Impacto na Fila de Espera dos Transplantes de Órgãos Sólidos Durante a Pandemia de Covid-19: Uma Revisão Integrativa

RESUMO

Introdução:

Com a pandemia da Covid-19, muitos procedimentos médicos sofreram alterações significativas devido à realocação de recursos para os pacientes contaminados pelo Sars-Cov-2. A logística de transplantes foi diretamente afetada, com repercussões importantes para o paciente na fila de espera para um novo órgão. Objetivo: Esta revisão busca analisar o impacto da pandemia da Covid-19 na logística de disponibilidade de órgãos sólidos e volume de transplantes.

Métodos:

Foi realizada uma busca integrativa de artigos com os descritores “Covid OR Sars-Cov-2”, “COVID-19”, “Transplant”, “Donor”, “Waiting list”, “Organ donation” no PubMed e Web of Science. Só foram considerados artigos sobre transplante de pâncreas, coração, fígado, rim e intestino, e que abordassem um dos seguintes tópicos: disponibilidade de doadores, volume e tempo na lista de espera, mortalidade dos pacientes em espera, volume de transplantes realizados.

Resultados:

Dos 68 artigos encontrados, 49 deles eram multicêntricos. Dentre todos os 68, 29 fizeram alguma colocação em relação ao volume de doador, 42 em relação ao volume de transplante, 18 em relação à mortalidade na fila de transplante, 15 em relação ao volume da lista de espera e quatro em relação ao tempo na lista de espera. Com tais dados, de forma geral, foi possível observar diminuição do volume de doadores e do volume de transplantes, redução de adições à lista de espera, e aumento tanto no tempo de espera para transplantes, quanto na mortalidade do paciente que aguardava pelo transplante.

Conclusão:

A pandemia da SARS-CoV-2 prejudicou diretamente a logística dos transplantes de órgãos sólidos de forma global. Os motivos que levaram a tal fato estão relacionados à diminuição dos leitos de UTI, contaminação do doador pelo vírus, e protocolos rigorosos para prevenção de transmissibilidade do vírus.

Palavras-chave
Covid; Transplante de Órgãos; Pandemia; Doação de Órgãos

ABSTRACT

Introduction:

With the Covid-19 pandemic, many medical procedures underwent significant changes due to the reallocation of resources to patients infected with Sars-Cov-2. The logistics of transplants were directly affected, with important repercussions for the patient on the waiting list for a new organ. Objective: This review seeks to analyze the impact of the Covid-19 pandemic on the logistics of solid organ availability and volume of transplants.

Methods:

An integrative search of articles with the descriptors “Covid OR Sars-Cov-2”, “COVID-19”, “Transplant”, “Donor”, “Waiting list”, and “Organ donation” in PubMed and Web of Science was performed. Only articles on pancreas, heart, liver, kidney and intestine transplantation that addressed one of the following topics were considered: availability of donors, volume and time on the waiting list, mortality of patients on the waiting list, and volume of transplants performed.

Results:

Of the 68 articles found, 49 of them were multicentric. Among all 68, 29 made a statement concerning donor volume, 42 concerning transplant volume, 18 about mortality on the transplant waiting list, 15 concerning the volume on the waiting list, and 4 regarding time on the waiting list. Thus, with such data, in general, it was possible to observe a decrease in the volume of donors and the volume of transplants, besides a reduction in addition to the waiting list and an increase both in the waiting time for transplantation and in the mortality of the patients waiting for the transplant.

Conclusion:

The SARS-CoV-2 pandemic has directly influenced the logistics of solid organ transplants globally. The reasons that led to this fact are related to the decrease in the availability of ICU beds, contamination of the donor by the virus, and strict protocols to prevent the transmission of the virus.

Keywords
Covid; Organ Transplantation; Pandemic; Organ Donation

INTRODUÇÃO

A pandemia decorrente do vírus SARS-CoV-2, surgido em 2019, trouxe profundas alterações nas práticas médicas pelo mundo. Em virtude da repercussão clínica, o que afetou as vagas na UTI,¹ muitos dos recursos hospitalares foram deslocados para o cuidado dos pacientes com Covid-19, principalmente nos hospitais públicos.² Essa mudança de dinâmica acarretou a redução ou cancelamento de procedimentos cirúrgicos, principalmente de caráter eletivo.³

