Algoritmo para Alta Hospitalar Segura do Paciente Submetido a Transplante Renal

Trata-se de um estudo metodológico de desenvolvimento de algoritmo elaborado a partir das seguintes etapas: 1) revisão de literatura; 2) estudo de coorte histórica, realizado em hospital de referência em transplante na cidade de Fortaleza – Ceará, sendo incluídos todos os receptores de transplante de rim isolado, adultos e crianças, ocorridos entre junho de 2017 e junho de 2019, que receberam alta hospitalar para seguimento ambulatorial (n=265); 3) construção do algoritmo a partir das evidências científicas obtidas na revisão de literatura e em informações do estudo de coorte; 4) validação do algoritmo por juízes especialistas, com avaliação dos instrumentos nos domínios: Objetivos, Estrutura e Apresentação e Relevância.

Resultados:

O perfil sociodemográfico dos pacientes deste estudo converge com a literatura nacional. A média geral de tempo de hospitalização (TH) foi de 11 dias, sendo sete para os receptores de doador vivo e 11 para os que receberam transplante de doador falecido. As principais complicações precoces foram: infecção (25,6%), função tardia do enxerto (31,6%), complicações cirúrgicas (8,3%); sete (2,7%) pacientes apresentaram rejeição. Todas as complicações foram associadas ao prolongamento do TH. A validação do (AASTxR) foi realizada por 19 juízes especialistas em transplante renal, que consideraram o instrumento adequado para apoiar os profissionais na tomada de decisão sobre a alta do paciente. Todos os itens das dimensões avaliadas apresentaram Índice de Validade do Conteúdo (IVC) excelentes, iguais a 1,00. Assim , o IVC de cada domínio foi igual a 1,00, com IVC total = 1,00. Na análise binomial, os itens apresentaram p = 0,135 indicando não haver discordância entre os juízes na pontuação atribuída. Os comentários e sugestões subsidiaram as modificações no instrumento que possibilitou a definição da versão final do algoritmo.

Conclusão:

Diante do contexto comum de TH prolongado, um algoritmo para alta segura pode consistir em importante estratégia para melhorar a compreensão sobre a linha de cuidado no pós-transplante e avaliação de cada paciente para uma alta precoce e segura.

Palavras-chave
Transplante de Rim; Complicações Pós-Operatórias; Alta do Paciente; Tempo de Internação; Algoritmos

Variáveis		n	%
Diagnóstico da doença renal primária		265
	Doença renal do diabetes	42	15,8
	Nefropatia hipertensiva	27	10,2
	Glomerulopatias crônicas	46	17,4
	Doença policística renal	18	6,8
	Patologias urológicas – bexiga neurogênica	13	4,9
	Etiologia desconhecida	97	36,6
	Outras	22	8,3
Diabetes mellitus		265
	Sim	61	23,0
	Não	204	77,00
Hipertensão arterial sistêmica		265
	Sim	213	80,4
	Não	52	19,6
Tipo de tratamento renal		265
	Hemodiálise	247	93,2
	Diálise peritoneal	0	0
	Preemptivo	18	6,8
Tempo de diálise (meses)		265
	Transplante preemptivo	18	6,8
	< 12	25	9,4
	12 a 36	98	37
	> 36	119	44,9
	Sem informação	5	1,9
Retransplante		265
	Sim	21	7,9
	Não	244	92,1
	Receptor hipersensibilizado^* * Receptor que apresenta reatividade dos anticorpos contra painel de antígenos HLA (panel-reactive antibody, PRA) maior que 50% e anticorpos específicos contra o doador (donor-specific antibodies, DSA) positivos com intensidade média de fluorescência (MIF) acima de 1500].	265
	Sim	25	9,4
	Não	240	90,6

