seu título de Doutor em Ciências através de um programa conjunto entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), tornando-se assistente de pesquisa nesta última instituição. Em 1970 juntou-se ao recém fundado Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC), Universidade de São Paulo, como Professor Assistente, tornando-se Professor Titular em 1981. O professor Panepucci foi responsável por contribuições marcantes para o desenvolvimento deste Instituto. Ministrou cursos de âmbito teórico e experimental na graduação e pós-graduação, com uma atenção especial à criação dos Laboratórios de Ensino, hoje em dia uma das preciosidades do Instituto. Panepucci sempre que podia manifestava seu prazer em ter sido o Professor Homenageado pela primeira turma de graduandos do IFQSC. Foi orientador de 24 alunos de pós-graduação, bem como supervisor de um número grande de alunos de iniciação científica e de pós-doutores, muitos deles ocupando hoje posições relevantes na academia e indústrias pelo mundo afora.

Como pesquisador, Panepucci se especializou na área de Espectroscopia, principalmente Ressonância Paramagnética Eletrônica e Ressonância Magnética Nuclear, investigando aspectos básicos da matéria condensada. Mais tarde enveredou pelas aplicações médicas da Física, com Imagens e Espectroscopia por Ressonância Magnética (IRM). Em ambas as áreas seu trabalho é reconhecido como pioneiro no Brasil e na América Latina. Sua pesquisa em Física Básica resultou em 80 artigos publicados em revistas científicas, livros e anais de conferências internacionais, que obtiveram mais de 200 citações, que incluem extensas referências em livros didáticos. Na área de Física Aplicada, que conta também com um número significativo de trabalhos em revistas, sua principal contribuição foi o desenvolvimento pioneiro das técnicas de Imagens e Espectroscopia por Ressonância Magnética no Brasil, que resultou no desenvolvimento em 1998/99 de um sistema completo de IRM para uso clínico. Este sistema constitui um dos mais vívidos exemplos de transferência de resultados de pesquisa básica com benefícios diretos orientados à sociedade.

Sua experiência no exterior incluiu cargos de Pesquisador Assistente junto ao Departamento de Física da Universidade da Califórnia (UC) em Berkeley (1967-68), Assistente junto ao departamento de Física da UC em Santa Bárbara, Professor Visitante junto à Escola de Medicina da UC em São Francisco, e universidades no Chile, Peru, Venezuela, Argentina e Cuba. Teve uma passagem curta como Assistente no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Foi membro do comitê diretor da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Foi bolsista da John Simon Guggenheim Foundation, e era bolsista de pesquisa do CNPq. Atuou junto ao corpo editorial de Crystal Lattice Defects and Amorphous Materials e de Magnetic Resonance Reviews. Durante a sua vida atuou também como assessor para diversas instituições, destacando-se o CNPq, Fapesp e o programa do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (Programa PADCT).

O professor Panepucci deixou também sua marca em quase todas as posições administrativas do seu Instituto e da Universidade de São Paulo, chegando a ocupar a posição de reitor substituto da USP, indicado pelo Conselho Universitário. Nas sua próprias palavras, Panepucci acreditava que nos seus 31 anos de carreira, que coincidem com a própria idade do instituto, ele ajudou seus colegas a fazer a magnífica escola de hoje. Não apenas pela construção de uma excelente infra-estrutura e qualidade dos programas de pesquisa, mas principalmente pelo respeito mútuo que rege as relações entre seus membros em todas as categorias, o qual permite extrair de cada indivíduo o que ele tem de melhor para dar à universidade.

Panepucci tinha uma maneira muito direta de abordar todos os problemas, mesmo os mais complicados, e um senso de humor sem dúvida singular. Quando ele finalmente descobriu a gravidade da sua doença e foi informado que muitos colegas ficaram preocupados e que todos gostariam de visitá-lo no hospital, ele disse " não posso prometer que vou durar o tempo necessário para receber a todos, mas com certeza terei um velório com grande comparecimento". Manter o senso de humor foi a ultima lição que nosso mestre nos ensinou diante do inevitável.

Todos nós lamentamos muito o seu desaparecimento.

Alberto Tannús e Oswaldo Baffa

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Abr 2006
  • Data do Fascículo
    Mar 2006
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