Inicialmente, não houve suspensão dos transplantes de órgãos sólidos devido ao caráter emergencial do procedimento. Contudo, devido à situação de complicações intra e pós-operatório,⁴ colocando a segurança do paciente em risco, diversos centros restringiram ao volume de transplante, ou até mesmo os suspenderam.² Em declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS), destacou-se que dez dos 17 centros de transplante analisados limitaram suas atividades no período pandêmico.⁵ Como desdobramento, observou-se a redução de disponibilidade de doadores,⁶ redução nas adições à lista de espera⁷ e mortalidade do receptor.⁸ Em especial, nos pacientes com doença renal crônica, percebeu-se sobrecarga de centros de diálise.⁹

Dessa forma, o presente artigo busca realizar uma revisão integrativa dos estudos que abordam a logística de doação e transplante de órgãos sólidos durante a pandemia da Covid-19, de forma a mensurar os impactos gerados pela doença aos pacientes na lista de espera.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo qualitativo em formato de revisão integrativa, com objetivo de analisar possíveis alterações na logística dos transplantes de órgãos sólidos no mundo devido à pandemia da Covid-19. Foi realizada uma busca bibliográfica nos seguintes DATABASES – PUBMED e Web of Science –, selecionando artigos científicos com casos originais, publicados do início da pandemia até o momento de seleção dos artigos (setembro de 2021).

Foram realizadas as seguintes estratégias de busca:

• DATABASE Web of Science:

  (Covid OR Sars-Cov-2 OR COVID-19) AND (Transplant*) AND (Donor OR Waiting list OR Organ donation).

• DATABASE PUBMED:

  ((Covid[Title/Abstract] OR Sars-Cov-2[Title/Abstract] OR COVID-19[Title/Abstract]) AND (Transplant*[Title/Abstract]) AND (Donor[Title/Abstract] OR Waiting list[Title/Abstract] OR Organ donation[Title/Abstract])) NOT ((Covid[Title/Abstract] OR Sars-Cov-2[Title/Abstract] OR COVID-19[Title/Abstract]) AND (Transplant*[Title/Abstract]) AND (Donor[Title/Abstract] OR Waiting list[Title/Abstract] OR Organ donation[Title/Abstract]) AND (case reports[Filter] OR review[Filter] OR systematic review[Filter])).

A diferença de busca entre os DATABASEs deve-se às peculiaridades de funcionamento desses softwares. No PUBMED, restringiu-se os descritores: “Covid”, “Sars-Cov-2”, “COVID-19”, “Transplant”, “Donor”, “Waiting list”, “Organ donation” ao título/resumo; no Web of Science, utilizou-se os mesmos descritos, restringindo a busca aos títulos dos artigos. Para seleção dos artigos, foi utilizada a ferramenta on-line RAYYAN - Intelligent Systematic Review, considerando-se a estratégia de busca do PRISMA Statement 2020. A ferramenta possui um filtro de artigos duplicados. Os artigos foram selecionados inicialmente por três revisores mediante a leitura do título e do resumo. Essa seleção foi feita de forma individual, utilizando a função “modo cego”, em que um revisor não tem acesso às decisões de inclusão ou exclusão dos outros, buscando diminuir a ocorrência de vieses. Se houvesse divergência entre os revisores, um quarto faria uma avaliação e desempate. Após a leitura completa, foram selecionados 68 artigos, que foram divididos entre os revisores e analisados de maneira independente. A revisão não foi registrada.

Foram utilizados os seguintes critérios para screening dos artigos: artigos em inglês ou português; artigos observacionais, retrospectivos ou prospectivos; e ensaios clínicos. Considerou-se apenas os seguintes órgãos: pâncreas, intestino, coração, pulmão, fígado e rim. Excluíram-se relatos de caso, revisão de literatura, e carta ao leitor, além dos artigos que não se enquadram no foco da pesquisa de logística de transplante de órgãos sólidos, como as repercussões clínicas (Fig. 1). A prioridade de busca pautou-se nas seguintes mudanças de logística: disponibilidade de doadores, volume e tempo na lista de espera, mortalidade dos pacientes em espera, volume de transplantes realizados. Tais resultados foram descritos na Tabela 1. Utilizou-se o The CAT (Critically Appraised Topic) Manager App para avaliar os riscos de vieses do estudo. Identificou-se como limitações: presença de estudo não randomizado. Não foi realizada análise metodológica de cada artigo.

Figura 1
Itens de relatórios preferidos para o fluxograma de revisão integrativa (PRISMA).

Tabela 1
Relação de artigos referente às variáveis citadas.