Variáveis		n	%
Complicações cirúrgicas		265
	Fístula urinária	9	3,3
	Hematoma com drenagem	7	2,6
	Linfocele	2	0,7
	Trombose	3	1,13
	Outras	1	0,37
	Nenhuma	243	91,6
Rejeição precoce (tipo)		250
	Celular	5	2
	Mediada por anticorpos	2	0,8
	Não	242	96,8
	Sem informação	1	0,4
Infecção (sítio)		265
	Trato urinário	31	11,6
	Respiratória	4	1,5
	Ferida operatória	15	5,6
	Outras infecções	18	6,7
	Nenhuma	197	74,3

Variáveis		Tempo de hospitalização (dias)			Valor p
Variáveis		Mediana	1º quartil	3º quartil	Valor p
Faixa etária (em anos)					0,128^² ² Teste de Kruskal-Wallis;
	< 18	8,0	6,0	12,0
	18 a 39	10,0	7,0	20,0
	40 a 59	11,0	7,0	18,0
	≥ 60	11,0	7,0	31,0
Sexo biológico					0,028^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Masculino	11,0	7,0	20,0
	Feminino	10,0	6,0	16,0
Classificação do peso pelo IMC^* * IMC = índice de massa corpórea. (n=260)					0,006^² ² Teste de Kruskal-Wallis;
	Baixo peso (IMC < 18,5 Kg/m²)	10,0	7,0	12,0
	Normal (IMC entre 18,5 e 24,9 Kg/m²)	9,0	7,0	17,0
	Sobrepeso (IMC entre 25 a 29,9 Kg/m²)	12,0	8,0	20,0
	Obeso (IMC ≥ 30,0 Kg/m²)	13,0	8,0	31,0
Diagnóstico da doença renal primária					0,166¹1 Silva SB, Caulliraux HM, Araújo CAS, Rocha E. Uma comparação dos custos do transplante renal em relação às diálises no Brasil. Cad Saúde Pública. 2016;32(6):e00013515. https://doi.org/10.1590/0102-311x00013515
	Doença renal do diabetes	11,0	8,0	20,0
	Nefropatia hipertensiva	11,0	7,0	22,0
	Glomerulopatias crônicas	9,5	7,0	13,0
	Doença policística renal	7,5	6,0	13,0
	Patologias urológicas – bexiga neurogênica	11,0	7,0	17,0
	Etiologia desconhecida	11,0	7,0	25,0
	Outras	9,0	6,0	12,0
Diabetes mellitus					0,150^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim	11,0	7,0	19,0
	Não	9,0	7,0	15,0
Hipertensão arterial sistêmica					0,330^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim	11,0	7,5	20,0
	Não	10,0	7,0	17,0
Tempo de diálise (em meses) (n=260)					< 0,001^² ² Teste de Kruskal-Wallis;
	Transplante preemptivo	7,0	6,0	9,0
	< 12	8,0	7,0	11,0
	12 a 36	10,0	7,0	18,0
	> 36	12,0	8,0	26,0
Retransplante					0,830^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim	12,0	7,0	16,0
	Não	10,0	7,0	19,0
Receptor hipersensibilizado					0,105^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim	12,0	10,0	17,0
	Não	10,0	7,0	19,0

Variáveis		Tempo de hospitalização (dias)			Valor p
Variáveis		Mediana	1° quartil	3° quartil	Valor p
Complicações cirúrgicas					< 0,001^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim (n = 22)	33,5	17	64
	Não (n = 243)	10	7	17
Rejeição precoce					< 0,001¹
	Sim (n = 7)	48	20	81
	Não (n = 257)	10	7	18
Qualquer infecção					< 0,001^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim (n = 68)	25,5	16	42
	Não (n = 197)	9	7	12
Infecção de trato urinário					< 0,001^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim (n = 31)	31	20	63
	Não (n = 234)	9	7	15
Infecção respiratória					0,4711
	Sim (n = 4)	12	10,5	16,5
	Não (n = 261)	11	7	18
Infecção de ferida operatória					< 0,001^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim (n = 15)	41	31	64
	Não (n = 250)	10	7	17
Infecção em outros sítios					0,015^¹ ¹ Teste de Mann-Whitney;
	Sim (n = 18)	17,5	9	28
	Não (n = 247)	10	7	18
Função do enxerto (n=250)					< 0,001^² ² Teste de Kruskal-Wallis.
	FIE (n=104)	7	6	11
	FLE (n=58)	10	8	17
	FTE (n=84)	20	12	35,5
	Perda do enxerto (n=4)	35,5	6	101,5