Monocêntrico	Georgiades et al. (2021)13	Saracco et al. (2021)30	Balsara et al. (2021)24
	Karolak et al. (2021)15	Boedecker et al. (2021)31	Soin et al. (2021)48
	Halpern et al. (2020)23	Sahin et al. (2022)33	Bhatti et al. (2021)54
	Dogar et al. (2021)26	Araújo et al. (2020)35	Cristelli et al. (2021)55
	Varma et al. (2021)27	Muller et al. (2020)37	Caliskan et al. (2021)56
	Simone et al. (2020)28	Xu et al. (2021)38	Cheung et al. (2021)61
	Pestana et al. (2021)29	Hudgins et al. (2021)45	Manzia et al. (2021)62
Multicêntrico	Maggi et al. (2020)1	Ribeiro Junior et al. (2021)18	Ito et al. (2022)47
	Servin-Rojas et al. (2021)2	Filippis et al. (2020)19	González-Vílchez et al. (2021)49
	Boyarsky et al. (2020)3	Strauss et al. (2021)20	Mamode et al. (2021)51
	Charnaya et al. (2021)4	Watschinger et al. (2020)22	Bordes et al. (2020)52
	Chew et al. (2020)5	Ashfaq et al. (2021)25	Hardman et al. (2021)53
	Boyarsky et al. (2020)6	Anderson et al. (2021)32	Thind et al. (2021)57
	Chan et al. (2021)7	Caliskan et al. (2022)34	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Russo et al. (2022)8	Ahmed et al. (2020)36	Turco et al. (2021)59
	Miller et al. (2021)9	Couzi et al. (2021)39	Ravanan et al. (2020)60
	Reddy et al. (2020)10	Peters et al. (2021)40	Varghese et al. (2021)63
	Benvenuto et al. (2021)11	Vries et al. (2020)41	Cristelli et al. (2022)64
	Kemme et al. (2021)12	Goff et al. (2021)42	Doshi et al. (2021)65
	Belli et al. (2021)14	Immer et al. (2020)43	Strauss et al. (2020)66
	Sharma et al. (2020)16	Cannavò et al. (2020)44	Meshram et al. (2022)67
	Bittermann et al. (2021)17	Angelico et al. (2020)46	Tan et al. (2021)68

• Fonte: Elaborado pelos autores.

RESULTADOS

Dados gerais

Em análise dos 68 artigos selecionados, cerca de 49 foram realizados em estudos multicêntricos (Tabela 1). Destacaram-se quantitativamente estudos realizados nos Estados Unidos (29 artigos). O órgão sólido mais citado foi o rim, em cerca de 27 artigos, seguido do fígado, 25 artigos (Fig. 2, Tabela 1). O objetivo central dos estudos foi quantificar os impactos sobre o sistema de transplante durante a pandemia, em relação aos anos anteriores, e sugerir novas estratégias para a realização de transplantes.

Figura 2
Órgãos transplantados nos estudos referidos.

Disponibilidade de doador

Dos 68 artigos selecionados, 29 fizeram alguma citação em relação à disponibilidade de doadores – três relataram aumento desse volume, quatro demonstraram que não houve alteração e 22 demonstraram redução (Tabela 2).

Tabela 2
Relação de artigos referente às variáveis citadas.

Variável	Mortalidade na lista de espera
Aumento	Charnaya et al. (2021)4	Belli et al. (2021)14	Hudgins et al. (2021)45
	Chew et al. (2020)5	Strauss et al. (2021)20	Ito et al. (2022)47
	Boyarsky et al. (2020)6	Hardman et al. (2021)21	Mamode et al. (2021)51
	Russo et al. (2022)8	Peters et al. (2021)40
	Miller et al. (2021)9	Goff et al. (2021)42
Diminuição	-	-	-
Inalterado	Benvenuto et al. (2021)11	Saracco et al. (2021)30	Boedecker et al. (2021)31
	Karolak et al. (2021)15
Não especificado	Maggi et al. (2020)1	Simone et al. (2020)28	Bordes et al. (2020)52
	Servin-Rojas et al. (2021)2	Pestana et al. (2021)29	Hardman et al. (2021)53
	Boyarsky et al. (2020)3	Anderson et al. (2021)32	Bhatti et al. (2021)54
	Chan et al. (2021)7	Sahin et al. (2022)33	Cristelli et al. (2021)55
	Reddy et al. (2020)10	Caliskan et al. (2022)34	Caliskan et al. (2021)56
	Kemme et al. (2021)12	Araújo et al. (2020)35	Thind et al. (2021)57
	Georgiades et al. (2021)13	Ahmed et al. (2020)36	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Sharma et al. (2020)16	Muller et al. (2020)37	Turco et al. (2021)59
	Bittermann et al. (2021)17	Xu et al. (2021)38	Ravanan et al. (2020)60
	Ribeiro Junior et al. (2021)18	Couzi et al. (2021)39	Cheung et al. (2021)61
	Filippis et al. (2020)19	Vries et al. (2020)41	Manzia et al. (2021)62
	Watschinger et al. (2020)22	Immer et al. (2020)43	Varghese et al. (2021)63
	Halpern et al. (2020)23	Cannavò et al. (2020)44	Cristelli et al. (2022)64
	Balsara et al. (2021)24	Angelico et al. (2020)46	Doshi et al. (2021)65
	Ashfaq et al. (2021)25	Soin et al. (2021)48	Strauss et al. (2020)66
	Dogar et al. (2021)26	González-Vílchez et al. (2021)49	Meshram et al. (2022)67
	Varma et al. (2021)27	Benden et al. (2020)50	Tan et al. (2021)68
Variável	Disponibilidade de doador
Aumento	Russo et al. (2022)8	Georgiades et al. (2021)13	Ashfaq et al. (2021)25**
Diminuição	Maggi et al. (2020)1	Strauss et al. (2021)20	Hudgins et al. (2021)45
	Boyarsky et al. (2020)6	Hardman et al. (2021)21	Ito et al. (2022)47
	Chan et al. (2021)7	Saracco et al. (2021)30	Bordes et al. (2020)52
	Reddy et al. (2020)10	Sahin et al. (2022)33	Hardman et al. (2021)53
	Benvenuto et al. (2021)11	Araújo et al. (2020)35	Caliskan et al. (2021)56
	Sharma et al. (2020)16	Xu et al. (2021)38	Turco et al. (2021)59
	Ribeiro Junior et al. (2021)18	Goff et al. (2021)42	Cheung et al. (2021)61
Inalterado	Kemme et al. (2021)12	Dogar et al. (2021)26
	Karolak et al. (2021)15	Varma et al. (2021)27
Não especificado	Servin-Rojas et al. (2021)2	Anderson et al. (2021)32	Bhatti et al. (2021)54
	Boyarsky et al. (2020)3	Caliskan et al. (2022)34	Cristelli et al. (2021)55
	Charnaya et al. (2021)4	Ahmed et al. (2020)36	Thind et al. (2021)57
	Chew et al. (2020)5	Muller et al. (2020)37	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Miller et al. (2021)9	Couzi et al. (2021)39	Ravanan et al. (2020)60
	Belli et al. (2021)14	Peters et al. (2021)40	Manzia et al. (2021)62
	Bittermann et al. (2021)17	Vries et al. (2020)41	Varghese et al. (2021)63
	Filippis et al. (2020)19	Immer et al. (2020)43	Cristelli et al. (2022)64
	Watschinger et al. (2020)22	Cannavò et al. (2020)44	Doshi et al. (2021)65
	Halpern et al. (2020)23	Angelico et al. (2020)46	Strauss et al. (2020)66
	Balsara et al. (2021)24	Soin et al. (2021)48	Meshram et al. (2022)67
	Simone et al. (2020)28	González-Vílchez et al. (2021)49	Tan et al. (2021)68
	Pestana et al. (2021)29	Benden et al. (2020)50
	Boedecker et al. (2021)31	Mamode et al. (2021)51
Variável	Tempo de lista de espera
Aumento	Kemme et al. (2021)12	Ashfaq et al. (2021)25**	Strauss et al. (2020)66
Diminuição	Ashfaq et al. (2021)25**
Inalterado	Ribeiro Junior et al. (2021)18
Não especificado	Maggi et al. (2020)1	Dogar et al. (2021)26	Ito et al. (2022)47
	Servin-Rojas et al. (2021)2	Varma et al. (2021)27	Soin et al. (2021)48
	Boyarsky et al. (2020)3	Simone et al. (2020)28	González-Vílchez et al. (2021)49
	Charnaya et al. (2021)4	Pestana et al. (2021)29	Benden et al. (2020)50
	Chew et al. (2020)5	Saracco et al. (2021)30	Mamode et al. (2021)51
	Boyarsky et al. (2020)6	Boedecker et al. (2021)31	Bordes et al. (2020)52
	Chan et al. (2021)7	Anderson et al. (2021)32	Hardman et al. (2021)53
	Russo et al. (2022)8	Sahin et al. (2022)33	Bhatti et al. (2021)54
	Miller et al. (2021)9	Caliskan et al. (2022)34	Cristelli et al. (2021)55