Variáveis		Função imediata		Valor p	Função tardia		Valor p	Função lenta		Valor p
		n	Tempo de hospitalização		n	Tempo de hospitalização		n	Tempo de hospitalização
		n	Mediana (1º – 3º quartil)		n	Mediana (1º – 3º quartil)		n	Mediana (1º – 3º quartil)
Classificação do peso pelo IMC*				0,073^¹ ¹ Teste de Kruskal-Wallis;			0,893^¹ ¹ Teste de Kruskal-Wallis;			0,040^¹ ¹ Teste de Kruskal-Wallis;
	Baixo peso (< 18,5 Kg/m²)	23	7 (6 – 11)		5	15 (12 – 26)		2	27 (23 – 31) a
	Normal (entre 18,5 e 24,9 Kg/m²)	49	7 (6 – 9)		31	22 (12 – 34)		22	12,5 (9 – 17) ab
	Sobrepeso (entre 25 a 29,9 Kg/m²)	23	10 (6 – 13)		30	19 (12 – 42)		22	9 (8 – 12) c
	Obeso (≥ 30,0 Kg/m²)	5	9 (8 – 20)		18	20,5 (13 – 43)		11	8,5 (8 – 12,5) bc
Procedencia				0,877^¹ ¹ Teste de Kruskal-Wallis;			0,006^¹ ¹ Teste de Kruskal-Wallis;			0,872^¹ ¹ Teste de Kruskal-Wallis;
	Fortaleza	35	7 (6 – 11)		35	22 (13 – 34) a		23	10 (8 – 17)
	Interior do estado	57	7 (6 – 11)		37	16 (12 – 25) a		26	9,5 (8 – 13)
	Outro estado	13	8 (6 – 11)		12	45 (22 – 64,5) b		8	10,5 (7,5 – 17)
Complicações cirúrgicas				0,004^² ² Teste de Mann-Whitney.			0,002^² ² Teste de Mann-Whitney.			<0,001^² ² Teste de Mann-Whitney.
	Sim	4	23 (13 – 36)		8	64,5 (32 – 77)		6	31,5 (17 – 35)
	Não	101	7 (6 – 10)		76	18,5 (12 – 30,5)		51	9 (8 – 13)
Rejeição				-			0,019²			-
	Sim	-	-		7	48 (20 – 81)		-	-
	Não	104	7 (6 – 11)		77	19 (12 – 31)		57	10 (8 – 17)
Complicações Infecciosas				<0,001^² ² Teste de Mann-Whitney.			<0,001^² ² Teste de Mann-Whitney.			<0,001^² ² Teste de Mann-Whitney.
	Sim	17	13 (10 – 20)		30	35,5 (22 – 64)		12	24 (16,5 – 31,5)
	Não	88	7 (6 – 10)		54	15,5 (11 – 23)		45	9 (8 – 12)

Dias de internação	FIE (n=119)		FLE (n= 58)
Dias de internação	Média Cr (mg/dL)	Redução (%)	Média Cr (mg/dL)	Redução (%)
inicial	6,54	0	7,85	0
D1	5,50	15,9	7,52	4,2
D2	4,16	36,3	7,50	4,5
D3	3,09	52,8	7,28	7,3
D4	2,33	64,3	6,75	14,0
D5	1,92	70,6	6,09	22,5
D6	1,78	72,8	5,41	31,0
D7	1,65	74,8	5,02	36,1
D8	1,68	74,3	4,52	42,4
D9	1,60	75,6	4,13	47,4
D10	1,59	75,7	3,62	53,9
D11	1,49	77,2	3,51	55,2
D12	1,51	77,0	3,14	60,0
D13	1,62	75,2	2,80	64,4
D14	1,64	74,8	2,76	64,9

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[1] * Autora correspondente: cristina.dallago@uece.br