Não especificado	Reddy et al. (2020)10	Araújo et al. (2020)35	Caliskan et al. (2021)56
	Benvenuto et al. (2021)11	Ahmed et al. (2020)36	Thind et al. (2021)57
	Georgiades et al. (2021)13	Muller et al. (2020)37	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Belli et al. (2021)14	Xu et al. (2021)38	Turco et al. (2021)59
	Karolak et al. (2021)15	Couzi et al. (2021)39	Ravanan et al. (2020)60
	Sharma et al. (2020)16	Peters et al. (2021)40	Cheung et al. (2021)61
	Bittermann et al. (2021)17	Vries et al. (2020)41	Manzia et al. (2021)62
	Filippis et al. (2020)19	Goff et al. (2021)42	Varghese et al. (2021)63
	Strauss et al. (2021)20	Immer et al. (2020)43	Cristelli et al. (2022)64
	Hardman et al. (2021)21	Cannavò et al. (2020)44	Doshi et al. (2021)65
	Watschinger et al. (2020)22	Hudgins et al. (2021)45	Meshram et al. (2022)67
	Halpern et al. (2020)23	Angelico et al. (2020)46	Tan et al. (2021)68
Variável	Número de candidatos na fila de transplante
Aumento	Russo et al. (2022)8**	Sharma et al. (2020)16	Anderson et al. (2021)32
	Karolak et al. (2021)15	Bittermann et al. (2021)17	Muller et al. (2020)37
Diminuição	Chan et al. (2021)7	Hardman et al. (2021)21	Meshram et al. (2022)67
	Russo et al. (2022)8**	Goff et al. (2021)42	Tan et al. (2021)68
	Filippis et al. (2020)19	Hardman et al. (2021)53
	Strauss et al. (2021)20	Manzia et al. (2021)62
Inalterado	Watschinger et al. (2020)22
Não especificado	Maggi et al. (2020)1	Simone et al. (2020)28	González-Vílchez et al. (2021)49
	Servin-Rojas et al. (2021)2	Pestana et al. (2021)29	Benden et al. (2020)50
	Boyarsky et al. (2020)3	Saracco et al. (2021)30	Mamode et al. (2021)51
	Charnaya et al. (2021)4	Boedecker et al. (2021)31	Bordes et al. (2020)52
	Chew et al. (2020)5	Sahin et al. (2022)33	Bhatti et al. (2021)54
	Boyarsky et al. (2020)6	Caliskan et al. (2022)34	Cristelli et al. (2021)55
	Miller et al. (2021)9	Araújo et al. (2020)35	Caliskan et al. (2021)56
	Reddy et al. (2020)10	Ahmed et al. (2020)36	Thind et al. (2021)57
	Benvenuto et al. (2021)11	Xu et al. (2021)38	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Kemme et al. (2021)12	Couzi et al. (2021)39	Turco et al. (2021)59
	Georgiades et al. (2021)13	Peters et al. (2021)40	Ravanan et al. (2020)60
	Belli et al. (2021)14	Vries et al. (2020)41	Cheung et al. (2021)61
	Ribeiro Junior et al. (2021)18	Immer et al. (2020)43	Varghese et al. (2021)63
	Halpern et al. (2020)23	Cannavò et al. (2020)44	Cristelli et al. (2022)64
	Balsara et al. (2021)24	Hudgins et al. (2021)45	Doshi et al. (2021)65
	Ashfaq et al. (2021)25	Angelico et al. (2020)46	Strauss et al. (2020)66
	Dogar et al. (2021)26	Ito et al. (2022)47
	Varma et al. (2021)27	Soin et al. (2021)48
Variável	Volume de transplantes
Aumento	Russo et al. (2022)8**	Balsara et al. (2021)24	Pestana et al. (2021)29**
	Bittermann et al. (2021)17	Ashfaq et al. (2021)25	Cristelli et al. (2021)55
	Halpern et al. (2020)23	Dogar et al. (2021)26
Diminuição	Servin-Rojas et al. (2021)2	Filippis et al. (2020)19	Hudgins et al. (2021)45
	Boyarsky et al. (2020)3	Strauss et al. (2021)20	Angelico et al. (2020)46
	Charnaya et al. (2021)4	Hardman et al. (2021)21	Ito et al. (2022)47
	Boyarsky et al. (2020)6	Simone et al. (2020)28	González-Vílchez et al. (2021)49
	Chan et al. (2021)7	Pestana et al. (2021)29**	Hardman et al. (2021)53
	Russo et al. (2022)8	Caliskan et al. (2022)34	Bhatti et al. (2021)54
	Reddy et al. (2020)10	Ahmed et al. (2020)36	Thind et al. (2021)57
	Benvenuto et al. (2021)11	Muller et al. (2020)37	Turco et al. (2021)59
	Kemme et al. (2021)12	Vries et al. (2020)41	Varghese et al. (2021)63
	Georgiades et al. (2021)13	Immer et al. (2020)43	Meshram et al. (2022)67
	Ribeiro Junior et al. (2021)18	Cannavò et al. (2020)44	Tan et al. (2021)68
Inalterado	Varma et al. (2021)27
Não especificado	Maggi et al. (2020)1	Sahin et al. (2022)34	Caliskan et al. (2021)56
	Chew et al. (2020)5	Araújo et al. (2020)35	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Belli et al. (2021)14	Xu et al. (2021)38	Ravanan et al. (2020)60
	Karolak et al. (2021)15	Couzi et al. (2021)39	Cheung et al. (2021)61
	Sharma et al. (2020)16	Peters et al. (2021)40	Manzia et al. (2021)62
	Watschinger et al. (2020)22	Goff et al. (2021)42	Doshi et al. (2021)65
	Saracco et al. (2021)30	Benden et al. (2020)50	Strauss et al. (2020)66
	Boedecker et al. (2021)31	Mamode et al. (2021)51
	Anderson et al. (2021)32	Bordes et al. (2020)52

• ^*
  Estudo não especificava o tipo de órgão;
• ^**
  Resultados divergem entre grupos distintos.
• Fonte: Elaborado pelos autores.

Estudo na Itália e Reino Unido¹⁰ pontuaram redução importante de 95%¹ e 80%, respectivamente. Nos Estados Unidos (EUA), destacou-se menor taxa de doação, principalmente em serviços localizados em áreas de alta incidência, enquanto áreas de baixa exposição não foram acometidas.¹¹

Dentre os estudos com aumento da doação de órgãos sólidos, um artigo pontua uma mudança de configuração do perfil de doação, com aumento de doadores na faixa etária entre dez e dezoito anos, devido à reconfiguração de dinâmica familiar com o isolamento social.¹² Outro estudo aponta um aumento importante de 54,8% de doadores por morte encefálica, porém, sem especificação do fator causal.¹³

Mortalidade na fila de transplante

Dos 68 artigos selecionados, um demonstrou redução, quatro demonstraram que não houve alteração e 13 relataram aumento desse volume (Tabela 2).

Como tendência geral, observou-se um aumento na mortalidade das filas de espera para os transplantes. Em estudo multicêntrico avaliando o impacto global da pandemia, a mortalidade do paciente na fila de transplante de fígado chegou a ser 52,3% maior quando comparada a 2019, tendo como maior valor os centros europeus, seguido das Américas.⁸ Nos Estados Unidos foi relatado que, durante os primeiros meses do início da pandemia, houve um aumento em 189% de pacientes pediátricos retirados da lista de transplante por morte ou piora no quadro.⁴ Em relação aos pacientes adultos, pontuou-se um aumento de 49,2% naqueles com cirrose descompensada.¹⁴

Em relação ao tipo do órgão sólido, aponta-se maior mortalidade na lista de espera de transplante de rim em relação às listas de outros órgãos.⁹

Lista de espera

Dos artigos selecionados, um demonstrou que não houve alteração do número de pessoas na lista de transplante, outro demonstrou divergência entre grupos estudados, quatro relataram aumento e nove demonstraram redução (Tabela 2).

Em um estudo de abrangência global com 470 centros, foi observado que 60,7% dos centros tinham um número maior de pacientes listados em 2019; 32,5% tinham um número maior de pacientes listados em 2020 e 6,8% tinham o mesmo número de pacientes listados.⁸

Na Polônia, a lista de espera aumentou de 120 para 152 pessoas entre 2019 e 2020.¹⁵ Já no Reino Unido, os transplantes de rim tiveram acréscimo de 283 pacientes por mês na lista de espera entre março e setembro de 2020.¹⁶ Em estudo analisando transplantes de fígado nos EUA, houve aumento de 106% de candidatos na lista de espera.¹⁷ Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), houve adição de pacientes ativos em lista de espera para transplante de coração e rim em 2020, contudo, em geral, não existiram modificações significativas.¹⁸

Em contrapartida, outros trabalhos demonstram uma redução no total de indivíduos nas filas de transplantes, como nos Estados Unidos, em que se observou uma redução de 38%.¹⁹ Também nos Estados Unidos, porém considerando mais centros, observou-se uma queda de 11% nas adições às listas de espera.²⁰ Quanto aos transplantes de pulmão no mesmo país, houve um decréscimo de 40%.²¹ Contemplando novamente os transplantes de pulmão, todavia em centros do Reino Unido, o número de novos registros caiu 68%.²¹ Em outro estudo na Áustria, não houveram alterações consideráveis.²²

Considerando o tempo da lista de espera, dois demonstraram aumento e dois demonstraram divergência entre grupos distintos que foram analisados na mesma pesquisa. Entre os dois que aumentaram, um pontuou o aumento de 11 para 13 dias no tempo médio de espera na fila de transplante.²³ Enquanto o outro apontou acréscimo de 44 dias em relação ao período pré-covid.¹²

Em relação aos dois estudos que divergiram, um pontuou que o tempo mínimo de espera aumentou de 112,94 dias para 147,44 e o tempo máximo diminuiu de 260,11 para 195,85 dias.²⁴ Já em relação ao segundo estudo, o tempo de espera diminuiu em 28 dias para pacientes pediátricos, mas para adultos aumentou em quarenta dias.²⁵

Volume de transplante

Dos 68 artigos selecionados para a revisão, dois relataram divergência entre os grupos estudados, um relatou que não houve alteração, seis relataram aumento e 33 relataram redução no volume de transplantes (Tabela 2).

Um estudo, realizado em seis centros de três países, apontou uma variação da redução conforme o país, com diminuição de 25% nos EUA e mais de 80% na Índia e no Reino Unido.⁹

Alguns poucos estudos descrevem um aumento na realização de transplantes.^{14,17,23–26,29,55} Em pesquisa multicêntrica realizada no Paquistão, não houve comprometimento do volume de transplantes, inclusive com aumento na média mensal de 10,1 para 14,0.²⁶ É pertinente salientar os métodos específicos adotados no ambiente hospitalar para controle da contaminação, como testes rotineiros de Covid-19 entre os pacientes e a equipe de profissionais.

Tabela 3
Relação de artigos referente ao tipo de órgão sólido abordado.

Estudos
Coração	Filippis et al. (2020)19	Ashfaq et al. (2021)25	Hardman et al. (2021)53
	Balsara et al. (2021)24	González-Vílchez et al. (2021)49
Pulmão	Chan et al. (2021)7	Karolak et al. (2021)15	Halpern et al. (2020)23
	Benvenuto et al. (2021)11	Hardman et al. (2021)21	Sahin et al. (2022)33
Rim	Charnaya et al. (2021)4	Boedecker et al. (2021)31	Thind et al. (2021)57
	Boyarsky et al. (2020)6	Caliskan et al. (2022)34	Manzia et al. (2021)62
	Georgiades et al. (2021)13	Couzi et al. (2021)39	Cristelli et al. (2022)66
	Sharma et al. (2020)16	Peters et al. (2021)40	Doshi et al. (2021)65
	Watschinger et al. (2020)22	Bordes et al. (2020)52	Strauss et al. (2020)66
	Pestana et al. (2021)29	Cristelli et al. (2021)55	Meshram et al. (2022)67
Fígado	Maggi et al. (2020)1	Strauss et al. (2021)20	Muller et al. (2020)37
	Chew et al. (2020)5	Dogar et al. (2021)26	Soin et al. (2021)48
	Russo et al. (2022)8	Varma et al. (2021)27	Bhatti et al. (2021)54
	Reddy et al. (2020)10	Simone et al. (2020)28	Turco et al. (2021)59
	Kemme et al. (2021)12	Saracco et al. (2021)30	Varghese et al. (2021)63
	Belli et al. (2021)14	Anderson et al. (2021)32	Tan et al. (2021)68
	Bittermann et al. (2021)17	Araújo et al. (2020)35
Mais de um órgão	Servin-Rojas et al. (2021)2	Goff et al. (2021)42	Mamode et al. (2021)51
	Boyarsky et al. (2020)3	Immer et al. (2020)43	Caliskan et al. (2021)56*
	Miller et al. (2021)9	Cannavò et al. (2020)44	Arias-Murillo et al. (2021)58
	Ribeiro Junior et al. (2021)18	Hudgins et al. (2021)45*	Ravanan et al. (2020)60
	Ahmed et al. (2020)35	Angelico et al. (2020)46	Cheung et al. (2021)61
	Xu et al. (2021)38	Ito et al. (2022)47
	Vries et al. (2020)41	Benden et al. (2020)50

• ^*
  Estudo não especificava o tipo de órgão;
• ^**
  Resultados divergem entre grupos distintos
• Fonte: Elaborado pelos autores.

DISCUSSÃO

A pandemia da Covid-19 trouxe novos desafios e perspectivas para a realização de transplantes de órgãos sólidos. O número expressivo de estudos multicêntricos mostra a colaboração internacional para o desenvolvimento de soluções, pontuando-se uma pesquisa com a participação de 470 centros de transplantes distribuídos em 21 países.⁸ Foi necessário o desenvolvimento de protocolos rigorosos para atestar a segurança do paciente e da equipe de saúde, mesmo com o cunho emergencial do procedimento.^19,27 O monitoramento remoto de pacientes foi uma das alternativas implementadas por alguns países, como a Itália, para dar assistência médica aos usuários que aguardam transplante, além da realização de exames laboratoriais com mais frequência, com o intuito de identificar a contaminação precocemente.²⁸

A rigorosidade dos protocolos de testagem do doador para minimizar a transmissibilidade de Covid-19 durante a cirurgia,^10,29 associados à dificuldade da logística de captação de órgãos pela maior restrição de voos,²³ tiveram repercussões importantes na menor disponibilidade de doação, sendo evidenciado em alguns centros uma taxa de redução superior a 80%.^10,11 Juntamente com a redução de captações de órgão, houve uma reconfiguração do perfil de doadores, o qual foi influenciado pela mudança de dinâmica de interação com o isolamento social. Um estudo pontuou aumento da proporção de doadores com idades entre 10 e 18 anos,¹² sendo possivelmente justificado pelo aumento de notificações de violência familiar contra a criança devido aos fatores estressantes da restrição de convívio.

A redução da disponibilidade de órgãos repercute diretamente no aumento de tempo na fila de espera^24,25 e, por fim, no aumento da mortalidade do paciente. Nos Estados Unidos, 189% de pacientes pediátricos a mais do que o esperado foram removidos da fila do transplante de rim por morte ou piora no quadro devido a não realização do procedimento em tempo hábil.⁴ Os pacientes mais acometidos foram da lista de transplante renal, devido à maior exigência de compatibilidade de enxerto-paciente em relação a outros órgãos sólidos. A inalteração da mortalidade por alguns Centros^11,15,30,31 deve-se à baixa prevalência de Covid-19 na região, e ao recurso do serviço para testagem de doador em tempo hábil.⁹

Apesar de se esperar o aumento de pacientes na fila de transplante pela indisponibilidade de órgãos, alguns centros pontuaram a redução dos pacientes listados. Observou-se uma desistência pelo procedimento por conta do receio de contrair Covid-19, ainda que o transplante fosse a única medida curativa.¹⁷ Ademais, observou-se também que, com as medidas de isolamento social e menor funcionamento dos serviços especializados em doença hepática terminal, menos pacientes foram identificados e inscritos na fila do transplante.⁷

De forma geral, a maioria dos centros que serviram como base para a pesquisa tiveram suas atividades de doação e transplantes de órgãos reduzidos ou totalmente suspensos. Nos EUA, Índia e Reino Unido, houve uma redução de 25%, 80% e 80%, respectivamente.⁸ Além dos fatores anteriormente citados, a indisponibilidade de leitos de UTI, alocados para pacientes em estado grave com Covid-19, tornaram a logística do procedimento desafiante.¹ O King’s College & Hospital, em Londres, pontuou uma ocupação de 90% dos leitos por pacientes com Covid-19, risco importante de transmissão ao paciente transplantado, grave, no pós-operatório.¹⁰

Apesar da variabilidade de resultados quanto ao impacto da pandemia da Covid-19 na logística de doação e transplante de órgãos sólidos, deve-se levar em conta a heterogeneidade de contaminação nas regiões afetadas, assim como a infraestrutura e recursos dos serviços para lidar com a nova dinâmica.²¹

CONCLUSÃO

Em suma, pode-se dizer que a pandemia da Covid-19, principalmente no período inicial, prejudicou a maioria dos processos logísticos de transplantes no mundo, incidindo de maneira considerável na disponibilidade de órgãos e, por consequência, em toda a cadeia de etapas necessárias ao procedimento. Todavia, vale ressaltar que foi observado em alguns estudos aumento do volume de transplantes realizados em relação ao período pré-pandêmico, demonstrando certa adaptabilidade desses serviços de saúde durante a conjuntura do vírus SARS-CoV-2.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos docentes da Universidade de Pernambuco por fomentar o interesse dos discentes em relação ao aprendizado científico.

• Como citar: Costa LRO, Furtado LCC, Braga RC, Brito BDB, Sales TJB, Motta DL, Nunes FHS, Schmidt YF, Silva HRS, Fonseca Neto OCL. Impacto na Fila de Espera dos Transplantes de Órgãos Sólidos Durante a Pandemia de Covid-19: Uma Revisão Integrativa. BJT. 2023.26 (01):e2323. https://doi.org/10.53855/bjt.v26i1.477_PORT

• FINANCIAMENTO

  Não se aplica.

DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

Todos os dados foram gerados ou analisados neste estudo.

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Editado por

Editora de seção: Edna Frasson S Montero https://orcid.org/0000-0003-1437-1219

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  13 Set 2024
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  10 Jul 2022
• Aceito
  29 Maio 2023